Vegetações pré-históricas
Quer saber que tipos de plantas existiam na época em que viveram os dinossauros?
Por: Carlos Eduardo Lucas Vieira, Programa de Pós-graduação em Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Publicado em 15/08/2002 | Atualizado em 06/07/2010
Com um megafone na mão, o diretor comanda a produção de um filme sobre dinossauros. Mas não consegue esconder o nervosismo: as gravações atrasaram porque o cenário não ficou pronto! Não é para menos: a pessoa que vai fazê-lo está cheia de dúvidas! Alguém aí saberia responder como eram as plantas pré-históricas?
Talvez você nunca tenha ouvido falar em paleontologia . Então, abra bem os ouvidos! Trata-se do estudo das formas de vida que existiram no passado. Quando imaginamos como era o mundo há milhões de anos, logo pensamos nos dinossauros. Mas, na pré-história, havia também insetos, vermes, plantas e fungos, por exemplo. Pois bem: há uma parte da paleontologia chamada paleobotânica, que estuda plantas e outros organismos, como fungos, bactérias e algas, que viveram no passado.
A paleobotânica mostrou que, em épocas passadas, existiram plantas diferentes das atuais. Entre 345 milhões de anos e 65 milhões de anos atrás, por exemplo, viveu um grupo de plantas chamado pteridospermas ( pteron = feto + spermae = semente). As plantas que pertenciam a esse grupo eram parecidas com as samambaias que existem hoje. Mas com uma diferença: as pteridospermas, ao contrário das samambaias, tinham sementes.
Já as progimnospermas viveram mais ou menos entre 395 milhões de anos e 280 milhões de anos atrás. Progimnospermas significa "sementes nuas antigas" -- pro significa "anterior", gymnos , "nu", e spermae , "semente". Os troncos dessas plantas pareciam com os dos pinheiros. Suas folhas, no entanto, eram semelhantes às das samambaias e elas não tinham sementes.
Hoje, assim como os dinossauros, esses grupos de plantas estão extintos! Os cientistas acreditam que eles desapareceram por causa da competição contínua e desfavorável com outros grupos de plantas ou outros organismos.
Além de mostrar como eram as plantas pré-históricas, a paleobotânica revelou que havia vários ambientes há milhões de anos: desertos, rios, planícies, mangues etc. Sabe o que isso significa? Que os diferentes tipos de dinossauros não viviam juntos! Na maioria das vezes, cada tipo de dinossauro habitava certo ambiente, assim como hoje cada espécie de mamífero é encontrada em determinado lugar: os leões na savana africana, os tigres, nas florestas indianas etc. Mas, claro, havia dinossauros capazes de viver em mais de um ambiente.
A dúvida é: como é possível saber que um dinossauro era encontrado em determinado ambiente e não em outro? Fósseis de plantas podem dar valiosas pistas a esse respeito!
São vestígios da presença de seres vivos pré-históricos preservados em rochas. Fósseis podem ser, por exemplo, folhas e troncos de plantas, dentes, ossos e até cocô de animais, assim como pegadas e rastros deixados por eles.
Dependendo do ambiente em que vivem, as plantas -- e os animais também -- podem apresentar características especiais. Por exemplo: próximo ao mar, há muito sal na terra, no ar e na água. Por causa disso, é mais difícil para vegetais e animais obterem água, pois o sal 'rouba' a água do organismo dos seres vivos. Então, caso um animal beba água do mar, ele, no final, sentirá ainda mais sede! Algo parecido acontece com os vegetais.
Portanto, para sobreviver neste ambiente, animais e plantas precisam adaptar-se. As plantas que vivem nas praias, por exemplo, costumam apresentar pêlos, folhas menores, enroladas ou cobertas por cera. Essas adaptações fazem com que a planta perca menos água.
Na praia, as plantas estão expostas a grande quantidade de luz do Sol. Os pêlos e a cera sobre as folhas funcionam como uma barreira à luz, função parecida com a do telhado de uma casa. Mas não é só. Os pêlos ainda retêm um pouco da água que sai das folhas. E sabe por que elas, em geral, são menores ou enroladas nas plantas que vivem próximo ao mar? Porque, assim, a área exposta ao Sol é menor e, como conseqüência, a perda de água também!
Digamos que sejam encontrados fósseis de plantas com adaptações desse tipo junto a fósseis de dinossauros. Neste caso, os cientistas podem dizer, com razoável segurança, que esses animais viveram, provavelmente, em um ambiente de praia.
Além de trazer informações sobre o ambiente em que viveram os dinossauros, a paleobotânica também é capaz de indicar quais plantas, provavelmente, eles comiam. Como você sabe, há animais que se alimentam apenas de outros animais. Por isso, são chamados de carnívoros. Outros -- os herbívoros -- comem somente plantas. Por fim, há os que comem de tudo: os onívoros.
Basta analisar os dentes de um animal para saber do que ele se alimenta. Isso porque os dentes são adaptados ao tipo de alimentação. Os carnívoros, por exemplo, têm dentes pontudos, enquanto os dentes dos herbívoros são planos.
Quando encontramos um dinossauro que tem dente de herbívoro, sabemos que ele comia plantas. Mas... que plantas? Pode ser qualquer uma, certo? Não necessariamente! A partir da paleobotânica, é possível saber quais plantas viviam na mesma época dos dinossauros. Ou quais eram encontradas junto ou próximo a certas espécies desses animais! Assim, os cientistas podem eliminar as plantas que, com certeza, não poderiam fazer parte da dieta dos dinossauros e trabalhar apenas com as mais prováveis.
Quer um exemplo? Sabe-se que os dinossauros que viveram entre aproximadamente 195 milhões de anos e 140 milhões de anos atrás não comiam plantas com flores pelo simples fato de que, neste período, não existiam plantas com flores! Elas apareceram apenas entre 136 milhões de anos e 65 milhões de anos atrás. Da mesma forma, sabe-se que plantas do extinto grupo das progimnospermas não faziam parte da dieta dos dinossauros. Adivinhe por quê! Os dinossauros não existiam no período em que as progimnospermas viveram.
A paleobotânica não é a única ferramenta que pode trazer informações sobre os ambientes do passado. No entanto, sem ela, seria impossível imaginar dinossauros ou qualquer outro animal -- terrestre, principalmente -- em um lugar que não fosse o deserto. Afinal, assim seria o mundo sem as plantas, as bactérias, os fungos etc.
Carlos Eduardo Lucas Vieira,
Programa de Pós-graduação em Geociências,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.