Ambiente marinho
Acredita-se, em geral, que o Reino Animal
originou-se nos oceanos Arqueozoicos muito antes dos primeiros registros
fósseis. Todo filo maior de animais tem, pelo menos, alguns representantes
marinhos; alguns grupos, como os cnidários, são inteiramente ou, em grande
parte, marinhos. A partir do ambiente marinho ancestral, diferentes grupos de
animais invadiram a água doce enquanto que outros migraram para a terra.
Quando comparado à água doce e à terra, o
ambiente marinho é relativamente uniforme. O oxigênio é geralmente disponível,
e a salinidade do mar aberto é relativamente constante, variando de 34 a 36 partes por mil (3,4 –
3,6%), dependendo da latitude. A luz e a temperatura podem variar bastante,
embora principalmente como consequência da profundidade. Assim, a vida não é
distribuída uniformemente por toda a profundidade e extensão dos mares do
mundo, os quais cobrem aproximadamente 71% da superfície terrestre. As margens
dos continentes inclinam-se gradualmente em direção ao mar na forma de
plataformas submersas até a profundidade de 150 a 200 metros e, então,
inclinam-se abruptamente até a profundidade de 3000 metros ou mais.
Antes de alcançar o fundo oceânico, o declive continental é interrompido por um
terraço ou por uma inclinação mais gradual, a qual é formada pela elevação
continental. O assoalho das bacias oceânicas, denominado plano abissal, varia
de 3000 a
5000 metros
em profundidade e pode apresentar características como montanhas, cumes e vales
oceânicos. A margem ocidental da plataforma Atlântica fica a cerca de 120 km do litoral, mas ao
longo da costa Pacífica da América do Norte, a plataforma continental é
bastante estreita. A mais extensa plataforma encontra-se próxima à costa da
Sibéria e estende-se até uma distancia de 1300 km, no Oceano Ártico.
As águas que ficam sobre as plataformas
continentais formam a zona nerítica e
aquelas além da plataforma formam a zona
oceânica. A margem do mar, que se eleva e se baixa com a maré, é a zona litoral (“intertidal”). A região
localizada acima é a supralitoral (“supraidal”)
e a região abaixo a sublitoral
(“subtidal”). As inclinações continentais (talude continental) formam a zona batial, os planos abissais a zona abissal e os vales a zona hadal.
A distribuição vertical dos organismos marinhos
é controlada principalmente pela profundidade alcançada pela luz. Luz
suficiente para que a fotossíntese supere a respiração chega apenas a uma
pequena distância da superfície, podendo atingir até 200 m, na dependência da
turbidez da água.
Abaixo desta zona eufótica superior, existe uma zona de transição onde pode
ocorrer algum nível de fotossíntese, embora sua taxa de produção seja menos do
que a perda pela respiração. Desta zona de transição até o assoalho oceânico
prevalece a escuridão total. Esta zona constitui a zona afótica. Os animais que habitam permanentemente as zonas
afóticas ou de transição, ou são carnívoros ou alimentam-se de suspensões e
detritos e dependem, em última instância, da atividade fotossintética das
microscópicas algas das regiões superiores iluminadas.
Os animais das águas marinhas que nadam
livremente ou flutuam constituem a fauna
pelágica e aqueles que vivem no fundo compõem a fauna bentônica. Os habitantes do fundo podem viver sobre a
superfície (epifauna) ou sob a superfície
(infauna) do fundo oceânico e, em
geral, refletem de maneira notável o caráter do substrato, ou seja, se é um
substrato mole de areia ou lodo. Muitos animais são adaptados a viver nos
espaços entre os grãos de areia e compõem o que comumente é referido como a fauna intersticial ou meiofauna. Este grupo inclui
representantes d virtualmente todos os filos animais maiores, sendo que alguns
grupos de animais são anteriormente desconhecidos foram descobertos
recentemente neste ambiente. Os animais pelágicos e bentônicos são encontrados
em todas as zonas horizontais. Por exemplo, pode-se referir a animais neríticos
pelágicos ou à infauna da zona abissal.
