Cientista da UA em expedição internacional para desvendar um dos maiores segredos geológicos da Terra
Clara Sena será a responsável pelas análises
físico-químicas e microbiológicas dos fluidos
2014-05-30
No final da missão os investigadores esperam desvendar um dos maiores enigmas da Geologia: o que despoleta o deslizamento e mergulho, para o interior do planeta, de uma placa tectônica debaixo de outra.
A formação e destruição de placas tectônicas é um processo fundamental do planeta com uma influência determinante na evolução física e química da Terra. Apesar de a ciência conhecer já bem o processo de formação e destruição das placas, poucas são ainda as evidências de como o processo de destruição de placas se inicia.
Os trabalhos vão ser coordenados pelo australiano Richard Arculus e pelo japonês Osamu Ishizuka, dois dos mais reputados cientistas mundiais no estudo da formação e destruição de rochas em zonas de fronteira entre placas tectónicas.
Perfurar as entranhas da Terra
“Na zona de subducção [zona de convergência de placas tectônicas, na qual uma desliza debaixo da outra e mergulha para o interior da Terra] que vamos estudar, onde a placa do Pacífico se afunda debaixo da placa Filipina, há um arco de Ilhas vulcânicas que testemunha o aquecimento da placa do Pacífico e a ascensão de rocha quente e fundida que ao solidificar forma o Arco de Izu-Bonin-Mariana”, explica Clara Sena, investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da UA.
Entre a equipa científica, Clara Sena será a responsável pelas análises físico-químicas e microbiológicas dos fluidos que vão ser extraídos dos poros dos sedimentos e rochas que os investigadores vão trazer para a superfície.
O estudo desses fluídos, explica a investigadora, “permitirá identificar processos geológicos tais como o fluxo de elementos químicos provenientes da placa tectônica do Pacífico, que está atualmente a mergulhar e a aquecer até se fundir, debaixo da placa tectônica das Filipinas”.
Café português na bagagem
Clara Sena tem-se dedicado ao estudo de fluídos em bacias sedimentares e à interação entre água, minerais e bactérias e a respectiva influência no ciclo do carbono no planeta Terra.
A viagem aos mares do Japão é uma estreia ao serviço do IODP. No entanto, já não é a primeira vez que Clara Sena se ‘aventura’ em alto mar. Em 2012 a investigadora esteve embarcada dois meses no navio Sarmiento de Gamboa, numa expedição organizada pelo Conselho de Investigação Científica de Espanha para investigação geofísica das rochas do Mar de Alborán, situado no extremo Oeste do Mar Mediterrâneo.
Instalada desde há dois dias na cidade de Yokohama, no Japão, onde o navio Joides Resolution a espera, os sentimentos e expectativas de Clara Sena resumem-se à “enorme vontade de enfrentar novos desafios, tanto a nível técnico-científico como humano, e partilhar os conhecimentos e experiência com uma equipa internacional de cientistas, para estudar uma área tão enigmática do planeta Terra como é esta zona de convergência de placas tectônicas”.
Diz Clara Sena:“A questão humana e cultural é também muito importante, pois vamos estar confinados ao espaço do navio, durante dois meses, cientistas, técnicos e tripulação, com culturas muito diferentes e a trabalhar para um objetivo comum”.
Na bagagem, para além do essencial para desenvolver a missão que lhe está entregue, Clara Sena leva igualmente roupa para fazer as suas imprescindíveis sessões de yoga e, para matar saudades de Portugal, um quilo de café português. “A equipa do IODP avisou-nos que se gostamos de bom café é melhor levarmos algum conosco, sobretudo quando nos esperam turnos de 12 horas de trabalho”, diz.
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