Maconha
Maconha é um dos vários nomes populares que se da à planta cujo nome científico é Cannabis. Outros nomes são marijuana, maryjane, tapa na pantera, dedo de gorila, vela, camarão etc.
Ela é uma espécie de planta que se divide em três subespécies: a Cannabis indica, a Cannabis ruderalis e a Cannabis sativa.
Em todas elas o sexo é separado: há plantas machos e plantas fêmeas. O
efeito psicoativo e os vários canabinoides são encontrados
majoritariamente nas flores e na resina da planta fêmea. Nas sementes
existem valores nutricionais. E a planta macho, ou cânhamo, tem sido
utilizada para fins industriais.
A revista The Lancet lançou um estudo em 2010,
de autoria do David Nutt com colaboradores, sobre os danos das drogas
aos indivíduos e à sociedade, e os resultados foram claros: álcool e
tabaco são mais danosos ao indivíduo e à sociedade do que a maconha.
Confira no gráfico abaixo:
Em 2014 o The New York Times saiu em defesa da legalização da maconha.
Em diversos editoriais eles chamaram a atenção para outra verdade em
relação à erva: ela causa menos dependência do que drogas lícitas. Este
dado é confirmado pelo estudo do Institute of Medicine, como mostra o gráfico a seguir:
Deve-se ressaltar que a maior parte dos
9% de usuários que podem vir a se tornar dependentes de maconha ficará,
na verdade, dependente psicologicamente, não fisiologicamente. É um
vício psicológico no prazer do uso, assim como pessoas viciam, por
exemplo, em jogos, mas tal dependência não é tão grave como a
fisiológica, e pode ser resolvida com simples orientação de mudança de
comportamento.
Correspondente médico da CNN, o
neurocirurgião Dr. Sanjay Gupta, foi contra o uso da maconha a sua vida
inteira, pois, como a maioria dos médicos e da população em geral, ele
não havia estudado os fatos. Após estudar mudou de opinião, e teve a
humildade de vir a público em 2013 pedir desculpas por suas posições no
passado. Ele disse, entre outras coisas, que “temos sido terrivelmente
enganados por mais de 70 anos nos EUA, e eu peço perdão por ter feito
parte disso”. Ele apresentou um documentário chamado Weed,
que está disponível no youtube, mostrando claramente a realidade da
maconha. Dia após dia, cada vez mais pessoas acordam para esse fato.
Como ele mesmo disse no documentário:
“O mais assustador para mim é
que a cada 19 minutos alguém morre nos Estados por overdose com uma
droga receitada, a maior parte acidentalmente. A cada 19 minutos. É uma
estatística horripilante. Até onde estudei, não consegui encontrar um
caso documentado de morte por overdose de marijuana.” – Dr. Sanjay Gupta
Há propriedades medicinais irrefutáveis na Cannabis,
para os mais diversos tipos de doença. Pessoas com as mais variadas
doenças podem ser ajudadas por essa planta medicinal, como as que têm
câncer, HIV, esclerose múltipla, dor crônica, Parkinson, Alzheimer,
depressão, e inúmeros outras.
Durante milênios os seres humanos usaram maconha para fins recreativos,
medicinais, e outros. Apenas no século XX o uso foi completamente
proibido, por motivos puramente racistas, corporativistas, baseados em
preconceitos dos mais irracionais. E nunca ninguém morreu fumando
maconha. A regulamentação é simplesmente formidável, pois poderemos
criar outras linhagens de Cannabis que simplesmente podem ser
usadas de forma mais específica em dados tratamentos: linhagens com mais
ou menos THC, ou CBD, por exemplo.
Faltava, no entanto, entender o porquê
da maconha ter este poder medicinal tão claro e evidente, empiricamente
reconhecido durante todo esse tempo em que foi amplamente cultuada, por
diversos povos. Foi apenas na década de 90 que se descobriu o sistema
endocanabinoide. A Cannabis
tem receptores específicos em nosso cérebro, e todos eles estão ligados
a benefícios ao ser humano. E são abundantes os receptores: nosso
cérebro produz, por assim dizer, sua própria maconha interna.
