AS CONSISTENTES EVIDÊNCIAS DA EVOLUÇÃO DOS FELINOS E A DOMESTICAÇÃO DOS GATOS.
Os felinos constituíram um grande
trajeto na história da vida no planeta, com a conquista de diferentes
nichos ecológicos em todo o mundo. São animais fascinantes, não somente
pela beleza, mas também em seus mais profundos aspectos biológicos e até
místicos.
Os felinos compreenderam mais de 37
espécies distribuídas em oito diferentes linhagens. A linhagem das
panteras compreende os maiores felinos do planeta e tem estruturas
extremamente especiais.
Em felinos, no geral, o osso hióideo é
bastante calcificado, impedindo que possam rugir. Os grandes felinos
pertencentes a linhagem das panteras são o leão, leopardo, onça, tigre,
leopardo das neves e duas espécies de panteras, estes podem rugir alto
porque o osso hióideo é cartilaginosos: são as verdadeiras
panteras,pois. Atualmente o número de leões na África não chega a 30 mil
exemplares. Na Ásia já estão praticamente extintos uma vez que sua
variabilidade genética já esta comprometida. Alguns estudos genéticos
afirmam que o tigre também já estaria extinto, e que só estamos
esperando para que o último da espécie venha a morrer.
Como sabemos o nível do mar é bastante
variável, modifica-se com o passar dos anos devido aos diferentes
processos de glaciação e aquecimento global que ocorrem de tempos em
tempos. Este fator é fundamental para a vida e atua como uma máquina de
produzir novas espécies, principalmente em felinos que naturalmente
migram conforme a disponibilidade de alimento e de território.
Por volta de 20 milhões de anos atrás o ancestral dos felinos atuais era o Pseudaelurus, embora alguns felinos como o dente-de-sabre já existissem a mais de 35 milhões de anos.
O pseudaelurus viveu na Ásia até
pouco mais de 11 milhões de anos atrás e se divergiu nos grupos de
felinos que conhecemos hoje. O primeiro grupo de felinos surgiu a 10
milhões de anos e deu origem aos indivíduos do grupo pantera.
Há 9,4 milhões de anos um segundo grupo
se diferenciou e deu origem aos gatos da baía. Estes gatos são
características de determinadas regiões da Ásia. Aos 8 milhões de anos
outra diferenciação deu origem ao caracal que hoje vivem na África e
compreende três espécies diferentes.
Neste momento o nível dos oceanos estava
baixo, reduzindo seu volume em 60 metros, isso permitiu que a África
fosse ligada a península arábica. Assim, os felinos puderam migrar para
outros locais e conquistar novos horizontes. Além disto, permitiu que os
felinos também conquistassem o Alasca através do estreito de Bering.
Assim na América surge a linhagem das jaguatiricas e do lince, separados
a aproximadamente 7,2 milhões de anos quando o nível dos mares voltou a
subir.
A linhagem da jaguatirica originou gerou duas novas espécies e os linces geraram quatro espécies distintas.
Posteriormente surgem os pumas, a 6,2 milhões de anos. O puma compreende a espécies Puma concolor e ainda pode ser chamado de onça parda, onça pintada ou suçuarana.
Uma segunda migração ocorreu
posteriormente quando ocorreu uma nova variação do volume de água nos
mares. A 2,5 milhões de anos atrás o nível do mar voltou a baixar e
permitiu que alguns felinos migrassem da América do Norte para a América
do Sul. Ao chegarem o Brasil, os felinos encontraram um local de
refeição farta e se estabeleceram preenchendo novos nichos. As
jaguatiricas se diversificaram ainda mais.
A segunda migração foi bem mais complexa,
pois envolve um úumero muito grande de linhagens que se distribuíram ao
longo de todo o planeta.
Quando o nível do mar voltou a subir
devido durante um aquecimento global as espécies voltaram a se isolar
umas das outras e muitos animais do Pleistoceno como os mamutes, tigres
dente de sabre, mastodontes, lobos pré-históricos, preguiças gigantes,
ursos da cara achatada, pumas e guepardos (Acinonyx jubatus) morreram. Os únicos que conseguiram escapar foram os bisões, que posteriormente foram extintos talvez pela caça do Homo sapiens. O guepardo que conseguiu deixar alguns de seus ancestrais na Ásia.
Os ancestrais do gato doméstico (Felis catus)
e gato leopardo deixaram as Américas e voltaram para a Ásia onde lá
surgiram como espécies propriamente ditas. Alguns leões e onças chegaram
a viajar para a América do Norte no Plioceno, mas foram mortos na
extinção do Pleistoceno.
