domingo, 21 de junho de 2020

AS CONSISTENTES EVIDÊNCIAS DA EVOLUÇÃO DOS FELINOS E A DOMESTICAÇÃO DOS GATOS.

Os felinos constituíram um grande trajeto na história da vida no planeta, com a conquista de diferentes nichos ecológicos em todo o mundo. São animais fascinantes, não somente pela beleza, mas também em seus mais profundos aspectos biológicos e até místicos.
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Os felinos compreenderam mais de 37 espécies distribuídas em oito diferentes linhagens. A linhagem das panteras compreende os maiores felinos do planeta e tem estruturas extremamente especiais.

Em felinos, no geral, o osso hióideo é bastante calcificado, impedindo que possam rugir. Os grandes felinos pertencentes a linhagem das panteras são o leão, leopardo, onça, tigre, leopardo das neves e duas espécies de panteras, estes podem rugir alto porque o osso hióideo é cartilaginosos: são as verdadeiras panteras,pois. Atualmente o número de leões na África não chega a 30 mil exemplares. Na Ásia já estão praticamente extintos uma vez que sua variabilidade genética já esta comprometida. Alguns estudos genéticos afirmam que o tigre também já estaria extinto, e que só estamos esperando para que o último da espécie venha a morrer.

Como sabemos o nível do mar é bastante variável, modifica-se com o passar dos anos devido aos diferentes processos de glaciação e aquecimento global que ocorrem de tempos em tempos. Este fator é fundamental para a vida e atua como uma máquina de produzir novas espécies, principalmente em felinos que naturalmente migram conforme a disponibilidade de alimento e de território.
Por volta de 20 milhões de anos atrás o ancestral dos felinos atuais era o Pseudaelurus, embora alguns felinos como o dente-de-sabre já existissem a mais de 35 milhões de anos.

O pseudaelurus viveu na Ásia até pouco mais de 11 milhões de anos atrás e se divergiu nos grupos de felinos que conhecemos hoje. O primeiro grupo de felinos surgiu a 10 milhões de anos e deu origem aos indivíduos do grupo pantera.
Há 9,4 milhões de anos um segundo grupo se diferenciou e deu origem aos gatos da baía. Estes gatos são características de determinadas regiões da Ásia. Aos 8 milhões de anos outra diferenciação deu origem ao caracal que hoje vivem na África e compreende três espécies diferentes.
Primeira migração ocorrida a 9 milhões de anos semelhantes a uma pantera saíram da Ásia para a África e para o Norte das Américas. A linhagem que foi para a África deu origem ao caracal e a linhagem que migrou para as Américas deu origem ao Puma, Lince e jaguatirica quando migrou para a America do Sul.

Neste momento o nível dos oceanos estava baixo, reduzindo seu volume em 60 metros, isso permitiu que a África fosse ligada a península arábica. Assim, os felinos puderam migrar para outros locais e conquistar novos horizontes. Além disto, permitiu que os felinos também conquistassem o Alasca através do estreito de Bering. Assim na América surge a linhagem das jaguatiricas e do lince, separados a aproximadamente 7,2 milhões de anos quando o nível dos mares voltou a subir.
A linhagem da jaguatirica originou gerou duas novas espécies e os linces geraram quatro espécies distintas.

Posteriormente surgem os pumas, a 6,2 milhões de anos. O puma compreende a espécies Puma concolor e ainda pode ser chamado de onça parda, onça pintada ou suçuarana.

Uma segunda migração ocorreu posteriormente quando ocorreu uma nova variação do volume de água nos mares. A 2,5 milhões de anos atrás o nível do mar voltou a baixar e permitiu que alguns felinos migrassem da América do Norte para a América do Sul. Ao chegarem o Brasil, os felinos encontraram um local de refeição farta e se estabeleceram preenchendo novos nichos. As jaguatiricas se diversificaram ainda mais.
A segunda migração foi bem mais complexa, pois envolve um úumero muito grande de linhagens que se distribuíram ao longo de todo o planeta.
A 1,4 milhões de anos quando o nível do mar baixou ocorrem outras migrações. A mais recente foi a do puma (M11) entre 8 e 10 mil anos.

 Quando o nível do mar voltou a subir devido durante um aquecimento global as espécies voltaram a se isolar umas das outras e muitos animais do Pleistoceno como os mamutes, tigres dente de sabre, mastodontes, lobos pré-históricos, preguiças gigantes, ursos da cara achatada, pumas e guepardos (Acinonyx jubatus) morreram. Os únicos que conseguiram escapar foram os bisões, que posteriormente foram extintos talvez pela caça do Homo sapiens. O guepardo que conseguiu deixar alguns de seus ancestrais na Ásia.

