quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Ebola: pequeno grande ameaçador


É essencial evitar que novas transmissões adotando medidas sanitárias
É essencial evitar que novas transmissões adotando medidas sanitárias.
 
A cada dia que passa o número de infectados com Ebola aumenta de forma logística e se contraído, é uma das doenças mais mortais que existem, se igualando a AIDS. Segundo Avaaz, os casos na África Ocidental estão dobrando a cada duas ou três semanas e a última pesquisa estimou que 1,4 milhão de pessoas podem estar infectadas até meados de janeiro do ano que vem. Neste ritmo, esse monstro ameaçará o mundo inteiro em breve. Como o Ebola atingiu países cujo sistema médico é defasado e não possui número suficiente de médicos para tratar de todos os infectados. O vírus Ebola é altamente contagioso e seu quadro patológico evolui de maneira rápida que dificulta possíveis tratamentos quando a doença não é descoberta a tempo.


O vírus começou a circular em 1976, no Sudão e na República Democrática do Congo, numa região próxima ao Rio Ebola. Quirópteros (morcegos) frugívoros são considerados hospedeiros naturais do vírus Ebola, assim como os morcegos hematófagos são hospedeiros naturais do vírus da raiva. Normalmente, esses animais não apresentam muitos sintomas, pois a coevolução desses organismos tornou-os mais resistentes, diminuindo a virulência do Ebola. O que não acontece com a espécie humana, em que a letalidade chega a 100%, dependendo da cepa viral.


O vírus ebola pertence ao gênero Filovirus, altamente infeccioso, transmitido pelo contado direto de pessoas ou animais com secreções, sangue ou fluidos corporais (fezes, urina, suor, saliva, lágrimas e sêmen) de indivíduos infectados. O vírus Ebola pertence à mesma ordem (Mononegavirales) de outros vírus causadores de doenças como cachumba, sarampo, parainfluenza e raiva.


Os sintomas não são específicos e típicos de febre hemorrágica. O vírus penetra na célula e insere seu material genético (RNA) na célula infectada (apresenta tropismo pelas células hepáticas e do sistema retículo-endotelial) , iniciando a produção de proteínas e partículas virais. Uma dessas proteínas age sobre as células endoteliais vasculares e provoca a ruptura dos vasos sanguíneos, levando à hemorragias internas e externas, além de impedir a coagulação sanguínea, por disfunções plaquetárias e plaquetopenia, perpetuando o extravasamento de sangue. A perda se sangue leva a diversas complicações, como fraqueza, insuficiências respiratória, cardíaca e renal. Além disso, a perda de sangue dificulta a chegada de oxigênio e nutrientes às células, que entram em processo de necrose.


A falta de nutrientes para células, como glicose, leva a falência de diversos processos metabólicos que requerem energia proveniente do processo aeróbico da via glicolítica. Neurônios, por exemplo, usam apenas glicose para produzir energia, e morrem entre 3-5 minutos na ausência dessa molécula. Esses são apenas alguns dos processos que envolvem a infecção por Ebola, já que o quadro torna-se generalizado entre 2 a 21 dias após contato. Os sintomas mais frequentes e inespecíficos (pois são semelhantes à de outras doenças como Cólera, Hepatite, Malária Meningite e Febre tifoide) são: febre, dor de cabeça, garganta inflamada, dores musculares. Com a progressão da doença começam a aparecer vômitos, diarreia, inchaço, vermelhidão nos olhos e erupções ou hemorragias internas e externas.


O diagnóstico laboratorial do Ebola pode ser feito através de testes sorológicos de ELISA, PCR, hibridação in situ e isolamento viral por imunohistoquimica, imunofluorescência indireta (falsos positivos) e radioimunoensaio (RIA).


Não há tratamento específico para o Ebola. Os recursos terapêuticos contra a doença são tratar o paciente com oxigenoterapia, transfusão de sangue, medicamentos para choque e dores. Além disso, é essencial evitar que novas transmissões adotando medidas sanitárias e profiláticas adequadas, impedindo que o vírus continue ultrapassando barreiras continentais e continue matando milhões de pessoas pelo mundo.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

DOCUMENTÁRIO
 

Sobre Rochas 1ª Temporada Completa

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Sinopse: Apresentada pelo geógrafo e professor da PUC-RJ Marcelo Motta, “Sobre Rochas” é uma série em estilo documental que trata de um assunto inédito na TV brasileira: as montanhas do Rio de Janeiro. Envolve o telespectador para mostrar curiosidades sobre a formação das montanhas no Rio de Janeiro, onde o ambiente e as relações das pessoas no seu entorno criam vivências culturais diversas. Com 13 episódios de 26 minutos cada, “Sobre Rochas” tem direção de João W. Faissal e produção executiva de Roberto Faissal.

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EPISÓDIO 01 (CORCOVADO)Download
EPISÓDIO 02 (PEDRA DA GÁVEA)
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EPISÓDIO 03 (PICO DA TIJUCA)
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EPISÓDIO 04 (PICO DO GRAJAÚ)
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EPISÓDIO 05 (DOIS IRMÃOS)
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EPISÓDIO 06 (SERRA DA GUARATIBA)
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EPISÓDIO 07 (PICO DA PEDRA BRANCA E CAMORIM)
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EPISÓDIO 08 (PEDRA DO ARPOADOR)
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EPISÓDIO 09 (ILHAS CAGARRAS)
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EPISÓDIO 10 (CAPOCABANA)
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EPISÓDIO 11 (SERRA DO MENDANHA)
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EPISÓDIO 12 (PÃO DE AÇUCAR)
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EPISÓDIO 13 (MORROS DO CENTRO)
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sábado, 25 de outubro de 2014