Hoje sabemos que todos os 600 milhões de
gatos domésticos do mundo tem uma assinatura genética que corresponde
aos gatos selvagens de Israel.
De acordo com a Associação Médica
Veterinária Americana em 2007 havia cerca de 81,7 milhões de gatos nos
domicílios americanos enquanto o numero de cães era de apenas 72,1
milhões. Em outras palavras, cerca de 32% das casas americanas possuem
pelo menos dois gatos. No Brasil os cães são a maioria, com 27 milhões
contra 12 milhões de gatos, segundo dados do IBGE.
Provavelmente surgiram lá a 2 milhões de
anos. Foram domesticados no crescente fértil há 10 mil anos e hoje
compõem cerca de 41 raças graças a seleção artificial.
Se olharmos de forma geral os organismos
começam se diferenciando em raças e se o cruzamento entre elas (ou
melhor, somente entre elas) se manter por milhares de anos podemos gerar
uma espécies nova. O cruzamento entre as espécies e o cruzamento com
modificações genéticas pode gerar novos gêneros e assim por diante.
Desta forma as modificações genéticas são moldadas não somente pelo
ambientes externo mais interno também, gerando novas formas de vidas. A
migração no caso dos felinos exigiu mudanças em sua biologia e uma vez
expostos a novos ambientes pode gerar uma gama de indivíduos
diferenciados dentro do mesmo ancestral em comum. Ocomportamento
migratório exigido a cada geração, associado a novas condições
ambientais foi a máquina responsável por toda sua biodiversidade de
felinos e todas as espécies distribuídas por todo o globo.
Domesticação do gato.
Mamíferos são extremamente sociais, um
reflexo disse é a expansão do córtex de seu sistema nervoso central. O
homem domesticou grande parte dos mamíferos, cavalos, bois, cães e uma
infinidade de outros mamíferos que estenderia muito esta lista. Um
detalhe bastante comum é que todos esses animais vivem em bandos,
justamente reflexo dessa neurobiologia peculiar. No caso dos felinos, é
bastante destacada nas sociedades complexas de leões por exemplo.
Entretanto o gato é o único mamífero que o homem domesticou que vive
solitariamente apesar de ter uma relação evolutiva muito próxima a do
leões.
Existem vários comportamentos em comum entre esses felinos tão anatomicamente distintos, como o comportamento de auto-limpesa.
A domesticação do gato parece ter
ocorrido a pouco mais de 10 mil anos atrás no Crescente Fértil. Os
egípcios foram os primeiros a manter esses animais como bicho de
estimação.
Essa domesticação parece ter sido fruto
da convivência do homem com os gatos selvagens, alguns autores ate
propuseram que a domesticação do gato ocorreu de forma independente em
diversos pontos do planeta.
Com a finalidade de resolver esta questão
em 2000 um grupo de pesquisadores coletou amostras de DNA de gatos em
diferentes pontos do mundo. Foram coletadas amostras de mais de 970
selvagens e domésticos do Sul da África, Azerbaijão, Cazaquistão,
Mongólia, Europa e Oriente médio. Os estudos se concentraram em dois
trechos de DNA que usaram como referência para diferenciar subgrupos de
espécies, o DNA mitocondrial.
Cada um desses 970 gatos teve seu DNA analisado e classificado em 5 grupos genéticos ou linhagens selvagens.
Quatro dessas linhagens correspondiam a subespécie de gato selvagem que habitam locais bastante específicos. O Felis silvestris silvestris na Europa, Felis silvestris bieti na China, Felis silvestris ornata na Ásia Central e o Felis silvestris cafra no sul da África.
A quinta linhagem incluiu não somente a quinta subespécie selvagem Felis silvestris lybica do Oriente médio mas também gatos domésticos de amostragem incluindo raças puras e híbridos dos EUA, Reino unido e Japão.
A linhagem Felis silvestris lybica
mostrou que a origem desses gatos remete a um ancestral comum que viveu
no deserto de Israel, Emirados Árabes ou ainda na Arábia Saudita, e
eram extremamente indistinguíveis da versão doméstica.
Isso sugere que todos os gatos domesticados do mundo tem sua origem em um único local no Oriente médio.
Assim, o estudo também foi utilizado para tentar determinar em que momento da história esses gatos foram domesticados.
