Genoma do amendoim é sequenciado
Mapeamento foi feito com duas espécies silvestres ancestrais;
informações podem auxiliar na busca de variedades mais resistentes
RODRIGO DE OLIVEIRA ANDRADE |
Edição Online 13:08 22 de fevereiro de 2016
A. duranensis (esquerda) e A. ipaensis: espécies silvestres deram origem ao amendoim comercial há cerca de 10 mil anos
Em um estudo publicado nesta segunda-feira, 22, na revista Nature Genetics, os pesquisadores, entre eles o botânico inglês David John Bertioli, professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), resolveram o problema sequenciando o genoma das duas espécies silvestres, coletadas há décadas por botânicos nas encostas dos Andes, na Bolívia e na Argentina. Cada um dos dois genomas tem mais de 1 bilhão de pares de bases — o genoma humano, para se ter uma ideia, tem 3 bilhões de pares. No estudo, os pesquisadores analisaram as similaridades entre os DNAs das espécies silvestres e o do amendoim cultivado (híbrido). Fazendo isso, conseguiram inferir a estrutura do genoma do amendoim cultivado. “Isso nos fornece dados moleculares importante do amendoim que poderá nos ajudar a produzir variedades tolerantes à seca, resistentes a doenças, mais produtivas e que demandam menos defensivos para sua produção”, diz Bertioli.
Os pesquisadores identificaram regiões genômicas que conferem resistências contra doenças e pragas, como ferrugem e nematoide da galha. A primeira causa pontos amarelados visíveis na superfície dos folíolos causados por fungos e que podem dizimar até 70% da produção; o segundo é um verme que se instala nas raízes das plantas e reduz a absorção e o transporte de água e de nutrientes para ela, comprometendo ou até mesmo inviabilizando a cultura.
O que realmente chamou a atenção é que o genoma da outra espécie silvestre, A. ipaensis, apresentou-se como um tipo de relíquia viva, praticamente idêntico ao subgenoma B do amendoim moderno. A comparação entre as sequências de DNA silvestre e do subgenoma B do amendoim cultivado indicou que elas são 99,96% idênticas, uma semelhança sem precedentes. “É quase como se o DNA tivesse sido amostrado da mesma planta que deu origem ao amendoim cultivado, mantida em um jardim pré-histórico”, comenta. Segundo Bertioli, os genomas das duas espécies parentais proporcionam excelentes modelos para o estudo do genoma do amendoim cultivado, A. duranensis servindo como um modelo para o subgenoma A, e A. ipaensis, para o subgenoma B.
O estudo faz parte de um projeto mais amplo, chamado Peanut Genome Initiative, envolvendo pesquisadores de Estados Unidos, China, Índia, Israel e Brasil, com o objetivo de sequenciar o genoma do amendoim, caracterizar sua variação genética e fenotípica e seus parentes silvestres, ou mesmo desenvolver ferramentas genômicas para a obtenção de variedades melhoradas. Além da alimentação, o amendoim é uma fonte potencial para a produção de biodiesel – algumas variedades chegam a produzir até 50% de óleo para a mesma. O sequenciamento do genoma das espécies silvestres, e sua comparação com os subgenomas do amendoim que conhecemos, foi o primeiro passo do projeto. Os pesquisadores agora pretendem sequenciar o genoma completo do amendoim cultivado.
Artigo científico
BERTIOLI, D. J. et al. The genome sequences of Arachis duranensis and Arachis ipaensis, the diploid ancestors of cultivated peanut. Nature Genetics. fev. 2016.
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