Os ancestrais do gato doméstico (Felis catus) e gato leopardo deixaram as Américas e voltaram para a Ásia onde lá surgiram como espécies propriamente ditas. Alguns leões e onças chegaram a viajar para a América do Norte no Plioceno, mas foram mortos na extinção do Pleistoceno.
Hoje sabemos que todos os 600 milhões de gatos domésticos do mundo tem uma assinatura genética que corresponde aos gatos selvagens de Israel.

De acordo com a Associação Médica Veterinária Americana em 2007 havia cerca de 81,7 milhões de gatos nos domicílios americanos enquanto  o numero de cães era de apenas 72,1 milhões. Em outras palavras, cerca de 32% das casas americanas possuem pelo menos dois gatos. No Brasil os cães são a maioria, com 27 milhões contra 12 milhões de gatos, segundo dados do IBGE.
Provavelmente surgiram lá a 2 milhões de anos. Foram domesticados no crescente fértil há 10 mil anos e hoje compõem cerca de 41 raças graças a seleção artificial.

Se olharmos de forma geral os organismos começam se diferenciando em raças e se o cruzamento entre elas (ou melhor, somente entre elas) se manter por milhares de anos podemos gerar uma espécies nova. O cruzamento entre as espécies e o cruzamento com modificações genéticas pode gerar novos gêneros e assim por diante. Desta forma as modificações genéticas são moldadas não somente pelo ambientes externo mais interno também, gerando novas formas de vidas. A migração no caso dos felinos exigiu mudanças em sua biologia e uma vez expostos a novos ambientes pode gerar uma gama de indivíduos diferenciados dentro do mesmo ancestral em comum. Ocomportamento migratório exigido a cada geração, associado a novas condições ambientais foi a máquina responsável por toda sua biodiversidade de felinos e todas as espécies distribuídas por todo o globo.

Domesticação do gato.

Mamíferos são extremamente sociais, um reflexo disse é a expansão do córtex de seu sistema nervoso central. O homem domesticou grande parte dos mamíferos, cavalos, bois, cães e uma infinidade de outros mamíferos que estenderia muito esta lista. Um detalhe bastante comum é que todos esses animais vivem em bandos, justamente reflexo dessa neurobiologia peculiar. No caso dos felinos, é bastante destacada nas sociedades complexas de leões por exemplo. Entretanto o gato é o único mamífero que o homem  domesticou que vive solitariamente apesar de ter uma relação evolutiva muito próxima a do leões.

Existem vários comportamentos em comum entre esses felinos tão anatomicamente distintos, como o comportamento de auto-limpesa.
A domesticação do gato parece ter ocorrido a pouco mais de 10 mil anos atrás no Crescente Fértil. Os egípcios foram os primeiros a manter esses animais como bicho de estimação.
Essa domesticação parece ter sido fruto da convivência do homem com os gatos selvagens, alguns autores ate propuseram que a domesticação do gato ocorreu de forma independente em diversos pontos do planeta.

Com a finalidade de resolver esta questão em 2000 um grupo de pesquisadores coletou amostras de DNA de gatos em diferentes pontos do mundo. Foram coletadas amostras de mais de 970 selvagens e domésticos do Sul da África, Azerbaijão, Cazaquistão, Mongólia, Europa e Oriente médio. Os estudos se concentraram em dois trechos de DNA que usaram como referência para diferenciar subgrupos de espécies, o DNA mitocondrial.
Cada um desses 970 gatos teve seu DNA analisado e classificado em 5 grupos genéticos ou linhagens selvagens.

Quatro dessas linhagens correspondiam a subespécie de gato selvagem que habitam locais bastante específicos. O Felis silvestris silvestris na Europa, Felis silvestris bieti na China, Felis silvestris ornata na Ásia Central e o Felis silvestris cafra no sul da África.
A quinta linhagem incluiu não somente a quinta subespécie selvagem Felis silvestris lybica do Oriente médio mas também gatos domésticos de amostragem incluindo raças puras e híbridos dos EUA, Reino unido e Japão.

A linhagem Felis silvestris lybica mostrou que a origem desses gatos remete a um ancestral comum que viveu no deserto de Israel, Emirados Árabes ou ainda na Arábia Saudita, e eram extremamente indistinguíveis da versão doméstica.

Isso sugere que todos os gatos domesticados do mundo tem sua origem em um único local no Oriente médio.
Assim, o estudo também foi utilizado para tentar determinar em que momento da história esses gatos foram domesticados.

