sábado, 23 de novembro de 2013

Aquífero Guarani é percebido na serra catarinense


O Aquífero Guarani é um dos maiores mananciais de água doce do mundo. Localizado na América do Sul, ele ocupa parte dos territórios da Argentina, do Brasil, do Paraguai e do Uruguai.

Segundo informações da Prefeitura de Urubici, a área do Aquífero é de 1,2 milhão de km² e ele está presente em 47 municípios de Santa Catarina.
g1-aquifero-guarani-serra-catarinenseNa Serra, os visitantes podem perceber na prática a presença do aquífero. Na região da Serra do Corvo Branco, as pedras existentes no local dão as condições necessárias para ajudar na formação do maior aquífero do mundo, o Guarani, e também o maior em território Brasileiro, o Aquífero Serra Geral.
Um dos pontos mais característicos da estrada da Serra do Corvo Branco, que faz parte da rodovia SC-439, entre Urubici e Grão Pará, é a garganta, onde a estrada corta dois paradões de pedra paralelos, com cerca de 90m cada. O trecho, segundo informações passadas pela Prefeitura de Urubici, é considerado o maior corte em rocha arenítica do Brasil.

Do lado esquerdo o paredão é úmido e do lado direito é seco. Isso se justifica por causa da inclinação leste-oeste do Arenito Botucatu, que forma o Aquífero Guarani. No local, uma placa explica como perceber a presença do aquífero. "Chegando ao meio da descida, observe uma faixa estreita de rocha mais escura, que rasga o arenito de baixo para cima. Esta rocha é o dique de basalto, chamado também de Formação Serra Geral, que cobre toda a extensão do arenito, confinando e alimentando o Aquífero Guarani".
As pedras porosas, que absorvem a água, trabalham como filtros e reservatórios de água. "É uma zona de armazenamento, estes poros seguram a água. Mesmo que não chova, vai continuar correndo água nos rios por muito tempo. Este aquífero é de uma importância enorme, é dele que nós bebemos água", explica o doutor em geografia Jordan Wallauer.

Rochas ajudam na formação dos aquíferos

A Serra do Corvo Branco, localizada entre Urubici e Grão-Pará, na Serra catarinense, foi formada ao longo de 200 milhões de anos. "O local deve ser preservado por todo o conjunto: tem nascente, tem vegetação, tem plantas endêmicas e também pela beleza natural", explica Martha Wallauer, mestre em engenharia ambiental.

Há duas explicações para a origem do nome da estrada. A primeira, por causa de uma pedra semelhante a um corvo. A segunda, por causa do urubu-rei, ave de plumagem branca que foi, erroneamente, chamada de corvo.

"O local se formou a partir do erguimento do arenito botucatu, da saída da lavas e do basalto, formando camadas e sendo levantado pelo movimento do continente em direção à oeste e pela formação dos Andes", explica o doutor em geografia Jordan Wallauer.
As pedras existentes no local dão as condições necessárias para ajudar na formação do maior aquífero do mundo, o Guarani, e também o maior em território Brasileiro, o Aquífero Serra Geral. As pedras porosas, que absorvem a água, trabalham como filtros e reservatórios de água.

G1- Santa Catarina - 19/11/2013

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O supermacaco das Américas

Paleontólogos reconstroem o estilo de vida versátil do Cartelles coimbrafilhoi, o maior símio que já habitou o continente 

IGOR ZOLNERKEVIC | Edição 213 - Novembro de 2013

Há mais de 15 mil anos viveu onde hoje é o Brasil um macaco duas vezes maior que o muriqui, o maior macaco vivo no Novo Mundo. A prova da existência desse supermacaco das Américas é um esqueleto fóssil quase completo, descoberto em 1992 em uma caverna no município de Campo Formoso, no interior da Bahia. Descrito pelo paleontólogo Cástor Cartelle, hoje pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), o fóssil do supermacaco foi analisado em detalhes mais recentemente por Lauren Halenar e Alfred Rosenberger, paleontólogos da Universidade da Cidade de Nova York (CUNY). Lauren e Rosenberger concluíram que a espécie, batizada este ano de Cartelles coimbrafilhoi, explorava o chão da floresta tão bem quanto um chimpanzé.

Ao mesmo tempo, apesar do tamanho avantajado, esse macacão podia escalar as árvores e se pendurar em seus galhos com a mesma habilidade, embora um pouco mais lentamente, que as espécies menores de sua família – a dos Atelidae, à qual pertencem o bugio, o macaco-aranha, o macaco-barrigudo e o muriqui. “O Cartelles provavelmente não se movia ou se comportava como nenhuma espécie de macaco do Novo Mundo viva hoje”, diz Lauren.

O fóssil do Cartelles coimbrafilhoi, segundo os pesquisadores, é um dos mais importantes para reconstituir a história evolutiva, ainda pouco conhecida, dos macacos dessa região. A classificação desse fóssil em uma nova espécie – na verdade, gênero e espécie – eleva para quatro o número de espécies de macacos que viveram na América do Sul no final do Pleistoceno e hoje estão extintos. A descoberta de novos fósseis, como os encontrados nos últimos anos por Rosenberger e colaboradores em cavernas submersas da República Dominicana, deve ajudar a completar esse quadro, que ainda tem como peça importante o macaco achado em Campo Formoso em 1992.

Naquele ano, explorando um pequeno trecho da Toca da Boa Vista, que tem 110 quilômetros de extensão e é considerada a maior caverna do hemisfério Sul, uma equipe de espeleólogos encontrou um dos esqueletos e avisou ao grupo de Cartelle, que achou dois esqueletos fósseis de macacos bastante completos, com mais de 90% dos ossos preservados. Os animais devem ter vivido em campos e florestas ao redor da caverna em algum momento, entre 360 mil e 15 mil anos atrás, no final do período geológico chamado Pleistoceno. Logo após a morte dos bichos, suas carcaças devem ter sido levadas por fortes enxurradas para o interior da caverna, onde seus ossos foram preservados. “Encontrar um esqueleto quase completo de qualquer táxon [grupo de organismos] é muito raro”, Lauren comenta.

As primeiras descrições desses fósseis foram publicadas em 1996, em dois artigos científicos escritos por Cartelle e pelo paleontólogo norte-americano Walter Hartwig, da Universidade Touro, na Califórnia. O esqueleto detalhado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) não representou grande desafio. Estudos posteriores confirmaram que a espécie, chamada de Caipora bambuiorum, foi uma versão maior do atual macaco-aranha. Embora pesasse cerca de 20 quilos (o dobro de um macaco-aranha), o Caipora devia se mover de maneira muito parecida, sendo capaz de usar tanto braços e pernas quanto sua cauda preênsil para se deslocar com agilidade entre os galhos das árvores.
Mais enigmático era o outro esqueleto, descrito por Hartwig e Cartelle na Nature. Os pesquisadores concluíram que a hipótese mais provável era que se tratava de um segundo fóssil de uma espécie descoberta um século e meio antes em uma caverna no município de Lagoa Santa, Minas Gerais, a mais de 1.200 quilômetros da Toca da Boa Vista. Em Lagoa Santa, o paleontólogo dinamarquês Peter Lund encontrou em 1836 um fragmento de fêmur e um pedaço de osso do braço, que ele identificou como o primeiro fóssil de primata descoberto na história. O Protopithecus brasiliensis é mencionado por Charles Darwin em seu clássico de 1859, Sobre a origem das espécies, e as estimativas mais recentes sugerem que pesava até 24 quilos.

Cartelle conta, no entanto, que sempre desconfiou que era preciso confirmar se os dois fósseis eram mesmo do Protopithecus. Ele e Hartwig haviam comparado o esqueleto da Toca da Boa Vista com fotos dos fragmentos do Protopithecus brasiliensis, guardados no Museu de História Natural da Dinamarca. Os dois pesquisadores haviam notado pequenas diferenças entre os fósseis, mas as interpretaram como variação natural entre indivíduos da mesma espécie. “Pensava comigo que iria um dia à Dinamarca examinar melhor”, conta Cartelle, que ainda não teve a oportunidade de realizar a viagem.

O suposto Protopithecus da Toca da Boa Vista apresentava ainda uma combinação muito estranha de características para os pesquisadores. Em seu doutorado concluído em 2005, a bióloga Patrícia Guedes, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, concluiu que a dentição do fóssil, embora um pouco desgastada, reunia características de duas subfamílias dos Atelidae: a dos Alouattinae e a dos Atelinae. Ela observou ainda que a forma do crânio era semelhante à dos outros Alouattinae, subfamília a que pertencem os bugios, enquanto seus dentes pareciam mais com os da subfamília dos Atelinae, a mesma do macaco-aranha, do macaco-barrigudo e do muriqui. Outros estudos, tanto do crânio quanto do resto do corpo, também sugeriam que a espécie misturava características dessas duas subfamílias, separadas há mais de 12,9 milhões de anos.

