Ecossistemas construídos
Todos os organismos, por menores que
sejam, mudam o meio ambiente com a sua presença e o seu uso de recursos.
A maioria simplesmente usa os recursos disponíveis, fazendo com que a
sua existência afete apenas alguns organismos próximos.
Os primeiros caçadores- coletores
humanos podem ter compartilhado o meio ambiente dessa maneira, embora os
primeiros seres humanos tenham se envolvido na extinção de alguns
grandes mamíferos.
Outros organismos, por sua vez, causam
efeitos tão grandes que são chamados de engenheiros do ecossistema, de
acordo com Cliven. G. Jones, John. H. Lawton e Mosh Shachak no artigo “Organisms as ecosystem engineers” de 1994.
- Os castores constroem represas que mudam o fluxo da água e transformam cursos d’água em piscinas que inundam a floresta circundante.
- Os pica-paus furam árvores vivas ou mortas, criando lares para si e outros pássaros e animais, e abrem caminho, nas árvores vivas, para várias pragas e, nas árvores mortas, para a decomposição.
- As árvores mudam os padrões de clima e fluxo da água à sua volta e soltam folhas que alteram as propriedades do solo e determinam quais outras plantas conseguem germinar e crescer.
- As formigas cavam ninhos que alteram a estrutura do solo e o movimento da água dentro dele, cortam a vegetação em volta e importam alimentos e recursos num raio de muitos metros.
Dessa maneira, criam cidades com elevada densidade de indivíduos que permitem uma comparação reveladora com as cidades humanas.
Esses animais e plantas transformam o
meio ambiente, alterando o equilíbrio de um tipo de comunidade, como uma
floresta com poucas plantas aquáticas, para outro, como um lago com
poucas árvores. A agricultura pouco intensiva, na qual apenas uma porção
relativamente pequena de terra é usada para produzir safras enquanto as
terras intermediárias continuam a sustentar a flora e a fauna mais ou
menos sem perturbações, pertence a essa categoria.
A transformação de ecossistemas pode
ocorrer em vários graus. As mudanças podem ser sutis, como um furo numa
árvore, ou extremas, como a substituição de um ecossistema inteiro. Um
recife de coral pode transformar uma grande área de mar raso numa
comunidade ricamente diversificada.
Uma planta não nativa, como o bromo-vassoura (Bromus tectorum),
que hoje domina vastas extensões do oeste da América do Norte, pode
substituir a flora e a fauna nativas por uma comunidade simplificada e
menos diversificada. Mas foram os seres humanos modernos que dominaram a
arte da substituição de ecossistemas.
As cidades podem transformar uma
floresta sombreada numa paisagem de rochas expostas ou um deserto numa
floresta sombreada. Essas cidades transformadas abrigam um conjunto de
plantas e animais totalmente diferente da região circundante e alteraram
profundamente o tempo local e o movimento da água. A concentrada
demanda humana de alimentos exige grandes áreas de agricultura de
elevada intensidade e cria outro conjunto de novos meios ambientes
dominados por espécies únicas, como milho, gado e soja.
Podem-se considerar os seres humanos
como engenheiros definitivos do ecossistema, que criam toda uma série de
mudanças simultâneas (represamento de rios, construção de casas,
deslocamento de recursos, alterações do clima) em áreas muito grandes.
No entanto, os seres humanos agem como
engenheiros no ambiente urbano não só modificando os recursos e
materiais disponíveis no local, como fazem os castores ao cortar e
deslocar árvores, mas também importando uma imensa quantidade de
materiais, energia e nutrientes distantes e exportando os resíduos
resultantes.
Durante a evolução humana, os povos
trocaram as florestas pelo cerrado e se refugiaram em penhascos,
cavernas e formações rochosas. As primeiras cidades, construídas com
pedra natural, recriam muitos aspectos rochosos daqueles hábitats,
embora não as novas estruturas de aço e vidro.
O outro componente do hábitat humano
ancestral, o cerrado que mistura campo aberto e grupos de árvores,
refletiu-se na mistura de gramados, jardins e árvores que formam as
áreas periurbanas residenciais onde muitos preferem morar.
Nas áreas urbanas, os efeitos dos seres
humanos nunca estão ausentes, quase por definição. Mas esses efeitos
variam de intensidade na paisagem urbana e vão de ambientes preservados,
como os parques, a ambientes transformados, como quintais e jardins, e
ambientes substituídos, como edificações, ruas e aterros sanitários.
Tudo a ver
Esta matéria foi retirada do nosso próximo lançamento “Ecossistemas Urbanos”
de Frederick R. Adler e Colby J. Tanner. O livro apresentara os
principais conceitos para o estudo do ecossistema urbano, como
modificações de habitat, interações de processos ecológicos nas
cidades e as reações provocadas pelos impactos antrópicos em
ecossistemas. Inclui exercícios, perguntas e atividades de laboratório
ao final de cada capítulo.
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