Estudo dos Oceanos
Parte 1



INTRODUÇÃO

O nome Oceanografia significa o estudo da Geografia dos oceanos- o mapeamento das fronteiras oceânicas e a delineação das correntes oceânicas. No entanto, atualmente a Oceanografia se expressa por ser muito mais ampla que isso, e muitas vezes o termo Oceanologia é mais apropriado, que significa o estudo do mar. Muitas vezes estes dois nomes e seus significados geram alguns problemas de interpretação, no entanto se considerarmos os nomes apenas pelos seus significados podemos dizer que a Oceanografia faz parte da Oceanologia, o que também não é apropriado de se afirmar. Atualmente ambas as denominações desta ciência são apropriadas, mas no mundo a utilização delas varia com a escola em que tratamos: a escola Européia geralmente utiliza o termo Oceanologia, enquanto que o termo Oceanografia está mais relacionado à escola Norte Americana.
Devido à importância da navegação e das viagens oceânicas historicamente, o mapeamento das margens oceânicas foi algo com grande importância nas primeiras explorações mundiais. Destas expedições de exploração dos oceanos no século XV, duas foram de muita importância para o mapeamento dos oceanos: a expedição financiada pela Espanha do nobre Português Ferdinando Magellan (1480?-1521), que explorou o Pacífico e circunavegou a Terra por mar; e a do navegador Inglês Capitão James Cook (1728-1779) que estabeleceu o mapeamento do Oceano Pacífico e mostrou que o continente coberto por gelo (Antarctica) estava localizado no Pólo Sul.
Durante este período houveram importantes avanços na instrumentação de navegação. Aparelhos para medições precisas dos ângulos nos oceanos (hoje usamos o sextante para tal) permitiu navegadores determinar suas latitudes. A bússola magnética, conhecida no Oeste Europeu desde o século XII, indicava a direção mesmo quando o sol ou as estrelas não podiam ser vistas. O desenvolvimento em 1771 de um prático cronômetro (um acurado relógio para navios) permitiu os navegadores a determinar suas longitudes. Por comparação do horário do meio-dia (quando o sol está o mais alto no céu) com o horário de Greenwich, Inglaterra, Capitão Cook foi capaz de determinar sua longitude bem o suficiente para plotar mapas razoavelmente detalhados do Oceano Pacífico.
Atualmente tais técnicas de navegação são pouco usadas devido a utilização de equipamentos muito sofisticados que fazem o mesmo trabalho mais rápido e fácil que estes métodos. Bússolas magnéticas foram trocadas por giroscópios, que conseguem dar o resultado do direcionamento do navio diretamente com o pólo geográfico terrestre, sem a influência dos desvios do campo magnético terrestre, que muda todo ano. O desenvolvimento de Ecobatímetros facilitou o conhecimento das profundidades, velocidades do navio e das correntes, o que antes era muito difícil de fazer. A incorporação de alguns equipamentos inicialmente utilizados para fins militares na navegação trouxe benefícios ainda maiores. Os radares conseguem dar distâncias precisas mesmo em mau tempo e nevoeiros. Estações de rádio, equipamentos poderosos de rádio, faróis contínuos que são controlados automaticamente aumentaram sua eficiência. Mas sem dúvida o equipamento que mais revolucionou a navegação mundial foi o GPS (Global Position System), que torna desnecessária praticamente a utilização de qualquer outro aparelho de navegação pois tem altíssima precisão no posicionamento terrestre, já que funciona pela geometria de sinais de satélite em qualquer local da terra.
Benjamin Franklin (1706-1790) publicou uma carta marítima em 1770 mostrando a localização da corrente do Golfo, de grande importância para as Embarcações à Vela. No entanto, estudos científicos dos oceanos não haviam começado antes do século XIX. Edward Forbes (1815-1854), um pioneiro em Oceanografia Biológica, estudou a vida nos oceanos e postulou a falta de vida abaixo dos 600m de profundidade. Apesar desta idéia posteriormente ter sido demonstrada como errada, ela estimulou muitos cientistas a trabalhar com problemas de biologia marinha.
Charles Darwin (1809-1882) foi o naturalista da viagem de exploração do Beagle (1831-1836). Suas observações em recifes de corais conduziram-no a brilhante hipótese de sua formação. Caso Darwin não houvesse formulado sua teoria sobre a origem as espécies, provavelmente ele seria também famoso pelos seus trabalhos com recifes de corais.
Um cientista Americano Matthew Fountaine Maury (1806-1873) é muitas vezes considerado o pai da oceanografia. Começando no início dos anos 1840, Maury sintetizou dados de muitos anos de observações feitas a bordo de navios a vela. Destes dados ele compilou mapas demonstrando os ventos e correntes para cada mês do ano. Maury também escreveu o primeiro Livro de Oceanografia em Inglês- The Physical Geography of the Sea. Tanto os mapas como o livro tiveram um impacto muito grande na época, e demonstraram a importância econômica de navegar que poderiam ser atingidas com uma investigação sistemática dos oceanos.
Tais investigações sistemáticas dos oceanos da terra começaram em 1872 com a "Challenger" Deep-sea expedition financiada pelos Ingleses e sob direção do Sir C. Wyville Thompson (1830-1882). Desta expedição resultou em uma publicação de 50 volumes, num total de 29.000 páginas com 3.000 ilustrações, o que influenciou grandemente o desenvolvimento da oceanografia e até hoje é uma fonte de informação para oceanógrafos. Uma boa parte dos créditos da expedição do Challenger se deve a Sir John Murray (1841-1914) que dirigiu o Challenger Expedition Office depois da morte de Sir Thompson, e escreveu ou ajudou a escrever cinco dos 50 volumes do final das publicações.
Entre os notáveis homens que contribuíram para a oceanografia, o Sueco Fridjof Nansen (1861-1930) merece citação especial. Este zoólogo, artista e ganhador do Prêmio Nobel, foi o primeiro homem a cruzar a cobertura congelada da Groenlândia. Testou sua teoria dasa correntes superficiais no Oceano Ártico permitindo que um navio especialmente reforçado , o Foram, se congelasse no pacote de gelo do Oceano Ártico. Quando tornou-se óbvio que seu navio não chegaria ao pólo Norte, Nansen e sua Companhia saíram a pé pelo gelo até o pólo norte. Mas mesmo ele tendo falhado em chegar ao pólo norte(por 375 km ou 233 milhas) ele foi o homem que alcançou a posição mais ao Norte que um homem havia jamais ido naquela época até então. A garrafa de coleta d´água de Nansen (projetada por ele) é até hoje um equipamento usado para coletas de amostras de água.
A oceanografia atual conta com diversas comissões, conselhos e institutos oceanográficos que se formaram desde a Challenger, graças a diversas outras expedições. No entanto, a Oceanografia é uma ciência relativamente nova, mas cresce cada vez mais, principalmente devido a uma tecnologia cada vez mais aprimorada.

A ÁGUA DO MAR


A ESTRUTURA DA MOLÉCULA DA ÁGUA

A molécula da água é polarizada. Veja a figura:

PROPRIEDADES TÉRMICAS

Pontos de fusão e ebulição.
Calor específico. O calor específico é a quantidade de calor necessária para aquecer em 1ºC 1g de uma substância. Caloria é a quantidade de calor necessária para aquecer 1g de água em 1ºC.
Calor latente. Calor latente é a quantidade de calor gasta para que uma substância mude de estado físico sem que mude sua temperatura. Pode ser de fusão ou ebulição.
Congelamento superficial. Ao contrário dos outros líquidos, a água congela primeiro na superfície.
Estrutura cristalina e porosa do gelo. À medida que a temperatura baixa, as moléculas da água vão se movimentando mais lentamente e tendem a formar estruturas cristalinas rígidas, o gelo.

PROPRIEDADES SOLVENTES

A grande capacidade solvente da água se deve, entre outros fatores, à polaridade da molécula.
Sais na água. As substâncias mais solúveis na água são os sais, como o NaCl.
Saturação.
Efeitos dos sais. Os sais têm efeito moderador e modificam as propriedades da água.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Em média, 83% das populações de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis foi extinta no continente nos últimos 40 anos

O Relatório Planeta Vivo, publicado a cada dois anos pela WWF, chega a sua décima edição com dados alarmantes. De acordo com o documento, a América Latina está sofrendo uma crítica diminuição das populações de vida selvagem. O estudo apresenta o cenário detalhado e atualizado da situação do meio ambiente no mundo todo. Reúne dados de todos os continentes, países e faz um balanço sobre a população de espécies e da biodiversidade global.
Wikipédia
Wikipédia
O desmatamento na Amazônia ameaça muitas espécies de rãs de árvore, que são muito sensíveis às mudanças ambientais. Na imagem, o Dendrobates leucomelas.