Nas águas oceânicas tropicais de diversas
áreas, os níveis populacionais são menores quando comparados aos oceanos
temperados e frios, onde a mistura com águas profundas ricas em nutrientes é
maior. Entretanto, os mares tropicais e subtropicais possuem, de modo geral,
maior número de espécies do que as águas temperadas. No outro extremo, as
planícies abissais oceânicas, que são perpetuamente escuras e glaciais,
sustentam uma fauna relativamente pequena, tanto em número de indivíduos quanto
em número de espécies.
Ambientes de água doce e de Estuário
Os lagos terrestres também exibem um
zoneamento horizontal e vertical; entretanto o conteúdo da água doce, seus
menores tamanho e profundidade tornam-nos, sob diferentes aspectos,
ecologicamente distintos dos oceanos. A margem de um lago onde a luz alcança o
fundo é denominada zona litorânea. No
interior da zona litorânea, a camada superior iluminada da água, equivalente à
zona eufótica do mar, é denominada, nos lagos, zona limnética. Na zona limnética e abaixo dela, as águas e o fundo
do lago pertencem à zona profunda.
A temperatura é um fator preponderante no
controle do ambiente dos lagos. Em contraste com a água salgada, que se torna
crescentemente densa conforme descreve a temperatura, a água doce atinge sua
maior densidade a 4ºC; portanto, quando os lagos das regiões temperadas da
terra são aquecidos durante a primavera e o verão, a água quente fica na
superfície enquanto que a água mais fria e pesada permanece no fundo. É pequena
a circulação entre os níveis superior e inferior, de tal forma que não apenas a
zona inferior é escura, mas também estagnada e deficiente em oxigênio, dando
suporte apenas a uma fauna limitada. Com o advento da estação fria, a água do
estrato superior se torna mais pesada e afunda, resultando uma reviravolta
geral (“turnover”) entre a água da superfície e a água profunda. As condições se
tornam estabilizadas novamente no inverno, com uma estratificação invertida de
temperatura, uma vez que agora a água mais fria e leve em forma de gelo flutua
e a água mais quente (4º) e pesada está no fundo. Na primavera, após o
derretimento do gelo formado no inverno, há uma outra reviravolta (“turnover”)
como há no outono.
Os lagos tropicais podem apresentar um
único “turnover” de inverno ou podem exibir uma condição altamente estável com
pequena circulação vertical.
A junção dos rios com o mar não é abrupta.
Pelo contrario, os dois ambientes interconvertem-se gradualmente, criando o
ambiente de estuário o qual é caracterizado por uma água salobra, isto é, com
salinidade consideravelmente abaixo dos 3,5% típicos do mar aberto. O ambiente
de estuário compreende desembocaduras de rios e deltas circundantes, limites
costeiros, pequenas enseadas e braços de mar que recortam a costa. É,
usualmente, afetado pela maré, de cuja palavra deriva a palavra estuário
(aesus, maré). A maior parte dos animais marinhos são osmoconformistas e esteno-halinos
(toleram pequena variação no conteúdo salino) e não são capazes de sobreviver
em salinidades muito reduzidas. As salinidades mais baixas e variáveis dos
estuários restringem, portanto, a sua fauna àqueles invasores marinhos
euri-halinos (suportam amplas variações na concentração salina) e a poucas
espécies de água doce que podem tolerar estas condições. A fauna também inclui
alguns animais que se tornaram especialmente adaptados a condições de estuário
e que não são encontrados em nenhum outro lugar.
