sexta-feira, 6 de julho de 2018

Pesquisadores identificam primeira espécie brasileira de mamífero do mesozoico

A descrição da nova espécie preenche importante lacuna no registro de mamíferos mesozoicos no Brasil


Brasilestes stardusti: o nome do gênero combina a palavras Brasil e λησ τη σ (grego para ladrão), e o epíteto da espécie é uma referência ao personagem fictício Ziggy Stardust, homenageando o artista David Bowie, falecido no mesmo ano da descoberta. A ilustração que brinca com uma das imagens mais icônicas do cantor – o raio colorido na face que apareceu na capa de um dos seus álbuns – é um trabalho da paleoartista Camila Alli Chair
Um único pré-molar de 3,5 mm foi o suficiente para paleontólogos e geólogos brasileiros, argentinos e estadunidenses reconhecerem a primeira espécie brasileira de mamífero do Mesozoico, época em que os dinossauros dominavam o planeta. Encontrada em rochas ricas em restos de dinossauros e crocodilos, no município de General Salgado, oeste do Estado de São Paulo, a espécie foi batizada de Brasilestes stardusti, faz alusão ao Brasil e, por meio de seu icônico personagem Ziggy Stardust, homenageia o músico britânico David Bowie, falecido em 2016, ano em que foi encontrado o stardusti.
Sítio onde foi encontrado o dente do Brasilestes em General Salgado – SP – Foto: fornecida pelos pesquisadores

Além de identificar o animal, a equipe estudou detalhadamente o esmalte de seu dente, reconstituiu o paleoambiente em que viveu, além de ter datado (pela primeira vez a partir de estudos radioisotópicos) as rochas arenosas de reconhecida riqueza paleontológica que cobrem boa parte do Oeste paulista. 

Com isso foi possível saber, dizem os pesquisadores, que o Brasilestes stardusti teria vivido aproximadamente entre 80 e 75 milhões de anos atrás, o que corresponde ao fim do período Cretáceo, pouco antes da grande extinção dos dinossauros. Muito abundantes e diversos após a extinção desses grandes répteis, os mamíferos eram muito mais raros na Era Mesozoica. “Em geral possuíam pequeno tamanho, ocupando nichos não explorados pelos dinossauros, como os de animais noturnos, arborícolas ou fossoriais.

Apesar de pequeno, com um comprimento equivalente ao de um gambá atual (estimado em cerca de 50 cm), o Brasilestes stardusti teria sido um dos maiores mamíferos da sua época, quando os representantes do grupo geralmente não ultrapassavam os 15 cm.
Filogenia do Brasilestes – Imagem: fornecida pelos pesquisadores

Segundo Mariela Castro, da Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão, e líder do estudo, o Brasilestes stardusti pertence ao grupo de mamíferos chamado Tribosphenida, que também inclui os marsupiais (gambás, cangurus) e placentários viventes, mas não os monotremados (mamíferos que botam ovos, como o ornitorrinco). Os tribosfênidos contam com diversos registros no Cretáceo do hemisfério norte, mas no hemisfério sul foram encontrados apenas na Índia, Madagascar e norte da América do Sul, estando ausente nas ricas faunas de mamíferos registradas no sul do nosso continente (principalmente na Patagônia Argentina). “Assim, a descrição de Brasilestes stardusti vem a preencher uma importante lacuna no registro de mamíferos mesozoicos, ressaltando a importância do Brasil para a compreensão da história evolutiva do grupo”, finaliza Mariela.

A descrição da nova espécie estará na revista científica Royal Society Open Science na quarta-feira (30 de maio).

Além de Mariela, participaram do estudo  Francisco J. Goin, Edgardo Ortiz-Jaureguizar, E. Carolina Vieytes, todos da Universidad Nacional de La Plata, Argentina; Kaori Tsukui e Jahandar Ramezani, ambos do Massachusetts Institute of Technology, EUA; Alessandro Batezelli, da Unicamp; Júlio C. A. Marsola e Max Langer, ambos da USP. 

Mais informações: (16) 99634 1077 ou  marielaccastro@yahoo.com.br com Mariela C. Castro

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