Em média, 83% das populações de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis foi extinta na América Latina nos últimos 40 anos. A diminuição da vida selvagem da região é maior do que o declínio global de 52% no mesmo período. Nesse declínio observado na América Latina se destaca a pressão intensa sofrida pelas espécies tropicais. Entre as milhares de espécies estudadas no Relatório, os trópicos mostraram 56% de perda em população comparado com 36% nas zonas temperadas.
O Relatório Planeta Vivo 2014 também aponta que a Pegada Ecológica – medida da demanda da humanidade sobre a natureza – continua a aumentar. A América Latina aparece na metade do ranking regional apresentado no Relatório. Globalmente, a demanda da humanidade sobre o planeta está 50% acima do que a natureza pode renovar. Ou seja, atualmente, seria necessário 1,5 planeta para produzir os recursos necessários para a nossa atual Pegada Ecológica.

O Sumário Executivo, em português, pode ser baixado neste link e a íntegra do Relatório e outros materiais (em inglês) podem ser conferidos no site da organização.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Tuberculose: origens, diagnóstico e diabetes

Três diferentes estudos apresentam avanços sobre a doença que mata 1,3 milhão de pessoas anualmente no mundo. 
 
Por: Cássio Leite Vieira
Publicado em 21/10/2014 | Atualizado em 21/10/2014
Tuberculose: origens, diagnóstico e diabetes
A infecção de focas e leões-marinhos pode explicar como a bactéria da tuberculose teria contaminado humanos que viveram no Peru quando a América ainda estava geograficamente isolada. (foto: Ricardo Batisda.
 
Três novidades sobre a tuberculose.

  • A primeira revela como ela pode ter chegado ao continente americano. 
  • A outra promete levar a um diagnóstico para o quadro em sua forma ‘adormecida’. 
  • A terceira mostra como o crescimento do diabetes pode inflar os números da epidemia mundial de tuberculose.

A equipe do paleogeneticista Johannes Krause, da Universidade de Tübingen (Alemanha), por meio da análise de restos de DNA de bactérias da tuberculose, mostrou que a doença pode ter chegado ao continente americano por meio de focas ou leões-marinhos.

O material genético analisado por Krause e colegas foi extraído de esqueletos humanos com cerca de mil anos de idade achados no Peru.

Krause e colegas, ao analisarem os genomas de três amostras de DNA da bactéria extraídas dos esqueletos, concluíram que elas são similares à Mycobacterium pinnipedii, adaptada a focas e leões-marinhos.
 
Sabe-se que as linhagens da Mycobacterium tuberculosis (bactéria que causa a doença em humanos) encontradas hoje em habitantes do continente americano são geneticamente muito semelhantes àquelas achadas na Europa – daí se pensar que a introdução do quadro por aqui ocorreu no século 16, com a chegada dos colonizadores espanhóis.

No entanto, Krause e colegas, ao analisarem os genomas de três amostras de DNA da bactéria extraídas dos esqueletos, concluíram que elas são similares à Mycobacterium pinnipedii, adaptada a focas e leões-marinhos. Com base nisso, os autores propõem que o contágio tenha ocorrido entre esses mamíferos marinhos e humanos. E só mais tarde é que essa linhagem teria sido substituída pela M. tuberculosis europeia, mais agressiva. O artigo está em Nature.

Outro desdobramento interessante (e intrigante) do estudo: o ancestral comum mais recente da M. tuberculosis teria apenas 6 mil anos de idade. Segundo Krause e colegas, foi nessa época que focas e leões-marinhos teriam sido infectados, nas costas africanas, por algum hospedeiro da bactéria.
No entanto, esse intervalo de tempo contrasta muito com os 70 mil anos que o conhecimento atual atribui à emergência dessa doença (Nature Genetics on-line). Acredita-se também que os humanos tenham adquirido o micro-organismo ainda antes de migrar da África para outros continentes.
Críticos dizem que seria preciso encontrar mais esqueletos antigos com a bactéria – principalmente, em outras localidades do continente americano – para que as conclusões de Krause e colegas sejam corroboradas.

‘Adormecida’ diagnosticada 

O segundo artigo traz a esperança de que, com base em seus resultados, seja desenvolvido um método para diagnosticar a chamada tuberculose latente – ou seja, a pessoa tem a bactéria, mas não manifesta os sintomas da doença.

Dennis Montoya, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (EUA), e colegas mostraram que a proteína IL-32 (interleucina-32) poderia ser a razão pela qual um paciente portador da M. tuberculosis não adoece. Segundo os autores, essa proteína (em níveis mais elevados que o normal) poderia ser a responsável por ativar o sistema de defesa do organismo contra a bactéria. O artigo está em Science Translational Medicine.
M. tuberculosis
A presença de grande quantidade da proteína IL-32 e de níveis adequados de vitamina D poderia ser a razão pela qual uma pessoa infectada com a 'Mycobacterium tuberculosis' não desenvolve a doença. (imagem: Divulgação/ Sanofi Pasteur)
Montoya e colegas mostraram ainda que o disparo da defesa contra a M. tuberculosis não depende só de altos níveis da IL-32, mas também de níveis adequados de vitamina D no organismo. Ou seja, proteína e vitamina devem agir conjuntamente (e em harmonia) para que a doença permaneça assintomática.
Isso explicaria por que populações com pele mais escura – que funciona como um filtro solar natural contra a radiação ultravioleta – seriam mais suscetíveis à tuberculose, como se vê com mais frequência na África e Ásia. A explicação é que a radiação solar é necessária para a fabricação dessa vitamina. Talvez, dizem os autores, níveis menores de vitamina D possam estar relacionados a índices mais elevados da doença. Se essas relações estiverem corretas, elas também poriam sob risco maior de desenvolver a doença pessoas com a pele muito branca que evitam tomar sol – no caso, para evitar o câncer de pele.
Os autores acreditam que medir os níveis sanguíneos da IL-32 poderia ser uma forma de diagnóstico para a presença da bactéria ou para fases ainda muito iniciais da doença. E que, talvez, a suplementação da vitamina D se mostre um modo eficaz de elevar as defesas contra o micro-organismo – trabalho anterior do mesmo grupo já havia mostrado que a vitamina D ajuda a matar a bactéria.

Para se ter ideia da importância desses resultados, basta lembrar que cerca de um terço do mundo está infectado com a M. tuberculosis. Mas só de 5% a 10% desse universo manifestam a doença. No estado latente, não há contágio da doença, que, antes do advento dos antibióticos, era tratada com repouso, alimentação reforçada e, preferencialmente, em lugares de clima seco e frio. No Brasil, a cidade de Campos de Jordão (SP) se tornou famosa por seus sanatórios.

Associação perigosa 

A edição de setembro do periódico The Lancet Diabetes & Endocrinology  publicou uma série de três artigos que chamam a atenção para um problema que tem se agravado nos últimos anos: a relação perigosa entre diabetes do tipo 2 e tuberculose. E esse binômio é ainda mais preocupante em países em desenvolvimento.
A relação pode parecer, à primeira vista, estranha. Mas é procedente:

i) o diabetes aumenta os riscos de o portador da M. tuberculosis passar a manifestar os sintomas – ou seja, a doença se tornar ativa;

 ii) os resultados do tratamento da tuberculose são, em geral, piores em diabéticos;

iii) estes, por sua vez, têm mais dificuldades de controlar as taxas de açúcar no sangue em relação a um diabético sem tuberculose. A chance de um diabético morrer ao longo do tratamento de tuberculose é cerca de duas vezes maior, se comparada com a de um não diabético.

