Nova espécie de peixe do São Francisco
'Hisonotus devidei' homenageia servidor que há mais de 30 anos colabora com pesquisadores
ACI - IB/Unesp Botucatu (via 4toques comunicação)
24/05/2018
Renato Devidé, técnico do IB, segurando a nova espécie de peixe que leva seu nome
No último mês de abril, o periódico britânico Journal of Fish Biology, da Sociedade Pesqueira das Ilhas Britânicas (The Fisheries Society of the British Isles) publicou o artigo “Hisonotus
devidei, uma nova espécie da bacia do São Francisco, Brasil [Hisonotus
devidei, a new species from the São Francisco basin, Brazil]. O
material foi produzido pelos pesquisadores Fábio Roxo, Gabriel Silva e
Bruno Melo, pós-doutorandos do Laboratório de Biologia e Genética de
Peixes, do Departamento de Morfologia do Instituto de Biociências (IB)
da UNESP, campus Botucatu.
A descoberta dessa nova espécie é
resultado de uma recente expedição realizada em julho de 2017 em vários
afluentes da bacia do Rio São Francisco. São popularmente conhecidos
como “cascudinhos” ou “cascudos limpa-vidros” - por se fixarem aos
vidros dos aquários através da boca (em forma de ventosa) e se
alimentarem de algas desenvolvidas neste tipo de ambiente.
De acordo com os pesquisadores, existem 36
espécies deste gênero distribuídas por várias bacias hidrográficas da
América do Sul, principalmente nos rios do sudeste brasileiro, como o
Rio Paraná e Rio Costeiros, que drenam diretamente para o Oceano
Atlântico. Já o Hisonotus devidei passa a ser a nona espécie
catalogada no São Francisco, o que contribui para que os cientistas
tenham a real dimensão da diversidade da fauna de peixes neste rio, que
está seriamente ameaçada devida ações nocivas do ser humano.
“A agricultura costuma captar águas do
próprio rio e também dos lençóis freáticos para irrigação constante,
causando drástica diminuição no nível de água e destruição das matas
ciliares. As cidades ainda jogam uma grande quantidade de esgoto nas
águas do São Francisco, levando também a destruição e até perda de
habitat. A isso soma-se outro fator importante na região que é o período
de seca anual que assola ainda mais os ambientes aquáticos locais”,
argumenta Fábio Roxo.
“Tudo isso, entre outros fatores, acabam
por levar muitas espécies à categorias de ameaças de extinção. É sabido
que a extinção de uma única espécie pode levar a um desequilíbrio
ecológico, extinguindo outras espécies ou até mesmo levando a rápida
proliferação de outras que podem estar relacionadas à diversas doenças
humanas. No entanto, o quanto a fauna local pode ser afetada devido à
ação humana depende de estudos ecológicos específicos”, complementa
Gabriel Silva.
Hisonotus devidei representa a
51ª nova espécie descoberta pelos três pesquisadores, além de três novos
gêneros, ao longo de cerca de 10 anos de pesquisas no LBP/UNESP. Esta
difere das demais espécies de Hisonotus por ter manchas escuras bem
visíveis, de formatos variados, dispersadas ao longo da superfície
dorso-lateral do corpo e nas nadadeiras, pela altura relativa do corpo e
diâmetro relativo da órbita.
Uma vida dedicada à ictiologia
O nome Hisonotus devidei foi escolhido pelos pesquisadores para homenagear Renato Devidé, técnico acadêmico que há mais de 30 anos tem contribuído com estudos de peixes neotropicais
no Laboratório de Biologia e Genética de Peixes, instalado no
Departamento de Morfologia do Instituto de Biociências de Botucatu.
Atualmente, a coleção do LBP conta com
mais de 25 mil lotes de peixes catalogados sob curadoria do Prof. Dr.
Claudio Oliveira. Deste total, Devidé participou na coleta de
aproximadamente seis mil lotes, o que representa 20% de toda a coleção
ou aproximadamente 47 mil exemplares.
“Os trabalhos do Renato auxiliaram
diretamente nas publicações de centenas de artigos científicos,
dissertações de mestrado e teses de doutorados, ao longo dos 30 anos de
UNESP. Suas habilidades em citogenética também auxiliaram diretamente na
elaboração de novas técnicas para estudo de cromossomos de peixes. E
como o Renato também participou ativamente da coleta do Hisonotus
devidei, nós pesquisadores achamos mais do que justa a homenagem a esse
profissional que tanto contribui à ictiologia no Brasil”, justifica
Bruno Melo.
“O Renato destaca-se não apenas por sua
dedicação no laboratório e competência técnica, mas principalmente pelo
seu espírito alegre, companheirismo, além de ser um ótimo contador de
histórias. Enfim, só tem amigos”, afirma o Prof. Dr. Fausto Foresti,
fundador do LBP/UNESP e amigo de Devidé há mais de 30 anos.
“Eu fiquei muito lisonjeado, emocionado e
agradecido por esta homenagem. Essa rapaziada toda do Laboratório de
Peixes aqui do IB é muito gente boa e estamos em um ambiente muito bom
aqui, graças a Deus”, agradece Devidé, que completará 55 anos no próximo
dia 14 de julho.
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