As alterações no ambiente provocadas pelo homem estão acelerando a mudança de muitos ecossistemas
por Rob Dunn
Os sapos-cururus saltam à noite. Eu os ouço batendo à minha porta ao julgarem erroneamente onde termina meu quarto de hotel e onde começa a floresta. A força com que um sapo grande bate na madeira é impressionante. Mas a força com que os sapos, que são nativos da América Central, atingiram a Austrália é ainda maior. Levados para Queensland em 1935 para combater os besouros que infestavam as plantações de cana-de-açúcar, os sapos se espalharam a partir de seu ponto de entrada como as ondas de choque de uma bomba, com suas pernas enverrugadas e suas línguas supercrescidas lançadas para cada buraquinho possível em um nicho ecológico.
Uma pesquisa recente de Ben Phillips e seus colaboradores da University of Sydney demonstrou que os sapos estão evoluindo à medida que se espalham, aperfeiçoando sua capacidade de adaptação à paisagem australiana. Os sapos à frente da invasão agora têm corpo menor, toxicidade reduzida e pernas relativamente maiores, aparentemente porque os indivíduos com esses traços têm obtido maior sucesso. A fauna nativa evoluiu em resposta aos sapos: a boca de algumas espécies de cobras está diminuindo, por exemplo, porque muitas das cobras com boca grande estavam comendo os venenosos sapos-cururus e morrendo.
Esses exemplos estão mudando a visão que os cientistas têm da velocidade da evolução. Há muito, esse processo tem sido considerado lento, ou até dormente. Porém, cada vez mais os pesquisadores têm observado a evolução em ação. Você deve conhecer alguns exemplos de evolução de bactérias resistentes a medicamentos, ou de pestes agrícolas. Microorganismos e pestes podem mudar mais rapidamente, mas não são os únicos.
Mais freqüentemente, presenciamos uma evolução rápida quando alguma força (muitas vezes, nós mesmos) dá um empurrão inicial, alterando súbita e dramaticamente o ambiente de um organismo. Os ratos desenvolveram corpo menor ao serem introduzidos em ilhas. Os peixes mais pescados também adotaram tamanhos corporais menores em resposta à preferência dos pescadores por peixes grandes (que, quando mortos, não se reproduzem). As mayflies (um tipo de inseto aquático), em cursos d’água onde trutas foram soltas, agora têm hábitos noturnos para evitar os predadores que nadam velozmente. Muitas centenas de espécies de herbívoros mudaram para novas e às vezes tóxicas fontes de alimento introduzidas por humanos e se especializaram em consumi-las. Várias espécies nativas evoluíram em resposta a concorrentes recém-chegados. Cedros começaram a produzir toxinas para evitar serem comidos por veados que andam por seus habitats que costumavam ser benignos. Mexilhões na Nova Inglaterra evoluíram na habilidade de detectar caranguejos verdes invasores e produzir conchas mais espessas quando esses crustáceos estão presentes.
A maioria dessas mudanças parece fruto de seleção natural: os organismos que aleatoriamente adquiriram algum traço genético que os ajudou a se desenvolver face a novas fontes de stress foram favorecidos e, subseqüentemente, se reproduziram de forma bem-sucedida e transmitiram a característica para as gerações futuras. Mas as mudanças evolutivas que presenciamos podem simplesmente ser o resultado de uma deriva genética (mudanças genéticas aleatórias que se acumulam com o tempo).
Quanto mais olhamos, mais podemos observar as mudanças evolutivas que são rápidas o suficiente para serem vistas no curso de um único estudo. Um estudante de doutorado pode, nos cerca de cinco anos de um projeto de tese, ver de perto o desenvolvimento de uma nova espécie, seja em tempo real ou utilizando ferramentas genéticas para reconstruir sua história evolutiva. Quando os ratos e camun-don-gos domésticos se espalharam pelo mundo junto conosco, se especializaram em formas mais bem adaptadas às diferentes regiões que habitam. No nordeste dos Estados Unidos, uma espécie de mosca evoluiu para se alimentar de um arbusto introduzido na América do Norte há menos de 250 anos. Embora a nova mosca seja um híbrido de duas espécies, ela pode acasalar com qualquer uma delas e manter sua própria população viável.
As pessoas tendem a imaginar a evolução como uma força que age apenas sobre criaturas há muito extintas, como os dinossauros, mas as lâminas afiadas da seleção natural e os empurrões aleatórios da deriva genética estão em ação ainda hoje. Vemos um carvalho vermelho no quintal ou um sapo-cururu na porta do nosso quarto de hotel, mas os nomes nos enganam. Essas espécies não serão as mesmas neste ano e no próximo. Embora a evolução que observamos em tempo real não vá subitamente fazer aparecer animais fantásticos como dinossauros, ela ainda é um processo que deve ser avaliado. Dê a seleção natural para alguns indivíduos de uma espécie, e ela irá funcionar do mesmo modo em uma lagoa de chorume ou no Parque Nacional de Yellowstone. A natureza abomina o vácuo, mas quase todo o resto serve.
Rob Dunn é ecólogo do departamento de zoologia da North Carolina State University. Ele estuda as relações evolutivas entre animais e plantas e a reação de espécies às mudanças climáticas.
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