Para obter essa informação foi preciso
recorrer até mesmo aos registro arqueológicos. Recentemente uma
descoberta mostrou-se bastante esclarecedora em relação a domesticação
dos gatos.
Em 2004, Jean-Denis Vigne, do Museu
Nacional de História Natural de Paris, e seus parceiros descobriram uma
das evidências mais antigas sobre essa relação homem e gatos. A
descoberta foi feita em uma ilha mediterrânea de Chipre.
Há
aproximadamente 9.500 anos, um homem de sexo desconhecido foi sepultado
em uma cova rasa com objetos como ferramentas de pedra, um punhado de
conchas e em sua própria cova a uns 40 cm de distância, um gato de oito
meses de idade com o corpo voltado na mesma direção que o do humano
estava. Sugere-se que os homens mantinham os gatos como animais de
estimação.
Sabemos que os gatos não são nativos das
ilhas mediterrâneas e que as pessoas os levaram de barco para esses
locais (provavelmente da costa oriental). Isso indica que as pessoas do
Oriente Médio já tinham uma relação intencional com os gatos há quase
dez mil anos. Essa localização é bastante consistente com a origem
geográfica a que foi obtida com base nas análises genéticas supracitadas
acima.
Parece que os gatos foram sendo
domesticados ao mesmo tempo que o homem se estabelecia nos primeiros
povoados na parte do Oriente Médio conhecida como Crescente Fértil.
Os povoamentos iniciais do Crescente
Fértil a aproximadamente nove ou dez mil anos atrás (neolítico), criaram
um ambiente totalmente favorável para animais selvagens que fossem
suficientemente plásticos adaptativamente falando e famintos.
O camundongo doméstico por exemplo (Mus musculus domesticus),
foi um desses animais. Os arqueólogos descobriram restos desses
roedores no meio dos primeiros depósitos de grão dos homens em Israel
datado em cerca de dez mil anos. O camundongo provavelmente não
conseguia competir bem com os camundongos selvagens locais que viviam ao
ar livre, mas ao mudar-se para as casas e armazéns das pessoas e das
cidade proliferou como praga.
A seleção natural favoreceu os gatos que
foram capazes de coabitar com os homens e assim ganharem acesso aos
camundongos. A domesticação do gato parece ser reflexo do início do
processo de tornar terras agricultáveis. Portanto o gato não foi
domesticado inicialmente, apenas passou a conviver nas cidades em busca
de seu alimento assim como pombos e pardais hoje encontram em nosso lixo
alimento e condições para se reproduzir.
Com o tempo, os gatos selvagens mais
tolerantes com a vida nos ambientes dominados pelos homens provavelmente
passaram a proliferar nos primeiros vilarejos. A seleção deste novo
nicho valorizou o comportamento manso embora a competição entre os gatos
também tenha continuado e contribuído para sua evolução e ao mesmo
tempo limitar sua docilidade. Por isso embora solitário o gato ainda
mantém certa independência em relação ao seu dono. Isso fica evidente
observando o enorme número de gatos soltos nas metrópoles, cidades e
vilarejos de todo o mundo que independem de seus donos e continuamente
brigam por seus territórios.
Não há uma data precisa sobre a
domesticação do gato embora evidências arqueológicas já conhecidas há
muito tempo permitem estimar datas deste processo. Uma das evidencias
mais antigas a respeito da relação homens e gatos é um dente molar de um
felino de um depósito arqueológico em Israel, que data aproximadamente
de nove mil anos, e outro dente no Paquistão, de cerca de quatro mil
anos.
Mas existem evidencias antigas desse
processo. Uma estatueta de marfim encontrado em Israel de cerca de 3.700
anos indica que o animal era bastante comum nos vilarejos do Crescente
Fértil antes mesmo de sua inserção na sociedade egípcia. Essa proposta
faz sentido uma vez que a grande maioria dos animais domésticos e
plantas foram introduzidos no vale do Nilo com o surgimento do Crescente
Fértil.
As pinturas egípcias do Novo Império
(iniciada há pouco mais de 3.500 anos), na cidade de Tebas demonstram as
melhores representações da domesticação total. Nessas pinturas pode ser
visto gatos deitados em cadeiras, amarrados em coleiras, com
focinheiras e com frequência comendo sobras de comida em tigelas.
De fato, os egípcios levaram o amor aos
gatos a um patamar mais elevado. Há mais de 2.900 anos, o gato doméstico
se tornou a divindade oficial do Egito, segundo a forma da deusa
Bastet. Muitos gatos domésticos eram sacrificados ou então mumificados
em grande número como sacrifício ou homenagem a deusa.
