Mar Morto está secando, e pode até desaparecer
Mar Morto está secando, e pode até desaparecer
Para começar, o Mar Morto não é um mar,
mas um imenso lago com dimensão de 82 quilômetros de comprimento por 18
de largura. E fica num lugar complicado do ponto de vista geopolítico:
o Oriente Médio. Sua costa oriental pertence à Jordânia, e a metade sul
a Israel. A metade norte fica dentro da Cisjordânia Palestina e está
sob ocupação israelense desde a guerra árabe-israelense de 1967.
Sua localização exata não o favorece
Sua localização exata não o favorece. O
Mar Morto está situado 400 metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo, o
ponto mais baixo da Terra. O nome vem em razão da brutal quantidade de
sal de suas águas, o que torna a vida impossível, exceto para bactérias.
Segundo o mundo educação, “estima-se que sejam 300 gramas de
sais para cada litro de água, sendo que a quantidade considerada normal
nos oceanos é de 35 gramas para cada litro de água.” Mas esta situação
complicada é o que fez dele uma atração turística, agora ameaçada.
A formação do Mar Morto
A britânica explica:”O
rio Jordão, de onde o Mar Morto recebe quase toda a sua água, flui do
norte para o lago. Por várias décadas, em meados do século XX, o valor
padrão dado para o nível da superfície do lago ficou cerca de 400 metros
abaixo do nível do mar.
No entanto, a partir da década de 1960, Israel e
Jordânia começaram a desviar grande parte do fluxo do rio Jordão e
aumentaram o uso da água do lago para fins comerciais. O resultado
dessas atividades foi uma queda vertiginosa no nível da água do Mar
Morto. Em meados de 2010, a medição do nível do lago estava a mais de 30
metros abaixo da figura de meados do século 20 – ou seja, cerca de 430
metros abaixo do nível do mar.”
Tempos bíblicos
Ainda de acordo com a britânica,
“Durante os tempos bíblicos e até o século VIII d.C, apenas a área ao
redor da bacia norte era habitada, e o lago era um pouco menor do que o
nível atual. Chegou ao seu nível mais alto, 389 metros abaixo do nível
do mar, em 1896. Mas recuou novamente após 1935, estabilizando-se a
cerca de 400 metros abaixo do nível do mar por várias décadas.”
Formação geológica do Mar Morto
Britânica: “Durante a época do
mioceno (23 a 5,3 milhões de anos atrás), quando a placa tectônica da
Arábia colidiu com a placa da Eurásia, o levante do fundo do mar
produziu as estruturas dobradas das terras altas da Transjordânia e da
faixa central da Palestina, causando as fraturas que permitiu que um
bloco avariado da crosta terrestre onde se situa o Mar Morto caísse.
Pleistoceno
Durante a Época do Pleistoceno
(2.588.000 a 11.700 anos atrás), subiu a uma altitude de cerca de 200
metros acima do seu nível moderno, formando um vasto mar interior que se
estendia a 320 km da área do vale de H̱ula. O Mar Morto não transbordou
para o Golfo de Aqaba porque foi bloqueado por uma elevação de 30
metros na parte mais alta de Wadi Al-abArabah, um curso de água sazonal
que flui em um vale a leste do planalto central do Negev.”
O que acontece hoje?
Ainda a britânica: “Como a água
no lago evaporou mais rapidamente do que foi reabastecida pela
precipitação nos últimos 10.000 anos, o lago encolheu gradualmente para
sua forma atual. Outra consequência resultante do nível mais baixo do
Mar Morto é o surgimento de poços, especialmente na parte sudoeste. À
medida que a água no lago desaparecia, tornou-se possível que as águas
subterrâneas subissem e dissolvessem grandes cavernas subterrâneas na
camada salina que fica sobreposta até a superfície finalmente entrar em
colapso.”
O processo é parecido com a extração de sal no Rio Grande do Norte,
responsável pela produção de 90% do sal consumido no País. Os
produtores represam água salgada que, por causa do forte calor, do
vento, e da pouca chuva, acaba evaporando.
Um pouco de história: os Manuscritos do Mar Morto
Este corpo d’água faz parte da história da humanidade desde priscas eras. Segundo a britânica,
“o nome Mar Morto pode ser rastreado pelo menos até a Era Helenística
(323 a 30 aC). As figuras do Mar Morto nos relatos bíblicos datam da
época de Abraão (primeiro dos patriarcas hebreus) e a destruição de
Sodoma e Gomorra. O deserto desolado ao lado do lago ofereceu refúgio a
Davi (rei do antigo Israel) e, mais tarde, a Herodes I (o grande; rei da
Judeia), que na época do cerco de Jerusalém pelos partos em 40 a.C. se
abrigou em uma fortaleza em Massada, Israel.”
Suicídio em massa
“Massada foi palco de um cerco de dois
anos que culminou no suicídio em massa de seus defensores judeus zelotes
e na ocupação da fortaleza pelos romanos em 73 EC. A seita judaica que
deixou os manuscritos bíblicos conhecidos como Manuscritos do Mar Morto
se refugiou em cavernas em Qumrān, a noroeste do lago.”
Dentro de 30 ou 40 anos, o Mar Morto pode desaparecer
O site https://www.a12.com/ diz que “o alerta foi lançado por um grupo de especialistas em um editorial publicado pelo Jordan Times.
O presidente da Jordan Geologists Association, Sakher Nsour, aponta
que o Mar Morto é ‘um fenômeno geológico único, que corre o risco de
desaparecer nas próximas décadas’. A partir dos últimos relatórios
ambientais, constatou-se que o nível da água está diminuindo a uma taxa
de um metro e meio por ano. E que, nos últimos 40 anos, o volume total
da bacia foi reduzido em 35%.”
Mineração e outros usos
A Folha de S. Paulo também
abordou o tema. A retração do Mar Morto é fato, mas o jornal chama a
atenção para a oportunidade que se abre. Com a retração, abrem-se enorme
buracos. nas margens. “Hoje há um total de 6,5 mil crateras ao longo
das bordas”. A Folha explica que isso acontece pelas razões já
mencionadas, a grande evaporação e a escassez de água em razão do uso
para fins agrícolas ‘e para obtenção de água potável necessária para uma
crescente população em Israel’. Para o jornal, outros dos motivos é a
mineração na região. Segundo a Folha, ‘ambientalistas atribuem a
situação a uma gestão hídrica falha no Oriente Médio, onde a
instabilidade política impede o consenso para acordos internacionais que
possam refrear o fenômeno’.
A oportunidade
A BBC ouviu o pesquisador Eli
Raza, que estuda os poços há 17 anos. Ele tem levado grupos para
visitarem as crateras. E diz: “a crise hídrica deve servir para que as
pessoas conheçam a crise do Mar Morto, para que entendam o que
acontece”. E arremata: “as pessoas que vêm aqui ficam impressionadas com
o cenário que é muito lindo.” Para Raz, ‘disponibilizar uma forma
segura de chegar a esses locais seria um modo de mostrar ao mundo o que
acontece, e, além disso, reativar o turismo’. A Folha encerra,
porém, com um alerta: “Por enquanto a região só tem colhido revezes
turísticos da tragédia ambiental: nos últimos anos, duas das mais
turísticas praias na área e o resort Mineral Beach foram fechados por
culpa da retração do mar.”
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