Macho ou fêmea?
Pesquisadores desenvolvem método mais rápido e barato para
determinar o sexo de aves recém-nascidas. Além de ser menos estressante
para os animais, a nova técnica, que se baseia em raios X emitidos pela
penugem, não prejudica o meio ambiente.
Publicado em 03/06/2014
|
Atualizado em 03/06/2014
Normalmente, a distinção do sexo das aves é feita a partir
de características físicas que, no caso de pintinhos, só surgem quando
eles têm quatro semanas de vida. (foto: Thomas Vlrerick/ Flickr – CC BY
2.0)
Barato, rápido e ecologicamente correto. Assim pode ser descrito o
método desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) para determinar o sexo de aves recém-nascidas. Em
apenas cinco minutos, a técnica é capaz de dizer com 100% de precisão se
uma ave é macho ou fêmea – distinção imprescindível para a indústria
avicultora e para o sucesso reprodutivo de aves silvestres ameaçadas de
extinção.
A técnica foi testada em 25 pintinhos recém-nascidos que ainda não tinham características físicas suficientemente desenvolvidas para a sexagem – nome dado ao processo de distinção entre macho e fêmea.
Do primeiro ao oitavo dia de vida dos animais, a química Juliana
Terra, que desenvolveu o método durante seu pós-doutorado na Unicamp,
cortou diariamente uma pequena quantidade da penugem de cada um para
analisar sua composição. “Nas penugens coletadas no oitavo dia de vida,
foi possível detectar o sexo dos animais com 100% de acerto”, diz a
pesquisadora. A distinção por características físicas costuma ser feita
somente quando os pintinhos já têm quatro semanas de vida.
Terra explica que, para fazer a sexagem, as amostras de penugem recebem radiação eletromagnética. Tal processo faz com que elétrons de camadas internas dos átomos que compõem a penugem sejam ejetados e o espaço deixado por eles passa a ser ocupado por elétrons oriundos de camadas externas. Quando esses elétrons se locomovem para as camadas internas, liberam energia. “Conforme a energia liberada, é possível saber qual átomo estava presente na amostra”, completa. “Além disso, a intensidade da radiação emitida é proporcional à concentração do elemento.”
Ao medir a energia liberada pelas amostras irradiadas, Terra determina a concentração de enxofre presente na penugem. Tal elemento compõe a queratina, proteína que constitui, além das penas das aves, unhas, pele e pelos humanos e animais.
“A rigidez e resistência das queratinas são consequências das ligações entre moléculas de enxofre e variam entre os sexos”, explica a química. “A causa dessa variação ainda não está clara, mas existem indícios de que a estrutura da proteína é diferente para machos e fêmeas e o mesmo ocorre para homens e mulheres.” Nos pintos, há maior concentração de enxofre na penugem dos machos em comparação à das fêmeas.
Atualmente, a sexagem de pintinhos recém-nascidos é feita por meio da identificação visual da presença ou ausência de um órgão masculino rudimentar. “Esse órgão pode ser identificado com 95% de acerto por profissionais bem treinados e a técnica é quase uma 'arte', devido à complexidade envolvida”, comenta Terra. A necessidade de especialistas torna o método caro e, por exigir que o profissional aperte a cloaca do animal, o procedimento é considerado estressante para as aves.
“Há também métodos que envolvem análise citogenética, ultrassonografia e técnicas baseadas em DNA, mas eles são caros e/ou invasivos”, complementa a pesquisadora. Ela destaca que, futuramente, a proposta é utilizar equipamentos portáteis para medir os raios X, dispensando o corte da penugem do animal.
A pesquisadora explica que mais de 50% das aves apresentam dificuldade de identificação dos sexos mesmo em idade adulta – caso de araras, papagaios e tucanos, que correm risco de se extinguir. São animais que não têm diferenças visíveis em seus órgãos genitais nem apresentam características secundárias que permitam a distinção sexual. Até agora, o método foi testado apenas em pintinhos, mas pode ser adaptado para outras aves.
