O verdadeiro Planeta dos Macacos: a ilha da Libéria habitada por chimpanzés que eram cobaias animais
Acredite ou não, existe um Planeta dos Macacos da vida real: a chamada “Monkey Island” (“Ilha dos Macacos”, em português), que fica em uma área isolada localizada nas profundezas das selvas da África Ocidental.
Ela é o lar de dezenas de chimpanzés de laboratório aposentados, que antes eram usados em experimentos para a pesquisa médica. Estes animais são praticamente heróis – conseguiram sobreviver a doenças, duas guerras civis e numerosos exames e experiências médicas.
Os moradores da ilha são ex-frequentadores do Instituto de Pesquisas Biomédicas da Libéria (Vilab II), e desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento de tratamentos para doenças como hepatite durante a década de 1970.
O laboratório foi fechado em meados da década de 2000 devido à crescente pressão de ativistas dos direitos dos animais, e os macacos foram transferidos para essa ilha remota da Libéria no meio do rio Farmington para viver uma aposentadoria tranquila.
A ilha é o lar de mais de 60 chimpanzés que só permitem que cuidadores familiares se aproximem de suas costas. Sua história foi registrada em vídeo em um pequeno documentário chamado “Ilha dos Macacos” feito para promover o filme de 2014 “Planeta dos Macacos: O Confronto”.
O filme mostra a jornada do jornalista americano Kaj Larsen até Monkey Island, e suas experiências lá. Para chegar à ilha, Larsen teve que dirigir quilômetros a partir de Monrovia até a aldeia de Marshall, e negociar com os moradores para levá-lo até o local em uma de suas canoas. Além disso, teve que levar ofertas de frutas para os chimpanzés.
Os locais disseram à Larsen que, se ele valorizava sua vida, não deveria pisar na ilha. “Se você é uma pessoa estranha, quando vai lá, eles se tornam agressivos”, disse Jerry, um segurança da ilha. “Mas os chimpanzés têm medo de água. Eles não atravessam a nado. Eles simplesmente caminham até a beira da água”.
E, de fato, quando os chimpanzés avistaram a equipe de Larsen, começaram a gritar e se agitar. As coisas pareciam sair do controle quando um deles atacou o barco, mas o bicho recuou quando a água ficou mais profunda. “Eles estavam superagressivos, mostrando os dentes, mas quando lhes demos um pouco de comida, eles se acalmaram bastante”, disse Larsen. “Mesmo flutuando a poucos metros dos macacos, era difícil acreditar que este lugar realmente existia”, acrescentou.
Ainda mais surpreendente que o próprio local é a história por trás dele.
Em Vilab, mais de 100 chimpanzés foram injetados com doenças infecciosas, na esperança de encontrar uma cura. Larsen entrevistou Betsy Brotman, ex-diretora do laboratório, a fim de aprender mais sobre a instituição. Ela explicou que a Libéria foi escolhida por sua grande população de chimpanzés.
“Um monte de pessoas tinha chimpanzés de estimação”, revelou Betsy. “E quando eles passam uma certa idade, cerca de cinco anos, não são muito bons como animais de estimação. E é assim que adquirimos os nossos animais, até que tivemos alguns com idade fértil o suficiente”.
“Eles são a única espécie sensível para a hepatite”, completou o Dr. Preston Marx, virologista que trabalhou no instituto. “Uma vez que um chimpanzé ficava hepatite positivo, precisávamos de mais animais que não tinham sido utilizados em experiências”.
Então os demais começaram a ser liberados para estas ilhas. A razão pela qual eles poderiam fazer isso é porque os chimpanzés não sabem nadar. Seis ilhas viraram casas de chimpanzés.
Conforme a Libéria passou por uma crise em 1989, que resultaria em duas guerras civis sangrentas, o programa Vilab ficou ameaçado. No meio de toda a violência, eles estavam lutando para continuar a investigação científica e proteger os chimpanzés mandados para as ilhas.
Betsy decidiu ficar no país, mesmo que isso significasse colocar sua vida em risco, simplesmente porque as centenas de animais precisavam ser alimentadas. Eventualmente, ela se viu obrigada a ajudar as vítimas humanas da guerra, também.
Tanto o laboratório quanto seus funcionários conseguiram se manter ilesos até 1993, quando a guerra civil finalmente bateu à sua porta. Forças terroristas invadiram a casa de Betsy e foram atrás de seu marido Brian, assumindo que ele tinha trabalhado para o ex-presidente da Libéria, Charles Taylor. Infelizmente, Brian foi baleado e morto.
Mesmo após o incidente horrível, Betsy se recusou a deixar os chimpanzés e as pessoas que precisavam de sua ajuda. Ela continuou a trabalhar no laboratório através de ambas as guerras civis. No fim das contas, não foi a guerra, mas a mudança da opinião pública quanto à experimentação animal que provocou o fechamento do laboratório.
Vídeos foram libertados descrevendo os métodos cruéis utilizados em outras instalações, e as pessoas se voltaram contra a prática. No final de 1990, os cientistas concluíram que a maioria dos testes em chimpanzés era mais cruel do que eficaz.
No entanto, o documentário afirma que a pesquisa de Betsy e sua equipe no Vilab levou a vacinas contra a Hepatite B que salvaram vidas, bem como um método de triagem para a hepatite C – ambas doenças que, combinadas, afetam milhões de pessoas em todo o mundo.
Em 2005, o Vilab finalmente cedeu, incapaz de suportar a pressão de ativistas dos direitos animais. “Eu acho que eles estavam certos”, Betsy admitiu. “Os chimpanzés realmente não devem ser usados em experiências. Se você vai fazer um trabalho com chimpanzés, deve criar um sistema para que, ao final da pesquisa, eles tenham um lugar onde possam viver uma vida agradável com o melhor de tudo o que está disponível”.
E é isso que Monkey Island tenta ser. Betsy, junto com um núcleo de apoio, continua a alimentar e cuidar de todos os chimpanzés aposentados. Um grupo de cuidadores treinados liberianos visita a ilha todos os dias para trazer comida para eles, observá-los e garantir que todos os animais estejam bem.
Para a surpresa de Larsen, quando ele fez uma segunda visita à ilha, juntamente com os cuidadores, os chimpanzés se comportaram muito bem. “Desta vez, ficou claro que os chimpanzés estavam muito familiarizados com as pessoas e confiavam nelas completamente”, contou.
Os animais, apesar de terem sido infectados com doenças como hepatite antes de serem aposentados, hoje estão bem de saúde. Quase todos estão totalmente recuperados. “Os chimpanzés realmente parecem felizes e bem ajustados a este santuário próprio”, concluiu Larsen. [OddityCentral]
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