Quanta vida na Terra?
Robert May é um biólogo especulador. Mas que gosta de especular com bons fundamentos. Um de seus artigos mais interessantes tem o seguinte título “How many species are there on Earth?” (“Quantas espécies existem na Terra?”). Por espécies se entende espécies biológicas. Este artigo, disponível livremente, é um belo exercício intelectual para se conhecer a grandeza da vida no nosso estimado planeta.
Mas May também gosta de apreciar as brincadeiras alheias com números deste tipo. E de fornecer dados sem citar referências. Em seu mais recente artigo, “Tropical Arthropod Species, More or Less?”, May inicia suas divagações sobre quais impressões teriam extra-terrestres ao chegar na Terra. Segundo ele (May), estes teriam como primeira curiosidade saber quantas formas distintas de vida existem na Terra. Embora eu não concorde com este questionamento de May (acho que extra-terrestres teriam mais curiosidade em saber que TIPOS de vida existem na Terra), entendo a introdução de seu artigo como uma provocação sobre a nossa (humanos, terráqueos) própria ignorância sobre este assunto. Afinal, ao afirmar que “um terço dos taxonomistas trabalham com vertebrados (1% de todas as espécies biológicas), outro terço dos taxonomistas com plantas (cerca de 10% de todas as espécies biológicas), e o último terço com invertebrados (cerca de 90% de todas as espécies)”, May está querendo dizer que há pouca gente para conhecer tanta diversidade biológica. May acredita que o número total de espécies biológicas classificadas seja de 1,6 a 1,7 milhões, com cerca de 15.000 a mais a cada ano. Ao se levar em conta um número (bem conservador) de 3 milhões de espécies vivas, no total, estamos longe de conhecer a diversidade biológica da Terra.
May se detém na análise realizada por Hamilton e seus colaboradores, que se utilizou de estimativas e abordagens estatísticas modernas para estimar o número de artrópodes da Terra. Segundo a Wikipédia,
Os Artrópodes (do grego arthros: articulado e podos: pés, patas, apêndices) são animais invertebrados caracterizados por possuírem membros rígidos e articulados. São o maior grupo de animais existentes, representados pelos gafanhotos (insetos), aranhas (arachnida), caranguejos (crustáceos), centopeias (quilópodes) e embuás (diplópodes), somam mais de um milhão de espécies descritas (apenas mais de 890.000 segundo outros autores). Mais de 4/5 das espécies existentes são Artrópodes que vão desde as formas microscópicas de plâncton com menos de 1/4 de milímetro, até crustáceos com mais de 3 metros de espessura.
Hamilton e seu time partiram das idéias de Erwin, que tentou estimar o número de espécies de besouros (o maior grupo dos artrópodes) depois de realizar um estudo da distribuição vertical destes animais sobre uma única espécie de árvore tropical. Erwin estimou o número de espécies de artrópodes tropicais entre 30 e 100 milhões. A escolha de Erwin baseou-se no fato que a diversidade de artrópodes, em particular de besouros, nas regiões tropicais é muito maior do que em outras regiões da Terra. Já o time de Hamilton realizou vários estudos sobre a distribuição de besouros e outros artrópodes em árvores de diferentes países, como a Nova Guiné (na África; ou seria Papua Nova Guiné, no Pacífico Sul, perto da Indonésia?), Brasil, Panamá, Venezuela, Sulawesi, entre outros países.
Erwin estimou que 40% dos artrópodes seriam besouros. Os estudos do time de Hamilton levaram à conclusão, utilizando técnicas modernas e sofisticadas de análise estatística, que o número de besouros corresponderia de 22 a 60% dos artrópodes. Na média, muito próximo do resultado de Erwin. Este estimou que o número aproximado de árvores tropicais seria de 50.000. Hamilton e seus colaboradores chegaram a uma estimativa entre 43.000 e 50.000. A principal diferença nos resultados dos dois estudos, publicados com um intervalo de 28 anos, é que os besouros parecem ser muito menos especializados (segundo Hamilton) do que pareciam ser (segundo Erwin). Ou seja, besouros podem se alimentar em várias árvores de espécies diferentes, e não sempre na mesma e única espécie de árvore. Desta forma, o número de espécies de artrópodes estimado pelo grupo de Hamilton é bem menor do que entre 30 e 100 milhões (estimado por Erwin). Segundo Hamilton, este número estaria próximo de 3,7 milhões de espécies, com 90% de probabilidade de estar entre 2,0 e 74 milhões de espécies, quando se utilizou de um primeiro modelo de análise. Para um segundo modelo de análise, o número foi estimado de 2,5 milhões de espécies de artrópodes, com 90% de probabilidade de se situar entre 1,1 e 5,4 milhões de espécies (de artrópodes).
