Vulcanismo no Brasil
Hoje
o país não corre nenhum risco de atividade vulcânica, mas em um passado
bem distante, há milhões de anos, a história era outra
Vivian Azor de Freitas
VULCÃO
Vulcão é uma estrutura por onde são lançados lava, fragmentos,
poeira e gases, normalmente encontrado em regiões onde há encontro de
placas tectônicas. O magma é um material viscoso e muito quente que pode
ultrapassar 1000 °C. Ele se forma a partir da fusão de rochas do
interior da Terra e, quando se funde, apresenta densidade menor do que a
das rochas sólidas que estão à sua volta, portanto tende a se deslocar
na direção da superfície terrestre. Um vulcão ocorre quando o magma sobe
e extravasa e, por acúmulo de lavas no terreno, forma um edifício
vulcânico, normalmente na forma de um cone, e é destacado no relevo. No
entanto, nem sempre uma atividade vulcânica ocorre na forma de um
vulcão. |
São impressionantes as imagens de qualquer vulcão em erupção.
Nuvens de poeira no ar, material fumegante escorrendo pelo corpo do
vulcão e muito barulho. O Etna, na Itália, o Puyehue, no Chile, e o
Santa Helena, nos Estados Unidos, são exemplos de vulcões ativos, que
entraram em erupção recentemente. Outros países também sofrem com
atividades vulcânicas, como Japão, Nova Zelândia, Colômbia e Filipinas. O
Brasil, por outro lado, apresenta rochas bem antigas e nos últimos
milhões de anos praticamente não teve atividade vulcânica relevante.
Vivemos em um país que pode ser considerado protegido desse tipo de
catástrofe natural. No entanto, nem sempre foi assim.
Para quem acredita que o Brasil sempre foi um lugar livre da
fúria das lavas, saiba que nosso país já foi cenário de um dos maiores
vulcanismos continentais do mundo. Há cerca de 134 milhões de anos,
através de fissuras no solo, uma grande quantidade de material
incandescente vindo do interior do planeta se espalhou por mais de 1
milhão de km2.
As lavas cobriram parte das regiões centro-oeste e
sudeste e todos os estados da região sul do Brasil, assim como áreas do
Paraguai, Uruguai e Argentina. Esse vulcanismo gerou as rochas da
Província Magmática Paraná e todo esse material se solidificou
principalmente na forma de basalto.
Evidências desse vulcanismo também podem ser observadas no continente
africano, já que na época em que ocorreu esse evento a América do Sul e a
África estavam unidas fazendo parte do supercontinente Pangea.
No Brasil, uma das melhores exposições desse vulcanismo está na cidade
de Torres (RS), onde o registro da sobreposição de derrames de basalto
chega a 1km de espessura. Não tão volumoso, mas impressionante devido à
sua preservação, foi o Evento Magmático Uatumã, que ocorreu na região
amazônica, nos estados do Amazonas, Pará, Roraima e Mato Grosso, além de
Venezuela e Suriname. Nesse evento há registros de rochas que têm
preservadas suas características vulcânicas originais de cerca de 1,90
bilhões de anos. As rochas desse evento preservam sua composição
original, feições de solidificação de seus magmas, assim como
indicativos do modo de ocorrência de suas lavas. Isso é surpreendente,
pois características tão antigas assim geralmente não são preservadas,
pois ao longo do tempo são erodidas (erosão) ou sofrem processos que as
transformam em outros tipos de rochas. É como fazer um castelo de areia
na praia e ele não se alterar durante meses, mesmo com a ação do vento,
da chuva e das ondas do mar.
