sábado, 10 de janeiro de 2015

Ação implacável

Pesquisadores descobrem no solo antibiótico natural capaz de matar bactérias resistentes causadoras de doenças graves, como infecções hospitalares e tuberculose. 
 
Por: Sofia Moutinho
Publicado em 09/01/2015 | Atualizado em 09/01/2015
Ação implacável
O novo antibiótico se mostrou eficaz contra várias bactérias nocivas à saúde humana e resistentes a outras substâncias, como a 'C. dificile', que provoca diarreias. (foto: Centers for Disease Control and Prevention's Public Health Image Library) 
 
Quase 90 anos depois da descoberta ao acaso da penicilina – primeiro antibiótico a ser usado com sucesso – cientistas anunciam a identificação de um novo antibiótico natural capaz de combater uma série de bactérias causadoras de doenças e resistentes às substâncias disponíveis até então.

O novo antibiótico, batizado de teixobactina, vem do solo, mais especificamente de compostos presentes em bactérias que produzem substâncias protetoras, que matam as bactérias competidoras de seu entorno. A maioria dos antibióticos em uso atualmente foi descoberta desse modo – ao se analisar os microrganismos do solo – mas os bons resultados da técnica pareciam ter ser esgotado desde a década de 1960.

Um dos grandes obstáculos de conseguir isolar antibióticos naturais produzidos por microrganismos do solo é a dificuldade de reproduzir o seu ambiente em laboratório. Estima-se que 99% das bactérias existentes no planeta não sobrevivam em culturas de laboratório.

Na própria terra de origem

Contrariando as expectativas, o grupo de pesquisadores responsável pela identificação da teixobactina, da Universidade Northeastern, em Boston (EUA), desenvolveu um método capaz de recriar as condições ambientais das bactérias de modo que elas se sentissem à vontade em laboratório para produzir suas toxinas.

Em testes com camundongos, o composto se mostrou eficiente tanto contra infecções comuns e de baixa gravidade quanto contra bacilos de alta gravidade e resistentes a medicamentos.
 
Eles cultivaram as bactérias sobre um microchip coberto com duas camadas semipermeáveis e enterrado em amostras do próprio solo em que esses microrganismos originalmente vivem.

Em testes com camundongos, o composto se mostrou eficiente tanto contra infecções comuns e de baixa gravidade, causadas por bactérias como a Clostridium difficile, que provoca diarreia, quanto contra bacilos de alta gravidade e resistentes a medicamentos, como o Mycobacterium tuberculosis, da tuberculose e contra formas mutantes de bactérias associadas a infecções hospitalares, como o Staphylococcus aureus.

Nova eras

Desde 1987 não eram descobertas novas classes de antibióticos. Para Kim Lewis, líder da pesquisa publicada esta semana na Nature, o trabalho mostra que existem estratégias alternativas para obter compostos eficazes contra bactérias resistentes.

“Fora os benefícios da aplicação imediata da teixobactina, creio que essa pesquisa traz uma mudança de paradigma”, disse em comunicado à imprensa. “Temos dado muito foco a compostos sintéticos e trabalhado na crença de que a resistência a antibióticos é inevitável, mas ainda podemos encontrar compostos aos quais as bactérias não são resistentes.”

Os pesquisadores ainda não sabem dizer se as bactérias podem se tornar resistentes também ao novo antibiótico, mas acreditam que, caso isso ocorra, provavelmente demorará algumas décadas
A resistência a antibióticos é um traço evolutivo das bactérias, adquirido com o tempo de exposição. Os pesquisadores ainda não sabem dizer se as bactérias podem se tornar resistentes também ao novo antibiótico, mas acreditam que, caso isso ocorra, provavelmente demorará algumas décadas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a resistência de bactérias a antibióticos uma séria ameaça. Recentemente, o problema tem chamado a atenção depois de casos recorrentes de infecção por microrganismos resistentes em hospitais. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Brasil, a taxa de infecção hospitalar é de 15%, mais alta do que em países da Europa e nos Estados Unidos, onde o mesmo índice é de 10%.

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line

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