O diabetes do tipo 2 é a forma da doença que leva à resistência do organismo à insulina (hormônio que ajuda a controlar os níveis de açúcar no sangue). A principal causa é a obesidade, e essa forma representa cerca de 90% dos casos da doença. A do tipo 1 é dita autoimune, ou seja, o sistema de defesa, por motivo ainda desconhecido, ataca o pâncreas, órgão onde a insulina é fabricada, e, assim, o hormônio deixa de ser produzido. Ambas têm impacto negativo na tuberculose, mas a principal responsável é a do tipo 2.
Um dos artigos indica que cerca de 15% dos casos de tuberculose em adultos no mundo já são associados ao diabetes, que afeta cerca de 380 milhões de pessoas no planeta atualmente
Um dos artigos indica que cerca de 15% dos casos de tuberculose em adultos no mundo já são associados ao diabetes, que afeta cerca de 380 milhões de pessoas no planeta atualmente.

Surgem cerca de 1 milhão de novos casos dessa associação por ano, mais de 40% deles na Índia e China. A África do Sul tem 70 mil casos do binômio, mas tem as taxas mais altas de tuberculose entre os países: 1 mil casos por 100 mil habitantes, três vezes maiores do que o segundo lugar, Burma (377 casos/100 mil).
Se a tendência atual se mantiver, a redução dos casos de tuberculose sofrerá um declínio entre 3% e 8% por volta de 2035, apontam os autores. A meta (ambiciosa) das autoridades de saúde mundiais é chegar àquele ano com uma redução de 90% na incidência de tuberculose no mundo. A associação com o diabetes compromete esse objetivo.

A Federação Internacional de Diabetes estima que, nos próximos 20 anos, o número de casos de diabetes possa subir 21%, o que corresponderia a uma prevalência (sem dúvida, espantosa) de aproximadamente 10% da população adulta planetária.
Em conjunto, tuberculose e diabetes têm tudo para reforçar o qualificativo ‘mal do século’, como a primeira era conhecida há cerca de 100 anos. Talvez, mais apropriado fosse ‘males do século’.

Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ

domingo, 19 de outubro de 2014

 Canguru pré-histórico caminhava...

ScienceShot

Prehistoric kangaroo was a walker
Christine Janis/South Australian Museum

Prehistoric kangaroo was a walker

An ancient Australian kangaroo apparently walked a lot like people do today: upright, and stepping one foot at a time. In a paper published today in PLOS ONE, researchers compared the skeletons of 66 modern and 78 extinct kangaroos from a variety of genera and species. Modern kangaroos move either rapidly by hopping on their hind legs or by walking slowly using all four legs and their tails (pentapedally). In contrast, one of the extinct groups of kangaroos in the study—the sthenurines, which lived 100,000 years ago—lacked many of the locomotory features of their modern counterparts, including a flexible backbone, a sturdy tail, and forelimbs capable of supporting their body weight.

This suggests that for sthenurines, hopping and pentapedal walking would have been very difficult. Instead, sthenurines appear to have been anatomically suited to standing upright and placing weight on one foot at a time—an essential part of walking bipedally. An upright posture also explains the sthenurines’ forepaws, which appear better suited for browsing on high-growing plants. Previously, sthenurines were thought to be unusually big-boned compared with their modern-day relatives; the comparisons offered by this study, however, show that they are, in fact, normally proportioned. Instead, it is our modern-day large kangaroos that are oddly slender for their size—an adaptation that helps them reach speeds of up to 60 kilometers an hour.

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Manifesto da SBG sobre ciência e criacionismo

Sociedade Brasileira de Genética (SBG) vem a público comunicar que não existe qualquer respaldo científico para ideias criacionistas que vêm sendo divulgadas em escolas, universidades e meios de comunicação. O objetivo deste comunicado é esclarecer a sociedade brasileira e evitar prejuízos no médio e longo prazo ao ensino científico e à formação dos jovens no país.

A Ciência contemporânea é a principal responsável por todo o desenvolvimento tecnológico e grande parte da revolução cultural que vive a sociedade mundial. A Biologia do século XXI começou a se fundamentar como uma Ciência experimental bem estabelecida com a publicação das primeiras ideias sobre Evolução Biológica por Charles Darwin e Alfred Wallace, em meados do século XIX. Esta Teoria científica unifica todo o conhecimento biológico atual em suas várias disciplinas das áreas da saúde, ambiente, biotecnologia, etc. Além disso, a Teoria Evolutiva explica, com muitas evidências e dados experimentais, a origem e riqueza da biodiversidade, incluindo as espécies existentes e extintas, de nosso planeta.

Como as Teorias de outras áreas da Ciência, como Física (Gravitação, Relatividade, etc) e Química (Modelo Atômico, Princípio da Incerteza, etc), a Evolução Biológica está fundamentada no método científico, investigando fenômenos que podem ser medidos e testados experimentalmente. O processo científico é contínuo, incorporando constantemente as novas descobertas e aprofundando o conhecimento humano sobre os seres vivos, a Terra e o Universo. É isso que temos visto acontecer com o estudo da Evolução Biológica nos últimos 150 anos, período no qual uma enorme quantidade de dados confirmou e aprimorou a proposta original de Darwin e Wallace.  No entanto, as perguntas e as causas sobrenaturais não fazem parte do questionamento hipotético e nem das explicações em todas as Ciências experimentais modernas. Por exemplo, a pergunta “Deus existe?” pode ser discutida por filósofos e cientistas (como pessoas com diferentes crenças, opiniões e ideologias), mas não pode ser abordada e respondida pela Ciência.

Frequentemente são divulgados fenômenos que não podem ser explicados por uma Ciência devido a limitações do conhecimento no século XXI, tal como a gravidade no nível atômico, algumas propriedades da molécula da água ou a evolução das primeiras formas de vida há mais de 3,5 bilhões de anos. Para temas como estes, algumas pessoas argumentam com variantes de uma clássica falácia: “se a Ciência não explica, é porque a causa é sobrenatural”. Este argumento é utilizado por inúmeros criacionistas, incluindo os adeptos da Terra Nova, da Terra Antiga e da crença do Design Inteligente.

