A história evolutiva dos dentes
Até que ponto conservamos as características de nossos antepassados? E o que nossos dentes podem dizer sobre nós?
As Teorias da Evolução não são novidade para ninguém. Todos aprendemos desde os tempos de escola que somos “descendentes” dos macacos.
Ao longo das eras, os seres vivos precisaram se adaptar ao meio ambiente para garantirem sua sobrevivência. Será que, depois de tantos anos de existência, nossos dentes continuam da mesma maneira que eram na pré-história?
Nem tudo mudou
A maioria das pessoas possui a ideia de que carregamos muito pouco das características de nossos ancestrais. Entretanto, muitas coisas são mantidas.
Durante a pré-história, a dentição era muito mais utilizada do que hoje em dia, o que não é novidade. Os alimentos eram mais duros, nem sempre eram cozidos, mais difíceis de mastigar e, consequentemente, exigiam um esforço maior da dentição.
Para que os dentes pudessem cumprir bem seu papel de cortar e triturar os alimentos, bem como suas funções paramastigatórias, a arcada dentária encontrava-se no padrão denominado “alternação”. Nesse padrão, cada dente inferior relaciona-se diretamente com o superior de mesmo número e com o dente ao lado deste.
Mesmo com a mudança na função dos dentes hoje em dia – já que antes eles também eram utilizados para perfurar e rasgar, e não apenas mastigar e triturar – o padrão de dentição utilizado pelos homens da pré-história permanece o mesmo. É uma das heranças que carregamos de nossos ancestrais.
Arcadas em padrão "alternação"
A dentição do ser humano e dos outros primatas é bastante parecida. Assim como o homem, o chimpanzé também possui 32 dentes divididos em duas arcadas de 16 cada um. A arcada dentária do primeiro hominídeo – surgido há mais de 4 milhões de anos – possui grandes semelhanças com a do Homo sapiens, quando levamos em consideração o número de dentes.
Comparação das arcadas dentárias de chimpanzé,
do hominídeo A. afarensis e do Homem moderno.
Onde estão as diferenças
É claro que com o passar dos anos nossa dentição sofreu algumas mudanças, ela não permanece a mesma há 4 milhões de anos. Podemos citar, entre as diferenças existentes, os dentes caninos.
Os homens não possuem os caninos acentuados desde cedo, como acontece com os chimpanzés – e com outras espécies de primatas – que utilizam esses dentes para competir entre os membros do grupo e impor dominância.
Tanto os caninos como os outros dentes dos seres humanos costumam ser menores e menos especializados, prova de uma sociedade menos competitiva, pelo menos nesse quesito. Eles foram diminuindo ao longo da evolução dos hominídeos, desde o Australopithecus anamensis até o Homo sapiens.
Outro ponto marcante na arcada dentária dos seres humanos são os molares com cinco saliências ou coroas, enquanto os mesmos dentes nos macacos apresentam apenas quatro.
A mandíbula dos seres humanos também é menor quando comparada à dos macacos. A diminuição do tamanho da mandíbula coincide com o início da utilização do fogo, que passou a exigir um esforço menor da arcada dentária.
Se não fosse a utilização do fogo, nossa estrutura dentária nos manteria restritos a uma dieta de frutos e outros alimentos fáceis de mastigar. O fogo nos permitiu ter uma dieta mais variada, inclusive com carnes e grãos duros.
O caminho das pesquisas
A evolução dos dentes ao longo da História é um assunto bastante pesquisado. Só no Brasil – que não é um país tão rico em fósseis quando comparado a países como Chile, Argentina ou Mongólia – são inúmeras as pesquisas que abordam esse assunto.
O professor Sérgio Line da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) é um dos grandes nomes quando se fala em pesquisas nessa área. Nos últimos 10 anos, Sérgio tem se dedicado ao estudo das estruturas dos dentes, principalmente o esmalte.
Os estudos do professor da FOP o levaram a descobrir que as bandas presentes no esmalte dos dentes são únicas para cada pessoa. Ou seja, cada ser humano possui sua impressão digital e sua impressão dental (Clique aqui para conhecer mais sobre essa técnica).
Sequência de identificação de impressão dental.
Além de servir como fonte de identificação de cada indivíduo, a análise do esmalte dentário pode ajudar, e muito, a descobrir o período ao qual o ser vivo em questão pertence.
A partir de seus estudos, Sérgio Line chegou à conclusão que alguns mamíferos herbívoros que viveram há mais de 60 milhões de anos só conseguiram aumentar de tamanho graças a uma adaptação no esmalte dos dentes.
Após a extinção dos dinossauros, os mamíferos passaram a colonizar o planeta. Sem seus piores predadores, eles passaram a viver mais e, consequentemente, ficaram maiores. Isso exigiu que esses animais consumissem mais energia.
Pampatério - tatu gigante que habitou o planeta
há 60 milhões de anos.
Como a alimentação é a principal fonte de aquisição de energia, a dentição passou a ser mais exigida e foi necessária uma adaptação para suportar o desgaste. Foi justamente para suportar esse desgaste que o esmalte dos dentes desses mamíferos era composto por bandas verti-cais, enquanto o mais comum são bandas horizontais.
As bandas verticais no esmalte são mais resistentes à abrasão, além de retardarem o desgaste dentário. Essa é uma adaptação bastante rara, já que, com exceção do rinoceronte, todos os mamíferos encontrados hoje em dia apresentam bandas horizontais.
Esse estudo realizado por Sérgio Line juntamente com a professora Lílian Paglarelli Bergqvist da UFRJ foi publicado na revista norte-americana Journal of Vertebrate Paleontology, em dezembro de 2005. Ainda há muito a ser pesquisado e, quanto mais caminhamos, mais chegamos à conclusão de que, por trás dos dentes, há muito mais informações do que pensamos.
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