Onde ficam os escorpiões
texto ◘ Genira Chagas
Estudioso apresenta metodologia para reconhecer formas de infestação desses animais em zonas urbanas
Escorpiões são animais venenosos encontrados em regiões tropicais do
planeta. No Brasil, o escorpião-amarelo responde pelo maior número de
acidentes com seres humanos. Os nativos do país são classificados em
quatro famílias, sendo os espécimes do gênero Tityu, da família
Buthidae, os que provocam o maior número de acidentes. Em 2018, segundo
dados ainda não consolidados do Ministério da Saúde (MS), foram
registrados 141,4 mil casos. Esses fatos justificam a preocupação das
autoridades em considerá-los problema de saúde pública, de notificação
compulsória. Ou seja, as secretarias de saúde municipais e estaduais
devem informar as ocorrências aos sistemas de registros competentes do
MS.
O escorpião do gênero Tityus está amplamente distribuído pelo país,
com grande capacidade de se adaptar a áreas urbanas (veja quadro). Além
disso, é capaz de secretar um veneno com alto potencial de gravidade.
Buscando uma maneira de auxiliar o poder público a notificar os
acidentes com aracnídeos (escorpiões, aranhas, carrapatos), o biólogo
Angelo Henrique Biazi apresentou a dissertação de mestrado intitulada
Análise de agrupamentos para reconhecimento de padrões de infestação de
aracnídeos em zonas urbanas, em que desenvolve uma metodologia simples
para reconhecer formas de infestação desses animais em zonas urbanas. O
trabalho foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de
Ciências e Letras da Unesp, Câmpus de Assis, sob a orientação do
professor Fernando Frei.
Utilidade pública
Biazi tomou como base a cidade de Assis, no interior paulista, com aproximadamente 100 mil habitantes, sendo 95% da população residente na área urbana. Assis é quase totalmente urbanizada, com prestação de serviços de distribuição de água tratada, coleta e tratamento de esgoto e coleta e destinação do lixo em praticamente 100% do município.
Biazi tomou como base a cidade de Assis, no interior paulista, com aproximadamente 100 mil habitantes, sendo 95% da população residente na área urbana. Assis é quase totalmente urbanizada, com prestação de serviços de distribuição de água tratada, coleta e tratamento de esgoto e coleta e destinação do lixo em praticamente 100% do município.
Em seguida, estratificou a área urbana em macrorregiões, de acordo
com critérios socioeconômicos definidos pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Também procurou selecionar as espécies
de aracnídeos e os pontos do município que a literatura descreve como
favoráveis ao aparecimento de escorpião, entre os quais terrenos
baldios, praças, cemitérios, encosta de rios, regiões arborizadas. “A
quantidade de amostras foi determinada de acordo com a densidade
populacional da região”, explica.
Com essas informações, o autor aplicou o método denominado
Reconhecimento de Padrão, utilizando técnicas de Análise de
Agrupamentos, baseadas em algoritmos. Segundo Biazi, Análise de
Agrupamentos é o nome genérico atribuído a uma variedade de processos
estatísticos que procuram elaborar critérios para agrupar objetos, seres
humanos, animais, plantas, municípios, entre outros. “Dada uma amostra
de diversas regiões geográficas, por exemplo, medidas segundo
características variadas, procura-se agrupá-las de acordo com as
características semelhantes”, esclarece.
Nesse estudo, o município de Assis foi dividido em seis grupos, onde
foram inseridos 85 pontos para coleta de animais, distribuídos
geograficamente de forma a representar as diversas características
urbanas. Ao final da análise, foram avaliados 25 pontos (Figura 1)
representativos das diversas características urbanas. Os animais capturados tiveram suas identificações realizadas no Laboratório de Insetos Aquáticos da Unesp de Assis.
representativos das diversas características urbanas. Os animais capturados tiveram suas identificações realizadas no Laboratório de Insetos Aquáticos da Unesp de Assis.
