quarta-feira, 24 de agosto de 2016


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Por dentro dos fósseis

Tomografia por computador se torna mais disseminada e permite análises detalhadas de ossos de animais extintos
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© TAENADOMAN, WIKIMEDIA COMMONS
O Euparkeria capensis, acima em representação artística, era do tamanho de um gato
O Euparkeria capensis, acima em representação artística, era do tamanho de um gato

Enxergar dentro de um ovo era a grande inquietação do paleontólogo Sérgio Alex Azevedo, pesquisador do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no início dos anos 1990. Nessa época ele estudava um suposto ovo intacto da coleção do museu, posto por uma espécie ancestral de tartaruga há mais de 65 milhões de anos, encontrado no interior paulista e transformado em rocha sólida. Serrar a peça raríssima para estudá-la era impensável. Ele tirou uma radiografia, mas a mancha disforme da chapa fotográfica não ajudou muito. Com ajuda de colegas, conseguiu acesso a uma máquina de tomografia computadorizada do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), em Porto Alegre, que combina imagens de raios X de várias seções de um corpo e gera um mapa tridimensional de suas partes e cavidades interiores. Nas imagens do tomógrafo, era possível distinguir os contornos gerais da cabeça, do dorso e da vértebra do embrião com menos de 5 centímetros de comprimento. “Só me convenci do que eu via quando mostrei as imagens a um médico radiologista”, conta Azevedo. Seu trabalho, publicado em 2000 nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, foi um dos primeiros no Brasil a aplicar a tomografia computadorizada à paleontologia.

Se há 20 anos essa técnica ainda era uma novidade mesmo entre paleontólogos no exterior, hoje é mais acessível, principalmente com o desenvolvimento de microtomógrafos e com o aumento da resolução dos equipamentos. As imagens são agora geradas a partir de raios X com poder de penetração maior do que o dos tomógrafos médicos, e computadores combinam centenas de imagens. Os pesquisadores conseguem identificar detalhes micrométricos do interior de ossos fósseis sem precisar quebrá-los ou extraí-los completamente do bloco de rocha em que foram encontrados.

Além de preservar os fósseis, o escaneamento do material gera informações que podem ser usadas para criar modelos tridimensionais e animações em computador que ajudam a entender melhor a estrutura e os movimentos de animais extintos. No Brasil, as máquinas desse tipo para uso em paleontologia não chegam a uma dezena, fazendo com que os pesquisadores recorram às de instituições da área médica, de engenharia, geociências ou física, já que é muito difícil sair do país com fósseis. Mas cada vez mais museus e universidades nacionais investem na compra de suas próprias máquinas de microtomografia computadorizada, a despeito do custo: apenas a licença de uso do programa de computador para o equipamento pode custar cerca de R$ 50 mil.

“A microtomografia ainda é cara, mas já virou praxe na área”, afirma a paleontóloga Gabriela Sobral, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em 2012, durante o doutorado, ela usou o microtomógrafo do Museu de História Natural de Berlim para reconstituir a história da evolução do ouvido interno dos arcossauros, grupo de animais que inclui os crocodilos, os dinossauros e os descendentes diretos do único subgrupo não extinto de dinossauros, as aves (ver Pesquisa FAPESP nº 202). “Antes da tomografia só era possível acessar estruturas internas do crânio, como as do ouvido interno, se o fóssil estivesse quebrado”, conta ela.

Em um artigo publicado em julho deste ano na revista Royal Society Open Science, Gabriela e outros especialistas da Alemanha, do Reino Unido, dos Estados Unidos e da África do Sul apresentaram as tomografias do ouvido interno de Euparkeria capensis, réptil do tamanho de um gato, extinto há 245 milhões de anos. As imagens revelaram o formato das cavidades ósseas que abrigavam os três canais semicirculares do ouvido interno, estruturas relacionadas à capacidade do animal de manter o equilíbrio do corpo quando em movimento. “Os resultados confirmam a hipótese de que Euparkeria era um animal mais ativo e ágil que a maioria dos répteis da época.” Os pesquisadores sugerem que essa espécie, descoberta na África do Sul em 1913, seja a que mais se aproxima do ancestral comum de todos os arcossauros. Entender a anatomia de Euparkeria, portanto, ajuda a desvendar como os arcossauros teriam se definido como um grupo evolutivamente único, a partir dos demais grupos de répteis.

