A ave mais antiga do Brasil
Cientistas brasileiros e argentinos encontraram na Bacia do
Araripe, no Ceará, o fóssil da ave mais antiga até hoje já registrada na
América do Sul. Com 14 centímetros de comprimento, o novo espécime
pertence ao grupo dos Enantiornithes.
Publicado em 03/06/2015
|
Atualizado em 03/06/2015
A pequena ave pré-histórica, ainda sem nome científico, é
uma representante do extinto grupo dos Enantiornithes. O fóssil foi
encontrado na Bacia do Araripe, no Ceará, e é o mais antigo registro de
ave na América do Sul. (ilustração: Deverson Pepi)
Mesmo pequeno, um fóssil recém-descoberto no Ceará trouxe grandes
novidades para a paleontologia brasileira. Encontrado em um estado raro
de conservação excepcional, o exemplar mais antigo de uma ave brasileira
foi escavado entre as rochas calcárias da Bacia do Araripe. A espécie,
nova para a ciência, foi descrita na revista Nature Communications em uma colaboração de pesquisadores do Brasil e da Argentina.
Representante do grupo dos Enantiornithes – aves pré-históricas que diferem das atuais especialmente pelos ossos do peito –, o animal pré-histórico traz novas pistas para o estudo da evolução das aves na América do Sul, já que foi conservada grande parte de sua plumagem original. Além disso, aumenta significativamente a área do planeta que sabemos ter sido ocupada por aves durante a era Mesozoica (entre 251 e 65,5 milhões de anos atrás), mais especificamente no período Cretáceo, há 115 milhões de anos.
“Até hoje, todos os fósseis de espécies plumadas (que possuem penas) que haviam sido encontrados estavam localizados em rochas na China”, explica o paleontólogo Fernando Novas, do Museo Argentino de Ciências Naturales, um dos autores do estudo. “Pela primeira vez descobrimos uma no Brasil, o que amplia a área de alcance desses seres”.
Com duas asas proeminentes, olhos grandes, plumagem espessa e apenas 14 centímetros de comprimento – sendo oito apenas de cauda –, a espécie recém-descrita era menor do que um beija-flor e provavelmente alimentava-se de insetos que viviam na região onde foi encontrado. Análises ósseas indicam que o fóssil pertence a um exemplar jovem.
“As penas, longas, têm um aspecto interessante: grânulos que se distribuem de maneira regular ao longo dela”, observa o geólogo Ismar Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que coordenou o estudo. Essa característica pode ser um indício dos pigmentos originais que davam cor à plumagem.
Além de terem sido muito bem preservadas nas rochas de calcário, as penas desta Enantiornithes deixaram sua impressão em um formato em três dimensões, raro nos fósseis encontrados até hoje. “Isso se deve aos mais diversos fatores, como baixa quantidade de oxigênio e águas cristalinas da bacia na época”, revela Carvalho.
O fóssil foi localizado em 2011, em pedreiras existentes na região do Crato, no município de Nova Olinda, que faz parte da Bacia Sedimentar do Araripe. “Nessa região têm sido descobertos excelentes registros”, pontua o cientista. “Isso ocorre por ser uma área de pedreiras, com sucessões de calcários laminados, que conservam esses seres durante milhões de anos”.
Ele explica que essas rochas calcárias foram formadas a partir de uma precipitação química de carbonato de cálcio, num ambiente saturado em sais e que possibilitava a formação de uma lama muito fina, composta por calcita – um mineral comum de carbonato. “Naquela época, com clima quente e seco, o carbonato de cálcio se precipitava com facilidade, envolvendo os organismos e, posteriormente, transformando-se em rochas. Essa substância foi responsável por proteger grande parte dos registros fósseis encontrados atualmente na região”, diz. Hoje, essas rochas são amplamente usadas em construção civil, para pavimentação de ruas e residências.
