Cosméticos ocultam substâncias que causam danos à saúde
22/09/2010
A cada dia, o mercado da beleza
cresce cada vez mais. Cremes para o rosto, pés, cotovelos, hidratantes
ditos inteligentes, desodorantes que prometem longa duração. As ofertas
são inúmeras que o próprio Narciso ficaria orgulhoso. Mas o que o
consumidor - e principalmente as consumidoras - não percebe é que a
maioria das substâncias contidas nestes produtos podem trazer riscos à
saúde se estiverem concentradas em doses além do que dermatologistas e
especialistas definem como seguras.
Não significa dizer que aquele sabonete preferido ou a tintura para
cabelos de uma marca confiável contêm substâncias proibidas.
O problema é
que, de acordo com associações de consumidores, fabricantes de
cosméticos, mesmo sabendo que algumas formulações podem ser prejudiciais
ao consumidor, continuam usando esses ingredientes e não divulgam os
problemas relacionados a eles. Há um vídeo circulando na internet
chamado "The Story of Cosmetics", que aponta os potenciais perigos de
componentes encontrados na maioria dos cosméticos. Os produtores da
mensagem afirmam não se tratar de terrorismo verde, embora o conteúdo
seja capaz de deixar muita gente aterrorizada.
No vídeo, câncer, distúrbios neurológicos e infertilidade são
associados a xampus, cremes, desodorantes e até itens para bebê. O
intuito é alertar sobre o perigo oculto nas fórmulas e pressionar as
autoridades para aumentar o controle sobre os produtos de beleza e
higiene, proibindo os mais tóxicos. Os testes de segurança de cada
produto é fornecido, em sua maioria, pelos próprios fabricantes, o que
deixa uma larga margem de dúvida quanto à confiabilidade e presisão
destes testes. No Brasil, cujo mercado de cosméticos representa o
terceiro maior do mundo, a competência para a regulamentação dos
produtos do setor é da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa).
A Anvisa possui alguns parâmetros para a verificação de segurança,
dividindo os cosméticos em dois grupos.
O grau 1 inclui os considerados
mais simples na formulação e nos efeitos prometidos, como
condicionadores, xampus, sabonetes. Esses não são submetidos à análise,
bastando apenas uma notificação da empresa.
O grau 2 é o grupamento dos
alisantes, antitranspirantes e tintura de cabelo. Esses produtos
precisam de registro e passam por análise técnica. Além disso, os
fabricantes têm de apresentar documentos para comprovar que as
substâncias estão dentro dos limites considerados seguros.
Mas há um desentendimento entre aqueles que defendem cosméticos mais
"limpos" e a indústria. Estes se dizem respaldados pela lei e que,
embora as substâncias utilizadas sejam de fato tóxicas, as doses
aplicadas não oferecem riscos. Aqueles até admitem que a química de cada
produto, individualmente, não faz mal. Mas o problema reside no fato de
que ninguém usa apenas um produto. Calcula-se que, por dia, mulheres
usem dez e homens, seis produtos.
Dia após dia, ano após ano, pequenas
quantidades de produtos tóxicos vão se acumulando no organismo, na
opinião de Edilene Costa, da Associação Brasileira de Produtos
Artesanais, Naturais e Bem-Estar (Abrapan), entidade criada para apoiar
empresas de "produtos naturais" (conceito vago e sem regulamentação
clara). No site da Abrapan (www.abrapan.org.br) há uma lista de substâncias inseguras encontradas em cosméticos.
- Em longo prazo, esses cosméticos trazem problemas. Nosso trabalho é
conscientizar o indivíduo da importância desses produtos para a saúde e
o ambiente.
Edilene sugere que o consumidor leia os ingredientes que compõem o
produto e busque a informação. Ainda assim, a tarefa é bastante
dificultosa se levar em conta o tamanho das letras nas embalagens e a
quantidade de siglas indecifráveis para quem não é formado em química. O
sítio www.cosmeticdatabase.com
oferece um banco de dados de cosméticos seguros, sustentado por uma
organização chamada Grupo de Trabalhos Ambientais (EWG, na sigla em
inglês). A página eletrônica dispõe de mecanismos para descobrir os
tipos de risco que cada substância oferece e em que produtos aparece.
Mesmo assim, a ferramenta não supera de todo a discussão. Encontrar
alternativas seguras de produtos também não é uma tarefa tão simples. O
Brasil dispõe de um regulamento oficial para cosméticos ecológicos,
orgânicos ou naturais. A saída é procurar produtos com selos de
certificadoras reconhecidas, como a Ecocert, que tem origem francesa e
ramos em vários países, incluindo o Brasil, e o IBD, que trabalha com as
certificadoras NSF (EUA) e a Natrue (Europa).
A outra dificuldade é educar o consumidor. Para a maioria deles,
cosmético natural não tem muita eficácia. Segundo Clélia Angelon,
presidente da Surya, marca brasileira de cosméticos orgânicos
certificados, o brasileiro ainda confunde aspectos sensorais do produto -
fazer espuma, ter determinado aroma - com eficiência.
- Já temos no país várias opções de cosméticos sem substâncias tóxicas e de excelente performance.
Confira abaixo uma breve descrição das principais substâncias encontradas em produtos de higiene:
PARABENO
É um conservante presente em 90% dos cosméticos. Tem a finalidade de evitar a contaminação microbiana, garantindo a segurança de uso. A agência de vigilância sanitária regula o limite de uso da substância. A concentração considerada segura foi baseada em estudos internacionais. Há muitos estudos mostrando que os parabenos contribuem para o desenvolvimento do câncer em pessoas predispostas. Outros trabalhos trazem evidências de que a substância afeta o sistema hormonal.
DIAZOLIDINYL UREA
Outro tipo de conservante, que pode ser usado em maquiagem, cremes para unha e cabelos, pós-barba e loções hidratantes. A Anvisa regula o limite de uso em concentrações consideradas seguras. O produto pode causar alergias na pele e ser tóxico para o sistema imunológico, segundo alguns trabalhos publicados.
LAURIL SULFATO DE SÓDIO
Aprovada pela Anvisa, a substância tem ação detergente e a capacidade de formar espuma. É muita usada em xampus e sabonetes. Pode ser encontrada até em pasta de dentes. Pode causar irritação na pele. Também pode, por reações químicas ou contaminação, gerar um subproduto, chamado 1,4 dioxane, que não tem uso aprovado e é considerado cancerígeno.
AMÔNIA
Usada para abrir as cutículas dos fios de cabelo para que recebam outros produtos (descolorantes, tinturas, alisantes, permanentes etc.), tem os limites de segurança de uso dispostos pela Anvisa. É irritante das vias áreas e da pele. Estudos mostram que tem efeito cumulativo no organismo.
PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO
Mais conhecido com água oxigenada, é usado para clarear pelos e cabelos e como neutralizante em processos de alisamento, relaxamento, permanentes e tinturas. A Anvisa controla os limites de uso, diferentes para produtos para cabelos e para clareamento de pelos. Irrita a pele. Estudos apontam que pode afetar o sistema endócrino.
FORMALDEÍDO (FORMOL)
A Anvisa aprova o uso como conservante em concentração máxima de 0,2% e como endurecedor de unhas até 5%. O uso como alisante capilar não é permitido pela legislação. Esse uso, segundo a Anvisa, pode causar irritação, coceira, queimadura, inchaço, descamação e vermelhidão do couro cabeludo, queda de cabelo, ardência dos olhos, falta de ar, tosse, dor de cabeça, ardência e coceira no nariz. Várias exposições podem causar câncer nas vias aéreas superiores.
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