Gabriela explica que operar um microtomógrafo não é trivial – os pesquisadores do museu de Berlim levaram três anos até conseguir usar a máquina com correção. “Os ajustes dos raios X do scanner têm parâmetros similares aos de uma máquina fotográfica profissional, como tempo de exposição e intensidade do flash”, diz ela. “Cada fóssil exige uma análise diferente”, reitera Azevedo, da UFRJ. Desde 2002, seu grupo utiliza os tomógrafos de uma clínica médica particular e do hospital da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e os microtomógrafos da UFRJ e da PUC do Rio de Janeiro para estudar materiais fósseis e arqueológicos, como múmias egípcias (ver Pesquisa FAPESP nº 215).

“Os estudantes estão querendo cada vez mais usar essa técnica”, observa Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional. Enquanto não chega o aparelho do próprio museu, um de seus alunos de mestrado, Arthur Brum, usou um tomógrafo do Centro de Pesquisas da Petrobras para analisar fragmentos de ossos de um abelissauro, tipo de dinossauro encontrado no interior de São Paulo que lembra um tiranossauro, com apenas 3 metros de comprimento. As imagens, publicadas em maio deste ano na Cretaceous Research, confirmaram que os abelissauros possuíam ossos porosos, semelhantes aos das aves.
© GABRIELA SOBRAL
A tomografia do crânio detalha as cavidades do ouvido interno e reforça a hipótese sobre sua agilidade
A tomografia do crânio detalha as cavidades do ouvido interno e reforça a hipótese sobre sua agilidade

Mordidas de 237 milhões de anos
 
Em colaboração com Kellner, o biólogo Voltaire Paes Neto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), identificou as mordidas mais antigas já registradas, feitas por insetos com mandíbulas em um osso de um animal do grupo dos dicinodontes, herbívoros do porte de rinocerontes, há 237 milhões de anos. Paes Neto usou um aparelho de tomografia do Hospital das Clínicas de Porto Alegre.

Paes Neto demorou quatro anos para caracterizar as marcas nos fósseis, desde que encontrou perfurações que ninguém sabia explicar em um osso de arcossauro que recebeu para limpar ao chegar ao laboratório de paleontologia coordenado por Marina Bento Soares, na UFRGS, em 2011. Como os orifícios de 4 milímetros de diâmetro eram perfeitos, ele descartou a possibilidade de resultarem de alguma doença óssea, que dificilmente deixaria marcas tão regulares, e, por fim, concluiu que os tubos e as trilhas de mandíbulas deveriam ter sido feitos por insetos semelhantes a besouros e cupins atuais, que ainda hoje se alimentam de ossos e restos de animais em decomposição.

Uma das marcas, uma trilha deixada por mandíbulas, foi por enquanto registrada apenas em osso de cinodontes – animais que deram origem aos mamíferos – do atual sul do Brasil e ganhou o nome de Osteocallis infestans. As marcas dos insetos nos ossos têm nome científico, com gênero e espécie, que indicam o comportamento dos animais extintos que as fizeram. No período geológico conhecido como Triássico, entre 252 milhões e 201 milhões de anos, os besouros haviam apenas começado a se diversificar, a conquistar novos ambientes e a formar um grupo com cerca de 350 mil espécies. “Creio que é possível encontrar marcas semelhantes em fósseis ainda mais antigos do que esses”, diz Kellner.
“Como as imagens tridimensionais exigem computadores com alta capacidade de processamento, a tomografia transformou a paleontologia, antes relativamente barata, em uma ciência cara”, observa Felipe Montefeltro, paleontólogo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Ilha Solteira, que estuda a evolução do ouvido interno de crocodilos e já utilizou microtomógrafos de instituições de pesquisa do Canadá e do Reino Unido. Do mesmo modo, a bióloga Tiana Kohlsdorf, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Riberão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP), analisa espécies de répteis e anfíbios atuais usando o microtomógrafo do Instituto de Biociências (IB) da USP, em colaboração com o zoólogo Gabriel Marroig, também do IB (ver Pesquisa FAPESP nº 230).