Para Carvalho, a grande importância da descoberta reside no fato de ela enriquecer o entendimento da origem das aves Enantiornithes e sua distribuição paleobiogeográfica. “Além disso, também contribui para o estudo de aves do Brasil, da América do Sul e de Gondwana – supercontinente que unia América do Sul, África, Antártica e outras regiões do planeta”. Estamos diante, portanto, de uma pequena descoberta que pode fazer grande diferença! “Esse achado é uma joia da paleontologia brasileira e dificilmente há registros de tão boa qualidade como ele”.
Baixe o PDF:
http://www.nature.com/ncomms/2015/150526/ncomms8141/full/ncomms8141.html
Valentina Leite
Instituto Ciência Hoje/ RJ
Representante do grupo dos Enantiornithes – aves pré-históricas que diferem das atuais especialmente pelos ossos do peito –, o animal pré-histórico traz novas pistas para o estudo da evolução das aves na América do Sul, já que foi conservada grande parte de sua plumagem original. Além disso, aumenta significativamente a área do planeta que sabemos ter sido ocupada por aves durante a era Mesozoica (entre 251 e 65,5 milhões de anos atrás), mais especificamente no período Cretáceo, há 115 milhões de anos.
“Até hoje, todos os fósseis de espécies plumadas (que possuem penas) que haviam sido encontrados estavam localizados em rochas na China”, explica o paleontólogo Fernando Novas, do Museo Argentino de Ciências Naturales, um dos autores do estudo. “Pela primeira vez descobrimos uma no Brasil, o que amplia a área de alcance desses seres”.
Com duas asas proeminentes, olhos grandes, plumagem espessa e apenas 14 centímetros de comprimento – sendo oito apenas de cauda –, a espécie recém-descrita era menor do que um beija-flor e provavelmente alimentava-se de insetos que viviam na região onde foi encontrado. Análises ósseas indicam que o fóssil pertence a um exemplar jovem.
“As penas, longas, têm um aspecto interessante: grânulos que se distribuem de maneira regular ao longo dela”, observa o geólogo Ismar Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que coordenou o estudo. Essa característica pode ser um indício dos pigmentos originais que davam cor à plumagem.
Além de terem sido muito bem preservadas nas rochas de calcário, as penas desta Enantiornithes deixaram sua impressão em um formato em três dimensões, raro nos fósseis encontrados até hoje. “Isso se deve aos mais diversos fatores, como baixa quantidade de oxigênio e águas cristalinas da bacia na época”, revela Carvalho.
O fóssil foi localizado em 2011, em pedreiras existentes na região do Crato, no município de Nova Olinda, que faz parte da Bacia Sedimentar do Araripe. “Nessa região têm sido descobertos excelentes registros”, pontua o cientista. “Isso ocorre por ser uma área de pedreiras, com sucessões de calcários laminados, que conservam esses seres durante milhões de anos”.
Ele explica que essas rochas calcárias foram formadas a partir de uma precipitação química de carbonato de cálcio, num ambiente saturado em sais e que possibilitava a formação de uma lama muito fina, composta por calcita – um mineral comum de carbonato. “Naquela época, com clima quente e seco, o carbonato de cálcio se precipitava com facilidade, envolvendo os organismos e, posteriormente, transformando-se em rochas. Essa substância foi responsável por proteger grande parte dos registros fósseis encontrados atualmente na região”, diz. Hoje, essas rochas são amplamente usadas em construção civil, para pavimentação de ruas e residências.
Para Carvalho, a grande importância da descoberta reside no fato de ela enriquecer o entendimento da origem das aves Enantiornithes e sua distribuição paleobiogeográfica. “Além disso, também contribui para o estudo de aves do Brasil, da América do Sul e de Gondwana – supercontinente que unia América do Sul, África, Antártica e outras regiões do planeta”. Estamos diante, portanto, de uma pequena descoberta que pode fazer grande diferença! “Esse achado é uma joia da paleontologia brasileira e dificilmente há registros de tão boa qualidade como ele”.
Baixe o PDF:
http://www.nature.com/ncomms/2015/150526/ncomms8141/full/ncomms8141.html
Valentina Leite
Instituto Ciência Hoje/ RJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.