Os egípcios não pareciam intencionalmente
selecionar traços característicos do gato pelo fato de não terem
surgido variações distintas nas pinturas. Nelas, tanto os gatos
selvagens quanto os domésticos foram retratados com o mesmo tipo de pelo
tigrado.
Durante todos esses séculos o Egito proibiu a exportação de gatos.
Entretanto á cerca de 2.500 anos, os
animais conquistaram à Grécia vindos diretamente do Egito. O que
demonstra a ineficiência da proibição.
Navios carregados de grãos zarparam
diretamente de Alexandria para vários destinos do Império Romano
carregando gatos a bordo para dar conta dos ratos. Dessa forma, os gatos
devem ter estabelecido colônias em cidades portuárias, e a partir daí
se espalharam por diferentes pontos do mundo. Há aproximadamente 2.500
anos, enquanto os romanos expandiam seu império, os gatos domésticos
viajaram com eles se tornando comuns em toda a Europa.
Acabaram também chegando ao Extremo
Oriente, na China pela Mesopotâmia e alcançando a Índia tanto por terra
quanto por mar, através das navegações.
Na Ásia ocorre algo inusitado, por não
existir por lá gatos selvagens nativos com os quais os recém chegados
pudessem cruzar os gatos passaram a seguir uma trajetória própria.
Assim, grupos isolados de gatos domésticos orientais gradualmente
adquiriram características peculiares, como mudança na cor da pelagem de
pelagem, e outras mutações por meio de um processo chamado de oscilação
genética na qual determinados traços que não são benéficos nem
negativos acabam se fixando na população.
Essa oscilação genética levou ao
aparecimento de variações de gatos como os korat, siamês, birmanês,
muitas delas descritas pelos monges budistas tailandeses no livro Tamara Maew(poemas do livro-gato) de 1350.
Pouco se sabe sobre como os gatos
chegaram à América embora seja evidente que uma vez na Europa, chegar as
Américas seria muito fácil. O próprio Cristóvão Colombo e até mesmo
outros navegantes da época levavam gatos a bordo em grandes viagens.
Pouco se sabe também sobre como os gatos chegaram na Austrália embora
cogita-se a possibilidade que tenham viajado com colonizadores europeus
no século 17.
Com base nos escritos de história natural
do artista Harrison Weir alguns pesquisadores propõem que a maioria das
espécies de hoje seja resultado de um processo de domesticação ocorrido
nas Ilhas Britânicas, no século 19 uma vez que em 1871 ocorreu a
primeira exposição de gatos.
Hoje há catalogado mais de 60 raças de
gatos domésticos. Sob o ponto de vista genético é sabido que somente 10
ou 12 genes são responsáveis pelas diferenças na cor, comprimento e
textura dos pelos, assim como por outras características mais sutis,
como a tonalidade e o brilho da pelagem das raças.
Com o sequenciamento do genoma do gato em
2007, os geneticistas vêm catalogando rapidamente as mutações que
produzem essas características. A grande diversidade de tamanhos, formas
e comportamentos encontradas em cães é praticamente inexistente entre
os gatos, conservando traços muito semelhante a sua versão ancestral.
Obviamente que existem algumas diferenças morfológicas como foi
observada até mesmo pelo próprio Darwin que escreveu alguns capítulos em
seu livro A origem da espécies pontuando o processo de seleção
artificial como agente transformador das formas de vida, além dos
diversos experimentos realizados por ele com pombos (Para saber mais
veja o filme A criação)
Darwin declara que:
…as pernas mais curtas, um cérebro menor e um intestino mais comprido, que pode ser uma adaptação advinda do ato de remexer sobras de cozinha.
Para os criacionistas que dizem que
variações não podem criar espécies novas nem em laboratório e nem na
natureza vale lembrar que atualmente os pesquisadores estão hibridizando
gatos domésticos com outras espécies de felinos, produzindo
literalmente novas espécies (e não variações ou raças) exóticas. O gato
bengal e o caracata por exemplo.
Se é possível através do hibridismo ou da
seleção artificial criar espécies novas em pouco tempo, porque não
seria possível a natureza agir como agente seletor e criar novas
espécies ao longo de milhares ou milhões de anos?
Scritto da Rossetti
Palavras chave: Netnature, Rossetti, Felinos, Evolução, Gatos, Genética, Arqueologia, Leão, Pantera, Tigre, Jaguatirica, Leopardo.
Referências:
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