Gupta não foi o primeiro médico a
reconhecer essa lavagem cerebral contra a maconha. O Dr. Lester
Grinspoon também teve essa crise de consciência, por assim dizer. Ao
começar a pesquisar o assunto para escrever um artigo contra a maconha,
ele foi surpreendido com o que as evidências realmente mostravam. Mudou de opinião e saiu em defesa da maconha, lançando o livro Marihuana Reconsidered. Desde
então ele acredita fortemente que, uma vez que as pessoas entenderem
sobre a maconha, que não é uma droga tóxica, a proibição acabará.
É até difícil não exagerar o impacto da
maconha na medicina. Ela é um fitoterápico e tem amplas propriedades
medicinais. Abaixo seguem imagens extraídas do livro Maconha, Cérebro e
Saúde[10],
pp. 67-69, dos neurocientistas brasileiros Dr. Renato Malcher e Dr.
Sidarta Ribeiro. A tabela a seguir indica os canabinoides mais
importantes, bem como suas correspondentes ações farmacológicas:
Ao longo do livro, os neurocientistas
discutem os mais diversos estudos sobre a maconha, derrubam os mitos
referentes os supostos déficits cognitivos, aos argumentos insanos que
maconha queima neurônios, já que na verdade ela é neuroprotetora, entre
outros, explicando ainda, com o talento e olhar científico que exige a
questão, tantos os benefícios do uso moderado, quanto os malefícios do
uso abusivo da Cannabis, em capítulos como “A maconha como remédio”, “Efeitos mentais da maconha”, “Efeitos neurobiológicos da maconha”, etc.
Devido a esses canabinoides presentes na
planta que se ligam aos receptores em nossos cérebros, é possível
acontecer toda a mágica e o poder medicinal da maconha. Existem cerca de
70 canabinóides, porém os principais são o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD).
Ao consultar a tabela podemos ver a gama de ações farmacológicas. A
essa altura você deve estar se perguntando como é feito o uso medicinal
da maconha.
Existem várias formas de usar a maconha
de forma medicinal. As crianças com epilepsia, por exemplo, usam a
maconha em forma de óleo, de uma linhagem de maconha com maior teor e
concentração de CBD, que é transformada em óleo para que os pais possam
lhes ministrar o remédio por via oral[11]. Extrato natural é a planta toda transformada nessa forma de uso. Não é composto isolado, muito menos produto sintético.
Usar a maconha in natura,
fumada mesmo, é também uma das formas de uso medicinal. O que vai
distinguir os efeitos farmacológicos da planta é justamente a linhagem
que está sendo fumada: se tem mais THC, ou CBD, ou outros canabinoides.
Ou seja, é a concentração dos canabinoides presentes na planta que
determinarão suas propriedades medicinais. O uso da erva in natura é feito, por exemplo, dentro de hospitais em Israel[12], e de forma ilegal aqui no Brasil, por diversos pacientes em tratamento de quimioterapia, ou com esclerose múltipla.
Para os especialistas em maconha, já está claro que a erva usada in natura,
com todos os seus canabinoides agindo em conjunto, é a melhor forma de
aplicá-la. O nome dessa ação terapêutica dos canabinoides em conjunto se
chama “entourage effect”[13].
E a despeito de objeções relacionadas aos danos que a fumaça pode
trazer aos pacientes, já existem no mercado aparelhos chamados
vaporizadores, que apenas aquecem a planta. Os pacientes podem assim
inalar os canabinoides sem as consequências da fumaça provocada pela
combustão.
O futuro da maconha medicinal
Para um usuário recreativo de maconha,
não existe muita diferença em se usar maconha recreativa e medicinal. É
uma falsa dicotomia, pois os usuários estão justamente buscando os
efeitos medicinais da erva para obter alívios em suas vidas: para
aliviar dores, corrigir a insônia etc. Com frequência veem-se usuários
afirmando que fumam para “relaxar”, “acalmar” e “aliviar”. Ou seja,
mesmo sem admitir, quem usa a maconha para se divertir está usando
devido aos efeitos medicinais, buscando evitar a dor e alcançar o
prazer. Eles podem estar, em outras palavras, se automedicando com um
fitoterápico.
O futuro da maconha medicinal é incerto,
pois, como apontamos no artigo, é possível usar a maconha de forma
fumada e inalada para tratamentos, mas também na forma de perigosíssimos
sintéticos. Isso cria, assim, uma cisão no movimento pela regulação da
maconha: aqueles que querem usá-la de forma inalada ou fumada, e aqueles
que querem que a indústria farmacêutica produza remédios e os vendam.
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