Para obter essa informação foi preciso recorrer até mesmo aos registro arqueológicos. Recentemente uma descoberta mostrou-se bastante esclarecedora em relação a domesticação dos gatos.
Em 2004, Jean-Denis Vigne, do Museu Nacional de História Natural de Paris, e seus parceiros descobriram uma das evidências mais antigas sobre essa relação homem e gatos. A descoberta foi feita em uma ilha mediterrânea de Chipre. 

Há aproximadamente 9.500 anos, um homem de sexo desconhecido foi sepultado em uma cova rasa com objetos como ferramentas de pedra, um punhado de conchas e em sua própria cova a uns 40 cm de distância, um gato de oito meses de idade com o corpo voltado na mesma direção que o do humano estava. Sugere-se que os homens mantinham os gatos como animais de estimação.

Sabemos que os gatos não são nativos das ilhas mediterrâneas e que as pessoas os levaram de barco para esses locais (provavelmente da costa oriental). Isso indica que as pessoas do Oriente Médio já tinham uma relação intencional com os gatos há quase dez mil anos. Essa localização é bastante consistente com a origem geográfica a que foi obtida com base nas análises genéticas supracitadas acima.
Parece que os gatos foram sendo domesticados ao mesmo tempo que o homem se estabelecia nos primeiros povoados na parte do Oriente Médio conhecida como Crescente Fértil.
Os povoamentos iniciais do Crescente Fértil a aproximadamente nove ou dez mil anos atrás (neolítico), criaram um ambiente totalmente favorável para animais selvagens que fossem suficientemente plásticos adaptativamente falando e famintos.

O camundongo doméstico por exemplo (Mus musculus domesticus), foi um desses animais. Os arqueólogos descobriram restos desses roedores no meio dos primeiros depósitos de grão dos homens em Israel datado em cerca de dez mil anos. O camundongo provavelmente não conseguia competir bem com os camundongos selvagens locais que viviam ao ar livre, mas ao mudar-se para as casas e armazéns das pessoas e das cidade proliferou como praga.

A seleção natural favoreceu os gatos que foram capazes de coabitar com os homens e assim ganharem acesso aos camundongos. A domesticação do gato parece ser reflexo do início do processo de tornar terras agricultáveis. Portanto o gato não foi domesticado inicialmente, apenas passou a conviver nas cidades em busca de seu alimento assim como pombos e pardais hoje encontram em nosso lixo alimento e condições para se reproduzir.

Com o tempo, os gatos selvagens mais tolerantes com a vida nos ambientes dominados pelos homens provavelmente passaram a proliferar nos primeiros vilarejos. A seleção deste novo nicho valorizou o comportamento manso embora a competição entre os gatos também tenha continuado e contribuído para sua evolução e ao mesmo tempo limitar sua docilidade. Por isso embora solitário o gato ainda mantém certa independência em relação ao seu dono. Isso fica evidente observando o enorme número de gatos soltos nas metrópoles, cidades e vilarejos de todo o mundo que independem de seus donos e continuamente brigam por seus territórios.

Não há uma data precisa sobre a domesticação do gato embora evidências arqueológicas já conhecidas há muito tempo permitem estimar datas deste processo. Uma das evidencias mais antigas a respeito da relação homens e gatos é um dente molar de um felino de um depósito arqueológico em Israel, que data aproximadamente de nove mil anos, e outro dente no Paquistão, de cerca de quatro mil anos.

Mas existem evidencias antigas desse processo. Uma estatueta de marfim encontrado em Israel de cerca de 3.700 anos indica que o animal era bastante comum nos vilarejos do Crescente Fértil antes mesmo de sua inserção na sociedade egípcia. Essa proposta faz sentido uma vez que a grande maioria dos animais domésticos e plantas foram introduzidos no vale do Nilo com o surgimento do Crescente Fértil.
As pinturas egípcias do Novo Império (iniciada há pouco mais de 3.500 anos), na cidade de Tebas demonstram as melhores representações da domesticação total. Nessas pinturas pode ser visto gatos deitados em cadeiras, amarrados em coleiras, com focinheiras e com frequência comendo sobras de comida em tigelas.
De fato, os egípcios levaram o amor aos gatos a um patamar mais elevado. Há mais de 2.900 anos, o gato doméstico se tornou a divindade oficial do Egito, segundo a forma da deusa Bastet. Muitos gatos domésticos eram sacrificados ou então mumificados em grande número como sacrifício ou homenagem a deusa.

Os egípcios não pareciam intencionalmente selecionar traços característicos do gato pelo fato de não terem surgido variações distintas nas pinturas. Nelas, tanto os gatos selvagens quanto os domésticos foram retratados com o mesmo tipo de pelo tigrado.

