DARWINISMO DEPOIS DE DARWIN.
Charles Lyell, Ernst Haeckel e Huxley foram os grandes parceiros de Darwin na formulação de sua teoria.
Aqui discuto um pouco sobre esses três parceiros de Darwin e como o darwinismo se expandiu correta e erroneamente pela sociedade ao longo dos anos que sucederam a publicação do livro a Origem das espécies. Muitas interpretações errôneas são feitas pelo oportunismo de algumas pessoas (e continuam até hoje) e pela falta de conhecimento. Faz-se aqui uma continuação do texto Darwin antes do Darwinismo.
Wallace que foi co-descobridor da seleção natural junto a Darwin assim como Haeckel, Lyell e Huxley descordavam profundamente de Darwin em certos pontos de sua teoria.
Charles Darwin foi um amigo muito próximo de Lyell que foi um dos primeiros cientistas a apoiar o livro A Origem das Espécies apesar de ele nunca ter aceitado inteiramente a seleção natural como o agente por trás da evolução. De fato assim como Georges Cuvier que apesar de ser extremamente oposto a proposta de Darwin ainda sim era um evolucionista, uma vez que acreditava na transformações das formas de vida, embora por mecanismos distintos. Até mesmo Lamarck era evolucionista, embora apresentasse mecanismos que hoje sabidamente não fazem parte dos processos evolutivos no século XVIII.
Wallace apoio por muito tempo a proposta da seleção natural, porém, somente até certo ponto do que Darwin propunha. Wallace não compreendia que a seleção sexual era um mecanismo evolutivo diferente da seleção natural, e aceitava a seleção natural até o limite da evolução do sistema nervoso central, na qual Wallace não compreendia como mecanismo simples como a seleção natural poderia criar um órgão tão poderoso facultativamente, ou cognitivamente.
Huxley também discordava em certo pontos de Darwin embora o tenha defendido e estimulado a escrever mais sobre o assunto.
Haeckel foi de grande importância do ponto de vista histórico tanto pelas suas idéias fundamentais na criação da ciência chamada ecologia (do grego, o estudo da casa), como para as interpretações errôneas do Darwinismo que ocorreram sucessivamente ao longo da historia.
Haeckel foi astuto ao reconhecer que em certos pontos era possível ver como a embriologia poderia revelar mais detalhes sobre a evolução dos seres vivos, mas a interpretação que ele deu foi equivocada.
Isso porque os estudos feitos até o momento eram muito limitados e isso é bastante evidenciado no livro de Stephen Jay Gould denominado A falsa medida do homem.
Haeckel equivocadamente cunhou o termo recapitulação. Ele previu que durante as etapas ontogenéticas o ser humano passava por diferentes estágios que se assemelhavam com o de outros grupos de animais, portanto supôs que o desenvolvimento embrionário era uma repetição do desenvolvimento filogenético, onde a vida surgia como uma única célula e se desenhava de acordo com os estágios da evolução. Em certos momentos os serres humanos tinham caudas, brotos embrionários semelhantes a guelras. Assim supôs que o estágio final era a formação do homem. Assim qualquer pessoa com deficiências era vista como um estágio anterior a da formação humana, seja a pessoa mongol, australiana, índio, mulher ou negro.
O determinismo biológico já foi abandonado a anos embora durante muitas décadas deterministas utilizaram tais propostas para sustentar seus estudos, como Paul Broca, Samuel Morton, Alfred Binet, Cesare Lombroso e Langdon Down.
Lagdon Down foi a primeira pessoa a descrever a síndrome de Down em 1886. A única explicação existente até o momento era que a ontogenia realmente recapitulava a filogenia uma vez que a genética e os exames de cariótipos não existiam. A genética somente surgiu em 1900. A interpretação dessa doença era baseada nessas interpretações devido ao que se chama de Zeigeist (o clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo). Sob essa concepção Haeckel realmente disse que:
No estado mais baixo do desenvolvimento mental humano estão os Australianos, algumas tribos da Polinésia, os Bosquímanos, os “Hottentots”, e algumas tribos Negras
Porque a única explicação até o momento era esta. Alias, durante anos essas afirmações que hoje soam como racistas foram a única explicação plausível.
Isso remete desde a Aristóteles, Thomas Jefferson, Lineu, Benjamin Franklin, até mesmo Jesus Cristo (Eclesiástico 25, 24, – Eclesiástico 42, 14 - – I Coríntios 11, 7a9 – 1 Timóteo 2, 9-14 – Colossenses 3, 18 e outras)e até mesmo Abrahan lincoln teve manifestações racistas que refletem o Zeitgeist:
Existe uma diferença física entre as raças branca e negra, que… …impedirá que as duas vivam juntas em condições de igualdade social e política. …enquanto permanecerem juntas deverá existir uma posição de superioridade e uma de inferioridade… sou a favor de que essa posição de superioridade seja conferida a raça branca.Abraham Lincoln (1809 – 1865).