Terra acrescenta que o grupo envolvido na pesquisa optou por não patentear a técnica, apesar de sua aplicação comercial. “A proposta inicial do trabalho não envolveu apelo de mercado, mas a constatação de que a metodologia proposta poderia ser uma alternativa aos métodos vigentes”, completa.
Mariana Rocha
Ciência Hoje On-line
A técnica foi testada em 25 pintinhos recém-nascidos que ainda não tinham características físicas suficientemente desenvolvidas para a sexagem – nome dado ao processo de distinção entre macho e fêmea.
Em apenas cinco minutos, a técnica é capaz de dizer com 100% de precisão se uma ave é macho ou fêmea.
Terra explica que, para fazer a sexagem, as amostras de penugem recebem radiação eletromagnética. Tal processo faz com que elétrons de camadas internas dos átomos que compõem a penugem sejam ejetados e o espaço deixado por eles passa a ser ocupado por elétrons oriundos de camadas externas. Quando esses elétrons se locomovem para as camadas internas, liberam energia. “Conforme a energia liberada, é possível saber qual átomo estava presente na amostra”, completa. “Além disso, a intensidade da radiação emitida é proporcional à concentração do elemento.”
Ao medir a energia liberada pelas amostras irradiadas, Terra determina a concentração de enxofre presente na penugem. Tal elemento compõe a queratina, proteína que constitui, além das penas das aves, unhas, pele e pelos humanos e animais.
“A rigidez e resistência das queratinas são consequências das ligações entre moléculas de enxofre e variam entre os sexos”, explica a química. “A causa dessa variação ainda não está clara, mas existem indícios de que a estrutura da proteína é diferente para machos e fêmeas e o mesmo ocorre para homens e mulheres.” Nos pintos, há maior concentração de enxofre na penugem dos machos em comparação à das fêmeas.
Atualmente, a sexagem de pintinhos recém-nascidos é feita por meio da identificação visual da presença ou ausência de um órgão masculino rudimentar. “Esse órgão pode ser identificado com 95% de acerto por profissionais bem treinados e a técnica é quase uma 'arte', devido à complexidade envolvida”, comenta Terra. A necessidade de especialistas torna o método caro e, por exigir que o profissional aperte a cloaca do animal, o procedimento é considerado estressante para as aves.
“Há também métodos que envolvem análise citogenética, ultrassonografia e técnicas baseadas em DNA, mas eles são caros e/ou invasivos”, complementa a pesquisadora. Ela destaca que, futuramente, a proposta é utilizar equipamentos portáteis para medir os raios X, dispensando o corte da penugem do animal.
Vantagens para a indústria
Por ser capaz de distinguir com precisão o sexo de aves com apenas oito dias de vida, o método se mostrou muito vantajoso para a indústria avicultora. Como cada sexo possui necessidades nutricionais diferentes, o avicultor evita o desperdício de ração e reduz os custos ao criar machos e fêmeas em locais separados. “O ideal é que a sexagem de pintinhos e a consequente separação por sexo ocorra o quanto antes”, diz Terra.
O método foi testado apenas em pintinhos, mas pode ser adaptado para outras aves
Além da aplicação na indústria, a nova técnica pode ser útil no
combate à extinção de algumas espécies de aves silvestres, já que a
identificação do sexo é fundamental para o sucesso reprodutivo de
espécies mantidas em cativeiro.A pesquisadora explica que mais de 50% das aves apresentam dificuldade de identificação dos sexos mesmo em idade adulta – caso de araras, papagaios e tucanos, que correm risco de se extinguir. São animais que não têm diferenças visíveis em seus órgãos genitais nem apresentam características secundárias que permitam a distinção sexual. Até agora, o método foi testado apenas em pintinhos, mas pode ser adaptado para outras aves.
Terra acrescenta que o grupo envolvido na pesquisa optou por não patentear a técnica, apesar de sua aplicação comercial. “A proposta inicial do trabalho não envolveu apelo de mercado, mas a constatação de que a metodologia proposta poderia ser uma alternativa aos métodos vigentes”, completa.
Mariana Rocha
Ciência Hoje On-line
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