HÁ 12 MILHÕES DE ANOS
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BASALTO
Uma rocha escura que, quando alterada, pode transformarse em
solo fértil, conhecido como "terra roxa". Essa rocha é constituída
principalmente de plagioclásio e piroxênio e, em muitos casos, de
olivina. |
As manifestações vulcânicas mais recentes registradas no
território brasileiro ocorreram nas ilhas oceânicas de Trindade e
Fernando de Noronha. Ambas as ilhas foram formadas há menos de 12
milhões de anos atrás e, levando em consideração que as rochas do Brasil
são bem mais antigas do que isso, essas ilhas podem ser consideradas
"crianças" para o tempo geológico brasileiro. A Ilha de Trindade está
distante cerca de 1.200 km de Vitória (ES) e tem área de 13,5 km2.
Fernando de Noronha é um arquipélago formado por uma ilha principal
homônima, com 16,4 km2 e por mais vinte ilhas menores e está distante
cerca de 550 km de Recife (PE). Essas ilhas refletem manifestações
vulcânicas que ocorreram no oceano e foram tão intensas que o grande
volume de lavas formou um corpo vulcânico emerso em forma de ilha. Seria
como a ponta de um iceberg, porém formado de rocha e não de gelo. As
ilhas do Havaí são exemplos atuais e ativos desse processo, pois assim
como as ilhas de Fernando de Noronha e Trindade, não foram formadas
próximas a limites de placas tectônicas. Nesses limites, a temperatura
interna terrestre é bem elevada, há intenso vulcanismo. É onde a maioria
dos vulcões do planeta se forma. A existência de vulcanismo longe do
encontro de placas tectônicas, que são regiões internamente mais frias,
pode ser explicada por anomalias térmicas que ocorrem em profundidades
muito altas no interior do planeta. Essas anomalias geram o calor
necessário para fundir as rochas e gerar magmas que sobem e extravasam
na superfície.
Em continente, além dos grandes eventos vulcânicos descritos
anteriormente, há outros de pouca abrangência, no entanto muito
interessantes porque apresentam típicas estruturas arredondadas, que
lembram um vulcão. É o caso de Poços de
Caldas (MG), Pico do Cabugi (Lajes, RN), Serra Negra (MG) e Morro São
João (Rio das Ostras, RJ). São corpos que apresentam diâmetros que
variam de 2 a 30 km, são circulares, compostos por rochas provenientes
de atividade magmática e muitas vezes são referidos, erroneamente, como
vulcões extintos. Nesses locais, embora seja possível notar a forma
circular dos corpos rochosos, estudos mostram que não foram vulcões
eruptivos como o Etna. Isso porque as estruturas encontradas nesses
lugares não têm todas as características necessárias para classificá-las
como um vulcão, mesmo que do passado. Até o momento, não é reconhecido
nenhum vulcão extinto no Brasil que tenha preservado sua forma original.
Os corpos de forma arredondada descritos anteriormente foram formados
por atividade magmática, no entanto, o magma não extravasou para a
superfície e sim se solidificou em profundidade. Com o passar de muitos
anos, as rochas situadas acima foram sendo desgastadas, e o corpo de
rochoso arredondado foi "desenterrado", exibindo as formas que podemos
ver em imagens aéreas.
O SUPERCONTINENTE PANGEA
O Supercontinente Pangea foi o resultado da reunião de todos
os continentes que conhecemos hoje. Isso ocorreu entre 230 e 130 milhões
de anos atrás, aproximadamente. O Pangea não foi a única, mas sim a
última vez em que esse fenômeno ocorreu. Na história do nosso planeta,
que tem 4,56 bilhões de anos, os continentes se juntaram e se separaram
algumas vezes. E, a cada vez que acontecia, esse processo se dava de
forma diferente e em porções da Terra diversas. O que hoje é o Brasil já
esteve localizado em outras latitudes e longitudes, além de ora estar
emerso, ora estar submerso em águas oceânicas. Por essa razão é que se
encontram registros de desertos, geleiras e oceanos nas rochas do nosso
país. Além disso, hoje o Brasil está situado no interior de uma placa
tectônica, mas nem sempre foi desse modo. Há regiões do nosso território
que já estiveram em limites de placas e, portanto, já contaram com
terremotos e muito vulcanismo. |
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