segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Um crocodilo pré-histórico que viveu no Brasil

Cientistas descobrem espécie de 90 milhões de anos

Por: Cathia Abreu, Instituto Ciência Hoje/RJ.

Publicado em 29/06/2006 | Atualizado em 20/05/2010

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O 'Baurusuchus salgadoensis' era um carnívoro dotado de grandes mandíbulas, que faziam dele um grande predador (ilustração: Deverson da Silva - Pepi).

“Professor, esse dente é de bezerro?”, perguntou Clésio Felício, um menino de 13 anos, ao seu professor de ciências, João Tadeu Arruda, a respeito de um dente que encontrou em um terreno perto da escola.

Ao ver o material, o professor imediatamente percebeu que aquilo não era dente de bezerro coisa nenhuma: “Notei que não se tratava de um dente comum, mas sim de um fóssil”, conta ele, que resolveu, então, procurar especialistas para analisar o achado.

Tudo isso aconteceu há quinze anos, na cidade de General Salgado, em São Paulo.

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Os crocodilos descobertos no interior de São Paulo são os mais antigos animais do gênero já encontrados no Brasil (ilustração: Deverson da Silva - Pepi).

Mas o que Clésio não podia imaginar era que, ao encontrar aquele dente, ele estava dando o pontapé inicial em uma grande pesquisa, que agora anuncia a descoberta de uma nova espécie, extinta há 90 milhões de anos: o Baurusuchus salgadoensis , um parente distante dos crocodilos atuais.

Em 2002, depois de terem analisado o material recolhido, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Museu de Paleontologia de Monte Alto, em São Paulo, partiram rumo à General Salgado. As escavações foram feitas no lugar indicado pelo professor Tadeu e, ali, a equipe descobriu muito mais do que um dente: encontrou arcadas, restos de ossos e nada mais, nada menos do que 11 esqueletos quase completos. Esse material permitiu que os especialistas chegassem à conclusão de que estavam diante de uma espécie de crocodilo pré-histórico até então desconhecida.

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O 'Baurusuchus salgadoensis' tinha pernas mais longas do que as dos crocodilos atuais, pois andava mais tempo sobre o solo. Ele tinha 3 m de comprimento e pesava 400 kg (ilustração: Deverson da Silva - Pepi).

O animal, que viveu no período conhecido como Cretáceo, há 90 milhões de anos, media cerca de três metros de comprimento e pesava aproximadamente 400 quilos. Suas pernas eram bem mais longas do que as dos crocodilos de hoje, já que ele precisava andar muito mais tempo sobre o solo, em comparação com os crocodilos atuais. Era carnívoro e suas grandes mandíbulas faziam dele um excelente predador. “Diferentemente dos crocodilos de hoje, o Baurusuchus salgadoensis era um animal que não dependia tanto de água. Tinha hábitos mais terrestres e vivia em bandos, como demonstrado pela grande quantidade de fósseis encontrados”, conta Ismar de Souza Carvalho, do Departamento de Geologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, integrante da equipe que descobriu os fósseis.

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Crânio do 'Baurusuchus salgadoensis'. Foram encontrados onze esqueletos quase completos de animais dessa espécie.

Na época em que o Baurusuchus salgadoensis habitou a Terra, os continentes ainda estavam unidos em um grande bloco, chamado Gondwana. O nosso planeta tinha um clima instável, com grandes períodos de seca e escassez de água. Para se protegerem dos longos períodos sem chuvas, esses bichos – assim como os crocodilos atuais – faziam buracos e se enterravam à procura de umidade. Quando finalmente chovia, o fluxo de água era forte e arrastava sedimentos por onde passava, causando grandes catástrofes. Foi nessa situação que muitos animais foram soterrados juntos e preservados nas rochas.

A descoberta do Baurusuchus salgadoensis marca uma nova e importante fase para o estudo das formas de vida presentes no Brasil na pré-história. Ela também ajuda a entender melhor as condições do nosso planeta há 90 milhões de anos. Por isso, foi reconhecida por cientistas de outros países e até um artigo sobre o crocodilo pré-histórico, escrito pelos pesquisadores que o encontraram, foi publicado numa revista japonesa.

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O crocodilo pré-histórico viveu há 90 milhões de anos, no período Cretáceo (ilustração: Deverson da Silva - Pepi).

Então, para os mais distraídos, um aviso: preste bastante atenção onde pisa. Quem sabe você não é o próximo a encontrar um fóssil por aí e a iniciar uma nova pesquisa, que talvez leve a uma grande descoberta?

Cathia Abreu
Instituto Ciência Hoje/RJ.

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