Peixe das cavernas
Espécie recém-descoberta em caverna de Goiás vive
exclusivamente em ambientes subterrâneos. O animal já está ameaçado de
extinção, devido à ação humana no entorno do seu hábitat.
Publicado em 10/03/2015
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Atualizado em 10/03/2015
Apesar de recém-descoberto, o peixe ‘Ituglanis boticario’ já
está ameaçado de extinção: tem dificuldade de encontrar alimento devido
aos desmatamentos e ao uso de agrotóxicos e pesticidas no entorno da
caverna onde vive. (foto: Pedro Rizzato)
Segundo o ictiólogo Pedro Rizzato, pesquisador da UFSCar na época da descrição da nova espécie e agora doutorando na Universidade de São Paulo, esse peixe tem um papel biológico de extrema importância no local onde vive. “A espécie alimenta-se principalmente de invertebrados aquáticos, como larvas de insetos e, por isso, é essencial para o equilíbrio do ambiente por controlar as populações de suas presas e impedir que elas se proliferem”, explica.
Rizzato: “A espécie alimenta-se principalmente de invertebrados aquáticos, como
larvas de insetos e, por isso, é essencial para o equilíbrio do ambiente
por controlar as populações de suas presas e impedir que elas se
proliferem”
Para Rizzato, esse é um achado importantíssimo, sob vários aspectos. “Trata-se de uma espécie pertencente a um grupo pouco conhecido de peixes, os bagrinhos tricomicterídeos, e a descrição de outras espécies traz novas e importantes informações que permitem aos pesquisadores conhecer melhor as relações evolutivas entre os organismos”, avalia. E complementa: “Além disso, o fato de esta ser uma espécie exclusivamente subterrânea é altamente relevante, já que o Brasil é atualmente o segundo país com o maior número de espécies subterrâneas conhecidas no mundo, ficando atrás apenas da China.”
O I. boticario é um peixe troglóbio – palavra que vem do grego troglos = ‘caverna’. Outra característica marcante dos peixes desse grupo é a presença de pequenos dentes, semelhantes a espinhos, na região lateral da cabeça. Eles servem para que o animal se prenda às pedras no fundo dos rios, evitando que seja levado pela correnteza ou em enxurradas.
- O ‘I. boticario’ possui o corpo fino e alongado, podendo medir até 10 centímetros de comprimento. Algumas particularidades da espécie são a pigmentação mais clara e barbilhões (estruturas sensoriais semelhantes a bigodes) longos. (foto: Pedro Rizzato)
Pressão antrópica
Infelizmente, a espécie já está ameaçada de extinção. Os peixes dependem de alimentos levados pela água da chuva para dentro da caverna (como larvas de insetos e outros pequenos invertebrados e até matéria em decomposição). Mas, por causa dos desmatamentos e do uso de agrotóxicos e pesticidas no entorno, eles têm dificuldade de encontrar comida. Além disso, a urina do gado criado nas proximidades da caverna também é prejudicial, pois libera na água grandes concentrações de amônia, uma substância tóxica.- O peixe vive em um rio subterrâneo na Gruna da Tarimba, caverna localizada em Goiás que sofre impacto negativo do desmatamento e de atividades agropecuárias no seu entorno. (foto: Ricardo Martinelli)
Para proteger I. boticario e outros seres que vivem na Gruna da Tarimba ameaçados pela ação humana, o pesquisador defende a criação de unidades de conservação nos arredores da caverna. “Pela ocorrência dessa nova espécie de peixe, bem como por outras características relevantes que apresenta, o local deve ser considerado pela legislação ambiental de proteção às cavernas vigente no país um ambiente de máxima prioridade de conservação, e medidas devem ser tomadas pelos órgãos ambientais para fazer valer essa legislação e preservar o patrimônio da Gruna da Tarimba”, ressalta.
Valentina Leite
Ciência Hoje On-line
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