Para tentar resolver essas contradições, Rosenberger propôs a Lauren, então sua estudante de doutorado, que dedicasse sua tese a esmiuçar completamente os fósseis do P. brasiliensis de Lagoa Santa e da Toca da Boa Vista. Durante algumas semanas em Copenhague e em Belo Horizonte, ela mediu as formas e as dimensões dos ossos fossilizados, para depois comparar com os ossos de centenas de indivíduos de várias espécies de macacos atuais do acervo do Museu Americano de História Natural, em Nova York. O objetivo era determinar onde os fósseis se encaixavam na árvore filogenética dos macacos e deduzir como eles se movimentavam, a partir da forma de seus ossos. “Inferimos a função dos elementos do esqueleto de espécies extintas ao comparar a forma de seus ossos com a dos ossos de espécies vivas”, Lauren explica.
“Lauren notou imediatamente que alguns dos ossos eram bem diferentes anatomicamente”, lembra Rosenberger. Em artigo publicado neste mês no Journal of Human Evolution, ele e Lauren estão propondo que cada um dos fósseis atribuídos ao Protopithecus brasiliensis pertence, na realidade, a uma espécie diferente.

O P. brasiliensis de Lagoa Santa, segundo os pesquisadores, devia ser um atelíneo. Embora seja difícil afirmar qualquer coisa mais detalhada a seu respeito a partir de dois fragmentos de ossos, Lauren supõe que a espécie fosse como um muriqui, mas duas vezes maior. Já o esqueleto da Toca da Boa Vista era da mesma subfamília dos bugios, mas pertencente a um gênero diferente. Sua espécie foi batizada de Cartelles coimbrafilhoi, em homenagem a Cartelle, que há 50 anos estuda os mamíferos do Pleistoceno brasileiro – pelo menos quatro espécies extintas levam seu nome –, e a Adelmar Coimbra-Filho, um dos pioneiros da primatologia brasileira, que atuou para salvar o mico-leão-dourado da extinção.
Lauren estima que o Cartelles coimbrafilhoi pesava entre 25 e 28 quilos, o que faz dele a maior das quatro espécies de grandes macacos que viveram na América pleistocênica. O C. coimbrafilhoi media 1,67 metro do topo da cabeça à ponta da cauda e a base de seu crânio e sua mandíbula lembram as do macaco-barrigudo. Mas o formato geral do crânio se parece com o de um bugio, inclusive com o mesmo grande espaço próximo à garganta, que abriga o aparelho vocal desses macacos capazes de emitir urros audíveis a até 5 quilômetros de distância. Lauren explica, no entanto, que não é possível saber se o C. coimbrafilhoi urrava tão ou mais forte do que os bugios, pois a potência do chamado desses macacos não se relaciona de maneira simples com seu tamanho – ela depende também dos hábitos sociais de cada espécie e do ambiente em que vive.

O restante do esqueleto lembra o de um macaco-aranha, só que mais robusto. O formato de seus ossos sugere uma musculatura bem desenvolvida, adaptada para escalar e se dependurar. Hartwig e Cartelle já haviam proposto que o animal devia se sentir em casa no topo das árvores. Mas, por conta de seu tamanho, alguns pesquisadores descartaram a ideia, sugerindo que a espécie vivesse apenas no chão. De modo geral, apenas as espécies menores costumam ter um estilo de vida arborícola, pois os animais grandes correm mais risco de quebrar um galho e cair. Mas nem sempre é o caso. “O peso da grande maioria dos macacos arborícolas do Velho Mundo está na casa dos 10 quilos”, explica o primatólogo Stephen Ferrari, da Universidade Federal de Sergipe. “Entretanto, o maior primata arborícola, o orangotango, pode chegar aos 100.”

Além de ser bem menor que um orangotango, o Cartelles coimbrafilhoi talvez contasse ainda com a ajuda de sua grossa e longa cauda para se agarrar aos galhos, embora ainda faltem estudos biomecânicos para confirmar se a sua cauda podia ser usada como um quinto membro preênsil, capaz de se pendurar em galhos e sustentar o peso inteiro do animal, como fazem várias espécies vivas da família dos Atelidae.
Em todo caso, os ossos também indicam que a espécie tinha hábitos terrestres bem desenvolvidos. “Parece provável que o comportamento do Cartelles era mais parecido com o dos chimpanzés atuais, que são trepadores habilidosos, mas passam a maior parte de seu tempo no chão”, sugere Ferrari.

Patrícia concorda, lembrando que mesmo bugios e muriquis, normalmente arborícolas, às vezes exploram o chão. Recentemente a equipe da primatóloga Karen Strier, da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, registrou entre muriquis-do-norte vivendo em uma reserva particular protegida em Minas Gerais o desenvolvimento de hábitos terrestres. Em artigo publicado em 2012 na Plos One, Karen defende que a mudança de comportamento esteja ligada ao aumento da população, que passou de 60 para 300 indivíduos nos últimos 30 anos, e a falta de espaço para tantos macacos na reserva. Segundo a pesquisadora, ao aprender a explorar o chão, os muriquis encontraram mais comida e houve um aumento da taxa de natalidade, embora os animais também tenham se tornado mais vulneráveis ao ataque de predadores.
As quatro espécies extintas de macacos brasileiros – Cartelles coimbrafilhoi, Caipora bambuiorum, Protopithecus brasiliensis e Alouatta mauroi– conviveram com a megafauna, mamíferos de grande porte, como as preguiças-gigantes e os tigres-dente-de-sabre, que habitaram as Américas no Pleistoceno e podem ter sido extintos por causa das mudanças climáticas. “Espécies grandes de primatas são muito mais vulneráveis à extinção, não importa a causa”, Lauren explica.
Até o momento, não há como saber se alguma espécie de macaco atual descende da linhagem de algum desses grandalhões. “O trabalho de Lauren e Rosenberger chama atenção por mostrar a carência de dados disponíveis sobre a morfologia pós-craniana de primatas americanos”, comenta Patrícia. “Compreender a variação da morfologia dos platirrinos [grupo que inclui os macacos do Novo Mundo, com narinas distantes e voltadas para os lados] é muito importante para propor hipóteses de relacionamento entre eles e compreender a diversificação desses mamíferos na América do Sul.”

Um fim de ano bom

Equipe achou dois fósseis de primatas às vésperas do ano-novo
Ricardo Zorzetto

© ADRIANO GAMBARINI
O fotógrafo Adriano Gambarini registrou Cartelle (à esq.) e seus dois colaboradores durante coleta de fósseis em 1992 na  Toca da Boa Vista
O fotógrafo Adriano Gambarini registrou Cartelle (à esq.) e seus dois colaboradores durante coleta de fósseis em 1992 na Toca da Boa Vista

O ano de 1992 havia praticamente acabado quando Cástor Cartelle, paleontólogo especialista em preguiças extintas, fez uma das descobertas mais importantes da primatologia brasileira. Era 30 de dezembro e ele e dois colegas haviam caminhado duas horas por um labirinto de túneis, passagens estreitas e abismos para chegar ao salão da Toca da Boa Vista, onde estavam, lado a lado, os fósseis de duas das maiores espécies de macacos que viveram nas Américas no final do Pleistoceno. “Inicialmente pensei que fossem um macho e uma fêmea”, conta Cartelle, que mais tarde saberia que os fósseis pertenciam a espécies distintas, ainda não descritas.

Ele e seus colaboradores Mauro Ferreira e Rodrigo Lopes Ferreira não chegaram lá sozinhos. No dia anterior, quatro ou cinco integrantes do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas, uma equipe grande que durante anos mapeou a Toca da Boa Vista, havia começado a explorar um trecho da caverna chamado “além mundo”, avistado os fósseis e levado uma amostra ao acampamento, uma escola em Laje dos Negros, distrito de Campo Formoso. “Alguém, não lembro quem, trouxe um crânio e nos mostrou”, conta Rodrigo, à época estudante de biologia na UFMG que trabalhava com Cartelle. “Vimos que era de um macaco e pedimos para nos levarem aonde o tinham encontrado.”
© ADRIANO GAMBARINI
Um dos salões da caverna
Um dos salões da caverna

No dia 30 de dezembro, ao deparar com os fósseis, os pesquisadores se surpreenderam. “Estava um a cinco metros do outro e o estado de conservação era impressionante”, recorda Rodrigo. Por mais de oito horas ele, Cartelle e Mauro esquadrinharam o chão do local coletando tudo o que encontravam do esqueleto dos macacos, depois descritos como Caipora bambuiorum e Protopithecus brasiliensis (este, rebatizado agora de Cartelles coimbrafilhoi), e de um fóssil de preguiça.  Réplicas dos esqueletos estarão expostas no Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, que reabre em dezembro, depois de um incêndio no ano passado.