De acordo com os resultados apresentados por Hamilton (e discutidos por May), cerca de 2/3 das espécies de artrópodes da Terra ainda não foram descritas. Segundo May, este número seria um reflexo da distribuição desigual de taxonomistas para a descrição dos diferentes grupos de organismos vivos. Mas por outro lado, também que as agências financiadoras consideram taxonomia uma “ciência menor, apenas descritiva, e pouco geradora de conhecimento associado”. Por isso que a taxonomia é uma ciência em vias de extinção. E, em paralelo, as espécies biológicas também, mas não sabemos ao certo quantas nem quais.
May, R. (2010). Tropical Arthropod Species, More or Less? Science, 329 (5987), 41-42 DOI: 10.1126/science.1191058May se detém na análise realizada por Hamilton e seus colaboradores, que se utilizou de estimativas e abordagens estatísticas modernas para estimar o número de artrópodes da Terra. Segundo a Wikipédia,
Os Artrópodes (do grego arthros: articulado e podos: pés, patas, apêndices) são animais invertebrados caracterizados por possuírem membros rígidos e articulados. São o maior grupo de animais existentes, representados pelos gafanhotos (insetos), aranhas (arachnida), caranguejos (crustáceos), centopeias (quilópodes) e embuás (diplópodes), somam mais de um milhão de espécies descritas (apenas mais de 890.000 segundo outros autores). Mais de 4/5 das espécies existentes são Artrópodes que vão desde as formas microscópicas de plâncton com menos de 1/4 de milímetro, até crustáceos com mais de 3 metros de espessura.
Erwin estimou que 40% dos artrópodes seriam besouros. Os estudos do time de Hamilton levaram à conclusão, utilizando técnicas modernas e sofisticadas de análise estatística, que o número de besouros corresponderia de 22 a 60% dos artrópodes. Na média, muito próximo do resultado de Erwin. Este estimou que o número aproximado de árvores tropicais seria de 50.000. Hamilton e seus colaboradores chegaram a uma estimativa entre 43.000 e 50.000. A principal diferença nos resultados dos dois estudos, publicados com um intervalo de 28 anos, é que os besouros parecem ser muito menos especializados (segundo Hamilton) do que pareciam ser (segundo Erwin). Ou seja, besouros podem se alimentar em várias árvores de espécies diferentes, e não sempre na mesma e única espécie de árvore. Desta forma, o número de espécies de artrópodes estimado pelo grupo de Hamilton é bem menor do que entre 30 e 100 milhões (estimado por Erwin). Segundo Hamilton, este número estaria próximo de 3,7 milhões de espécies, com 90% de probabilidade de estar entre 2,0 e 74 milhões de espécies, quando se utilizou de um primeiro modelo de análise. Para um segundo modelo de análise, o número foi estimado de 2,5 milhões de espécies de artrópodes, com 90% de probabilidade de se situar entre 1,1 e 5,4 milhões de espécies (de artrópodes).
De acordo com os resultados apresentados por Hamilton (e discutidos por May), cerca de 2/3 das espécies de artrópodes da Terra ainda não foram descritas. Segundo May, este número seria um reflexo da distribuição desigual de taxonomistas para a descrição dos diferentes grupos de organismos vivos. Mas por outro lado, também que as agências financiadoras consideram taxonomia uma “ciência menor, apenas descritiva, e pouco geradora de conhecimento associado”. Por isso que a taxonomia é uma ciência em vias de extinção. E, em paralelo, as espécies biológicas também, mas não sabemos ao certo quantas nem quais.