Curiosamente, algumas dessas versões criacionistas se apresentam ao grande público como produto de “estudos científicos avançados”, como se fossem parte da atividade discutida em congressos científicos em diversos países, no Brasil inclusive. Nessas versões, a Teoria Evolutiva é deturpada, como se pouco ou nenhum trabalho científico tivesse sido efetuado desde sua proposta há mais de 150 anos, demonstrando um total desconhecimento dos milhares de resultados e evidências que consolidam essa Teoria. Alguns raros criacionistas são cientistas produtivos em suas áreas específicas de atuação, que não envolvem pesquisas na área da Evolução Biológica. Mas quando abordam o criacionismo, falam de sua crença particular e não das pesquisas que estudam e publicam. Como perguntas e explicações criacionistas não podem ser testadas pelo método científico, estes pesquisadores estão apenas emitindo uma opinião pessoal e subjetiva, motivada geralmente por uma crença religiosa.
Com o objetivo de informar à sociedade, inúmeros cientistas, filósofos e educadores da área biológica têm apresentado várias críticas substantivas às diferentes versões criacionistas, demonstrando seus alicerces na crença e não no questionamento científico, erros elementares e significativas falhas conceituais em sua formulação, a falta de evidências, assim como deturpações dos fatos e métodos científicos. Essas críticas têm sido divulgadas no Brasil e em vários países, sendo que algumas podem ser lidas nos sites da internet indicados abaixo. Reconhecendo que a divulgação destas ideias criacionistas representa uma deterioração na qualidade do ensino de Ciências, a Sociedade Brasileira de Genética (SBG) vem aqui ratificar que a Evolução Biológica por Seleção Natural é imensamente respaldada pelas evidências e experimentações nas áreas de Genética, Biologia Celular, Bioquímica, Genômica, etc. Além disto, reiteramos que, como qualquer outra Teoria científica, a Evolução Biológica tem sido remodelada com a incorporação de várias novas evidências (incluindo da área de Genética), tornando suas hipóteses e explicações mais complexas e robustas a cada ano, desde a primeira publicação de Charles Darwin em 1859.

Esta manifestação da SBG visa comunicar de forma muito clara à Sociedade Brasileira que não existe qualquer respaldo científico para ideias criacionistas (incluindo o Design Inteligente) que têm sido divulgadas em algumas escolas, universidades e meios de comunicação. Entendemos que explicações baseadas na fé e crença religiosa, e no sobrenatural podem ser interessantes e reconfortantes para muitas pessoas, mas não fazem parte do conteúdo da pesquisa ou de disciplinas científicas nas áreas de Biologia, Química, Física etc. Ao lado do respeito à liberdade de crença religiosa, deve ser também observado o respeito à Ciência que tem enfrentado todo tipo de obscurantismo político e religioso, de modo similar às situações vividas por Galileu Galilei e o próprio Charles Darwin. Mesmo com toda a limitação do método científico e dos recursos tecnológicos em cada época, a Ciência alargou o conhecimento humano e o entendimento científico dos mais diversos fenômenos. A SBG reitera os princípios que vem defendendo ao longo de seus 58 anos de existência e reafirma que o ensino da Ciência, em todos os níveis, deve se dedicar à sua finalidade precípua, em respeito ao ditame constitucional da qualidade da educação, sem deixar-se perverter pela pseudociência e pelo obscurantismo político ou religioso.

Alguns criacionistas também utilizam o argumento de que a Ciência brasileira é retrógrada (ou “tupiniquim”, como a chamam), afirmando que o criacionismo é “aceito” no exterior, mas a Ciência é unânime em todos os países sobre este assunto, o que pode ser verificado no final deste documento em vários textos parecidos com este, sancionados por organizações científicas e educacionais de várias partes do mundo.
Concluímos que, embora o criacionismo possa ser abordado como explicações não científicas em disciplinas de religião e de teologia, estas versões criacionistas não podem fazer parte do conteúdo ministrado por disciplinas científicas. Entendemos que o ensino científico de boa qualidade no Brasil e em outros países depende da compreensão da metodologia científica, de suas potencialidades e de suas limitações, além da discussão de evidências e dados experimentais. No entanto, interpretações e ideias pseudocientíficas (criacionismo, astrologia etc) prejudicam seriamente o Ensino Científico de qualidade e o desenvolvimento do país.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Pesquisadores identificam origem da disseminação do vírus HIV

Linhagem do vírus da Aids teria emergido na República Democrática do Congo na década de 1920
RODRIGO DE OLIVEIRA ANDRADE | Edição Online 23:59 2 de outubro de 2014
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© MICROBE WORLD/FLICKR
Linhagem HIV-1 grupo M, responsável pela maioria das infecções, desencadeou a pandemia de Aids que conhecemos hoje a partir de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo
Linhagem HIV-1 grupo M do vírus da Aids, responsável pela maioria das infecções, desencadeou a pandemia que conhecemos hoje a partir de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, África.

Cerca de 30 anos após a identificação do HIV-1, vírus causador da Aids e responsável pela infecção de aproximadamente 75 milhões de pessoas no mundo, um grupo de pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e da Universidade Católica da Louvain, na Bélgica, parecem ter identificado a região que deu início à pandemia que conhecemos hoje. Em um artigo publicado nesta sexta-feira, 3, na revista Science, eles sugerem que a disseminação global da linhagem pandêmica, conhecida como HIV-1 grupo M, teria começado por volta de 1920, em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (RDC), na África. Segundo eles, a combinação de uma série de fatores teria favorecido a disseminação do vírus para outras cidades da região da África Central antes de 1960 e, nos anos seguintes, para o resto do mundo.
Ao todo, há registros de que o vírus HIV tenha sido transmitido de primatas para seres humanos pelo menos 13 vezes.

Contudo, apenas um destes eventos, o que deu origem à linhagem HIV-1 grupo M — responsável pela maioria das infecções —, desencadeou a pandemia que conhecemos hoje. No estudo, os pesquisadores reconstruíram justamente a história genética dessa linhagem do HIV. Para isso, recuperaram as origens e os padrões de dispersão do vírus, combinando informações genéticas, geográficas e temporais, o que lhes permitiu traçar a história genética das linhagens ancestrais do HIV-1 até suas origens.
Inicialmente, os pesquisadores analisaram amostras de sequências genéticas isoladas entre 1985 e 2010 de pessoas infectadas em todos os países da África Central. Por meio de métodos filogeográficos eles, então, reconstruíram a genealogia do vírus no espaço e no tempo.

As análises apontaram para a RDC como sendo o país onde o HIV-1 grupo M teria emergido em populações de seres humanos. Com estes dados em mãos, o grupo passou a analisar as sequências genéticas dessa linhagem do HIV-1 provenientes de várias regiões deste país, incluindo também sequências genéticas da República do Congo, país vizinho e com uma vasta diversidade de HIV-1 — o HIV-1 grupo M possui vários subtipos, listados das letras A à K.

Os pesquisadores, então, concluíram que essa linhagem do HIV-1 emergiu em Kinshasa, capital do RDC. “Ao que tudo indica, o vírus disseminou-se de Kinshasa para o resto do país, sobretudo para a região mineira de Catanga, ao sul da RDC, e, em meados de 1937, para Brazzaville, capital da República do Congo, localizada a 6 quilômetros de Kinshasa, do outro lado do rio do Congo”, explica o biomédico português Nuno Faria, pesquisador do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford e primeiro autor do estudo.

A rápida disseminação do vírus teria sido favorecida, segundo ele, pela ampliação da rede de transportes ferroviários e fluviais, uma das mais ativas da região, e que conectava o sul da RDC às fronteiras com a Zâmbia e Tanzânia, e a região norte com Uganda, Ruanda e Burundi.  “O corredor de cobre atraía grandes quantidades de mineiros dos países vizinhos à RDC, os quais eram empregados temporariamente nas minas de Catanga e depois voltavam para os seus países de origem, muitos deles, provavelmente, infectados” explica Faria. “Nosso estudo foi o primeiro a testar estatisticamente as várias hipóteses sobre a localidade geográfica onde o HIV-1 grupo M teria emergido em populações humanas”, sintetiza Faria. “Também mostramos pela primeira vez que foram fatores sociais — e não biológicos, como se pensava até então — que impulsionaram o crescimento da pandemia de HIV que conhecemos hoje.”