Na época em que viveram os macacos a região de Campo Formoso abrigava uma floresta tropical úmida, resultado do encontro da vegetação do Atlântico com a da Amazônia. Com o fim da última era glacial, o clima da região se tornou semiárido. No dia da coleta, ao calor e à secura da região se somaram as altas temperaturas da caverna. “Passamos um dia na antessala do purgatório”, conta Cartelle, “nunca suei tanto”. Até ele, que não bebe, naquela tarde tomou um ou dois copos de cerveja para comemorar.

Artigo científico

HALENAR, L. B. e ROSENBERGER, A. L. A closer look at the “Protopithecus” fossil assemblages: new genus and species from Bahia, Brazil. Journal of Human Evolution. v. 65, n.4, p. 374-90. out. 2013.

Fragmentação florestal afeta biodiversidade de aves

19/11/2013
Por Samuel Antenor

Agência FAPESP – Processos de deflorestação são conhecidos como obstáculos para a manutenção dos ecossistemas em florestas, mas suas consequências, distintas para espécies da flora e da fauna, podem ser ainda piores para determinados grupos de animais. É o que indica uma pesquisa liderada pelo professor Mauro Galetti, do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro.

Segundo a pesquisa, é este o caso das aves, cuja diversidade de espécies é ameaçada não apenas em circunstâncias de desmatamento de grandes áreas verdes para, por exemplo, a produção agroindustrial, mas também quando as matas são preservadas de forma não contínua e tecnicamente sem proximidade. Ou, ainda, quando não há conservação de áreas suficientemente densas para sua sobrevivência e reprodução.
Dados que relacionam a diminuição das matas à sobrevivência de diferentes espécies de aves – e a diminuição de aves como fator de declínio na taxa de dispersão de sementes – , parte de um projeto de pesquisa mais abrangente sobre a maneira como a fragmentação das florestas afeta essa biodiversidade, foram apresentados por Galetti no dia 12 de novembro durante a FAPESP Week na Carolina do Norte, em Raleigh, Estados Unidos.

O simpósio internacional – organizado pela FAPESP, pela University of North Carolina em Chapel Hill, pela University of North Carolina-Charlotte, pela North Carolina State University (NCSU) e pelo Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars, de Washington – reuniu pesquisadores dos dois países com o objetivo de intensificar o intercâmbio e ampliar as pesquisas conjuntas realizadas nos Estados de São Paulo e da Carolina do Norte.

Os dados da pesquisa, que também foram publicados na revista Science, fazem parte do Projeto Temático “Efeitos de um gradiente de defaunação na herbivoria, predação e dispersão de sementes: uma perspectiva na Mata Atlântica”, apoiado pela FAPESP e concluído em março no Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro.

Galetti e sua equipe se concentraram na investigação do comportamento de determinadas espécies de aves e de sua capacidade de evolução em ambientes que sofrem intensa ação humana, como nos remanescentes da Mata Atlântica na região Sudeste do Brasil.
O professor da Unesp também destacou a redução de um tipo específico de palmeira, a Euterpe edulis, em decorrência direta da exploração humana, reunindo informações presentes no artigo publicado na Science. O trabalho contou com a participação de 15 pesquisadores de oito instituições de São Paulo, Paraná, Pará, Rio de Janeiro, Goiás e também do México e da Espanha.
A palmeira descrita na palestra de Galetti é uma espécie dominante na região da Mata Atlântica e seus frutos são consumidos por mais de 58 espécies de aves. Essa palmeira, porém, também fornece o palmito, o que a coloca em risco por causa da ação humana.

Ao verificar as consequências evolutivas do processo de diminuição de espécies animais como resultado dessa ação, a pesquisa obteve dados sobre o processo de defaunação que ocorre nesse bioma, buscando identificar a perda ou o declínio da população de vertebrados nativos de médio e grande portes.
A defaunação representa uma ameaça significativa não apenas para a Mata Atlântica, mas também para a biodiversidade dos diversos ecossistemas tropicais.
“Buscamos verificar como essa perda de espécies, em diferentes níveis, afeta sistemas biológicos ao longo de diferentes processos, da fisiologia e reprodutibilidade vegetal ao comportamento animal, incluindo padrões de migração, abrigo e dieta alimentar”, disse Galetti.

Determinadas mudanças nesses padrões podem levar a interrupções no funcionamento dos ecossistemas e, consequentemente, à degradação ambiental em prazos curtos ou médios. “No longo prazo, porém, as alterações podem significar alterações fenotípicas e até na estrutura genética de populações animais”, disse.
Para Galetti, os dados levantados pelo estudo indicam que é preciso identificar necessidades e apontar possíveis prognósticos, para haver tempo de adaptação a uma condição em que haja possivelmente menos espécies.
Composta em grande medida por espécies herbívoras e frugívoras, a fauna de médio e de grande porte tem animais importantes para a dispersão de sementes, que atuam no controle de plantas por meio da herbivoria e da predação de sementes.
Segundo Galetti, a caça ilegal tem reduzido consideravelmente a diversidade desses animais em distintas áreas nos trópicos, especialmente na Mata Atlântica, o que pode ter profundos efeitos na diversidade e na composição das espécies vegetais.
Com apenas 12% de floresta remanescente, a Mata Atlântica ainda possui até 8% das espécies de aves do mundo e altas taxas de endemismo.

Espécies relacionadas

Grandes migrações entre as populações de aves sugerem que a Euterpe edulis compartilha uma história evolutiva comum com essas aves, que são importantes agentes para a germinação dessa espécie de palmeira.
“Suas sementes são espalhadas por ação de regurgitação e defecação. Contudo, as evidências apontam para uma diminuição de espécies de aves com capacidade de colher grandes sementes, como tucanos, o que torna vulnerável a dispersão de sementes maiores, entre elas a da E. edulis”, disse Galetti.
Segundo os pesquisadores, a diferença entre as características de tamanho de sementes ocorre em razão de recentes mudanças causadas pelo crescente isolamento das florestas, cada vez mais fragmentadas.
O tamanho da semente estaria relacionado à perda de água e de germinação. Quanto maior a semente, menor a área de superfície exposta em proporção ao volume. Isso agravaria o problema, visto que as sementes não germinam com menos de 20% de sua superfície exposta à água.

“A defaunação cria um novo regime de seleção para a evolução de plantas no antropoceno. Essas mudanças podem até passar despercebidas, mas são capazes de levar várias espécies à extinção em cenários climáticos futuros”, disse Galetti.
A pesquisa foi apresentada no painel sobre biodiversidade, que contou também com apresentações dos pesquisadores Maritta Koch-Weser, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), Erin Sills, da North Carolina State University, e Daniel Janies, da University of North Carolina-Charlotte.

Brazilian Nature

Ainda sobre o tema biodiversidade, a FAPESP Week North Carolina contou com a exibição da exposição Brazilian Nature – Mystery and Destiny em dois locais distintos.
A primeira delas foi aberta na James B. Hunter Library, no Institute of Emerging Issues da NCSU, em Raleigh, onde ficará exposta no saguão principal até o dia 20 de novembro. A segunda mostra foi aberta no dia 13 de novembro, na Student Union da University of North Carolina-Charlotte.

Com 37 painéis, a exposição retrata o trabalho do naturalista alemão Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) e permite comparar as imagens originais feitas no século 19 com fotografias atuais de plantas e biomas, entre elas algumas feitas durante pesquisas realizadas no âmbito do projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo e do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP). Os painéis digitalizados da exposição podem ser vistos com legendas em português, inglês, espanhol, japonês e alemão no endereço: www.fapesp.br/publicacoes/braziliannature

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Redação científica ganha site especializado

terça-feira, setembro 27, 2011

05/11/2013

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Em sete livros sobre redação e publicação científica, o zoólogo Gilson Volpato sistematizou o conhecimento acumulado ao longo de mais de 25 anos de dedicação ao tema. A partir de agora, os interessados poderão encontrar uma referência permanente sobre o assunto na internet.

Volpato, que é professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp), lançou um site que tem o objetivo de oferecer ao público acesso a artigos, dicas e reflexões sobre temas como redação científica, educação e ética na ciência.



Autor de sete livros sobre redação e publicação científica, o professor Gilson Volpato, da Unesp, lança site com artigos, referências teóricas e notícias comentadas

No serviço também é possível acompanhar a concorrida agenda de Volpato, que em 2010 apresentou 78 palestras e cursos em todo o Brasil. “Na minha trajetória estou continuamente descobrindo notícias, artigos e outras referências interessantes ligadas à ética da ciência, à publicação e à redação científica. Com base na minha experiência, procurei selecionar esse material, editá-lo e disponibilizá-lo acompanhado de comentários”, disse à Agência FAPESP.

