Acidificação dos oceanos deve se intensificar nas próximas décadas
21 de fevereiro de 2019
Elton Alisson | Agência FAPESP –
Considerado um dos fenômenos que mais afetam os oceanos atualmente, a
acidificação oceânica só foi mencionada pelo Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em seu quinto relatório de avaliação
(AR5), publicado em 2013 – o primeiro relatório é de 1990.
Assunto deverá ganhar destaque no
próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas, afirma pesquisador da Avaliação Mundial dos Oceanos da ONU
que participa de Escola São Paulo de Ciência Avançada (foto: Marshall Arts Studio / Pixabay)
O órgão da ONU destaca no Sumário para formuladores de políticas públicas do AR5 que o oceano tem absorvido cerca de 30% do dióxido do carbono atmosférico (CO2) emitido pela ação humana (antropogênico).
O aumento da concentração e da dissolução de CO2 tem
diminuído o pH da água superficial dos oceanos desde o início da era
industrial e aumentado sua acidez, afirmaram os autores do relatório. A
partir de então, a acidificação dos oceanos passou a integrar todos os
cenários de mudanças futuras do clima do AR.
O tema deve ganhar ainda mais destaque no AR6 – previsto para ser
finalizado em 2021 – e no Relatório Especial sobre o Oceano e a
Criosfera em um Cenário de Mudanças Climáticas, que deve ser finalizado
pelo IPCC em setembro de 2019, estimou Jake Rice, membro do grupo de
especialistas da Avaliação Mundial dos Oceanos da ONU.
Especialista em ecologia e biologia marinha, conselheiro e
cientista-chefe do Departamento de Pesca e Oceanos do Canadá, Rice é um
dos pesquisadores convidados da São Paulo School of Advanced Science on Ocean Interdisciplinary Research and Governance. O evento, realizado pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), com apoio da FAPESP, ocorre até 25 de agosto no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.
“Há uma confiança muito alta de que a acidificação dos oceanos tem
aumentado e têm sido bastante documentado os efeitos desse fenômeno em
organismos marinhos que dependem de carbonato de cálcio para seus
processos de calcificação”, disse Rice.
“As séries temporais de observação dos oceanos, que permitiriam
estimar a taxa e a trajetória desse fenômeno ao longo das últimas
décadas, contudo, são muito curtas. As de acidez oceânica em águas
costeiras, por exemplo, datam de pouco antes de 2005”, disse.
De acordo com o pesquisador, os modelos de sistemas terrestres
projetam um aumento global na acidificação e diminuição no pH oceânico
em todos os cenários de emissão e concentração de gases de efeito
estufa, mas com grandes e incertas variações regionais e locais.
Os países em desenvolvimento e as pequenas ilhas dos trópicos, que
dependem de recursos marinhos, serão os mais afetados diretamente ou
indiretamente pelo fenômeno.
Os impactos negativos da acidificação oceânica devem variar de
mudanças na fisiologia e comportamento dos organismos (como moluscos) e
na dinâmica populacional e afetarão os ecossistemas marinhos (como os
recifes de corais), durante séculos se as emissões de CO2 continuarem no ritmo atual. Mas há uma série de outros impactos, muitos dos quais ainda não compreendidos, ponderou Rice.
“A acidificação dos oceanos ilustra vários dos desafios que temos
enfrentado em ciência do oceano. É preciso mais dados que nos permitam
estabelecer relações entre as propriedades físicas de sistemas
dinâmicos, com impactos biológicos nos ecossistemas e na sociedade”,
disse.
Na opinião do canadense, um dos fatores que tornam mais difícil fazer
ciência dos oceanos em comparação com as ciências da terra é a maior
facilidade em entender a dinâmica terrestre porque vivemos em terra.
Dessa forma, é possível ver e analisar diretamente como o sistema
terrestre funciona.
“Nossa compreensão do oceano precisa prestar mais atenção às
evidências e menos à percepção de que é possível entendê-lo por analogia
ou inferência do conhecimento sobre a terra e seus sistemas
biofísicos”, disse Rice.
Mais informações sobre a São Paulo School of Advanced Science on Ocean Interdisciplinary Research and Governance: http://espca.fapesp.br/escola/72.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.