Árvore mais antiga da Terra resiste no deserto árido da Califórnia há 4.855 anos
Os pinheiros bristlecone sobreviveram às mudanças climáticas nos últimos milênios
Antes de os egípcios erguerem as pirâmides, antes de Jesus Cristo nascer, antes de o Império Romano ser formado ou cair, as árvores já estavam aqui.
Nas White Mountains da Califórnia central, a 3.000 metros de altitude, num deserto alpino árido onde poucos outros seres conseguem viver, há bosques de pinheiros majestosos e retorcidos da espécie Great Basin bristlecone (Pinus longaeva), alguns dos quais sobrevivem há quase 5.000 anos. Seus troncos multicoloridos se dobram em ângulos que desafiam a gravidade e seus ramos pelados se projetam em direção ao céu, como se tivessem saído da imaginação de Tim Burton ou J.K. Rowling.
Esses organismos milenares, vistos geralmente como as árvores mais antigas da Terra, parecem escapar das leis restritivas da natureza.
"Os pinheiros bristlecone parecem mágicos nesse aspecto", disse a ecologista Constance Millar, que há mais de três décadas estuda os pinheiros que crescem unicamente na Califórnia, Nevada e Utah. Percorrer a Floresta de Pinheiros Bristlecone Antigos, em Inyo County, onde esses coníferos sobrevivem há milênios, "te dá uma sensação de infinidade", ela comentou.
Viajei recentemente a Bishop, cidade pequena no árido Owens Valley que foi usada no passado como cenário de faroestes (e ainda poderia ser usada), para visitar a floresta sagrada situada nas montanhas próximas. Minha caminhada teve um clima de peregrinação, já que nós, californianos, sentimos mais reverência por nossas árvores que por praticamente qualquer outra coisa.
A Califórnia abriga as árvores mais altas, maiores e mais antigas do mundo. Hyperion, uma sequoia de 115 metros de altura, é mais alta que a Estátua da Liberdade. General Sherman, a maior árvore do planeta em termos de volume, provoca assombro em quem visita o Parque Nacional das Sequoias. E aqui, Methuselah (Matusalém), o rei dos pinheiros bristlecone resistentes, é visto como tendo germinado 4.855 anos atrás.
Mas essas árvores enfrentam desafios diversos decorrentes principalmente da mudança climática. A estiagem grave no oeste dos Estados Unidos alimenta megaincêndios que têm destruído sequoias gigantes, antigamente consideradas em grande medida resistentes ao fogo. E Constance Millar publicou uma pesquisa recentemente revelando que escolitídeos (besouros pequenos comedores de casca de árvores), cujas populações estão explodindo devido às temperaturas mais quentes, estão, pela primeira vez, matando pinheiros bristlecone.
Mesmo assim, Millar se disse esperançosa quanto às chances de sobrevivência dos pinheiros. Os escolitídeos não parecem estar prejudicando os pinheiros bristlecone na Floresta Nacional Inyo, e os insetos são predadores nativos, de modo que representam uma ameaça menor do que pragas importadas que as árvores não evoluíram para resistir, ela disse. Além disso, o estudo da resiliência das árvores ao longo dos milênios parece ter dado a Millar alguma serenidade em relação ao que o futuro pode reservar para elas.
"Não estou desesperançada", ela disse. "Vejo este sonho da vida perdurando ao longo do tempo."
Nas profundezas da Floresta Nacional Inyo, seguindo por uma trilha desolada acessível apenas para quem vai a pé, árvores retorcidas se agarram a uma encosta rochosa. Este é o bosque Methuselah, no qual vários pinheiros já foram confirmados como tendo mais de 4.000 anos de idade. Qual deles é o Matusalém de fato é uma informação mantida em segredo pelo Serviço Florestal americano para proteger o espécime milenar de vandalismo, embora os visitantes sempre tentem adivinhar.
Um pai e um filho pararam recentemente para admirar um dos pinheiros maiores, com raízes especialmente longas e emaranhadas. "Só pode ser esta árvore aqui", declarou o pai, examinando o bosque para tentar descobrir outras candidatas possíveis.