A ideia inicial era lançar um blog, mas a limitação de tempo para a interação constante com os leitores levou o autor a optar por um site. “Além do material proveniente de outras fontes e selecionado, o site permite o download de artigos relacionados aos vários temas que tenho abordado”, disse.

O site se divide nas seções “Ciência”, “Redação Científica”, “Publicação Científica”, “Ética e Moral na Ciência”, “Sociedade”, “Administração” e “Educação”. Em cada uma das seções temáticas há uma lista de livros relacionados ao assunto, artigos, uma série de links para textos externos – com comentários do autor – e uma lista de dicas.

O site também dá acesso a aulas on-line do curso “Bases Teóricas para Redação Científica”, apresentado por Volpato na Unesp. “Por enquanto há 19 aulas disponíveis, mas todo o material já foi gravado. Estou corrigindo detalhes em alguns dos vídeos e em breve todas as 44 aulas estarão no ar”, disse.

Autor do Método Lógico para a Redação Científica, Volpato conta que o conjunto de sua obra procura mostrar que a redação científica deve se pautar pela lógica da pesquisa e não por costumes acadêmicos.

“A redação e a publicação de ciência têm apresentado uma orientação muito técnica, de maneira geral. O que procuro fazer é escapar dessas receitas prontas. Todas as decisões do autor de um artigo devem ser produto da lógica científica e não de regrinhas extraídas dos costumes, que reproduzem e perpetuam equívocos conceituais”, disse.

Em outubro, Volpato publicará o livro Estatística sem dor, em coautoria com Rodrigo Barreto, também professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências de Botucatu da Unesp.

Sobre Redação e Publicação Científica, os últimos livros de Volpato foram: Bases teóricas da redação científica ... por que seu artigo foi negado (2007), Pérolas da redação científica (2010), Dicas para redação científica (2010) e Lógica da redação científica(2011).

Redação Científica por Gilson Volpato: www.gilsonvolpato.com.br

Especialistas dão dicas para a publicação de artigos científicos

22/03/2012

Por Karina Toledo

Agência FAPESP – Editores de revistas científicas procuram trabalhos com resultados inéditos, escritos em inglês claro e conciso e que despertem interesse em seu grupo de leitores. Artigos que abordam temas quentes do momento levam vantagem, pois têm mais chance de serem citados em futuras pesquisas e de contribuírem para aumentar o fator de impacto do periódico.

Essas foram algumas das dicas apresentadas por Daniel McGowan, diretor do Grupo Edanz, durante o workshop “How to Write for and Get Published in Scientific Journals”, realizado no dia 16 de março pela FAPESP e pela editora científica Springer.

Desde 1990, o número de artigos submetidos para revisão teve um aumento 100% superior ao do número de novos periódicos, segundo dados do Grupo Edanz, empresa de consultoria na área. Com o crescimento da competição, de acordo com McGowan, “o mínimo que os editores esperam é ciência de qualidade e linguagem adequada”.
Escolher periódico antes da redação do texto e considerar grau de novidade e relevância da pesquisa é fundamental, dizem especialistas no workshop "How to Write for and Get Published in Scientific Journals"
 
“A pesquisa brasileira é boa, mas vejo dois grandes desafios a serem superados pelos pesquisadores do país: a dificuldade com a língua inglesa e a falta de entendimento de como deve se estruturado um artigo científico. Muitos parecem não saber o que colocar na introdução, na discussão e na conclusão do trabalho”, disse McGowan à Agência FAPESP.

Durante sua
apresentação no workshop, McGowan explorou o tema e deu exemplos de como estruturar um resumo, como inserir tabelas, gráficos e figuras no texto, como formatar referências e escolher o título e como elaborar uma carta de apresentação ao editor. Deu também dicas sobre o tempo verbal mais adequado nas diferentes situações e recomendou aos cientistas redigir frases na voz ativa e deixar sempre o sujeito da oração perto do verbo.

“Grande parte das pessoas que vão ler o artigo científico também não tem o inglês como primeira língua. O que elas desejam é ler rapidamente, apenas uma vez e conseguir entender a lógica do pesquisador”, destacou.

Para McGowan, ex-editor associado da Nature Reviews Neuroscience, o primeiro passo para melhorar a qualidade da produção científica é a leitura do maior número possível de artigos publicados.

“Isso ajuda o pesquisador a saber se está fazendo as perguntas certas, usando os métodos adequados, interpretando os resultados no contexto apropriado, citando os estudos mais relevantes da área e escolhendo o periódico com o perfil indicado para sua pesquisa”, disse.

Como cada publicação tem regras próprias para estruturar o texto e citar referências, a redação do artigo só deve começar após estar definida a revista para a qual ele será submetido.

“O pesquisador deve ser honesto ao avaliar o grau de relevância e novidade da pesquisa e escolher um periódico com fator de impacto compatível. Ela traz um avanço incremental ou conceitual? Afeta a vida de uma pequena população ou de milhares de pessoas? Melhora o conhecimento sobre um fenômeno ou apresenta uma nova tecnologia?”, exemplificou McGowan.

O pesquisador deve ainda considerar fatores como o perfil do público a ser atingido, o prestígio da publicação e se ela trabalha como sistema de acesso aberto ou assinatura. “Acesso aberto permite alcançar um número maior de leitores e, portanto, gera mais citações. Mas também tem um custo muito maior”, disse.

Segundo McGowan, um artigo nunca deve ser enviado a mais de um periódico ao mesmo tempo. “Por outro lado, se um pesquisador demora muito para publicar suas descobertas, pode ocorrer de outro grupo publicar antes. Recomendo, portanto, entrar em contato com o editor caso não receba retorno após seis semanas. Se depois de dois meses ainda não houver resposta, sugiro cancelar formalmente a submissão e só então enviar para outra revista”, afirmou.

Outra dica do consultor é relatar no fim do artigo os financiamentos recebidos de agências de fomento ou de outras instituições e empresas, descrever possíveis conflitos de interesse e as limitações do trabalho, como tamanho pequeno da amostra por exemplo.

“Os editores percebem quando há falhas ou limitações na pesquisa, mas ainda assim podem publicá-la se os resultados forem interessantes. Não mencionar esses fatores, porém, pode ser um motivo para rejeição”, disse.

Pesquisa brasileira

Na abertura do workshop, o vice-presidente da editora Springer, Paul Manning, contou que o motivo que levou a empresa a abrir um escritório no Brasil foi o crescimento expressivo da produção científica do país.

“A Springer surgiu na Alemanha no século 19 e foi para Nova York após a Segunda Guerra, pois era onde a ciência estava acontecendo. Nos anos 1970, fomos para o Japão pelo mesmo motivo. Agora, percebemos que havia muita coisa interessante aqui no Brasil”, disse. A Springer atualmente está presente em 20 países.

Segundo dados apresentados pelo diretor da Springer Brasil, Harry Blom, a produção científica brasileira cresce a uma taxa de 17% ao ano – enquanto a média mundial é de 3% – e já corresponde a 55% da produção científica da América Latina.

Mariana Biojone, editora da Springer Brasil, apresentou as ferramentas gratuitas oferecidas no site da empresa para apoiar pesquisadores. Uma delas é o Author Mapper, que mostra os temas mais pesquisados do momento e em quais centros. “Isso pode ajudar o cientista a encontrar colaboradores para seu projeto”, afirmou.

As apresentações do evento estão disponíveis em:
www.fapesp.br/6848

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NOTA DESTE BLOGGER:

Muito bom este workshop da Springer aqui no Brasil. Recomendo a leitura atenta da apresentação em PPT/PDF do Daniel McGowan.

Impacto nacional de publicações científicas

Terça, 05/11/2013

Impacto nacional
20/09/2011

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Em comparação com todos os países da América Latina e do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), os cientistas brasileiros são os que conseguem taxas de impacto mais altas com publicações em revistas nacionais.

A análise foi feita por Félix Moya, pesquisador do Departamento de Dinâmica da Ciência e da Inovação do Instituto de Políticas e Bens Públicos de Granada (Espanha), durante o 2º Seminário de Avaliação do Desempenho dos Periódicos Brasileiros no JCR, realizado na última sexta-feira (16/9) na sede da FAPESP, em São Paulo.



Em comparação a países emergentes, cientistas brasileiros são os que conseguem taxas de impacto mais altas em publicações nacionais. Análise foi feita no Seminário de Avaliação do Desempenho dos Periódicos Brasileiros no JCR, realizado na FAPESP

O evento foi promovido pelo programa Scientific Electronic Library Online (SciELO), criado em 1997 por meio de uma parceria entre a FAPESP e o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme).

O objetivo do seminário foi discutir a crescente visibilidade conquistada pela ciência brasileira noJournal Citation Reports (JCR), o mais importante índice internacional de citações. A quantidade de periódicos nacionais indexados no JCR cresceu 43% de 2009 para 2010.

