O Nascimento do Rio Amazonas
Na busca por petróleo, cientistas descobrem um
dado geológico inédito: a idade do rio Amazonas. A informação é importante para
conhecer detalhes da evolução da fauna e da flora da região.
Por: Júlia Faria Publicado em 09/03/2010 | Atualizado em 09/03/2010
Nanofósseis coletados em poços de
petróleo em sua foz indicam que o rio se formou há cerca de 11,8 milhões de
anos (foto: Nasa).
Um senhor de aproximadamente 11 milhões de anos: assim é o rio Amazonas,
segundo revelam cientistas. A descoberta foi feita por um grupo de geólogos da
Petrobras liderados por Jorge Picanço de Figueiredo, com a colaboração da
geóloga holandesa Carina Hoorn, da Universidade de Amsterdã.A pesquisa foi feita com dados colhidos em dois poços perfurados pela Petrobras para a exploração de petróleo no oceano Atlântico próximo à foz do rio Amazonas. Os resultados foram publicados na revista Geology.
A análise de nanofósseis coletados nesses poços permitiu datar a pilha de sedimentos formada no oceano Atlântico pela descarga do rio Amazonas. Como os sedimentos mais antigos dessa pilha foram datados em aproximadamente 11 milhões de anos (durante o período geológico conhecido como Mioceno superior), concluiu-se que esta é também a idade de origem do rio Amazonas.
Antes da formação do Amazonas, a geografia da região era
caracterizada por dois ambientes bem distintos
Antes da formação do rio Amazonas — no Mioceno médio e inferior, período
compreendido entre 11,6 e 23 milhões de anos atrás —, a geografia da região
amazônica era caracterizada por dois ambientes bem distintos.Na porção ocidental da Amazônia (abrangendo a maior parte do estado do Amazonas e áreas do Peru e da Colômbia), existia uma grande área alagada com lagos rasos, rios e pântanos, que eventualmente era conectada com o mar por uma passagem situada no território onde hoje se encontra a Venezuela.
Já na porção oriental (estado do Pará e a parte
este do estado do Amazonas), existia uma rede de drenagem que alimentava um rio
que corria de oeste para leste e desaguava no Atlântico na mesma posição onde
hoje está a foz do Amazonas. Esse rio foi chamado pelos autores do trabalho de
protorrio Amazonas.
Conexão dos dois sistemas
O rio Amazonas se formou a partir da conexão desses dois sistemas, acontecida por volta de 11 milhões de anos atrás. Essa conexão foi feita em decorrência de dois fenômenos geológicos ocorridos nesta época.Por um lado, existiu um intenso soerguimento do setor norte da cordilheira dos Andes, que acabou por erguer levemente toda a porção ocidental da Amazônia. Com isso, a vasta área alagada que existiu nessa região durante o Mioceno médio e inferior foi parcialmente assoreada e deslocada para o leste, em direção ao protorrio Amazonas.
O surgimento do rio resultou no desenvolvimento de um
ambiente completamente novo
Na mesma época, a massa de gelo na calota polar da Antártica aumentou
drasticamente e provocou uma queda global no nível dos mares. Esse rebaixamento
marinho global fez com que o protorrio Amazonas escavasse mais profundamente o
seu leito. Com isso, sua cabeceira migrou para o oeste em direção à vasta área
alagada da Amazônia ocidental. Em um determinado ponto, por volta de 11 milhões
de anos atrás, houve a conexão dos dois sistemas e a origem do rio Amazonas
como um rio transcontinental.O surgimento do rio resultou no desenvolvimento de um ambiente completamente novo. Como consequência, houve uma alteração no hábitat das plantas e animais nativos.
Uma nova fauna
Embora adequada para algumas espécies, a mudança foi inapropriada para outras. A fauna aquática — rica em moluscos e pequenos crustáceos, característica da Amazônia enquanto foi um grande pantanal — desapareceu à medida que a região ganhava novas configurações.“Apenas um pequeno grupo de espécies, que estava apto a viver no ambiente mais dinâmico formado com o rio, conseguiu sobreviver”, explicou à CH On-line Carina Hoorn durante sua passagem pelo Brasil no início deste ano. Botos, arraias e outros animais tipicamente marinhos que vivem hoje na Amazônia descendem de criaturas que tiveram de evoluir para sobreviver em um ambiente de água doce, após a conexão com o mar desaparecer.
O rio Amazonas só ganhou sua forma atual há cerca de 2,4
milhões de anos
“O canal amplo e raso do período Mioceno inferior deu lugar a outro, mais conciso”, afirma a pesquisadora. Conforme o rio direcionava-se ao oceano, muitos dos lagos que predominavam na região amazônica foram drenados e o depósito de sedimentos oriundos dos Andes na costa brasileira aumentou.
Júlia Faria
Ciência Hoje On-line
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