O estudo apontou que os grupos 1 e 2 tiveram pontos distribuídos por
regiões de estratos sociais A, B e C (segundo critérios do IBGE). O
grupo 3 é caracterizado pelos estratos sociais B e C. Os grupos 4, 5 e 6
possuem seus únicos pontos nas camadas A, D e C (Figura 2). “A
distribuição de escorpiões observada nos pontos de coleta não tem uma
relação direta com as condições socioeconômicas. Verificamos que uma
mesma família foi encontrada em estratos socioeconômicos diferentes e
não existe um estrato com uma única família”, disse o pesquisador. De
acordo com o estudo, as várias camadas socioeconômicas estão
distribuídas em diversas regiões geográficas, que apresentam variedade
na temperatura, umidade, vegetação, pavimentação e presença de resíduos.
Biazi destaca que a simplicidade da metodologia adotada a transforma
em uma ferramenta de utilidade pública, podendo ser utilizada por
agentes de saúde para identificar pontos de infestação não somente por
escorpião, como por outros animais. Ele informa que utilizou software
livre, em língua portuguesa e com tutorial, fatores que facilitam sua
utilização.
Adaptação
O estudo apontou a presença de escorpião-amarelo nos diversos estratos sociais, o que equivale a dizer que eles se adaptam ao ambiente, independente de ser úmido e com pouca luz – características de seus locais preferidos. “Os mais venenosos são os que mais se adaptam ao ambiente urbano”, lembra Biazi. Eles são carnívoros e adoram baratas. Assim, manter a cidade e as moradias limpas evita a proliferação desses animais. O pesquisador observa que os escorpiões nunca estão sós. Segundo ele, as infestações costumam ser grandes. “Onde aparece um, pode procurar que existem outros,” completa.
O estudo apontou a presença de escorpião-amarelo nos diversos estratos sociais, o que equivale a dizer que eles se adaptam ao ambiente, independente de ser úmido e com pouca luz – características de seus locais preferidos. “Os mais venenosos são os que mais se adaptam ao ambiente urbano”, lembra Biazi. Eles são carnívoros e adoram baratas. Assim, manter a cidade e as moradias limpas evita a proliferação desses animais. O pesquisador observa que os escorpiões nunca estão sós. Segundo ele, as infestações costumam ser grandes. “Onde aparece um, pode procurar que existem outros,” completa.
QUADRO
O que fazer em caso de acidente
Em caso de acidente com escorpião, a vítima deve procurar um hospital de referência onde pode ser encontrado o soro específico para aquele tipo de acidente, diz o médico veterinário Rui Seabra Ferreira Jr., pesquisador adjunto do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos, uma unidade complementar da Unesp situada no Campus de Botucatu. Segundo ele, o ideal é levar o animal para que os profissionais de saúde possam identificá-lo e aplicar o antídoto correto. “O tratamento para picada de escorpião é a aplicação do soro antiescorpiônico. Daí a importância de levar o animal causador do acidente.” Ferreira Jr. Lembra que o soro antiaracnídeo também neutraliza o veneno do escorpião.
“Crianças e idosos costumam ser as vítimas mais graves”, diz Ferreira
Jr. “As crianças, em razão do baixo peso, e os idosos, porque o sistema
imune já não funciona bem. Dependendo da quantidade de veneno inoculado
na criança ela pode entrar em choque por causa da dor, que é muito
forte,” lembra. Para o especialista, o sucesso no prognóstico médico
depende da rapidez entre o momento do acidente e o início do tratamento,
principalmente em crianças e idosos.
De acordo com o especialista, a aplicação de outras substâncias no local atingido não resolve o problema. Segundo ele, também não se deve comprimir a região com elástico, comumente chamado de garrote. “O ideal é a vítima procurar atendimento especializado”, finaliza.
De acordo com o especialista, a aplicação de outras substâncias no local atingido não resolve o problema. Segundo ele, também não se deve comprimir a região com elástico, comumente chamado de garrote. “O ideal é a vítima procurar atendimento especializado”, finaliza.
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