Segundo Moya, além do aumento da presença de publicações científicas editadas no Brasil no cenário internacional, houve uma clara melhora do impacto dessas publicações. Prova disso é que, em relação aos países do BRIC e da América Latina, o cientista do Brasil é o que consegue as mais altas taxas de impacto publicando em revistas nacionais.

“O SciELO tem muito a ver com isso, com toda certeza. Não há nenhum país do mundo que tenha um projeto nacional de acesso aberto a suas publicações como esse. Não é tudo o que tem que ser feito no campo da difusão de ciência no Brasil, mas é um passo muito importante e que não foi feito em outros países”, disse à Agência FAPESP.

O fator de impacto em si, no entanto, não deve ser um fim em si mesmo, de acordo com Moya. “A busca de um melhor impacto é importante à medida que ele pode ser considerado um sintoma da melhora da qualidade da pesquisa. Há uma clara correlação entre o impacto e a excelência da pesquisa. A importância disso, portanto, não se limita ao campo científico: o alto impacto da pesquisa tem grande relevância social”, disse.

As análises, no entanto, precisam ser feitas com cuidado, segundo Moya. De acordo com ele, o que não é verdade para um pesquisador pode ser verdade para um país.

“Se alguém diz que cada trabalho que é publicado em uma revista de alto impacto será um trabalho de excelência, está dizendo algo falso. Mas se alguém diz que se os pesquisadores brasileiros tendem a publicar em revistas de mais impacto haverá uma maior quantidade de trabalhos de excelência, isso é verdade”, afirmou.

Segundo ele, é preferível que os pesquisadores se submetam a processos mais rigorosos e competitivos para publicação dos trabalhos, porque isso é o que garante a qualidade desses trabalhos no conjunto da comunidade científica. Mas, ainda que não sejam as preferidas, as revistas de baixo impacto também têm sua função.

“Só deixarão de publicar nas revistas de menores impactos aqueles que podem publicar nas de alto impacto. Para os outros, é preciso ter outras revistas. Os que são publicados nas revistas de baixo impacto não são necessariamente piores. O mesmo pesquisador pode publicar alternativamente em ambos os tipos de revistas. Esse assunto é muito mal analisado e as conclusões são muito mal tiradas quando se olha para casos individuais. É um assunto que deve ser analisado como um sistema”, afirmou.

O sistema complexo de comunicação da ciência, de acordo com o pesquisador espanhol, tem a capacidade para implantar o conhecimento em distintos níveis de revistas. “Nem os pesquisadores nem as revistas ficam imóveis. O que faz falta é que sejam observadas as tendências que devem seguir pesquisadores e revistas”, disse.

Se para o pesquisador é recomendável buscar as revistas de alto impacto, para as revistas é fundamental desenvolver uma política editorial que incremente a colaboração internacional. Para Moya, os editores devem desenvolver atividades de marketing científico.

“Seria interessante, por exemplo, se os editores das revistas brasileiras enviassem a cada um dos cientistas citados em suas revistas um comunicado sobre a citação. Isso geraria um processo de diálogo, fazendo com que os autores dos trabalhos citados conheçam mais a revista, já que são potenciais colaboradores. Esse tipo de prática de marketing científico melhora a visibilidade internacional dos trabalhos”, apontou.

Segundo Moya, quando a revista tem mais colaborações internacionais, os autores aumentam o espectro da procedência de suas citações. “Creio que por isso foi estabelecida a diferença entre a atividade de editor, que se ocupa do nível científico da revista, e a atividade de publisher, que é um editor profissional, que trata de conseguir, no âmbito da pura comunicação, a maior visibilidade possível para a publicação. Nem todas revistas têm um publisher, mas é um papel central no processo”, disse.

Internacionalização da ciência

Durante o evento, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, destacou o interesse da Fundação em acompanhar o desempenho das revistas brasileiras que angariaram mais interesse internacional e aumentaram sua visibilidade.

“Temos interesse em acompanhar o desempenho e desenvolvimento dessas coleções de revistas para saber que ações poderemos realizar no período subsequente a fim de intensificar esses progressos. Por outro lado, esperamos que o debate ajude a diagnosticar os gargalos e problemas a fim de buscarmos soluções para eles”, disse.

Brito Cruz destacou também a importância da internacionalização da ciência brasileira proporcionada pela consolidação das publicações científicas. De acordo com ele, o progresso da ciência ocorre de forma mais intensa quando há diálogo entre os cientistas de várias partes do mundo.

“Quando medimos o impacto das publicações, queremos avaliar a comunicação. Publicar um artigo científico é um ato de comunicação. É uma forma de comunicar aos outros as descobertas e submetê-las à crítica. Gostaria que a ciência feita no Brasil conversasse mais com o mundo. Quanto mais as pessoas inteligentes daqui dialogarem com gente inteligente no mundo, mais a ciência brasileira irá progredir”, analisou.

De acordo com Abel Packer, coordenador operacional do SciELO, entre 2007 e 2010 houve um crescimento de 17% dos periódicos publicados pelo programa. A média de crescimento, nesse período, foi de 5% ao ano. Por outro lado, a presença brasileira aumentou quatro vezes entre 2007 e 2008 em uma das principais bases de dados internacionais – a Web of Science-ISI (WoS), na qual se fundamenta o JCR.

“O ingresso de mais periódicos brasileiros na WoS e outras bases de dados importantes contribuíram para que o Brasil subisse para a 13ª posição no ranking mundial de produção científica. Nessa produção, contando artigos e revisões, o peso dos periódicos brasileiros é de 33% do total”, disse Packer.

Com 33% o Brasil tem uma porcentagem grande de artigos com fator de impacto publicados em periódicos nacionais em relação a outros países como África do Sul (21%), Índia (17%), China (16%), México (10%) e Espanha (10%).

“No fator de impacto o Brasil não está mal em termos de comparação entre periódicos nacionais. Cerca de 10% dos periódicos têm fator de impacto acima da média em suas respectivas áreas. Nosso desafio é subir para 15% ou 20% dos periódicos com fator de impacto acima da mediana”, disse Packer.

Rogério Meneghini, coordenador científico do programa SciELO, destacou que a ciência é um processo cíclico. Segundo ele, a produção científica propriamente dita não é o último passo do processo, do qual fazem parte também a comunicação científica e a discussão informal com os pares. “Publicar é um feito complexo, muito importante, do processo de fazer ciência”, afirmou.

De acordo com Meneghini, ao contrário dos países desenvolvidos, onde o número de periódicos está relacionado diretamente aos interesses comerciais, nos países emergentes o número de publicações tem conexão com a necessidade de dar vazão à produção científica.

“No momento da publicação há duas rotas possíveis, a nacional e a internacional. O que estamos discutindo nos últimos anos – e que seguiremos discutindo – é o quanto a publicação brasileira começa a ganhar overlap em relação à produção internacional. Ou seja, em que medida aquilo que publicamos aqui passa a fazer parte do contexto internacional de publicações científicas”, disse.

Erros em artigos científicos brasileiros são mais conceituais do que de expressão

Terça, 05/11/2013

Erros em artigos científicos brasileiros são mais conceituais do que de expressão

