quarta-feira, 20 de março de 2019

Os dinossauros não sumiram por conta de um meteorito

Análise geológica tenta precisar a sequência de cataclismos que acabou com 75% da vida terrestre

meteorito dinosaurios
Esta é a aparência, milhões de anos depois, dos restos das erupções vulcânicas que acabaram com os dinossauros.
De tempos em tempos, na Terra acontece um gigantesco holocausto que também costuma ser uma mudança de regime. 

Há 2,8 bilhões de anos, um novo grupo de microrganismos, as cianobactérias, começou a produzir oxigênio fazendo fotossíntese. Transformaram o mundo e tornaram possível a vida como a conhecemos, mas aniquilaram os organismos que haviam dominado o planeta até então porque o oxigênio era tóxico para eles. Como resume um dos líderes da revolução ultraconservadora relatada em O Conto da Aia, de Margaret Atwood, “melhor nunca significa melhor para todos, sempre significa pior para alguns”. E o que é válido para as revoluções políticas também é válido para as biológicas.

Das cinco grandes extinções que aconteceram depois, a mais letal ocorreu há 252 milhões de anos, no final do Permiano. 

Então, uma descomunal erupção na Sibéria inundou a atmosfera de CO2 e produziu um intenso efeito estufa que exacerbou a atividade de alguns micróbios produtores de metano. Os oceanos se tornaram mais ácidos e perderam oxigênio, e a destruição parcial da camada de ozônio permitiu que a radiação ultravioleta arrasasse a superfície terrestre. Estima-se que 96% das espécies que habitavam a Terra morreram em menos de um milhão de anos, um breve período se considerarmos as escalas geológicas.

Uma gigantesca erupção na Sibéria está na origem da maior extinção da história da Terra

Apesar de aniquilar a vida quase por completo, a grande mortandade, como se designa essa extinção em massa, não é a mais conhecida de todas. Essa honra cabe ao que aconteceu no final do período Cretáceo, cerca de 66 milhões de anos atrás, o cataclismo que varreu um dos grupos de animais mais fascinantes que pisaram na Terra. 

Ao escavarem o solo em busca de fósseis para reconstruir o passado, os cientistas observaram que naquele momento a maioria dos dinossauros desapareceu, assim como praticamente 75% dos seres vivos da época. Nesse estrato, Luis Álvarez e seu filho Walter descobriram nos anos oitenta uma grande quantidade de irídio, um material muito raro em nosso planeta, mas abundante em meteoritos e asteroides. A partir do irídio calcularam que uma rocha de 10 quilômetros de diâmetro vinda do espaço foi provavelmente a culpada por aquela hecatombe. Logo depois a teoria foi reforçada, quando foi encontrada uma cratera na península mexicana de Yucatán, identificada como o local do impacto.

Mas a vida não cambaleia em escala planetária por um único golpe, por mais forte seja, e há tempos se defende que uma série de erupções vulcânicas ao longo de centenas de milhares de anos, como aconteceu em eventos similares ao longo a história do planeta, foram mudando o clima e as condições atmosféricas da Terra, preparando o terreno para a extinção do Cretáceo. O lugar dessas erupções são as escadas de Deccan, uma das maiores regiões vulcânicas do planeta localizada na Índia. Hoje, duas equipes de cientistas publicam na revista Science medições de alta precisão da região para tentar reconstruir o curso dos acontecimentos que acabaram com os dinossauros.

Por um lado, uma equipe liderada por Blair Schoene, Universidade de Princeton (EUA), usou um método de datação que tomou como referência o ritmo no qual o urânio se desintegra radioativamente para se transformar em chumbo. Assim calcularam que as erupções de Deccan começaram dezenas de milhares de anos antes do grande asteroide.  

Grandes quantidades de metano, dióxido de carbono e dióxido de enxofre lançadas na atmosfera pelos vulcões teriam provocado transtornos planetários capazes de extinguir grande parte da vida terrestre muito antes da chegada do asteroide.

É provável que os dinossauros tenham levado dezenas de milhares de anos para sucumbir aos cataclismos que os aniquilaram.

Em um segundo estudo, liderado por Courtney Sprain, da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), foi usado argônio radioativo para calcular o momento em que as erupções ocorreram. Embora os resultados não sejam muito diferentes, existem interpretações distintas dos dados e se sugere que o choque no México, praticamente nos antípodas da Índia, acelerou as erupções e produziu uma emissão de gases responsáveis em parte pelas extinções.

A catástrofe, que facilitou a chegada dos mamíferos e, finalmente, da nossa linhagem, talvez não deva ser imaginada como costumam fazer os filmes de Hollywood, com um impacto iminente que acabará com a vida na Terra em poucos dias. “É muito difícil dizer qual foi a escala temporal exata da extinção”, admite Paul Renne, pesquisador de Berkeley e coautor de um dos estudos. “De fato, é provável que tenha sido variável para diferentes animais e plantas, dependendo de sua posição na cadeia alimentar. Parece claro que o plâncton marinho foi o mais rápido a desaparecer, provavelmente em menos de 10.000 anos. 

Para outros animais, especialmente os terrestres, como os dinossauros, pode ter levado mais tempo, mas é algo muito controvertido”, afirma. E conclui: “Uma coisa é certa: a extinção não aconteceu em um instante como nos filmes”.

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