Cientistas querem criar oficialmente a era geológica do homem
Edilson Dantas/Folhapress | ||
Aumento da concentração de gás carbônico no planeta seria indício da Era do Homem |
A ideia de que estamos vivendo uma nova fase da história geológica da
Terra, marcada pelos impactos avassaladores da ação de uma única espécie
–a nossa– sobre a estrutura do planeta, acaba de dar um passo
importante rumo à aprovação oficial. Um time com mais de 30 cientistas
apresentou suas conclusões após anos de debates e afirmou que sim, este é
o Antropoceno, a Era do Homem.
O anúncio do chamado Grupo de Trabalho do Antropoceno foi feito na semana passada, durante o 35º Congresso Geológico Internacional, realizado na Cidade do Cabo (África do Sul). Pode parecer estranho, mas as decisões sobre os principais temas do debate foram tomadas "democraticamente", por voto.
Dos 35 membros do grupo coordenado por Jan Zalasiewicz, da Universidade de Leicester (Reino Unido), 30 se posicionaram a favor de formalizar o Antropoceno –termo derivado das palavras gregas para "ser humano" e "recente"– como uma fase geológica distinta do desenvolvimento do planeta, e não como uma simples designação simbólica dos impactos do Homo sapiens sobre a biosfera. Uma maioria sólida (28 dos pesquisadores) também apoiou a proposta de definir o início do Antropoceno como a década de 1950.
Essa data, aliás, indica em que ponto a discussão vira uma pedreira, sem
trocadilhos. Há regras bastante estritas que estabelecem como (e até
onde) pode-se dizer que uma nova fase geológica começa. Os geólogos usam
duas siglas prolixas para designar esses detalhes: GSSP e GSSA.
A primeira significa literalmente "ponto e seção de estratótipo de limite global" e se refere a um ponto exato numa camada de rochas que pode ser considerado o momento de início de uma fase geológica. Já GSSA é a sigla de "idade padrão estratigráfica global" e estabelece, como o leitor já deve ter imaginado, uma idade absoluta para o tal GSSP. O fim da Era dos Dinossauros, por exemplo, teria vindo há 66 milhões de anos, e o melhor testemunho dessa catástrofe, segundo a convenção, está nas rochas de El Kef, na Tunísia (nas quais há uma camada de irídio, metal muito mais comum em meteoritos do que na Terra, associada ao bólido celeste que exterminou os dinos).
HORA DA BOMBA?
A década de 1950 é interessante para alguns dos membros do grupo de trabalho porque ela inclui, entre outras coisas, a ascensão de testes nucleares em escala relativamente ampla, produzindo o elemento químico plutônio e espalhando o dito cujo planeta afora em quantidades jamais vistas.
Dá para argumentar que geólogos do futuro distante seriam perfeitamente capazes de analisar sedimentos produzidos em meados do século passado e concluir que algo de fundamental havia mudado na química da Terra naquele ponto da história.
Essa foi a opinião de dez dos cientistas que votaram, mas outros citaram elementos como o aumento vertiginoso da concentração de dióxido de carbono na atmosfera (por conta da queima de combustíveis fósseis) ou o aparecimento de plásticos ou de alumínio puro, materiais nunca vistos no planeta antes do século passado.
A questão é encontrar lugares onde esses sinais sejam claros e bem preservados, de maneira a definir um GSSP convincente para a comunidade internacional de geólogos, diz Colin Waters, do Serviço Geológico Britânico.
"Há os que se opõem à formalização do Antropoceno porque acham que a capacidade de defini-lo com base em técnicas estratigráficas tradicionais ainda não foi demonstrada. Alguns pesquisadores argumentam que precisamos achar um GSSP claro, com descrições completas das assinaturas encontradas nele e ideias sobre como encontrar correlações dessas assinaturas em outros lugares do globo", explica Waters.
As possibilidades a respeito desse lugar exato ainda estão em aberto. Sedimentos depositados em bacias oceânicas, em locais como a costa da Califórnia e da Venezuela, estão entre os candidatos, assim como formações calcárias de cavernas da Itália. O grupo de trabalho espera concluir essa busca por candidatos a GSSP em até três anos.
Depois disso, três rodadas de votação ainda devem acontecer. A decisão final é do comitê executivo da União Internacional de Ciências Geológicas.
