Cientistas anunciam descoberta do mais antigo fóssil humano da História
Vestígios de mandíbula de Homo habilis com cerca de 2,8 milhões de anos foram encontrados na Etiópia
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Dentes menores, mas queixo ainda recuado
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— O registro fóssil no Leste da África, entre dois milhões e três milhões de anos atrás, é muito pobre, e existem relativamente poucos fósseis que podem nos dar informações sobre as origens do gênero Homo — lembrou Brian Villmoare, paleoantropólogo da Universidade de Nevada, nos EUA, e um dos líderes da pesquisa, publicada na edição desta semana da revista “Science”, em teleconferência ontem. — Este, porém, é um dos períodos mais importantes da evolução humana, já que, nesta época pouco conhecida, os humanos fizeram a transição dos mais símios australopitecos para os padrões adaptativos modernos vistos nos Homo. Assim, o que há de tão especial nessa mandíbula não é só sua idade, muito mais velha que qualquer exemplar de Homo conhecido até agora, mas também sua combinação única de traços, da altura da mandíbula ao formato dos dentes, que a faz uma clara transição entre os australopitecos e os Homo.
O fato de ter características tão claras alinhadas com as dos Homo há 2,8 milhões de anos nos ajuda a restringir o tempo dessa transição e sugere que ela foi relativamente rápida.
Em outro artigo também publicado na “Science” desta semana e que acompanha o estudo sobre o fóssil, os cientistas procuraram descrever o contexto geológico e ambiental onde ele foi encontrado. Há tempos os especialistas desconfiam que mudanças climáticas ocorridas nesta época na África, com exuberantes selvas dando lugar a uma paisagem mais árida, parecida com as atuais savanas, estimularam um processo de adaptação que foi responsável pelo fim dos australopitecos e emergência dos Homo. Na mesma área onde a mandíbula foi encontrada, os pesquisadores acharam fósseis de espécies pré-históricas de antílopes, elefantes, hipopótamos e outros animais relacionados com habitats mais abertos, dominado por grama alta e arbustos e com árvores mais espaçadas.
— Podemos observar esse sinal de maior aridez há 2,8 milhões de anos na fauna comunal de Ledi-Geraru — disse Kaye Reed, professor da Universidade do Estado do Arizona, outro integrante da equipe responsável pela descoberta, que participou da teleconferência da Etiópia. — Ainda é cedo para dizer que isso significa que as mudanças climáticas foram responsáveis pela origem do gênero Homo. Para isso, precisamos de uma amostragem maior de fósseis de hominídeos e é por isso que continuamos a vir para a região de Ledi-Geraru em busca deles. O que sabemos é que esses Homo antigos conseguiam viver neste habitat razoavelmente extremo e que, aparentemente, a espécie de Lucy, os Australopithecus afarensis, não.
Já um terceiro estudo relacionado ao tema, também publicado ontem, mas na revista “Nature”, revisitou o fóssil original que permitiu a identificação pela primeira vez do Homo habilis há pouco mais de 50 anos e revelou que, entre 2,1 milhões e 1,6 milhão de anos atrás, pelo menos três espécies representantes do gênero conviveram na África: além do H. habilis, o H. erectus e o H. Rudolfensis. Encontrados nos anos 1960 pelo respeitado e já falecido paleoantropólogo britânico Louis Leakey na região da Garganta de Olduvai, na Tanzânia — e que, por isso, recebeu o apelido de “Berço da Humanidade” —, os restos fragmentados de crânio e mandíbula serviram de base para uma reconstrução digital em 3D de como seria a cabeça completa de um representante da espécie, evidenciando características que antes não puderam ser notadas pelos especialistas.
Segundo os pesquisadores, embora a mandíbula do H. habilis realmente pareça ter um formato mais parecido com o de espécies mais “primitivas”, como os australopitecos, a reconstrução do crânio indica que o cérebro era bem maior do que se pensava, com tamanho similar ao dos seus “primos” Homo de então e mais próximo do dos humanos modernos. Até recentemente, o tamanho do cérebro era um dos principais parâmetros usados para distinguir as três espécies, mas, com esse estudo, os cientistas defendem que a caracterização deve se focar nos traços de suas faces, especialmente das mandíbulas.
Ainda de acordo com os pesquisadores, a reconstrução digital do fóssil, junto com estudos anteriores de outros restos de antecessores dos humanos atuais encontrados na Tanzânia e na Etiópia, indicam que as três linhagens do gênero Homo se separaram de um ancestral comum provavelmente há mais de 2,3 milhões de anos, cujo exemplo até agora desconhecido pode ser justamente o indivíduo cuja mandíbula foi achada em Ledi-Geraru e descrito na “Science”.
— Ao explorar digitalmente como o Homo habilis se parecia, pudemos inferir a natureza de seu ancestral, mas nenhum fóssil dele era conhecido — conta Fred Spoor, pesquisador do University College London e do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária e um dos autores do artigo na “Nature”. — Mas, agora, a mandíbula de Ledi-Geraru apareceu como se “sob demanda”, sugerindo uma ligação evolucionária plausível entre o Australopithecus afarensis e o Homo habilis.
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