Vale lembrar que Lincoln liderou o país de forma bem-sucedida durante sua maior crise interna, a Guerra de Secessão, preservando a União e abolindo a escravidão.
Louis agassiz era um determinista biológico assumidamente e fanaticamente criacionista que também teve suas manifestações absurdas (veja como Agassiz é supracitado no Institute of Creationist Reserch em Louis Agassiz: Anti-Darwinist Harvard Paleontology Professor, um texto escrito por Jerry Bergman, criacionista assumido e que nega a proposta da evolução por razões religiosas e não cientificas). O que evidencia que além de anti-darwinista, Agassiz é prestigiado pelos criacionistas.
Agassiz justificava-se utilizando o argumento dom poligeismo. Os deterministas biológicos criacionistas monogeistas acreditavam que todas as raças eram fruto da linhagem de Adão e Eva. Agassiz poligeista afirmava que os caucasianos eram a linhagem que derivava de Adão e Eva e que outros Adões e evas haviam dado origem a raças inferiores e portanto não poderiam gozar da igualdade entre os homens (A falsa medida do homem ED Martins Fontes 2003 pág 26, 31, 32,33 e 34).
As raças devem ter-se originado… nas mesmas proporçòes numéricas e nas mesmas áreas em que hoje ocorrem… Elas não podem ter se originado de indivíduos únicos, mas devem ter sido criadas nessa harmonia numérica que é característica de cada espécie; os homens devem ter-se originado em nações, como as abelhas devem ter se originado de enxames.
Darwin ao contrario de seu primo Galton e filho Leonard nunca manifestou-se racista, embora erroneamente e oportunamente os criacionistas distorção a seguinte afirmação:
Num período futuro, não muito distante quando medido em séculos, as raças humanas civilizadas vão certamente exterminar e suplantar as raças selvagens por todo o mundo.
O que realmente vem acontecendo uma vez que as raças selvagens, ou animais selvagens vem sendo extintos. O puma não ocorre mais no Nordeste dos EUA, o lobo de marsúpio Tylacinus foi extinto em 7 de setembro de 1936.
São todas afirmações embasadas na idéia da seleção atuando como mecanismo transformador das espécies e não propostas eugênicas nas quais foram distorcidas ou mal interpretadas por seu primo Francis Dalton ou o próprio filho Leonard Darwin.
Esses problemas de família realmente não são exclusividade de Darwin.
Nietzsche também foi erroneneamente e oportunamente utilizado no período do holocausto. Hitler usou suas idéias distorcidas para justificar atrocidades. Curiosamente isso foi usado por Teresa Alexandra Elisabeth Förster-Nietzsche, irmã de Friedrich Nietzsche.
Quando Nietzsche surtou onze anos antes de sua morte, estava escrevendo uma obra chamada A transvaloração de todos os valores. Essa obra foi destrinchada e virou dois grandes ensaios O anti-cristo que Nietzsche destrói o cristianismo como doutrina e reduz Jesus cristo a um imbecilóide e Paulo como o precursor do fracasso cristão e o livro Ecce homo na qual debate ferrenhamente o egocentrismo humano.
Elisabeth viveu muito mais do que seu irmão Nietzsche. Ela foi filiada ao partido Nazista e usou a influência filosófica de Nietzsche após sua morte, para sustentar ideologias eugênicas.
Elisabeth forjou cartas de seu irmão escrevendo uma falsa biografia publicando textos com baixo conteúdo filosófico levando a deturpações que prejudicaram a reputação de Nietzsche durante muitos anos. Um exemplo clássico foi o uso do termo super homem proposto por Nietzsche em Zaratustra e que foi tendenciosamente associado a superioridade racial.
Em outras palavras, que irmãzinha traiçoeira, embora seja sabido que Nietzsche citou em Ecce Homo uma frase referindo-se a irmã dizendo que Elisabeth era uma de suas mais profundas objeções ao pensamento do eterno retorno…
O mesmo aconteceu com Karl Marx, propostas comunistas sim mas que não faziam apologias a destruição morte em nome de um regime partidário, mas sim a revolução social e a compreensão do sistema capitalista, cooptada injustamente pelos comunistas e adotada por regimes políticos.
Aqui cabe um comentário deixado no Netnature feito por Cesar Franco:
O maior extermínio de humanos aconteceu nas guerras religiosas seguida pelas guerras políticas e por último as de cunho econômico. Nunca houve na humanidade guerras por motivação ideológica. As religiões foram de longe as maiores exterminadoras de se seres humanos, liderada da forma mais cruel possível pela inquisição cristã que torturou da forma mais cruel possível e depois levou para a fogueira centenas de milhares de mulheres (lembrar que as religiões de origem Abraanicas são machistas). Mulheres beatas do mundo livre e as que vestem a burca por livre arbítrio que me perdoem estou apenas colocando os fatos. Esse filme retrata os fatos, nada foi inventado! Hoje temos beatas demais e Hipátias de menos e dizem que esta havendo uma revolução feminina.