Durante todos esses séculos o Egito proibiu a exportação de gatos.
Entretanto á cerca de 2.500 anos, os animais conquistaram à Grécia vindos diretamente do Egito. O que demonstra a ineficiência da proibição.

Navios carregados de grãos zarparam diretamente de Alexandria para vários destinos do Império Romano carregando gatos a bordo para dar conta dos ratos. Dessa forma, os gatos devem ter estabelecido colônias em cidades portuárias, e a partir daí se espalharam por diferentes pontos do mundo. Há aproximadamente 2.500 anos, enquanto os romanos expandiam seu império, os gatos domésticos viajaram com eles se tornando comuns em toda a Europa.
Acabaram também chegando ao Extremo Oriente, na China pela Mesopotâmia e alcançando a Índia tanto por terra quanto por mar, através das navegações.

Na Ásia ocorre algo inusitado, por não existir por lá gatos selvagens nativos com os quais os recém chegados pudessem cruzar os gatos passaram a seguir uma trajetória própria. Assim, grupos isolados de gatos domésticos orientais gradualmente adquiriram características peculiares, como mudança na cor da pelagem de pelagem, e outras mutações por meio de um processo chamado de oscilação genética na qual determinados traços que não são benéficos nem negativos acabam se fixando na população.

Essa oscilação genética levou ao aparecimento de variações de gatos como os korat, siamês, birmanês, muitas delas descritas pelos monges budistas tailandeses no livro Tamara Maew(poemas do livro-gato) de 1350.

Pouco se sabe sobre como os gatos chegaram à América embora seja evidente que uma vez na Europa, chegar as Américas seria muito fácil. O próprio Cristóvão Colombo e até mesmo outros navegantes da época levavam gatos a bordo em grandes viagens. Pouco se sabe também sobre como os gatos chegaram na Austrália embora cogita-se a possibilidade que tenham viajado com colonizadores europeus no século 17.

Com base nos escritos de história natural do artista Harrison Weir alguns pesquisadores propõem que a maioria das espécies de hoje seja resultado de um processo de domesticação ocorrido nas Ilhas Britânicas, no século 19 uma vez que em 1871 ocorreu a primeira exposição de gatos.

Hoje há catalogado mais de 60 raças de gatos domésticos. Sob o ponto de vista genético é sabido que somente 10 ou 12 genes são responsáveis pelas diferenças na cor, comprimento e textura dos pelos, assim como por outras características mais sutis, como a tonalidade e o brilho da pelagem das raças.
Com o sequenciamento do genoma do gato em 2007, os geneticistas vêm catalogando rapidamente as mutações que produzem essas características. A grande diversidade de tamanhos, formas e comportamentos encontradas em cães é praticamente inexistente entre os gatos, conservando traços muito semelhante a sua versão ancestral. Obviamente que existem algumas diferenças morfológicas como foi observada até mesmo pelo próprio Darwin que escreveu alguns capítulos em seu livro A origem da espécies pontuando o processo de seleção artificial como agente transformador das formas de vida, além dos diversos experimentos realizados por ele com pombos (Para saber mais veja o filme A criação)
Darwin declara que:
…as pernas mais curtas, um cérebro menor e um intestino mais comprido, que pode ser uma adaptação advinda do ato de remexer sobras de cozinha.
Para os criacionistas que dizem que variações não podem criar espécies novas nem em laboratório e nem na natureza vale lembrar que atualmente os pesquisadores estão hibridizando gatos domésticos com outras espécies de felinos, produzindo literalmente novas espécies (e não variações ou raças) exóticas. O gato bengal e o caracata por exemplo.
Se é possível através do hibridismo ou da seleção artificial criar espécies novas em pouco tempo, porque não seria possível a natureza agir como agente seletor e criar novas espécies ao longo de milhares ou milhões de anos?

Scritto da Rossetti
Palavras chave: Netnature, Rossetti, Felinos, Evolução, Gatos, Genética, Arqueologia, Leão, Pantera, Tigre, Jaguatirica, Leopardo.
Referências:
Stephen J. O`Brien e Warren E. Johnson. A Evolução dos Gatos. Scientific american. Agosto 2007.
Carlos A. Driscoll, Juliet Clutton-Brock, Andrew C. Kitchener e Stephen J. O’Brien. A longa e (incompleta) domesticação do gato. Scientific american. Julho 2009.
 
Fonte: https://netnature.wordpress.com/2011/09/08/as-consistentes-evidencias-da-evolucao-dos-felinos-e-a-domesticacao-dos-gatos/

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