Outros fatores também podem ter favorecido a disseminação do vírus, segundo o pesquisador. As mudanças nos padrões sexuais na RDC por volta dos anos de 1960 é uma delas. “Após a independência da RDC, em junho 1960, houve uma ampliação do comércio sexual no país”, explica Faria. Além disso, as campanhas de vacinação contra doenças tropicais podem igualmente ter contribuído para o aumento das infecções por via intravenosa.” Também em 1960, de acordo com o pesquisador, o HIV-1 grupo M começou a deixar de ser uma epidemia e entrar em um estágio de pandêmica. Mas foi apenas em 1981 que os primeiros casos foram detectados e, em 1983, o vírus HIV-1 foi isolado e caracterizado.

Artigo científico

FARIA, N. R. et al. The early spread and epidemic ignition of HIV-1 in human population. Science. v. 346, n. 6205, p. 56-61. out. 2014.

Um Himalaia afrobrasileiro

Rochas do Brasil e da África guardam vestígios de cadeia de montanhas que teria existido há 600 milhões de anos 

REINALDO JOSÉ LOPES | Edição Online 20:33 16 de outubro de 2014
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© RENAUD CABY / UNIVERSIDADE DE MONTPELLIER II
Amostra de coesita coletada no Mali: esse mineral só se forma a profundidades superiores a 90 quilômetros
Amostra de coesita coletada no Mali: esse mineral só se forma a profundidades superiores a 100 quilômetros.

Geólogos do Brasil, da Austrália e da França encontraram indícios da formação de uma gigantesca cadeia de montanhas, equivalente à do atual Himalaia, em rochas com pouco mais de 600 milhões de anos de idade. A cordilheira teria se espalhado num arco de pelo menos 2.500 quilômetros (km) de extensão, numa região que abrange o atual Nordeste brasileiro e países como Togo e Mali, na África Ocidental. A formação das montanhas coincide com o primeiro episódio de diversificação no planeta dos seres vivos multicelulares, o que pode indicar que o processo geológico teria dado impulso a essas transformações evolutivas.

Os dados estão descritos em artigo na revista científica Nature Communications, que tem como primeiro autor Carlos Ganade de Araujo, que é pesquisador do Serviço Geológico do Brasil, no Rio, e concluiu seu doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) neste ano, sob orientação do geólogo Umberto Cordani.

“A associação de processos desse tipo com o surgimento da vida complexa é algo que vários trabalhos anteriores já vinham apontando”, conta Araujo. “A novidade do nosso trabalho é mostrar que o surgimento desse grande arco de montanhas foi sincrônico, dentro da margem de erro das técnicas usadas para medir esse timing, e que ele bate com  o surgimento de fósseis da fauna do Ediacarano [período geológico em que ocorreu o florescimento da vida multicelular].”

A principal pista da existência do “Himalaia Ediacarano” são as rochas encontradas no Brasil, no Togo e no Mali. Hoje encontradas na superfície da crosta, essas rochas se formam em condições de altíssima pressão, em geral a profundidades de 100 km. Tais rochas, relativamente raras, surgem de processos de subducção, ou seja, quando uma das placas tectônicas que compõem a superfície terrestre colide com outra placa e passa a deslisar por baixo dela.

No caso das rochas coletadas no Nordeste e nos países africanos, essa subducção se deu no confronto entre duas placas que carregavam continentes. Depois de as bordas das placas ficarem “encavaladas”, as rochas alteradas pela violenta pressão desse processo voltaram a subir, gerando cordilheiras monumentais, como o Himalaia de hoje.
“Esse é outro ponto importante do trabalho”, diz Araujo. “Os dados que nós obtivemos mostram que esse provavelmente é o exemplo mais antigo desse processo de subducção continental em grandes profundidades e, portanto, do funcionamento das placas tectônicas da Terra como o conhecemos hoje.” É provável que antes desse período não existissem montanhas dessa magnitude na superfície do planeta. O trabalho atual pode, portanto, ajudar a entender a estrutura profunda de montanhas como os Alpes e os Himalaias, que se formaram pelo processo de subducção continental. As raízes dessas montanhas não podem ser acessadas hoje por estarem  a dezenas de km abaixo da superfície.

A datação das rochas foi feita graças à presença de zircão, um mineral que possui pequenas quantidades de urânio e tório. Variedades radioativas desses elementos se transformam em outros elementos químicos a taxas conhecidas, o que permite estimar a época em que o mineral foi formado. Para ser mais exato, as amostras brasileiras e africanas têm idade em torno de 610 milhões de anos.

Segundo os geólogos, a formação do “Himalaia afrobrasileiro” desencadeou processos acelerados de erosão, que passaram a carregar grande quantidade de nutrientes (sedimentos) para os oceanos. Esse “banquete” teria levado ao grande desenvolvimento de organismos que fazem fotossíntese e aumentado os níveis de oxigênio nos mares e na atmosfera.
Essas condições ambientais favoráveis, por sua vez, teriam sido ideais para o aparecimento dos primeiros organismos multicelulares. A chamada biota ediacarana ainda é relativamente misteriosa: são criaturas discoidais ou que lembram vermes e talos de algas, cuja relação exata com os animais marinhos que vieram depois ainda não é bem compreendida.

Projeto

Caracterização geocronológica e termocronológica das rochas de alto grau associadas à orogênese neoproterozóica nas adjacências do Lineamento Transbrasiliano-Kandi (NE Brasil – NW África) (nº 2012/00071-2); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisador responsável Umberto Giuseppe Cordani (IGC-USP); Ìnvestimento R$ 144.331,80 (FAPESP)

Artigo Científico

GANADE DE ARAUJO, C.E. et al. Ediacaran 2,500-km-long synchronous deep continental subduction in the West Gondwana Orogen. Nature Communications. 16 de out. 2014.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Como explicar um coração tão dividido

Câmaras cardíacas podem ser o resultado da ação do ácido retinoico, usado em cosméticos
CARLOS FIORAVANTI | Edição 224 - Outubro de 2014


© LÉO RAMOS
Um cardume de zebrafish: modelo de estudos para a formação dos átrios e ventrículos
Um cardume de zebrafish: modelo de estudos para a formação dos átrios e ventrículos.

Pequenos peixes de listras horizontais mantidos em um aquário no Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), em Campinas, estão mostrando muito sobre a formação e a evolução do coração das pessoas. No final de junho, depois de meses examinando os mecanismos de ativação de genes nos músculos do coração do minúsculo zebrafish, José Xavier Neto e sua equipe concluíram uma série de experimentos que reforçaram sua hipótese de que a estrutura do coração dos seres humanos, com quatro câmaras internas divididas por válvulas que regulam o fluxo do sangue, poderia ter aparecido há pelo menos 500 milhões de anos, bem antes do surgimento da própria espécie humana, há 2 milhões de anos. O coração do homem, portanto, teria nascido antes mesmo do homem.