Por Elton Alisson
Agência FAPESP – A redação científica ainda representa o “calcanhar de Aquiles” de muitos pesquisadores brasileiros. E os erros cometidos ao escrever uma tese ou artigo científico estão muito mais relacionados a problemas de metodologia de pesquisa do que à falta de habilidade com as palavras para apresentar os resultados de forma clara, concisa e interessante.
A análise de Gilson Volpato, professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu, está na sexta edição revisada e ampliada do livro Ciência: da filosofia à publicação.
Lançada no início de dezembro, a edição acrescenta quatro novos capítulos aos nove da primeira edição, publicada em 1998. Um deles apresenta um breve resumo da história da filosofia para explicar por que a ciência é feita tal como é hoje – aceitando conclusões apenas se forem baseadas em evidências empíricas (comprovadas experimentalmente).
A ideia desse capítulo, segundo Volpato, é demonstrar ao leitor o caráter indissociável entre a prática da ciência e questões teóricas e filosóficas, e que só é possível fazer boa ciência e escrever artigos para publicação em revistas de elevado fator de impacto quando se tem uma boa formação filosófica e um entendimento muito preciso dos conceitos científicos.
“É necessário ter uma compreensão muito clara sobre o que é fazer ciência para realizar boas pesquisas, que resultem em artigos sólidos para serem publicados em revistas de alto nível. Não dá só para corrigir a ponta desse processo – a redação científica – sem ter uma base bem fundamentada por trás disso”, disse Volpato à Agência FAPESP.
Especialista em redação e publicação científica, o autor – que dá cursos na área e já auxiliou pesquisadores brasileiros a reescreverem mais de 250 artigos científicos nas áreas de humanas, exatas e biológicas – avalia que alguns dos artigos publicados por cientistas do país apresentam muitos problemas estruturais.
Entre eles estão introduções que não cumprem essa função, tabelas, gráficos e figuras incompreensíveis, métodos duvidosos e dados que não corroboram as conclusões dos autores mas que, na maioria dos casos, segundo Volpato, apresentam erros inerentes à própria pesquisa.
“Se a pesquisa começou errada e é ruim não tem como fazer mágica no artigo. Se o pesquisador estudou uma questão irrelevante, por melhor que sejam os resultados, eles jamais resultarão em artigos científicos que extrapolarão as fronteiras sequer de seu laboratório e que dirá do Brasil”, disse.
Um dos principais erros conceituais nos trabalhos publicados por alguns cientistas brasileiros, de acordo com Volpato, é querer fazer ciência para solucionar problemas pontuais e localizados, sem tratar o fenômeno geral, que justamente tem a capacidade de resolver problemas pontuais.
Prova disso, de acordo com o especialista, é que no próprio título de alguns trabalhos publicados ainda aparecem o nome da instituição ou da cidade onde a pesquisa foi realizada e os dados foram coletados, reforçando a ideia de que o estudo está circunscrito àquele local.
“Para fazer ciência, realmente é preciso de dados que são coletados de algum lugar. Mas o problema é que alguns pesquisadores brasileiros coletam dados de um determinado lugar e só se preocupam com aquele lugar especificamente”, afirmou Volpato.
“É muito diferente de pegar os dados de um determinado lugar e construir uma ciência geral, que resolve questões particulares, como pode ser visto em artigos publicados por cientistas estrangeiros em grandes revistas científicas internacionais. Ainda falta esse aprendizado e ousadia científica ao pesquisador brasileiro”, compara.
Questões pontuais
Segundo Volpato, alguns dos fatores responsáveis pela ausência da ciência geral são a falta de formação filosófica sobre o que é necessário para construir conhecimento e o fato de que o Brasil ficou por muito tempo fechado para o mundo. Algumas áreas ficaram dissociadas da ciência produzida no exterior.
Por outro lado, de acordo com Volpato, outras áreas relacionadas à ciência básica, como imunologia, biologia celular e física, sempre tiveram uma inserção internacional natural que continuou e ganhou maior projeção na década de 1990 com os adventos da globalização e da internet.
De acordo com o pesquisador, é preciso rever esse conceito de se fazer ciência sob uma perspectiva estritamente local para que se possa melhorar a qualidade dos artigos científicos publicados por brasileiros e, consequentemente, aumentar a publicação em revistas de alto fator de impacto e citação internacional.
“A redação científica é um forte indicador sobre os conceitos científicos dos autores de forma que para melhorá-la é preciso, primeiramente, corrigir os conceitos dos pesquisadores sobre o que é fazer ciência”, disse.
Volpato também é autor dos livros Método lógico para a redação científicaBases teóricas da redação científicaPublicação científicaBases teóricas para redação científicaAdministração da vida científicaPérolas da redação científicaDicas para redação científicaLógica da redação científica e Estatística sem dor!.
O professor também divulga seu trabalho no site www.gilsonvolpato.com.br , que oferece artigos, dicas e reflexões sobre redação científica, educação e ética na ciência. 
 
O site dá acesso a aulas on-line do curso “Bases Teóricas para Redação Científica”, apresentado por Volpato na Unesp.
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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Grupo desenvolve métodos para detectar resíduos de fármacos veterinários em peixes

04/11/2013
Por Karina Toledo
Agência FAPESP – Desenvolver métodos para detectar resíduos de fármacos veterinários em peixes que possam ser úteis para programas de vigilância sanitária é o objetivo de um grupo de pesquisadores coordenado por Felix Guillermo Reyes Reyes, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (FEA/Unicamp).


Projeto coordenado pelo pesquisador Felix Guillermo Reyes Reyes, da Unicamp, é realizado no âmbito de um acordo entre a FAPESP e a Agilent Technologies (foto: Neuza Campelo/Embrapa Amazônia Ocidental)

O projeto, que também envolve pesquisadores do Instituto de Química da Unicamp, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Embrapa, foi um dos aprovados na chamada de propostas lançada em abril de 2013 pela FAPESP e pela Agilent Technologies.

“Vamos estudar como os fármacos veterinários são absorvidos e metabolizados pelas três espécies de peixes de maior valor comercial no Brasil: tilápia, tambaqui e pacu. Realizaremos estudos de depleção de resíduos, particularmente em filé de peixes, que é a parte consumida, a fim de saber quanto tempo leva para que a substância administrada esteja abaixo do limite máximo permitido e não ofereça risco à saúde humana. Assim, poderemos estabelecer o período de carência entre a última aplicação do medicamento e o momento em que o peixe é abatido para consumo”, explicou Reyes.

Serão desenvolvidos métodos analíticos tanto para a determinação de moléculas específicas como métodos multirresíduos. Do ponto de vista da vigilância sanitária, um dos objetivos é avaliar o uso de substâncias não aprovadas para a piscicultura.

“Há atualmente apenas dois antimicrobianos registrados no país para uso na piscicultura – provavelmente por falta de interesse das empresas de medicamentos veterinários em licenciar seus produtos para uso no setor. Existe, por outro lado, uma forte suspeita de que os criadores estejam utilizando produtos registrados para outras espécies animais, pois os peixes criados nessas condições estão sob forte estresse e, portanto, muito suscetíveis a infecções. Mas esse uso ilegal é feito sem qualquer estudo para verificar a dose adequada e sem avaliação de risco”, disse Reyes.

Além da ameaça à saúde dos consumidores, alertou Reyes, o uso não controlado de fármacos veterinários na piscicultura pode trazer prejuízos ambientais e contribuir para o desenvolvimento de resistência bacteriana aos antimicrobianos hoje existentes.
“Algumas dessas substâncias foram estudadas em outros países para uso na piscicultura, mas os resultados não são necessariamente válidos para o Brasil, pois as condições ambientais são diferentes e as espécies estudadas também. Tudo isso influencia a forma como o fármaco é metabolizada e, consequentemente, o período de carência”, disse Reyes.
O professor da Unicamp apresentou detalhes do projeto em um simpósio organizado pela FAPESP e pela Agilent no dia 30 de outubro. Na ocasião, Reyes afirmou que o Brasil, com 12% da água doce disponível do planeta, reúne condições para se tornar o maior exportador de peixes e derivados do mundo.
“Para o governo federal, a aquicultura é uma atividade importante do agronegócio. A FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura] considera o Brasil como o principal país para produzir peixes que ajudarão a alimentar a população mundial nos próximos 20 anos. Mas precisamos tomar cuidado para não poluirmos o ambiente nessa empreitada. A pesquisa científica é fundamental para garantir a qualidade da produção e a integridade do meio ambiente”, disse.

Doença de Gaucher

Outro projeto aprovado na chamada de propostas FAPESP-Agilent foi apresentado pela professora Aparecida Maria Fontes, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/USP). O objetivo é desenvolver um novo medicamento para o tratamento da doença de Gaucher.

Classificada como um erro inato do metabolismo, essa doença genética se caracteriza pela deficiência na produção da enzima beta-glicosidase, também conhecida como glicocerebrosidase. Essa enzima está envolvida no metabolismo de lipídios no interior das células, mais especificamente do glicocerebrosídeo.
Nos portadores da doença de Gaucher, a quantidade da enzima é insuficiente para decompor o glicocerebrosídeo na velocidade ideal e esse lipídio acaba se acumulando nos lisossomos das células, afetando principalmente o fígado, o baço e a medula óssea, mas podendo também acometer outros órgãos, como o sistema nervoso central (no caso dos subtipos II e III da doença). 

Além de aumento no volume abdominal resultante do inchaço do baço e do fígado, os sintomas incluem anemia, trombocitopenia (redução do número de plaquetas no sangue) e dor nos ossos.

“Existem, atualmente, quatro proteínas comerciais para fazer a terapia de reposição enzimática para os portadores da doença de Gaucher. Nosso objetivo é, por meio de ferramentas da biologia sintética, desenvolver uma plataforma otimizada para produzir a enzima beta-glicosidase. O projeto conta com algumas inovações que vão aumentar a produtividade e tornar o produto mais barato”, contou Fontes.
Os biofármacos usados na terapia de reposição enzimática para doenças de disfunção lisossomal, explicou a pesquisadora, são produzidas em diferentes tipos de linhagens celulares e requerem diversas modificações para a entrega nos tecidos alvos acometidos pela doença.
O grupo coordenado por Fontes – que inclui pesquisadores da Genética Médica do Departamento de Genética e do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP/USP e também do Departamento de Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP – pretende desenvolver, com ajuda de vetores virais, uma linhagem de células humanas capazes de produzir níveis muito mais altos da enzima.