De fato guerras são causadas por motivos religioso políticos e econômicos. E muito do machismo foi suportado por idéias deterministas e religiosas.
O caso recente ocorrido na Inglaterra lembra vagarosamente o caso da independência da Escócia, que iniciou-se com a covarde morte da esposa de William Wallace por parte dos nobres. O regime de opressão e coerção exercido na sociedade levou a indignação e revolta popular, culminando em guerras por motivações políticas e econômicas. Caso bastante semelhante ocorrido com os países árabes e suas recentes manifestações a favor da liberdade e igualdade.
Darwin não era racista, qualquer estudioso de sua vida facilmente registraria a inocência de Darwin na questão da eugenia citando simplesmente a sua indignação ao passar pelo Brasil, no Rio de Janeiro e Salvador quando viu negros sendo açoitados em um regime escravagista extremo. Infelizmente Darwin ficou com uma péssima impressão do Brasil e o desejo de nunca mais pisar aqui, afirmando:
Que eu jamais visite de novo uma nação escravocrata
As idéias de Darwin nunca poderiam casar com a Eugenia, pois do ponto de vista genético essa proposta é anti evolucionista. O que foi proposto por Hitler como eugenia é o que chamamos de seleção de grupo.
A seleção de grupo é à idéia de que os alelos podem fixar-se ou espalhar numa população devido aos benefícios que fornecem aos grupos, seja qual for o seu efeito na aptidão dos indivíduos dentro desse grupo. Ou seja, que os melhores alelos devem ser dispersados dentro de um grupo em especial a ponto de se tornar uma espécies superior. Sob outra perspectiva, o extermínio de genes de subespécies (ou alelos ruins), das pragas, dos judeus, ciganos, homossexuais e comunistas deve ser feito.
Há um erro grave nisto, a redução da variabilidade genética da espécie causada pela própria espécie. Isso pode ser avaliado em uma reflexão simples.
Suponhamos que as sociedades humanas exterminem qualquer pessoa que seja tolerante a lactose acima de 2 anos. Isso quer dizer que toda pessoa que ainda mamar acima de 2 anos de idade deverá ser morta por qualquer razão social que seja. Então exterminamos todos os tolerantes a lactose.
Ao passar das gerações as pessoas intolerantes a lactose estão dominam a população e não sabem nem mesmo porque não podem tomar leite após adultos. Cerca de alguns milênios depois a Terra entra em um processo de queda de temperatura, com períodos climatológicos glaciais de nível 6 semelhante ao ocorrido na Europa com os Neanderthais.
Neste momento, com um sistema imunológico fraco ou com a falta de gordura que anteriormente poderia ser adquirida ao tomar o leite dos bovinos a espécie passa por um gargalo, podendo ser extinta. Isso porque o leite e sua gordura poderiam ser um fator fundamental na sobrevivência do grupo, caso os genes da tolerância fossem disseminados ao máximo possível na população e não exterminados como supostamente proposto.
Ou seja, por um costume qualquer, exterminamos uma variedade genética que porventura poderia ser uma característica crucial da sobrevivência da espécie diante de tal contexto climatológico hostil.
O exemplo é bem leviano, mas confere com o que se propõem na seleção de grupo e que determina o seu abandono em meios acadêmicos.
Apesar das idéias de Darwin terem sido importantes no meio acadêmico elas foram sob certos aspectos da historia difundidas de forma bastante errônea, na forma de Darwinismo social, e Eugenia. Mas é evidente que o seu uso não foi o motivo do Holocausto, ele foi uma ferramenta usada erroneamente assim como é erroneamente utilizar essa passagens bíblicas machistas acima para justificar o preconceito embora em certas religiões isso pareça ser levado ao pé da letra.
Sobre as manifestações racistas de seus três seguidores a resposta as questões das características foram erroneamente interpretadas embora na época não se tinha metade do conhecimento que obtemos hoje através da experimentação e que refutam a proposta da eugenia e determinismo biológico.
Assim como Darwin, Marx (no caso dos comunistas) e Nietzsche foram utilizados erroneamente e oportunamente por regimes sócio/políticos extremistas.
A única aproximação que Nietzsche teve do nazismo foi ser por um breve tempo amigo de Wagner na qual Hitler era extremamente fanático. Nietzsche e Hitler nunca se encontraram
Quando Nietzsche passou a desacreditar na cultura como forma de emancipação e perseguir uma ética como estética da existência os conflitos vieram. Um dos pontos de desinteresse de Nietzsche pela obra do compositor eram os frequentes pontos em comum com a temática e as preocupações cristãs.
Esses três últimos autores ainda tem muito prestígio nos centros acadêmicos, Marx é leitura referencial em cursos de filosofia e direito (não confundir marxismo com comunismo ou com ateísmo), Darwin é referencia na produção de ciência hoje, no Brasil e no mundo. Nietzsche é dispensável tais apresentações.
Scritto da Rossetti
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