Muito além da poeira
 
Gabriela Sobral se prepara para começar em setembro um projeto de pós-doutorado valendo-se do microtomógrafo do Museu de Zoologia (MZ) da USP, adquirido em 2015, idêntico ao que usava em Berlim. Ela pretende registrar as etapas do desenvolvimento de embriões de jacaré-do-pantanal, em colaboração com o zootecnista Willer Girardi, utilizando corantes especiais que permitem distinguir músculos e vísceras nas imagens do tomógrafo. “A microtomografia também está sendo muito usada na biologia comparativa”, diz Hussam Zaher, zoólogo especialista em serpentes que coordena o projeto de compra e instalação da nova máquina do MZ. Agora, ele ressalta, um pesquisador interessado em conhecer a estrutura interna de uma espécie não precisa necessariamente dissecar o corpo intacto de um animal conservado em álcool no museu. “A técnica ajuda a preservar as coleções.” Kellner, da UFRJ, reforça: “Esqueça aquela imagem do paleontólogo apenas assoprando poeira dos fósseis. A paleontologia está cada vez mais sofisticada, com a tecnologia nos permitindo investigar questões cada vez mais complexas sobre animais que viveram há milhões de anos”.

Artigos científicos
 
AZEVEDO, S. A. et al. A possible chelonian egg from the Brazilian Late Cretaceous. Anais da Academia Brasileira de Ciências. v. 72, n. 2, p. 187-93. 2000.

SOBRAL, G. et al. New information on the braincase and inner ear of Euparkeria capensis Broom: implications for diapsid and archosaur evolution. Royal Society Open Science. 13 jul. 2016.

BRUM, A.S. et al. Morphology and internal structure of two new abelisaurid remains (Theropoda, Dinosauria) from the Adamantina Formation (Turonian – Maastrichtian), Bauru Group, Paraná Basin, Brazil. Cretaceous Research. v. 60, p. 287-96. 2016.

PAES NETO, V. D. et al. Oldest evidence of osteophagic behavior by insects from the Triassic of Brazil. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology. v. 453, p. 30-41. 2016.

Descobertos os mais antigos fósseis de seres multicelulares da América do Sul

Organismos de corpo mole em forma de disco viveram em mar raso há 560 milhões de anos
IGOR ZOLNERKEVIC | Edição Online 17:52 16 de agosto de 2016
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© FERNANDA QUAGLIO/UFU
Anatomia do passado: rocha encontrada na Argentina registra os contornos suaves e ondulados de Aspidella, um dos primeiros organismos multicelulares marinhos que surgiu no planeta
Anatomia do passado: rocha encontrada na Argentina registra os contornos suaves e ondulados de Aspidella, um dos primeiros organismos multicelulares marinhos que surgiu no planeta

De longe, parecem bolhas achatadas brotando da rocha. Vistas de perto, as centenas de discos de tamanhos variados que estampam as placas de arenito encontradas na Formação Cerro Negro, no interior da Argentina, apresentam detalhes que só os corpos de seres vivos possuem: curvas suaves e bordas frondosas, que lembram as de águas-vivas. Descobertas no ano passado por pesquisadores brasileiros e argentinos, rochas de 560 milhões de anos guardam o registro mais antigo da existência de seres multicelulares na América do Sul.

Os pequenos discos, com diâmetro variando de 6 centímetros (cm) a 16 cm, correspondem, no entanto, a fósseis de organismos do gênero Aspidella. Essa é a primeira vez que fósseis desse tipo são encontrados nessa região do planeta, relatam os pesquisadores em artigo publicado em 27 de julho na revista Scientific Reports.

As Aspidella foram um dos primeiros organismos multicelulares marinhos a surgir na Terra. Seus fósseis já haviam sido encontrados em quase todos os continentes, exceto na Antártida. O fato de agora terem sido achados também na América do Sul indica que essa região do continente teria sido banhada no passado por um mar raso, que cobriu vastas extensões do que hoje é o Brasil, a Argentina e a África.
“Fósseis desses organismos de corpo mole ocorrem em rochas da mesma idade no Canadá, na Grã-Bretanha, na Rússia, na Namíbia e na Austrália”, explica o geólogo Lucas Warren, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro. Ele coordenou a pesquisa em parceria com a sedimentóloga Júlia Arrouy e o paleontólogo Daniel Poiré, ambos do Centro de Investigações Geológicas de La Plata, Argentina.

Conhecidos desde o século XIX, os fósseis de Aspidella estão entre os mais antigos e abundantes da chamada biota de Ediacara, formada por organismos marinhos cujos corpos, embora relativamente simples, representaram a primeira grande diversidade de formas macroscópicas de vida na Terra. Antes de esses organismos surgirem, os mares do planeta eram habitados apenas por seres unicelulares, como as bactérias, ou colônias formadas por células de funções variadas.
© LUCAS WARREN/UNESP
Retrato de família: marcas deixadas por exemplares de Aspidella de diferentes tamanhos em um bloco de arenito extraído da formação Cerro Negro, na Argentina
Retrato de família: marcas deixadas por exemplares de Aspidella de diferentes tamanhos em um bloco de arenito extraído da formação Cerro Negro, na Argentina.