“Vamos usar um vírus incapaz de se replicar no meio celular, mas que contém elementos que vão se recombinar e se integrar ao genoma da célula hospedeira. Como consequência, a célula passa a ter expressão permanente do gene de interesse. Mas, em vez de utilizar a tecnologia do DNA recombinante, vamos usar técnicas da biologia sintética para desenvolver o genoma do nosso veículo de expressão, que é o vírus”, disse Fontes.
Segundo a pesquisadora, a plataforma desenvolvida para a produção da enzima poderá depois ser adaptada para obter biofármacos úteis no tratamento de outras doenças genéticas que afetam o metabolismo – algumas atualmente sem opções terapêuticas, como a doença de Nieman-Pick, a mucopolissacaridose tipo IVA, α-manosidose, entre outras.

Mapa metabólico

O seminário promovido pela FAPESP e pela Agilent contou ainda com a participação do pesquisador Paulo Mazzafera, do Instituto de Biologia da Unicamp, que coordena um projeto aprovado na primeira chamada de propostas, lançada em 2011.
O objetivo de Mazzafera e de seus colaboradores no projeto é descobrir como a variação de temperatura e da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera influenciam a síntese de lignina (substância estratural da planta) em duas espécies de eucalipto: a Eucalyptus globulus, que é nativa de regiões frias e oferece um maior rendimento na produção de celulose, e a Eucalyptus grandis, espécie comum no Brasil, que possui um tipo de lignina mais difícil de ser removida para a obtenção da celulose.

“A ideia é entender como funciona o metabolismo dessas espécies e, com base nessas informações, pensar em trabalhar com determinados genes para alterar a via de lignina na planta”, disse Mazzafera.
No primeiro ano do projeto, os pesquisadores mediram diversos parâmetros fisiológicos das duas espécies – como crescimento, fotossíntese e produção de açúcares – em faixas variando de 5ºC a 35ºC.
Foram então definidas três faixas de temperatura para o experimento principal: 10ºC, 25ºC e 35ºC. Para cada faixa de temperatura, foram simuladas duas concentrações de CO2: 380 partícula por milhão (ppm), que é a concentração média da atmosfera terrestre, e 700 ppm (prevista pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC – para os próximos anos).

“As plantas foram crescidas por aproximadamente 30 dias nessas condições. Coletamos material e agora vamos começar a análise metabolômica, ou seja, avaliar os vários metabólitos que a planta produz. Vamos também fazer a análise transcriptômica, que consiste em um banco de RNAs mensageiros que permite ver o que está mais ou menos expresso em cada situação. No nosso caso, o foco é a síntese de lignina, mas certamente o banco será suficientemente rico para se estudar outras várias respostas metabólicas às condições em que as plantas cresceram”, contou.
Para fazer as análises, contou Mazzafera, a Agilent disponibilizou um software conhecido como GeneSpring, capaz de integrar os dados de metabolômica e de transcriptômica e gerar um mapa metabólico da planta.

Parceria em pesquisa

Na abertura do simpósio, o diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, José Arana Varela, destacou a importância de reunir pesquisadores que tiveram projetos aprovados nas duas chamadas de propostas para promover a troca de experiências.
“Este programa começou em 2011 e tem sido muito bem-sucedido. Esta é uma oportunidade de fazer uma avaliação e ver se há pontos a serem melhorados”, disse Varela.
Jack Wonstrand, diretor de relações com universidades da Agilent, ressaltou que a empresa tem um forte compromisso acadêmico no Brasil. “Nenhum lugar no país é mais importante para nós que o Estado de São Paulo. Estamos concentrados em construir nossas relações acadêmicas aqui e a experiência de trabalhar com a FAPESP tem sido excelente. Nada acontece sem uma administração eficiente. Queremos que os pesquisadores participantes realmente façam progressos diligentes e tenham um entendimento claro do que queremos alcançar. Para isso, essas reuniões são fundamentais”, afirmou.
O total de recursos disponível para atender as propostas selecionadas na segunda chamada de propostas é equivalente a US$ 800 mil, igualmente compartilhados entre FAPESP e Agilent. As propostas foram apresentadas de acordo com as normas do Programa Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE) da FAPESP.

Tratamento biológico aeróbio e anaeróbio de efluentes

 
  
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Tratamento Biológico Aeróbio
O tratamento biológico é uma das alternativas mais econômicas e eficientes para a degradação da matéria orgânica de efluentes biodegradáveis. Nesse processo ocorre a ação de agentes biológicos como bactérias, protozoários e algas. Essa degradação pode ocorrer por meio do tratamento biológico aeróbio e anaeróbio.

Tratamento Biológico Aeróbio

Diferente do tratamento anaeróbio que utiliza bactérias que não necessitam de oxigênio para sua respiração, no tratamento biológico aeróbio os microorganismos degradam as substâncias orgânicas, que são assimiladas como "alimento" e fonte de energia, mediante processos oxidativos.

Nesse processo, o efluente precisa ser submetido a temperaturas específicas, estar com o pH e oxigênio dissolvido (OD) controlado, além de  obedecer a relação da massa com os nutrientes de Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) que variam com a biota formada em cada estação.
As bactérias responsáveis por este processo de eliminação da matéria orgânica são, em sua maioria, heterótrofas aeróbias e facultativas e promovem a remoção da matéria orgânica com mais eficiência.
Os sistemas aeróbios mais comuns são lagoas aeradas, filtros biológicos e os sistemas de lodos ativados que propiciam a melhor eficiência em remoção de cargas.

Vantagens:

. Comunidades e indústrias, principalmente do ramo de alimentos e bebidas, são beneficiadas quando o sistema é complementado pelo tratamento aeróbio.
. Maior rendimento, pois alcançam maiores taxas de remoção da matéria orgânica. Os sistemas de lodos ativados com aeração prolongada, por exemplo, atingem até 98% de eficiência na remoção de DBOs.
. Riscos reduzidos de emissões de odor e maior capacidade de absorver substâncias mais difíceis de serem degradadas.

Desvantagens:

. Seu aspecto negativo é que esse sistema necessita de área extensa para implantação.

Tratamento Biológico Anaeróbio

Entre os sistemas de tratamento anaeróbio, existem as lagoas anaeróbias, os tanques sépticos, os filtros anaeróbios e os reatores de alta taxa, capazes de receber maiores quantidades de carga orgânica por unidade volumétrica, como os reatores UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket) ou RAFAs (Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente).
Dependendo do tipo de efluente a ser tratado, há risco de emissão de odores nesses sistemas. Esse risco pode variar dependendo do tipo de efluente a ser tratado, do controle operacional do sistema e características dos equipamentos utilizados.
O processo anaeróbio converte parte da matéria orgânica em gás carbônico e metano, por isso também é recomendada a existência de queimadores de gases, já que esse tipo de gás contribui 21 vezes mais que o gás carbônico para poluir a camada de ozônio.

Vantagens:

. Mecanização reduzida e baixo consumo energético: não é preciso fazer a injeção de ar no sistema, há geração de menor taxa de lodo residual e, em geral, é necessária menor área para sua instalação.
. Trata efluentes com altas concentrações de substâncias orgânicas.

Desvantagens:

. Necessidade de temperatura relativamente alta preferencialmente entre 30º e 35º C para uma boa operação. Efluentes diluídos podem não produzir metano suficiente para o aquecimento, representando uma limitação no processo.
. Lenta taxa de crescimento das bactérias produtoras de metano, por isso longos períodos são necessários para o início do processo, limitando os ajustes de acordo com a mudança na carga do efluente, temperatura e outras condições do ambiente.

Nós da Tera Ambiental recebemos e tratamos efluentes na Estação de Tratamento de Esgotos de Jundiaí utilizando o processo biológico aeróbio, no qual a principal etapa do tratamento é realizada nas lagoas de aeração com difusores flutuantes de membrana. Para entender mais sobre sua operação, leia o artigo Conheça as etapas do tratamento biológico de efluentes.

Alterações Ambientais: Ameaça invisível

Alterações ambientais em pequena escala podem comprometer a conservação da maior floresta tropical do planeta 

RODRIGO DE OLIVEIRA ANDRADE | Edição 212 - Outubro de 2013
© LÉO RAMOS
Áreas alagáveis representam 25% do território da Amazônia
Áreas alagáveis representam 25% do território da Amazônia

Tudo é grandioso na  Amazônia, o maior bloco remanescente de floresta tropical do planeta. Com pouco mais de 6,8 milhões de quilômetros quadrados (km2), espalha-se por nove países da América do Sul – a maior parte está no Brasil, que detém 69% da área coberta pela floresta. Estima-se ainda que ela abrigue quase 25% de todas as espécies de seres vivos da Terra, além de 35 milhões de pessoas (20 milhões somente no Brasil). A Amazônia também tem a maior bacia fluvial do mundo, com 6,6 milhões de km2, fundamental para a drenagem de vários países e para a geração de chuvas. É o maior reservatório de água doce do planeta, com cerca de 20% de toda a água potável disponível. Por isso é um dos reguladores do clima e do equilíbrio hídrico da Terra. Apesar de tanta grandiosidade, são as alterações em pequena escala, como a abertura de clareiras para a extração de madeira, que podem representar uma das principais ameaças à conservação do ecossistema, destacou o biólogo Helder Queiroz, diretor do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, em sua palestra no Ciclo de Conferências Biota-FAPESP Educação, no dia 19 de setembro em São Paulo.

