Saúde florestal em pauta
Pesquisas avaliam o estado das florestas ao redor do mundo e
apontam para um possível declínio desses ecossistemas. Entender a
dinâmica de mudanças pelas quais as florestas passam atualmente é
fundamental para elaborar planos de conservação.
Publicado em 20/08/2015
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Atualizado em 20/08/2015
O desmatamento é só um dos problemas que ameaçam as
florestas em todo o planeta. A construção de estradas, sobretudo nas
regiões tropicais, aumenta a fragmentação das florestas, deixando-as
mais suscetíveis ao fogo e aos caçadores. (foto: David Edwards).
Convidado pela revista para analisar, em poucas páginas, o complexo problema do declínio das florestas causado pelas mudanças globais, o brasileiro Paulo Brando, engenheiro florestal do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), explicou à CH On-line que a saúde de uma floresta pode ser definida de várias formas. A primeira é a ausência de um patógeno específico que cause alguma doença, como pragas. Outra possibilidade é a análise da quantidade de biomassa presente no ambiente – se a fauna, por exemplo, está reduzida, a floresta pode ser considerada doente.
Brando assina, com colegas da Alemanha e dos Estados Unidos, um artigo de revisão sobre estudos acerca da saúde das florestas em diferentes regiões do planeta. Para medir o quanto as florestas mudaram nos últimos tempos, grupos de pesquisa do mundo todo usam critérios tão variados quanto a biodiversidade que observam. “Alguns pesquisadores viajam até o meio das matas simplesmente para saber se as árvores estão doentes”, exemplifica Brando.
Mudanças climáticas globais têm enorme influência sobre a saúde florestal: florestas mais quentes tendem a ficar mais doentes
Para o biólogo Jean Remy Guimarães, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro e colunista da CH On-line, o trabalho é um grande avanço nesse campo de pesquisa, pois aperfeiçoa estudos já feitos. “É essencial entender a situação atual das florestas para, então, tentar prever como vai ser o futuro delas”, diz. “E o futuro delas também é o nosso, não é?”
Futuro ainda incerto
Em quatro artigos de revisão, a Science desta semana dá pistas do quão devastados estão diferentes tipos de florestas, entre eles as boreais (que cobrem regiões mais frias), as temperadas (localizadas em lugares de clima ameno) e até as plantadas (ou seja, cultivadas pelo próprio homem). Um estudo que nos toca diretamente foi publicado por Simon Lewis, da Universidade de Leeds, na Inglaterra, e visa determinar o impacto dos humanos em florestas tropicais, em termos de estoques de carbono nas árvores, além de avaliar as consequências de eventos como queimadas e incêndios.- Compreender a saúde atual das florestas, inclusive a forma como elas se recuperam após queimadas e outros eventos, é fundamental para tentar prever como essas regiões estarão no futuro. (foto: Yan Boulnager)
Uma preocupação dos especialistas é que, conforme o clima esquenta, as espécies precisam encontrar novos habitats para acompanhar o ambiente em mudança. Porém, o estado fragmentado das florestas tropicais pode não permitir esse movimento, levando à extinção de muitas espécies.
De uma maneira geral, ainda é difícil prever como estará a saúde das florestas em um futuro distante. “Isso depende de como será nossa postura daqui em diante: se iremos adotar novas medidas para reverter esse cenário ou continuar com os velhos hábitos”, destaca Brando. O engenheiro aponta que, atualmente, o mais importante é compreender o complexo processo que as florestas do planeta estão passando. Apenas estudando a fundo o estado de saúde de nossas árvores será possível salvá-las. “Criar políticas de proteção a essas queridas aliadas já seria um bom começo”, arrisca.
Valentina Leite
Instituto Ciência Hoje/ RJ
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