sexta-feira, 25 de maio de 2018

Nova espécie de peixe do São Francisco
'Hisonotus devidei' homenageia servidor que há mais de 30 anos colabora com pesquisadores
ACI - IB/Unesp Botucatu (via 4toques comunicação)
24/05/2018
Renato Devidé, técnico do IB, segurando a nova espécie de peixe que leva seu nome
 
No último mês de abril, o periódico britânico Journal of Fish Biology, da Sociedade Pesqueira das Ilhas Britânicas (The Fisheries Society of the British Isles) publicou o artigo “Hisonotus devidei, uma nova espécie da bacia do São Francisco, Brasil [Hisonotus devidei, a new species from the São Francisco basin, Brazil]. O material foi produzido pelos pesquisadores Fábio Roxo, Gabriel Silva e Bruno Melo, pós-doutorandos do Laboratório de Biologia e Genética de Peixes, do Departamento de Morfologia do Instituto de Biociências (IB) da UNESP, campus Botucatu.
A descoberta dessa nova espécie é resultado de uma recente expedição realizada em julho de 2017 em vários afluentes da bacia do Rio São Francisco. São popularmente conhecidos como “cascudinhos” ou “cascudos limpa-vidros” - por se fixarem aos vidros dos aquários através da boca (em forma de ventosa) e se alimentarem de algas desenvolvidas neste tipo de ambiente.
De acordo com os pesquisadores, existem 36 espécies deste gênero distribuídas por várias bacias hidrográficas da América do Sul, principalmente nos rios do sudeste brasileiro, como o Rio Paraná e Rio Costeiros, que drenam diretamente para o Oceano Atlântico. Já o Hisonotus devidei passa a ser a nona espécie catalogada no São Francisco, o que contribui para que os cientistas tenham a real dimensão da diversidade da fauna de peixes neste rio, que está seriamente ameaçada devida ações nocivas do ser humano.
“A agricultura costuma captar águas do próprio rio e também dos lençóis freáticos para irrigação constante, causando drástica diminuição no nível de água e destruição das matas ciliares. As cidades ainda jogam uma grande quantidade de esgoto nas águas do São Francisco, levando também a destruição e até perda de habitat. A isso soma-se outro fator importante na região que é o período de seca anual que assola ainda mais os ambientes aquáticos locais”, argumenta Fábio Roxo.
“Tudo isso, entre outros fatores, acabam por levar muitas espécies à categorias de ameaças de extinção. É sabido que a extinção de uma única espécie pode levar a um desequilíbrio ecológico, extinguindo outras espécies ou até mesmo levando a rápida proliferação de outras que podem estar relacionadas à diversas doenças humanas. No entanto, o quanto a fauna local pode ser afetada devido à ação humana depende de estudos ecológicos específicos”, complementa Gabriel Silva.
Hisonotus devidei representa a 51ª nova espécie descoberta pelos três pesquisadores, além de três novos gêneros, ao longo de cerca de 10 anos de pesquisas no LBP/UNESP. Esta difere das demais espécies de Hisonotus por ter manchas escuras bem visíveis, de formatos variados, dispersadas ao longo da superfície dorso-lateral do corpo e nas nadadeiras, pela altura relativa do corpo e diâmetro relativo da órbita. 
Uma vida dedicada à ictiologia
O nome Hisonotus devidei foi escolhido pelos pesquisadores para homenagear Renato Devidé, técnico acadêmico que há mais de 30 anos tem contribuído com estudos de peixes neotropicais no Laboratório de Biologia e Genética de Peixes, instalado no Departamento de Morfologia do Instituto de Biociências de Botucatu.
Atualmente, a coleção do LBP conta com mais de 25 mil lotes de peixes catalogados sob curadoria do Prof. Dr. Claudio Oliveira. Deste total, Devidé participou na coleta de aproximadamente seis mil lotes, o que representa 20% de toda a coleção ou aproximadamente 47 mil exemplares.
“Os trabalhos do Renato auxiliaram diretamente nas publicações de centenas de artigos científicos, dissertações de mestrado e teses de doutorados, ao longo dos 30 anos de UNESP. Suas habilidades em citogenética também auxiliaram diretamente na elaboração de novas técnicas para estudo de cromossomos de peixes. E como o Renato também participou ativamente da coleta do Hisonotus devidei, nós pesquisadores achamos mais do que justa a homenagem a esse profissional que tanto contribui à ictiologia no Brasil”, justifica Bruno Melo.
“O Renato destaca-se não apenas por sua dedicação no laboratório e competência técnica, mas principalmente pelo seu espírito alegre, companheirismo, além de ser um ótimo contador de histórias. Enfim, só tem amigos”, afirma o Prof. Dr. Fausto Foresti, fundador do LBP/UNESP e amigo de Devidé há mais de 30 anos.
“Eu fiquei muito lisonjeado, emocionado e agradecido por esta homenagem. Essa rapaziada toda do Laboratório de Peixes aqui do IB é muito gente boa e estamos em um ambiente muito bom aqui, graças a Deus”, agradece Devidé, que completará 55 anos no próximo dia 14 de julho.

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