De modo geral, explicou Queiroz, as principais ameaças à Amazônia estão hoje associadas às práticas que levam direta ou indiretamente à perda de hábitats e à redução de populações de plantas e animais. Segundo o biólogo, essas ameaças podem ser divididas em dois grupos. O primeiro é o daquelas que modificam significativamente a paisagem, caso das queimadas e das obras de infraestrutura como a construção de usinas hidrelétricas e rodovias. O segundo diz respeito às mudanças na paisagem que não são perceptíveis. De difícil detecção por imagens de satélite, essas alterações mais discretas podem desencadear num primeiro momento mudanças locais significativas. No longo prazo, porém, seus efeitos influenciariam a manutenção da diversidade biológica regional. Um exemplo de transformação difícil de medir é a abertura de pequenas clareiras para a extração seletiva de madeira, um dos mais antigos e sérios problemas na região. “Muitas das árvores com madeira de grande valor comercial são fundamentais para a alimentação de diversos animais”, disse Queiroz.
© EDUARDO CESAR
Helder Queiroz, do Instituto Mamirauá, e Maria Lúcia Absy, do Inpa
Helder Queiroz, do Instituto Mamirauá, e Maria Lúcia Absy, do Inpa
A construção de pequenas represas, que alteram o curso de rios e riachos e o transporte de sedimentos, também gera um efeito local sobre o ecossistema. Já a pesca excessiva tem desencadeado a redução dos estoques e das populações de peixes como o tambaqui (Colossoma macropomum). Outra forma de exploração insustentável envolve a captura da piracatinga (Calophysus macropterus). Sua pesca tem estimulado a caça desregulada, e muitas vezes ilegal, de jacarés e botos, cuja carne é usada como isca. Segundo o biólogo, a carcaça de um jacaré, vendida a R$ 100,00, pode render até 300 quilogramas (kg) do peixe, que é consumido no Nordeste brasileiro e exportado para países vizinhos como a Colômbia. “Esse sistema de valoração da biodiversidade encontra-se profundamente desequilibrado na Amazônia”, comentou.
Hoje, a perda de ambientes naturais é maior numa região conhecida como Arco do Desmatamento, que se estende do sul ao leste da Amazônia Legal; uma área de cerca de 5 milhões de km2 que engloba oito estados (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, na região Norte; Mato Grosso, no Centro-Oeste; e parte do Maranhão, no Nordeste). O Arco do Desmatamento, definido pela fronteira de expansão da agropecuária, que converte grande extensões de floresta em pastagens, concentra em torno de 56% da população indígena do país.

A várzea amazonense

As regiões de várzea, em terrenos de baixa altitude, mais no interior da floresta amazônica, também têm atraído a atenção do poder público durante a elaboração de estratégias de conservação do ecossistema. Até há pouco estimava-se que esses terrenos representassem apenas 6% da floresta. Hoje, segundo o biólogo, acredita-se que as regiões de várzea representem até 25% de seu domínio. Ele explicou que essas áreas são constantemente submetidas a regimes de alagamento; próximas à costa, estão sob a influência das marés, com variação diária das águas de alagamento. “A porção maior da várzea, entretanto, está mais no interior da floresta, próxima ao rio Amazonas, sob o regime de alagamentos sazonais e completamente imprevisíveis porque dependem da quantidade de chuva próxima aos leitos dos pequenos rios.”
Boa parte das áreas de várzea na Amazônia é inundada pelas chamadas águas brancas, de origem andina, ricas em sedimentos e nutrientes. Nesses trechos, a vegetação tende a ser mais abundante. “Por conta dessa produtividade e da riqueza em recursos naturais, as florestas de várzea sofrem mais com a constante ocupação humana”, disse. Todas as grandes cidades amazônicas, e boa parte das pequenas, estão localizadas nessas áreas. Atualmente, 75% da população local, ou 8 milhões de pessoas, vive nas várzeas amazonenses, alterando diariamente seu ambiente. “Isso torna a conservação dessas florestas mais difícil”, destacou Queiroz. Além disso, existem poucas áreas, de fato, protegidas por unidades de conservação. “Mesmo fora do Arco do Desmatamento, a várzea amazônica é o ambiente mais ameaçado”, completou.
© LÉO RAMOS
Udu-de-coroa-azul (Momotus momota)
Udu-de-coroa-azul (Momotus momota)
Sinal de trégua
Apesar do cenário de aparente degradação, os índices de desmatamento na Amazônia vêm diminuindo nos últimos oito anos. De acordo com a pesquisadora Maria Lúcia Absy, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e uma das palestrantes, entre 2004 e 2012 houve uma redução de 84% nas taxas anuais de desflorestamento na região da Amazônia Legal. Somente entre 2011 e 2012 essa diminuição foi de 29%, segundo dados obtidos por meio do Prodes, projeto de monitoramento da floresta amazônica brasileira via imagens de satélite. O projeto é conduzido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ibama e financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da ação Monitoramento Ambiental da Amazônia.
Além do Prodes, as ações de fiscalização para a redução dos índices de desmatamento contam com outro suporte baseado em imagens de satélite: o Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), um levantamento rápido feito mensalmente, desde 2004, pelo Inpe e pelo MCTI, também com o apoio do MMA e do Ibama. Esse sistema fornece com rapidez a posição das áreas recentes de desmatamento aos órgãos de fiscalização. “Não há dúvida que tanto o Prodes quanto o Deter constituem importantes ferramentas de fiscalização e controle do desmatamento na Amazônia”, afirmou Absy.
Duas são as possíveis razões para a diminuição no desmatamento, ponderou Queiroz. Uma delas pode ser atribuída à ação conjunta de comissões interministeriais, criadas há quase 10 anos, contra a derrubada de árvores na Amazônia, que geraram uma série de ações governamentais voltadas à conservação da floresta. A outra, disse o biólogo, pode estar associada ao crescimento econômico dos últimos anos no país, “acompanhado do desvio de investimentos do setor privado para ações não tão ligadas ao extrativismo, o que também pode ter contribuído para esse cenário”.

Ambos os pesquisadores estão de acordo em um ponto: as atividades humanas nessas regiões precisam ser manejadas adequadamente, de modo a atender as cadeias produtivas, altamente relevantes para os estados da região Norte. Mas sem gerar impactos significativos na diversidade biológica e na preservação do ecossistema. “Essas cadeias produtivas podem representar até 15% do Produto Interno Bruto (PIB) de alguns estados do Norte”, disse Queiroz. “Não é errado desmatar uma área, desde que não seja grande, para fins produtivos. O errado é fazer isso de modo aleatório, sem metodologia e técnicas de manejo florestal adequadas”, completou Absy.

Há alguns anos o Instituto Mamirauá implantou iniciativas de manejo florestal que vêm gerando importantes resultados. Após 10 anos, e com a extração bem manejada de espécies de madeira, os valores de mercado da madeira leve e pesada cresceram em mais de 250%. Também a pesca bem manejada, sem a prática da sobrepesca e de acordo com os períodos de acasalamento das espécies, favoreceu o aumento do tamanho do pirarucu (Arapaima gigas), muito consumido localmente. Nos últimos anos, o tamanho médio do peixe abatido nas águas de manejo ultrapassou o limite mínimo legal de 150 centímetros, enquanto os estoques pesqueiros cresceram mais de 300%. “Com isso, houve um incremento de 130% na renda média mensal dos pescadores”, destacou Queiroz. Mas é preciso ampliar o alcance dessas ações, ele disse. “Afinal, os problemas são imensos na maior floresta tropical do planeta.”

O Ciclo de Conferências Biota-FAPESP Educação é uma iniciativa do Programa Biota-FAPESP, em parceria com a revista Pesquisa FAPESP, voltada à discussão dos desafios ligados à conservação dos principais ecossistemas brasileiros: cerrado, caatinga, pantanal e mata atlântica, além dos ambientes marinhos e costeiros e a biodiversidade em ambientes antrópicos, urbanos e rurais (ver programação aqui). Até novembro, as palestras apresentarão o estado da arte do conhecimento gerado por pesquisadores de todo o Brasil, com o objetivo de contribuir com o aperfeiçoamento da educação científica e ambiental de professores e alunos do ensino médio do país.