Fósseis sugerem ligação da Antártica com continente americano
6 de março de 2016
Uma
expedição de cientistas encontrou no cerro Guido - uma zona inóspita da
Patagônia 3.000 quilômetros ao sul de Santiago - um depósito de fósseis
de dinossauros e restos fossilizados de flora e folhas cuja idade seria
remontaria a 68 milhões de anos atrás, quase no fim da era dos
dinossauros.
"Na
Antártica, foram encontrados restos de ossos de dinossauros típicos das
zonas continentais (América), que tenham atravessado por pontes
formadas entre a América do Sul e a Antártica", disse à AFP Marcelo
Leppe, líder da expedição e do Departamento científico do Instituto
Antártico Chileno (Inach).
Leppe acredita que tudo começou com uma queda brusca de temperatura.
Isso
"produziu queda da neve que se acumulou como gelo e causou o declínio
dos oceanos entre 25 e 200 metros, permitindo a emergência para a
superfície de porções de terra que estavam sob o mar, formando pontes",
garante o paleontólogo, que foi responsável pela base do Inach na
Antártica.
Entre
os fósseis descobertos no continente branco estão o saurópode, o maior e
mais meridional dinossauro encontrado no Chile em 2014, que chegou a
medir 30 metros de comprimento e pesar 35 toneladas, e também o
hadrossauro, um herbívoro que atingia 10 metros de comprimento e chegava
a pesar 20 toneladas.
Ambas as espécies foram encontradas no depósito de fósseis de Cerro Guido, cuja extensão chegaria aos sete quilômetros.
Neste
local, um dos maiores da América, os dinossauros viveram milhões de
anos antes de chegar à Antártica há 68 milhões de anos.
Os
cientistas fizeram longas caminhadas e subiram uma colina de mais de
mil metros de altitude para encontrar esses fósseis. Durante a
expedição, que durou duas semanas, dormiram em barracas num acampamento
montado cerca de três quilômetros de distância de qualquer contato
humano, suportando frio intenso e fortes ventos patagônicos.
Vegetação da Antártica
No
Cerro Guido, os cientistas também descobriram as folhas fossilizadas de
nothofagus, uma espécie arbórea no hemisfério sul e cuja idade atinge
68 milhões de anos.
De
acordo com os investigadores, estas folhas são as mesmas que foram
descobertas na Antártida, mas que datam de 80 milhões de anos atrás.
Elas são muito mais velhas do que as da Patagônia, indicando que são
originárias do continente branco, quando esse tinha vegetação.
"Alguns
fósseis de flores, folhas de árvores e plantas encontrados tinham como
local de procedência a Antartica, o que reforça a teoria de que estes
tenham migrado por pontes formadas entre o continente branco e o
americano", acredita Leppe.
A
pesquisa indica que na Antártica descobriram fósseis de espécies como
canela, mirtasias, eucaliptos, pinheiros, manios, que atualmente são
típicos das florestas do sul do Chile, e também migraram por essas
pontes de vento, chuva e a estrada de terra.
"Podemos
dizer que as florestas dessas regiões chilenas são registros do que foi
a vegetação na Antártica cerca de 70 milhões de anos atrás", disse o
paleobotânico brasileiro Thiers Wilberger.
As
plantas mais antigas da América do Sul estão no Brasil há mais de 120
milhões de anos, enquanto na Argentina há registros de fósseis de
plantas de 80 milhões de anos, garante Wilberger.
O
especialista brasileiro destacou o bom estado de conservação dos restos
de folhas, flores e ossos de dinossauros encontrados em Cerro Guido, na
fronteira com a Argentina, e que pode ser acessado a pé ou em um trator
contornando colinas e cruzando rios.
No local também foi encontrado pólen, algo muito raro devido à sua fragilidade.
Wilberger
afirma que algumas espécies como as araucárias - uma árvore hoje típica
do sul do Chile - migraram para o Brasil e outras até a Nova Zelândia e
Nova Caledônia.
"Apesar
de não ter uma fronteira na atualidade,a conexão entre Chile e Brasil,
graças a esta migração da flora, é muito próxima", disse o brasileiro.
Desde
2013, os pesquisadores viajam para esta remota região por duas semanas
durante o ver]ao austral, já que no restante do ano a zona está coberta
de neve e as temperaturas ficam perto de zero.
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