“A biota de Ediacara marca a primeira grande expansão da diversidade dos organismos multicelulares”, esclarece Marcello Simões, paleontólogo da Unesp, campus de Botucatu, que colaborou no estudo. “Ainda não sabemos por que essa biota se extinguiu nem qual é exatamente a sua relação com os filos de animais modernos.”
Ao certo, sabe-se apenas que a biota de Ediacara prevaleceu nos oceanos do planeta de 580 milhões a 542 milhões de anos atrás, entre o final do período geológico Ediacarano e o início do Cambriano. A maioria dessa biota, entretanto, aparentemente foi extinta no começo do Cambriano, quando uma diversidade de espécies ainda maior surgiu e originou animais anatomicamente mais complexos, entre eles os ancestrais dos atuais insetos e vertebrados.

“Há certa polêmica na literatura científica sobre a natureza das Aspidella”, conta a paleontóloga Fernanda Quaglio, da Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, colaboradora de Warren no estudo. Alguns pesquisadores defendem que a forma de disco desses organismos não representa o fóssil de um animal completo, mas de apenas uma parte dele. O disco seria a base de sustentação para uma estrutura filtradora de água do mar em forma de pena, como a de organismos relacionados ao gênero Charniodiscus, já encontrados em outros sítios paleontológicos, mas ainda não em Cerro Negro. Para outros pesquisadores, as Aspidella nada teriam a ver com os Charniodiscus. Em vez disso, teriam sido colônias de fungos ou representariam ainda evidência de formas de vida muito mais simples.

Independentemente da verdadeira natureza dos seres encontrados em Cerro Negro, Warren vê essa descoberta como mais uma evidência de como eram os continentes há cerca de 550 milhões de anos. No cenário apresentado em 2014 por Warren e outros geólogos, uma grande porção das massas continentais que originariam o supercontinente Gondwana, do qual surgiram os blocos rochosos mais antigos que formam a América do Sul, a África, a Antártida e a Austrália, eram cobertas por um mar raso, com poucas dezenas de metros de profundidade, parte de um oceano batizado de Clymene. “Não existe nenhum mar parecido hoje”, afirma Warren. “Possivelmente o Clymene cobriria com água salgada uma área continental tão extensa quanto a Antártida.”


Projeto
 
Análise multi-proxy da Formação Cerro negro, Argentina: bioestratigrafia e paleoambiente do primeiro fossillagerstätte Ediacarano da América do Sul (nº 2015/24608-3); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisador responsável Lucas Verissimo Warren (IGCE/Unesp); Investimento R$ 172.342,00

Artigo científico
 
ARRUOY, M. J. et al. Ediacaran discs from South America: probable soft-bodied macrofossils unlock the paleogeography of the Clymene Ocean. Scientific Reports. 27 jul. 2016.

Geologia: Forte terremoto atinge região central da Itália e deixa ao menos 73 mortos

Um forte terremoto atingiu a região central da Itália na madrugada desta quarta-feira (24), deixando ao menos 73 mortos.

O número de mortos, que deve crescer durante as próximas horas, foi informado pela Defesa Civil italiana. Há centenas de feridos e milhares de desabrigados. O terremoto foi descrito como "severo" pelas autoridades italianas.

Diversos vilarejos foram afetados, alguns deles com parte de suas construções desmoronadas. A zona em questão, porém, não é densamente povoada.
"Metade da cidade não existe mais", afirmou Sergio Pirozzi, prefeito de Amatrice (a 140 km de Roma), uma das cidades mais afetadas. Vivem ali menos de 3.000 habitantes. O acesso foi bloqueado por um deslizamento de terra e pela queda de uma ponte.
O serviço geológico dos EUA registrou que o terremoto, às 3h30 locais (22h30 em Brasília) teve magnitude de 6,2, a dez quilômetros de profundidade, com epicentro em Norcia. Houve réplicas pela região, com tremores sentidos até em Roma. O instituto italiano para terremotos contou 60 réplicas durante quatro horas.
"Nós viemos para a praça e parecia o Inferno de Dante", conta Agostino Severo, em uma referência à "Divina Comédia", do escritor italiano Dante Alighieri.
Severo, que mora em Roma e visitava o vilarejo de Illica, ao norte de Amatrice, afirma que "as pessoas choravam por ajuda. O resgate chegou após uma hora, uma hora e meia".
Pacientes de um hospital local foram deslocados à praça de Amatrice. Em outros povoados afetados, moradores abandonaram as casas durante a madrugada após os tremores.

