Quintais de outros tempos- Arqueologia em foco
Pesquisa investiga quintais de populações amazônicas em busca de vestígios de culturas do passado.
Publicado em 02/07/2015
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Atualizado em 02/07/2015
Casa e quintal na beira do rio Urubu, na Amazônia. A região
era ocupada por índios desde muito antes da colonização portuguesa –
alguns vestígios arqueológicos encontrados ali datam dos séculos 6 a 9.
(Foto: Katja Schulz / Flickr / CC BY NC 2.0).
Os hábitos e costumes dos primeiros habitantes da Amazônia não são
apenas vestígios arqueológicos enterrados no passado: ao contrário,
renovam-se com atuais moradores da região. Nos quintais das casas de
comunidades contemporâneas, brotam várias espécies que já faziam parte
do dia a dia dos índios que viveram naqueles mesmos locais há centenas
de anos – como o mamão e a macaxeira. Esta foi a conclusão da bióloga
Juliana Lins durante sua pesquisa de mestrado, realizada no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e recém-publicada na Plos One.
Instigada pelas marcas que os antigos índios deixaram, a estudante decidiu investigar quintais de casas atuais que se localizam sobre sítios arqueológicos, precisamente aqueles instalados em terras pretas de índio – solos antropogênicos ricos em nutrientes como fósforo, cálcio e magnésio, além de um tipo de carvão vegetal muito eficiente em reter nutrientes. Essas áreas frequentemente apresentam, também, vestígios mais concretos de populações passadas, como cerâmicas.
O impacto das populações antigas sobre a floresta amazônica vem sendo abordado em pesquisas internacionais e, claro, brasileiras. No quebra-cabeças da história da maior floresta tropical do mundo, há muitas peças ainda sem encaixe, mas uma certeza já desponta: a de que ainda hoje construímos e habitamos sobre a obra de nossos antepassados.
Everton Lopes
Instituto Ciência Hoje/ RJ
Instigada pelas marcas que os antigos índios deixaram, a estudante decidiu investigar quintais de casas atuais que se localizam sobre sítios arqueológicos, precisamente aqueles instalados em terras pretas de índio – solos antropogênicos ricos em nutrientes como fósforo, cálcio e magnésio, além de um tipo de carvão vegetal muito eficiente em reter nutrientes. Essas áreas frequentemente apresentam, também, vestígios mais concretos de populações passadas, como cerâmicas.
- Quintal sobre sítio arqueológico na região do rio Urubu. Alguns autores relacionam cerâmicas encontradas nessa região com uma ocupação por povos falantes de línguas do tronco Arawak, famosos por sua agricultura. (Foto: Juliana Lins / Arquivo pessoal)
Casas de hoje, plantas de ontem
Por definição, os solos com terras pretas de índios são sítios arqueológicos. Lins concentrou sua pesquisa em uma região de alta incidência dessas condições – às margens do rio Urubu, que desemboca no Amazonas. Visitou, então, 40 quintais em cinco comunidades diferentes, levantando as espécies florais encontradas e buscando explicações para a seleção das mesmas para compor os quintais.- Em cinco comunidades, foram encontrados vestígios cerâmicos da tradição Borda Incisa. Em três delas, a pesquisa identificou também outra fase cerâmica, a Saracá, típica da região e datada em torno da época da conquista europeia. Nas casas onde foram encontrados vestígios arqueológicos de tradições diferentes, a composição dos quintais também foi mais variada. (Foto: Juliana Lins / Arquivo pessoal)
Conhecer o passado, fazer o futuro
Para Newton Paulo de Souza Falcão, engenheiro agrônomo do Inpa, investigações como a desenvolvida por Lins têm importância para além da descoberta de detalhes sobre a história da Amazônia. “Essas pesquisas são importantes não só para a preservação do que ainda temos, mas também para a recuperação de recursos genéticos de espécies nativas que estão desaparecendo”, afirma o engenheiro.
Pesquisadores de várias partes do mundo tentam recriar o que os índios brasileiros fizeram ao longo de muitos anos
Falcão, nascido e criado no estado do Amazonas, viu muitas espécies
nativas perderem espaço com o tempo. Há mais de dez anos, estuda as
terras pretas de índio da Amazônia central, procurando aprender com os
povos do passado maneiras de enriquecer solos pobres e transformar áreas
degradadas em produtivas. Ele não está sozinho. De fato, pesquisadores
de várias partes do mundo tentam recriar o que os índios brasileiros
fizeram ao longo de muitos anos. “Intriga o fato de esse solo manter a
fertilidade por períodos tão longos, que chegam a até dois mil anos”,
comenta o cientista.O impacto das populações antigas sobre a floresta amazônica vem sendo abordado em pesquisas internacionais e, claro, brasileiras. No quebra-cabeças da história da maior floresta tropical do mundo, há muitas peças ainda sem encaixe, mas uma certeza já desponta: a de que ainda hoje construímos e habitamos sobre a obra de nossos antepassados.
Everton Lopes
Instituto Ciência Hoje/ RJ
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