As implicações dessa conclusão são um pouco desconcertantes. “Nosso coração é praticamente o mesmo, em termos evolutivos, que o da lampreia”, assegura Xavier. Em vista da importância e dos significados do coração humano, não é muito confortável pensar nessa semelhança, já que a lampreia é um peixe alongado e primitivo, facilmente considerado muito feio, sem nadadeiras nem maxilar, e cuja boca é uma ventosa circular com o diâmetro do corpo. Xavier parece não se importar com a proximidade. “Do ponto de vista da cladística”, diz ele, referindo-se ao sistema de classificação dos seres vivos que se baseia na relação evolutiva entre as espécies,  “nunca deixamos de ser peixes. Somos peixes modificados, as nadadeiras se transformaram em braços e pernas”.

Peixes primitivos como a lampreia já apresentam um coração de quatro cavidades, mas organizadas em sequência, e não em um bloco único, como no coração humano. Em outra espécie evolutivamente muito antiga, que pode ter surgido há cerca de 400 milhões de anos, a piramboia, um peixe encontrado na Amazônia (há um exemplar também no laboratório de Campinas), alongado como uma cobra e dotado de pulmões, o coração já é mais refinado, com uma divisão interna que separa o sangue rico em oxigênio do rico em gás carbônico. Para Xavier, o mais importante, a despeito da forma, é que o  trajeto do fluxo do sangue no coração já forma uma espécie de S, mais pronunciado nos peixes e mais sutil nas pessoas.
© LÉO RAMOS
As cores do coração: de peixe...
As cores do coração: de peixe…

Por meio de experimentos em zebrafish, também chamados de paulistinhas e bem mais simpáticos que a lampreia, em camundongos, codornas e galinhas, a equipe de Campinas tem examinado a formação das câmaras internas do coração – átrios ou ventrículos, essenciais para o armazenamento ou distribuição do sangue que circula pelo organismo. Quase duas décadas de trabalho fizeram concluir que os tipos de câmara do coração devem resultar da ação do ácido retinoico. É uma ação em ondas, ora mais intensa, ora menos, em momentos específicos do desenvolvimento embrionário. Segundo ele, quando entram em contato com o ácido retinoico, células ainda pouco especializadas recebem instruções para se organizar na forma de um reservatório de sangue, ou seja, um átrio. Quando não detectam nada, formam uma forte bomba propulsora de sangue – um ventrículo.
São estruturas bem diferentes: o átrio, de superfície lisa, funciona como um reservatório que infla ao receber sangue. As proteínas responsáveis por sua contração, as miosinas, são lentas. O ventrículo, de superfície rugosa e paredes mais grossas, maior que o átrio, com miosinas de ação rápida, pode contrair com força para fazer o sangue chegar a todas as células do corpo. O coração humano – um órgão do tamanho aproximado de um punho fechado, com 250 gramas (g) nas mulheres adultas e 300 g nos homens adultos, que bate 100 mil vezes por dia, bombeando cerca de cinco litros de sangue – tem dois átrios acima dos dois ventrículos.

Os estudos da equipe de Campinas e outros nessa linha estão ajudando a entender a origem de problemas cardíacos associados ao ácido retinoico, um derivado da vitamina A bastante usado em cosméticos. “Se uma mulher usa no começo da gestação, a má-formação é quase certa. Por isso os médicos pedem um teste de gravidez antes de receitarem ácido retinoico para tratamento de pele”, diz Xavier, carioca formado em medicina pela Universidade Federal do Ceará. “O ser humano é extremamente sensível ao ácido retinoico, mas sem ele não estaríamos aqui. Tudo depende da dose e do lugar onde vai atuar.” A possibilidade de prevenção e a correção de problemas cardíacos por enquanto são remotas, porque o ácido retinoico atua nas primeiras semanas de gestação, quando a mulher em geral ainda não sabe que está grávida.

Com os experimentos mais recentes, assim que forem publicados, Xavier pretende reforçar sua hipótese e contestar as visões antagônicas de outras equipes interessadas em elucidar os mecanismos que definem o tamanho, a forma e o modo de funcionamento de cada câmara cardíaca. Em 2008, um artigo da equipe de Deborah Yelon, atualmente na Universidade da Califórnia em San Diego, Estados Unidos, amenizou o papel do ácido retinoico, que estaria associado apenas ao tamanho do coração, e valorizou a proteína produzida a partir do gene Hox-B5, que também atua na formação do intestino e dos pulmões, com base em experimentos em zebrafish. “Quando vi esse paper”, lembra-se Xavier, “quase chorei”. “Por causa da situação de meu trabalho em 2008”, diz Xavier, “eu sabia que iria demorar para contestar”.
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... e de camundongo
… e de camundongo

Em 2005, como pesquisador do Instituto do Coração (InCor) da Universidade de São Paulo (USP), Xavier, com sua equipe, tinha apresentado sua hipótese sobre a formação e a evolução dos compartimentos de sangue no coração de animais vertebrados. Com base em experimentos com uma variedade impressionante de organismos, a exemplo da Ciona intestinalis, um invertebrado marinho cilíndrico que representa os parentes vivos mais próximos dos vertebrados (a formação do coração desse grupo, os tunicados, é similar aos estágios iniciais da formação do coração dos vertebrados), a equipe argumentava que o coração de câmaras de vertebrados poderia ter surgido a partir de modificações de um tubo cardíaco equivalente ao da Ciona, que é capaz de fazer movimentos semelhantes ao do intestino quando impulsiona a massa alimentar durante o processo de digestão. “Animais como a lagosta e outros crustáceos representam outro modelo para a formação das câmaras cardíacas, pois têm apenas uma câmara e são muito mais rápidos, por exemplo, que os onicóforos, vermes dotados apenas de um tubo peristáltico simples”, afirma. “As câmaras cardíacas são um atributo de vertebrados, apresentam contração simultânea e são separadas por válvulas, tudo dentro de uma membrana, o pericárdio.” Uma argumentação coerente, porém, não era o bastante. “Eu sabia que ainda teria de provar minhas hipóteses”, diz. “Tive de esperar seis anos até refazer os experimentos e mostrar o papel do ácido retinoico.”

Mesmo agora, com mais argumentos, Xavier sabe que terá de batalhar muito para fazer sua visão prevalecer; se não conseguir, poderá ser desconsiderada ou mesmo esquecida. “Hipóteses sobre evolução dificilmente podem ser testadas”, observa. Além disso, o coração facilmente engana quem procura entendê-lo. O médico romano Claudio Galeno, um dos fundadores da medicina ocidental, afirmou que o coração era feito de um tecido especial. Quase 1.500 anos depois, Leonardo da Vinci, depois de dissecar cadáveres, como Galeno, e fazer vários desenhos da anatomia do coração, sentenciou: “O coração é o principal músculo em relação à força”. Já era um avanço, mas outros equívocos persistiram. Durante séculos se pensava que as veias transportavam ar, já que estavam vazias em animais e pessoas mortas. Um século depois de Da Vinci, o médico inglês Willian Harvey descreveu a circulação do sangue em detalhes, mostrando que as veias, como as artérias, transportavam sangue e não ar.
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As quatro câmaras do coração, vistas por Da Vinci: o artista desfez o equívoco de Galeno, que imaginava apenas duas câmaras
As quatro câmaras do coração, vistas por Da Vinci: o artista desfez o equívoco de Galeno, que imaginava apenas duas câmaras.

