QUÃO QUENTE ERAM OS OCEANOS QUANDO A VIDA EVOLUIU?
Nós sabemos pouco sobre as
temperaturas da superfície da Terra nos primeiros 4 bilhões de anos da
história. Isso apresenta uma limitação na pesquisa das origens da vida na Terra e como ela pode surgir em planetas distantes.
Agora, os pesquisadores sugerem que, ao
ressuscitar enzimas antigas, poderiam estimar ás temperaturas em que
esses organismos provavelmente evoluíram há bilhões de anos. Os
cientistas publicaram recentemente suas descobertas na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
“Precisamos de uma melhor compreensão, não só de como a vida evoluiu pela Terra, mas como a vida e o ambiente da Terra evoluíram ao longo de bilhões de anos de história geológica”, disse a autora principal Amanda Garcia,
paleogeobiologa da Universidade da Califórnia, Los Angeles. “Uma
co-evolução semelhante parece ser o caso de qualquer vida em outro lugar
do Universo”.
Garcia e seus colegas se concentraram na
história das temperaturas da superfície terrestre. Rochas oferecem
muitas pistas para deduzir as temperaturas nos últimos 550 milhões de
anos na Era Fanerozóica, quando a vida multicelular complexa decolou,
inclusive a dos humanos. No entanto, poucos desses “paleo-termômetros” existem para a era anterior a pré-cambriana, abrangendo a formação da Terra há 4,6 bilhões de anos e o surgimento da vida.
Evidências geológicas antigas sugeriram
que a 3,5 bilhões de anos, durante o Eon Arqueano, os oceanos estavam à
cerca entre 131 e 185°F (55 a 85°C). Eles esfriaram dramaticamente para
temperaturas médias atuais de 15°C (59°F). Os cientistas fizeram essas
estimativas examinando isótopos de oxigênio e silício em rochas
marinhas. As rochas ricas em quartzo no fundo do mar, conhecidas como cherts
(variedade de quartzo), têm níveis mais altos de isótopos de
oxigênio-18 e de silício-30 e mais pesados à medida que a água do mar
fica mais fria. Em princípio, a proporção de oxigênio mais pesado para
isótopos de oxigênio e de silício podem arrojar luz em temperaturas
antigas.
Mas esses paleo-termômetros não levam em
consideração adequadamente como essas rochas ou o oceano poderiam ter
mudado ao longo de bilhões de anos. Talvez os índices isotópicos na água
do mar variassem ao longo do tempo em resposta a alterações físicas ou
químicas, como a água flui fora da terra ou de aberturas hidrotermais.
Dadas as incertezas, Garcia e seus
colegas buscaram uma medida independente das temperaturas da água do mar
no Pré-Cambriano que se concentra no comportamento de moléculas
biológicas. Os cientistas examinaram uma enzima conhecida como nucleósido difosfato quinase
(NDK), que ajuda a manipular os blocos de construção de DNA e RNA, bem
como muitos outros papéis. As versões desta proteína são encontradas em
praticamente todos os organismos vivos, e provavelmente também são
vitais para muitos organismos extintos.Pesquisas anteriores encontraram
uma correlação entre as temperaturas ótimas da estabilidade da proteína e
o crescimento de um organismo.
Ao comparar as seqüências moleculares das
versões da enzima NDK em uma variedade de espécies contemporâneas, os
pesquisadores podem reconstruir as versões do NDK que poderiam ter
estado presentes em seus ancestrais comuns. Ao sintetizar essas
reconstruções, os cientistas podem testar experimentalmente essas
proteínas antigas “ressuscitadas” para encontrar a temperatura que
estabiliza a proteína e deduzir dela a temperatura provável que
sustentava os organismos antigos.
Os cientistas calcularam quando as
enzimas antigas poderiam ter existido ao olharam para os parentes vivos
mais próximos do seu organismo hospedeiro. Quanto maior o número de
diferenças nas sequências genéticas desses parentes, mais tempo se
passou desde seu último ancestral comum. Os cientistas usam essas
diferenças para medir a idade das biomoléculas, como as reconstruções de
NDK.
Pesquisas anteriores reconstruíram as
enzimas antigas para deduzir as temperaturas passadas, mas algumas
dessas enzimas podem ter vindo de organismos que viviam em ambientes
excepcionalmente quentes, como aberturas hidrotermais de profundidade,
que não seriam representativas ao longo do oceano. Em vez disso, Garcia e
seus colegas procuraram reconstruir o NDK de plantas terrestres e
bactérias fotossintéticas que vivem nas profundezas altas dos oceanos,
presumivelmente longe de fontes de água quente ferventes.
Sua pesquisa sugere que a superfície da
Terra esfriou cerca de cerca de 75°C (aproximadamente 167°F) há cerca de
3 bilhões de anos atrás para aproximadamente 95°C (35°F) cerca de 420
milhões de anos atrás. Essas descobertas são consistentes com resultados
geológicos e enzimáticos anteriores.
Garcia disse que um resfriamento tão
dramático é difícil de entender, enfatizando como os cientistas precisam
se lembrar de quão diferentes as condições foram no passado ao
descobrir como a vida evoluiu ao longo do tempo.
“Isso exige muito esforço para imaginar um mundo que não pareça encaixar com o senso comum de nossas condições atuais da Terra”.
Pesquisas futuras poderiam reconstruir
versões de NDK de mais organismos, bem como outras enzimas, dando mais
evidências para apoiar o método. Essa pesquisa poderia ajudar “na
resolução de grandes questões sobre a evolução precoce da vida e do meio
ambiente da Terra”, disse ela.
A participação do co-autor do estudo, J.
William Schopf, fundador do Centro para o Estudo da Evolução e da Origem
da Vida na Universidade da Califórnia, Los Angeles, foi apoiada por sua
participação no Consórcio de Pesquisas de Astrobiologia de Wisconsin do
Instituto de Astrobiologia da NASA.
Fonte: Live Science
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