segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Uma viagem em busca de nossas origens

Durante quase 28 anos, cinco deles a bordo do HMS Beagle, Darwin se dedicou à elaboração de sua teoria. As etapas percorridas por ele são uma aula de como se faz uma investigação científica


Uma viagem de descobertas. Infografia: Nelson Provazi
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Na visão popular, os avanços científicos são produto da genialidade de homens, que, por meio de insights, concebem ideias com força para abalar as estruturas do conhecimento. "Na realidade, a ciência é fruto de dedicação e de um longo percurso de pesquisa", diz o professor Antonio Carlos Pavão, diretor do Espaço Ciência, museu dedicado ao tema mantido pelo governo de Pernambuco. Nessa área, é preciso seguir um método, ou seja, regras básicas que norteiam a investigação científica: problematização, observação, investigação, pesquisa em diversas fontes, registro durante o percurso e conclusão.

Esses passos, formulados por René Descartes (1596-1650) e aperfeiçoados por outros cientistas, foram seguidos por Charles Darwin nos quase 28 anos durante os quais se debruçou sobre o estudo da origem da vida. "Ele sabia que o pensamento só teria validade e força para resistir à pressão da Igreja se estivesse totalmente baseado em provas vindas de um estudo meticuloso", ressalta Pavão. Dotado de uma grande capacidade de observação e de registros, apoiado nas pesquisas científicas mais recentes e tendo contato com especialistas de diversas áreas, Darwin conseguiu desenvolver a Teoria da Evolução seguindo essas cinco etapas indispensáveis - e que estão presentes até hoje no ensino de Ciências.

No senso comum, muitas vezes o termo "teoria" é usado como sinônimo de achismo. Mas em ciência ele significa a síntese de um vasto campo de conhecimentos formado por hipóteses testadas e comprovadas por leis e fatos científicos. "Nesse sentido, a Teoria da Evolução busca prever com alto grau de exatidão os fenômenos da natureza por meio de uma linha de raciocínio calcada em evidências e experimentos", diz Pavão.

Uma longa relação com o conhecimento 
Quando jovem, Darwin foi um estudante mediano e desinteressado pela escola. O ensino da época, baseado na memorização, o deixava descontente. Para compensar, ele passava longas horas coletando espécies e comparando suas formas, um prenúncio do que viria a praticar pelo resto da vida. Na Universidade de Cambridge, onde estudara para se tornar pastor anglicano, ele se aprofundou nos estudos botânicos e na observação das semelhanças entre os seres vivos.

Mais do que um hobby, seu trabalho de coleta era completado pela leitura de livros de referência. Nesse período, duas importantes facetas do cientista se desenvolveram: a capacidade de observação e a facilidade de problematizar o que observava. Um dos mestres mais marcantes para Darwin foi o professor de Botânica J. S. Henslow (1796-1861), um respeitado e carismático pesquisador, que costumava comentar: "Quão impressionante é Darwin na colocação de suas perguntas!"

Em 1831, aos 22 anos e recém-formado, Darwin foi convidado a participar de uma expedição patrocinada pelo governo inglês até os trópicos, como acompanhante do comandante do navio HMS Beagle. Durante os cinco anos da aventura, ele pôde observar, pesquisar e refletir sobre a diversidade da vida. Nas 20 paradas do navio, pelos quatro continentes em que aportou, ele realizou experimentos, coletou fósseis, espécimes vivos de animais e vegetais, fez centenas de registros por meio de desenhos e anotações, respondeu a dezenas de perguntas e trocou correspondências, materiais e opiniões com diversos estudiosos ingleses.

A ideia evolucionista já o acompanhava antes mesmo da viagem. O avô paterno, Erasmus Darwin (1731-1802), foi um dos primeiros a divulgar o conceito de evolução. Ao lado do francês Jean Baptiste de Lamarck (1744-1829), ele é considerado um dos fundadores dessa corrente teórica. "Mas os conceitos apresentados pelos dois eram pouco fundamentados e, por isso, não aceitos pela comunidade científica", explica Ildeu de Castro, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Foi Darwin quem deu a consistência necessária à teoria. Para não deixar furos no estudo, ele seguiu à risca os procedimentos de pesquisa, tendo o cuidado de unir o maior número de provas e de checar cada ponto abordado com as autoridades científicas mais respeitadas da época. Tanto zelo e preocupação fez com que só publicasse a teoria mais de duas décadas depois, em 1859, com o poético título Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida.

Quer saber mais?

CONTATOS
Antonio Carlos Pavão
Charbel El-Hani
Diogo Meyer
Ildeu de Castro
Marilda Behrens
Nelio Bizzo
Silvia Moreira Goulart

BIBLIOGRAFIA
A Origem das Espécies, Charles Darwin, 640 págs., Ed. Martin Claret, tel. (11) 3672-8144, 18,90 reais
Aventuras e Descobertas de Darwin a Bordo do Beagle, Richard Keynes, 404 págs., Ed. Jorge Zahar, tel. (21) 2108-0808, 59 reais
Charles Darwin - Em um Futuro Não Tão Distante, Maria Isabel Landin e Cristiano Rangel Moreira (orgs.), 168 págs., Ed. Instituto Sangari, tel. (11) 3474-7500, 35 reais
Darwin - Do Telhado das Américas à Teoria da Evolução, Nelio Bizzo, 230 págs., Ed. Odysseus, tel. (11) 3816-0835, 22 reais
O Diário do Beagle, Charles Darwin, 526 págs., Ed. UFPR, tel. (41) 3360-7489, 60 reais
O Paradigma Emergente e a Prática Pedagógica, Marilda Behrens, 120 págs., Ed. Vozes, tel. (21) 2215-0110, 20,40 reais
Para Compreender a Ciência: uma Perspectiva Histórica, Maria Amélia Andery, 436 págs., Ed. Educ, tel. (11) 3670-8558 (edição esgotada)
Vida: a Ciência da Biologia (vol. 3), William K. Purves e outros, 480 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 99 reais

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