Xavier, como outros cientistas contemporâneos, também tomou caminhos equivocados. Logo depois de chegar à Universidade Harvard para o pós-doutorado, em 1997, ele se viu atraído, quase inevitavelmente, pela ideia então em moda de que um único gene poderia ser capaz de definir a formação do coração. Havia um gene candidato, mas os experimentos – os camundongos, mesmo sem esse gene, nasciam com coração, embora morressem logo depois – indicaram que o coração dependia de muitos genes para se formar. E ele se rendeu: “É muito mais complicado do que pensávamos”.
Depois disso, Xavier conseguiu reunir animais transgênicos e reagentes apropriados – que aos poucos caíam nas mãos da coordenadora do laboratório, Nadia Rosenthal – para planejar os experimentos que poderiam indicar coisas novas sobre a formação do coração. “Mesmo se fracassar, pensei, já sou grato por observar o desenvolvimento do embrião”, ele recorda. “E, como eu estava começando na biologia do desenvolvimento, podia ver com meus próprios olhos os processos de formação dos órgaos, sem estar contaminado pelo excesso de leitura de artigos científicos.”
Xavier começou então a examinar como a expressão da enzima betagalactosidade poderia indicar a ação do ácido retinoico em diferentes regiões do coração de embriões de camundongos de nove dias. “Quase descolei a retina tentando ver o que não existia nos embriões de camundongos”, diz ele. Aos poucos ele viu claramente o padrão de coloração definido pela ativação do ácido retinoico: “Dependendo da expressão da enzima, as regiões do coração ficavam verdes, indicando que o ácido retinoico estava atuando naquela área, como ativador ou represssor de vários genes”.

Ele observou que até o sétimo dia da gestação, que demora 21 dias, o coração ainda não havia se formado, nem havia nenhum sinal da ação do ácido retinoico em tecidos cardíacos. Dois dias depois o coração já havia se delineado como um tubo, ocorria uma descarga de ácido retinoico e o átrio se formava. Logo depois, o ácido retinoico desaparecia e se formava o ventrículo. Outros experimentos, em codorna, indicaram que, sem ácido retinoico, o átrio não se formava e, de modo complementar, o excesso dessa substância impedia a formação do ventrículo. “O ácido retinoico é um ator que entra e sai do palco, na mesma peça, em papéis diferentes”, diz Xavier.

“O ácido retinoico é de fato um ator-chave na formação das câmaras cardíacas”, observa Didier Stainier, coordenador de uma equipe da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), que estuda a formação do coração em zebrafish. Em 2002, Stainier e Deborah Yelon, que trabalhou em seu laboratório, viram o papel do ácido retinoico em um estágio anterior do desenvolvimento: com outras moléculas, poderia induzir a formação de um tecido embrionário primordial chamado endoderme (o coração vai se formar a partir de outro tecido, a mesoderme). Segundo ele, Xavier “tem estado na vanguarda dessas investigações que, sem dúvida, levarão a insights adicionais sobre o processo de desenvolvimento do coração”.

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Embrião de galinha: sob a ação do ácido retinoico
Embrião de galinha: sob a ação do ácido retinoico.

Mesmo depois do coração formado, o ator versátil continua em cena. Em 2011, pesquisadores da Universidade Duke, Estados Unidos, mostraram que o ácido retinoico, por causa de sua capacidade de induzir a multiplicação celular, facilitava a regeneração do endocárdio, a camada interna do coração. Outra vez, o modelo experimental era o zebrafish; essa espécie é usada há décadas porque as fêmeas produzem muitos ovos, coletados com facilidade, e o embrião se forma a partir de uma única célula, em apenas um dia após a fertilização.

Depois de dois anos em Harvard, Xavier voltou feliz para o InCor disposto a montar um grupo de pesquisa em genética do desenvolvimento embrionário e continuar trabalhando como nos dois anos em que passou em Harvard. Sua primeira dificuldade foi conseguir camundongos, que não chegavam na quantidade e no prazo esperados. Ele não se acomodou e saiu perguntando onde poderia comprar ovo de galinha fertilizado e estufa, de modo a não deixar o trabalho parar. Muitos anos antes, com a mesma avidez por fazer ciência, ele tinha caçado sapos para fazer os experimentos previstos em seu estágio já no primeiro ano do curso de medicina em Fortaleza. “Desde a graduação eu já queria ser pesquisador”, diz ele, ao comentar, em seguida, que gostava muito das disciplinas básicas como bioquímica, para as quais os aspirantes a médicos normalmente torcem o nariz. Desde antes ele já gostava do mundo da ciência, acompanhando o pai, que era professor de bioquímica na universidade, aos laboratórios e estufas de plantas. “Lembra do kit Os cientistas, da década de 1970? Eu tinha todos. Vivo nesse mundo desde cedo.”

Xavier demorou cinco anos até montar sua própria equipe e o laboratório de que precisava para retomar o ritmo de trabalho que desejava. “Se ficar sozinho, está perdido”, ele conclui. “Network é tudo.” Por meio de testes em galinhas e em codornas, ele verificou que a ação do ácido retinoico, por sua vez, era regulada pela enzima RALDH2. “Detalhei o que e quando acontecia”, diz. Ele não parou mais de aproveitar os estudos sobre outros animais – vermes marinhos, escargots, lagostas e outros – para examinar os processos evolutivos de formação do coração e, a partir de 2010, quando se mudou para o LNBio, continuou a produzir linhagens de animais transgênicos, a maioria sob encomenda, para experimentos de outros pesquisadores e de seu próprio grupo. Incapaz de se aquietar, em agosto ele percorreu outra vez a chapada do Araripe, no Ceará, em busca de fósseis de peixes com idade média de 120 milhões de anos que, examinados por tomografia, poderiam revelar um pouco mais da evolução do coração.

Projeto
 
Evolução e desenvolvimento das câmaras cardíacas (nº 06/50843-0); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisador responsável José Xavier Neto (LNBio); Investimento R$ 311.558,83 (FAPESP).

Artigos científicos

SIMÕES-COSTA M. S. et al. The evolutionary origin of cardiac chambers. Developmental Biology. v. 277, n. 1, p. 1-15. 2005.

MOSS, J. B. et al. Dynamic patterns of retinoic acid synthesis and response in the developing mammalian heart. Developmental Biology. v. 199, p. 55-71. 1998.

WAXMAN, J. S. et al. Hoxb5b acts downstream of retinoic acid signaling in the forelimb field to restrict heart field potential in zebrafish. Developmental Biology. v. 15, n. 6, p. 923-34.

YELON D. e STAINIER, D.Y. Pattern formation: swimming in retinoic acid. Current Biology. v. 12, n. 20, p. 707-9.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

 Retratos de famílias animais inesquecíveis

Animais, tanto os domésticos quanto os selvagens, não costumam posar para fotos de família. No entanto, nós fazemos nosso melhor para tirar as fotografias por eles!

A lista abaixo apresenta algumas das melhores fotos de famílias animais que já vimos. Muitas delas foram feitas por profissionais que são especializados em vida selvagem.

E se você está pensando que os grupos animais mostrados abaixo não são realmente famílias, está enganado. Muitos animais, principalmente pássaros – como cisnes, corujas, albatrozes e águias – acasalam para a vida toda e tem relações monogâmicas. Além disso, várias espécies animais cuidam de seus filhotes até eles atingirem a maturidade, mantendo-os por perto.

 Por: Marcus Cabral

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