Recém-descoberta, já ameaçada
Espécie de ave nova para a ciência, a patativa-tropeira vive
nos campos da mata atlântica e do cerrado. Já é vítima do comércio
ilegal de animais silvestres e seu hábitat natural também sofre com a
degradação.
Publicado em 05/01/2015
|
Atualizado em 05/01/2015
Ornitólogos se preocupam com a preservação da
patativa-tropeira, espécie recém-descoberta. (foto: Divulgação/ Fundação
Grupo Boticário.
Uma ave que sequer era conhecida já luta contra sua própria extinção. É a patativa-tropeira (Sporophila beltoni),
uma espécie recém-descoberta, que vive exclusivamente no Brasil. Ela
corre sério risco de desaparecer antes mesmo de ser estudada pela
ciência.
Foram ornitólogos brasileiros da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) os responsáveis pelo achado. Entre 2003 e 2006, eles estudavam comunidades de aves campestres do sul do Brasil e se depararam com o que pensaram ser a patativa-verdadeira (Sporophila plumbea) em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Mas, ao perceber algumas características peculiares dessa ave, os pesquisadores concluíram que se tratava, na verdade, de outra espécie. Era a patativa-tropeira. A descoberta está publicada no periódico norte-americano The Auk, da União Americana de Ornitologistas.
“Encontramos uma população, que acreditávamos ser de
patativa-verdadeira, em um ambiente diferente do mencionado na
literatura. Como a espécie não era registrada há muito tempo, resolvemos
estudá-la mais detalhadamente”, contextualiza a coordenadora da
pesquisa, a bióloga Carla Fontana, da PUCRS. “Mas percebemos que poderia
se tratar de uma espécie diferente quando começamos a notar que, além
de viverem em outro hábitat, os indivíduos apresentavam comportamentos
peculiares.”
As diferenças de plumagem podem passar despercebidas ao observador não especializado. Mas o bico da patativa-tropeira é facilmente distinguível, por ser amarelo-ouro. Além disso, o canto também é outro.
A patativa-tropeira ocorre em regiões de campo que vão desde o nordeste do Rio Grande do Sul até Minas Gerais. É no Sul que ela se reproduz. E, no inverno, ela voa para o cerrado mineiro para fugir do frio. É durante a migração que ela está mais exposta aos caçadores ilegais de animais silvestres. Outro problema que a espécie enfrenta é a degradação do seu local de reprodução: os campos de altitude, onde ficam também as florestas de araucária (Araucaria angustifolia), no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul; além da degradação do cerrado, onde ela passa o inverno.
Estima-se que hoje existam cerca de 4.500 casais dessa espécie recém-descoberta, um número preocupante, segundo os pesquisadores.
De acordo com Fontana, essa ave viveu no ostracismo por muito tempo. “As espécies campestres não recebem a atenção que merecem, se comparadas às espécies de mata”, diz. “Não à toa, a literatura científica que mencionava a patativa-verdadeira estava incompleta e mesmo com informações erradas.”
“A degradação do campo e de suas espécies é intensa, pois não há um
reconhecimento da importância da diversidade e da função dos
ecossistemas campestres no país por parte da população”, lamenta
Fontana. “Os campos têm sido considerados somente com vistas à produção
agropecuária, e mesmo para a silvicultura; mas quase nunca são
entendidos como reservatórios da vida silvestre característica do sul de
nosso continente; as monoculturas de Pinus e eucalipto destroem tais ambientes, transformando-os estruturalmente”, avalia a pesquisadora da PUCRS.
O trabalho dos pesquisadores, financiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, continua. E a patativa-tropeira já consta no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Passeriformes Ameaçados dos Campos Sulinos – projeto do Governo Federal que deve ajudar a preservar a espécie.
Gabriel Toscano
Ciência Hoje On-line
Foram ornitólogos brasileiros da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) os responsáveis pelo achado. Entre 2003 e 2006, eles estudavam comunidades de aves campestres do sul do Brasil e se depararam com o que pensaram ser a patativa-verdadeira (Sporophila plumbea) em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Mas, ao perceber algumas características peculiares dessa ave, os pesquisadores concluíram que se tratava, na verdade, de outra espécie. Era a patativa-tropeira. A descoberta está publicada no periódico norte-americano The Auk, da União Americana de Ornitologistas.
As diferenças de plumagem podem passar despercebidas ao observador não
especializado. Mas o bico da patativa-tropeira é facilmente
distinguível e o canto também é outro.
As diferenças de plumagem podem passar despercebidas ao observador não especializado. Mas o bico da patativa-tropeira é facilmente distinguível, por ser amarelo-ouro. Além disso, o canto também é outro.
A patativa-tropeira ocorre em regiões de campo que vão desde o nordeste do Rio Grande do Sul até Minas Gerais. É no Sul que ela se reproduz. E, no inverno, ela voa para o cerrado mineiro para fugir do frio. É durante a migração que ela está mais exposta aos caçadores ilegais de animais silvestres. Outro problema que a espécie enfrenta é a degradação do seu local de reprodução: os campos de altitude, onde ficam também as florestas de araucária (Araucaria angustifolia), no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul; além da degradação do cerrado, onde ela passa o inverno.
Estima-se que hoje existam cerca de 4.500 casais dessa espécie recém-descoberta, um número preocupante, segundo os pesquisadores.
De acordo com Fontana, essa ave viveu no ostracismo por muito tempo. “As espécies campestres não recebem a atenção que merecem, se comparadas às espécies de mata”, diz. “Não à toa, a literatura científica que mencionava a patativa-verdadeira estava incompleta e mesmo com informações erradas.”
Estima-se que hoje existam cerca de 4.500 casais dessa espécie recém-descoberta, um número preocupante
O trabalho dos pesquisadores, financiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, continua. E a patativa-tropeira já consta no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Passeriformes Ameaçados dos Campos Sulinos – projeto do Governo Federal que deve ajudar a preservar a espécie.
Gabriel Toscano
Ciência Hoje On-line
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