Terra sofria bombardeamento de cometas e meteoritos
ARQUEANO (4 bilhões de anos atrás)
Formação dos continentes
PROTEROZOICA (2,5 bilhões -550 milhões de anos atrás)
Intensa atividade vulcânica; surge o oxigênio da atmosfera, produzido por bactérias
PALEOZOICA (550 a 250 milhões de anos atrás)
Formação de grandes florestas, glaciações e surgimento dos primeiros insetos e répteis
MESOZOICA (250 milhões de anos atrás)
Divisão do continente da Pangeia e o surgimento de grandes répteis, como os dinossauros, e mamíferos
CENOZOICA
É dividida em dois períodos
Terciário (60 milhões de anos)
Aves e mamíferos com aparência moderna se diversificam
Quaternário (1 milhão de anos)
é dividido em Pleistoceno e Holoceno (no qual estamos, até então)
O anúncio do chamado Grupo de Trabalho do Antropoceno foi feito na semana passada, durante o 35º Congresso Geológico Internacional, realizado na Cidade do Cabo (África do Sul). Pode parecer estranho, mas as decisões sobre os principais temas do debate foram tomadas "democraticamente", por voto.
Dos 35 membros do grupo coordenado por Jan Zalasiewicz, da Universidade de Leicester (Reino Unido), 30 se posicionaram a favor de formalizar o Antropoceno –termo derivado das palavras gregas para "ser humano" e "recente"– como uma fase geológica distinta do desenvolvimento do planeta, e não como uma simples designação simbólica dos impactos do Homo sapiens sobre a biosfera. Uma maioria sólida (28 dos pesquisadores) também apoiou a proposta de definir o início do Antropoceno como a década de 1950.
A primeira significa literalmente "ponto e seção de estratótipo de limite global" e se refere a um ponto exato numa camada de rochas que pode ser considerado o momento de início de uma fase geológica. Já GSSA é a sigla de "idade padrão estratigráfica global" e estabelece, como o leitor já deve ter imaginado, uma idade absoluta para o tal GSSP. O fim da Era dos Dinossauros, por exemplo, teria vindo há 66 milhões de anos, e o melhor testemunho dessa catástrofe, segundo a convenção, está nas rochas de El Kef, na Tunísia (nas quais há uma camada de irídio, metal muito mais comum em meteoritos do que na Terra, associada ao bólido celeste que exterminou os dinos).
HORA DA BOMBA?
A década de 1950 é interessante para alguns dos membros do grupo de trabalho porque ela inclui, entre outras coisas, a ascensão de testes nucleares em escala relativamente ampla, produzindo o elemento químico plutônio e espalhando o dito cujo planeta afora em quantidades jamais vistas.
Dá para argumentar que geólogos do futuro distante seriam perfeitamente capazes de analisar sedimentos produzidos em meados do século passado e concluir que algo de fundamental havia mudado na química da Terra naquele ponto da história.
Essa foi a opinião de dez dos cientistas que votaram, mas outros citaram elementos como o aumento vertiginoso da concentração de dióxido de carbono na atmosfera (por conta da queima de combustíveis fósseis) ou o aparecimento de plásticos ou de alumínio puro, materiais nunca vistos no planeta antes do século passado.
A questão é encontrar lugares onde esses sinais sejam claros e bem preservados, de maneira a definir um GSSP convincente para a comunidade internacional de geólogos, diz Colin Waters, do Serviço Geológico Britânico.
"Há os que se opõem à formalização do Antropoceno porque acham que a capacidade de defini-lo com base em técnicas estratigráficas tradicionais ainda não foi demonstrada. Alguns pesquisadores argumentam que precisamos achar um GSSP claro, com descrições completas das assinaturas encontradas nele e ideias sobre como encontrar correlações dessas assinaturas em outros lugares do globo", explica Waters.
As possibilidades a respeito desse lugar exato ainda estão em aberto. Sedimentos depositados em bacias oceânicas, em locais como a costa da Califórnia e da Venezuela, estão entre os candidatos, assim como formações calcárias de cavernas da Itália. O grupo de trabalho espera concluir essa busca por candidatos a GSSP em até três anos.
Depois disso, três rodadas de votação ainda devem acontecer. A decisão final é do comitê executivo da União Internacional de Ciências Geológicas.
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FASES DA HISTÓRIA DA TERRA
HADEANO (4,5 bilhões de anos)Terra sofria bombardeamento de cometas e meteoritos
ARQUEANO (4 bilhões de anos atrás)
Formação dos continentes
PROTEROZOICA (2,5 bilhões -550 milhões de anos atrás)
Intensa atividade vulcânica; surge o oxigênio da atmosfera, produzido por bactérias
PALEOZOICA (550 a 250 milhões de anos atrás)
Formação de grandes florestas, glaciações e surgimento dos primeiros insetos e répteis
MESOZOICA (250 milhões de anos atrás)
Divisão do continente da Pangeia e o surgimento de grandes répteis, como os dinossauros, e mamíferos
CENOZOICA
É dividida em dois períodos
Terciário (60 milhões de anos)
Aves e mamíferos com aparência moderna se diversificam
Quaternário (1 milhão de anos)
é dividido em Pleistoceno e Holoceno (no qual estamos, até então)
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