Millar é uma das poucas pessoas —em sua maioria pesquisadores e funcionários do Serviço Florestal—que têm conhecimento da localização exata de Methuselah. Segundo ela, a árvore não tem aparência especialmente notável. Outros que a conhecem confirmaram que ela não é nem a maior nem a mais bela. Todos destacaram que apenas algumas poucas árvores seletas foram datadas, de modo que é possível que existam pinheiros ainda mais antigos na floresta.
Jamie Seguerra, uma guarda florestal, disse que algumas dezenas de vezes por dia visitantes lhe pedem para revelar a localização de Methuselah (ela guarda silêncio). Mas, segundo ela, a maioria das pessoas aprecia o esforço para conservar a árvore saudável e em segurança. Para chegar a esta encosta de montanha solitária, pontilhada de árvores, é preciso viajar meio dia de carro saindo de Los Angeles em direção norte, mais uma hora serpenteando entre cânions e ascendendo milhares de metros, até o ar ficar perceptivelmente rarefeito.
"As pessoas que vêm para cá não vêm por acaso", disse Seguerra, com a voz amplificada no silêncio da floresta remota. "A maioria das pessoas diz algo como ‘eu sempre quis vir para cá, este sempre foi meu sonho’."
Pensou-se durante décadas que as sequoias gigantes fossem as árvores mais antigas do mundo; seu tamanho seria a prova de há quanto tempo elas estão crescendo. Mas em 1953 o climatologista Edmund Schulman, da Universidade do Arizona, viajou à Floresta Nacional Inyo depois de ouvir que ali havia árvores possivelmente ainda mais antigas escondidas em plena vista.
"Muitas vezes rumores como esses se revelavam infundados. Mas não foi o caso deste!", ele escreveu na National Geographic em 1958.
Schulman, que vinha procurando árvores antigas para estudar as secas passadas, foi a primeira pessoa a encontrar espécimes com mais de 4.000 anos de idade, entre eles Methuselah. Para determinar a idade de uma árvore, cientistas extraem uma amostra cilíndrica de seu tronco, para permitir a contagem de seus anéis. A espessura desses anéis, cada um dos quais representa um ano na vida da árvore, também pode revelar informações sobre os níveis de precipitação anual da região, a temperatura e até mesmo erupções vulcânicas.
Quando as pessoas me perguntam: ‘Ela está viva ou morta?’, às vezes respondo ‘sim’
Não está inteiramente claro por que os pinheiros bristlecone têm vida tão longa, mas uma chave parece ser seu crescimento muito lento —eles se expandem apenas uma polegada a cada cem anos—, o que torna sua madeira especialmente compacta e lhes confere proteção adicional contra insetos e decomposição. E o ar na Floresta Nacional Inyo é tão seco, o clima é tão frio e o solo rochoso de dolomita —cuja cor dá nome às White Mountains— é tão árido que os pinheiros enfrentam pouca concorrência de outras plantas, animais ou pragas.
Pesquisadores no Chile revelaram recentemente que podem ter descoberto uma árvore ainda mais antiga, mas sua idade ainda não foi verificada oficialmente.
Os pinheiros bristlecone já sobreviveram e testemunharam tanta coisa que são, essencialmente, fósseis vivos. O estudo dos anéis dessas árvores antiquíssimas permitiu a cientistas melhorar a precisão da datação por radiocarbono e criar registros dos últimos 11 mil anos de clima da Terra, essenciais para a compreensão dos impactos do aquecimento global.
Usando um boné de beisebol sobre seu rabo de cavalo branco, Mary Matlick, outra guarda florestal, apontou para uma encosta íngreme perto do centro de visitantes na qual se ergue um pinheiro bristlecone de 2.800 anos de idade, com galhos lisos, parecendo pináculos, projetando-se da copa verde.
A árvore deixou alguns de seus galhos morrerem para conservar energia —outra das estratégias de sobrevivência usada pela espécie. Ela pode continuar a viver e reproduzir-se com apenas uma tira de casca e um ramo de agulhas, explicou Matlick. E, devido ao clima seco, os galhos mortos não se decompõem, mas em vez disso podem continuar ligados ao tronco por outros milhares de anos, conferindo às árvores sua aparência fantasmagórica clássica.
"Quando as pessoas me perguntam: ‘Ela está viva ou morta?’, às vezes respondo ‘sim’", disse Matlick. Tradução de Clara Allain
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