Nos trópicos, os mangues constituem uma
comunidade característica do ambiente de estuário, assim como das áreas salinas
onde as águas são calmas. As arvores do mangue são espécies que podem tolerar
condições de salinidade. Eles ocupam a zona litorânea e geralmente possuem
raízes escoras e raízes aéreas especiais (pneumatóforos) que se projetam para
cima da superfície da água. As comunidades mais altamente desenvolvidas de
mangues são encontradas no Indo/Pacífico, onde numerosas espécies formam
diversas zonas que se estendem em direção ao mar. Tais mangues podem ocupar
vastas áreas costeiras e são virtualmente impenetráveis. O mangue-vermelho, Rhizophora mangle, que possui raízes
longas que se estendem a partir de seus ramos diretamente para baixo, é o
mangue comum da América tropical. As arvores do mangue retêm sedimentos e
contribuem para a formação de terreno estável, criando um habitat que é ocupado
por animais e outras plantas.
Plâncton, produção primaria e cadeias alimentares
Tanto os oceanos quanto os lagos de água
doce contêm um extenso agrupamento de organismos microscópicos que nadam ou
vivem suspensos na água. Estes organismos compreendem o plâncton incluem tanto os animais (zooplâncton) quanto as plantas (fitoplâncton). Embora diversos organismos planctônicos sejam
capazes de se deslocarem, eles são demasiadamente pequenos para fazê-lo
independentemente das correntes. O fitoplâncton é composto de numerosas
diatomáceas e outras algas microscópicas.
O zooplâncton marinho inclui
representantes de, praticamente, todos os grupos animais, tanto adultos quanto
estágios de desenvolvimento. Algumas
espécies (holoplâncton) passam toda
a sua vida no plâncton; larvas de outras espécies (meroplâncton) entram e saem do plâncton em diferentes pontos no
curso de seu desenvolvimento. Os animais constituintes do plâncton de água doce
são mais limitados quanto ao seu número. O plâncton, especialmente o marinho,
tem uma importância fundamental na cadeia alimentar aquática uma vez que o fitoplâncton
fotossintético – particularmente diatomáceas, dinoflagelados e diminutos
flagelados – forma o nível trófico primário, servindo de alimento aos animais
maiores. Como seria de se esperar, o plâncton atinge sua maior densidade nas
zonas superiores e iluminadas das águas que apresentam altos níveis de
nutrientes (nitratos, fosfatos, etc.). Os nutrientes inorgânicos são
necessários para a síntese de compostos orgânicos efetuada pelo fitoplâncton. Em
geral, os mais altos níveis de nutrientes são encontrados nas águas costeiras
rasas, nas áreas de ressurgência e nas águas superficiais dos oceanos frios e
temperados, onde a mistura com os níveis mais profundos não é impedida.
As águas superficiais dos oceanos
tropicais e subtropicais são geralmente empobrecidas porque é pequena a sua
mistura com águas profundas ricas em nutrientes. A água superficial, que é
quente e, portanto menos densa, viaja acima da água fria e, portanto, mais
pesada dos níveis mais profundos. As águas oceânicas que possuem baixa produtividade,
como a Corrente do Golfo e o Mar dos Sargaços, são claras e azuis. A baixa
concentração de plâncton permite a penetração da luz até uma profundidade
considerável e os comprimentos de onde azuis são refletidos pelas moléculas da
água. A água do mar mais rica em plâncton é verde, pois o plâncton e os
detritos orgânicos refletem a luz amarela que, combinada com a luz azul
refletida pelas moléculas da água, produz a cor verde.
Partículas fecais e fragmentos de plantas
mortas e de restos animais, derivados do plâncton ou das plantas e animais
bentônicos, assentam-se no fundo e misturam-se às partículas minerais (areia).
Este material depositado é uma fonte de alimento para diversos animais. Alguns
destes comedores de detritos digerem
a própria matéria orgânica; outros alimentam-se de bactérias que se encontram
no material depositado.
REFERÊNCIAS
BARNES ROBERT D., Zoologia
de Invertebrados. Livraria
Roca LTDA. Quarta Edição. São Paulo 1984.
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