Editoria de Arte/Folhapress 
O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, afirmou que "nenhuma família, nenhuma cidade, nenhuma aldeia será deixada abandonada". Em pronunciamento à TV italiana, ele disse que a prioridade para os próximos dias é resgatar sobreviventes que possam estar soterrados nos escombros. Renzi deve ir à região atingida ainda nesta quarta.

Em nota divulgada na manhã desta quarta, o Itamaraty afirmou que, até o momento, não há registro de brasileiros entre as vítimas e expressou solidariedade ao povo italiano.
De acordo com a rede pública italiana Rai, houve mortos em Pescara del Tronto, Accumoli e Amatrice. O prefeito de Accumoli, Stefano Petrucci, afirmou que 2.000 pessoas perderam suas casas.

MORADORES
 
"Aqui se ouvem apenas os gatos", afirmou à agência AFP Guido Bordo, 69, morador de Accumoli, enquanto esperava notícias de sua irmã, soterrada nos escombros. "Ela não dá sinais de estar viva."
Um morador de Arquata, citado pela RaiNews, revelou que vários prédios ficaram destruídos na localidade, a 25 km de Norcia, mas não citou feridos. "Os moradores estão na praça central e muitos prédios desabaram."

Equipes de resgate trabalhavam durante a manhã em busca de sobreviventes. Moradores da região relatavam vozes vindas debaixo dos escombros.
Com diversos povoados montanhosos afetados pelo tremor, as operações enfrentavam dificuldades de logística. A Cruz Vermelha pediu que automóveis evitem as estradas ao norte de Roma para ajudar as equipes a chegar às zonas afetadas.

No Vaticano, o papa Francisco cancelou sua catequese matutina a peregrinos na praça de São Pedro para orar pelas vítimas. A Santa Sé informou que enviou um grupo de seis bombeiros a Amatrice para auxiliar no resgate de vítimas.

TERREMOTOS
 
A Itália é um dos países com maior atividade sísmica na Europa, devido a sua posição entre duas falhas geológicas. Em 2009, um terremoto de magnitude 6,3 na cidade de Áquila deixou mais de 300 mortos.
O tremor mais letal no país desde o início do século 20 ocorreu em 1908, com estimativas de 95 mil mortos na região sul. 

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/08/1806328-forte-terremoto-atinge-a-regiao-central-da-italia.shtml

A antropologia física dos “vis aimorés”

07 de junho de 2016

Peter Moon | Agência FAPESP – Um dos principais mistérios da Antropologia Física brasileira – e que já dura 150 anos – está prestes a ser elucidado. Afinal, quem eram os índios botocudos? Seriam eles descendentes diretos de uma primeira onda migratória de paleoíndios com traços negroides que teria povoado a América do Sul há 13 mil anos, no final da Idade do Gelo? Ou seriam os botocudos uma etnia diferente de todas as demais etnias brasileiras, por possuirem DNA polinésio no seu caldo hereditário? Ou carregariam injustamente a pecha de “primitivos” desde os tempos do Brasil Colônia, já que seriam descendentes da mesma migração humana que derivou em todas as etnias indígenas do Novo Mundo?

Em um trabalho publicado em 2015 no American Journal of Physical Anthropology, os antropólogos físicos André Strauss, pesquisador associado do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos e do Laboratório de Antropologia Biológica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha; Danilo V. Bernardo, da Universidade Federal do Rio Grande; e Mark Hubbe, da Universidade Estadual de Ohio, em Columbus, Estados Unidos, entre outros, se propõem a eliminar uma daquelas possibilidades. No caso, a que prega que os botocudos seriam descendentes diretos de uma primeira e hipotética migração para as Américas. A pesquisa teve apoio da FAPESP nas modalidades bolsa de doutorado e mestrado.

A antropologia física dos “vis aimorés” Estudo que busca desvendar a origem dos índios botocudos coloca em dúvida a tese de que eles seriam descendentes diretos de uma primeira e hipotética migração para as Américas ( Foto: Índios botocudos, Santa Leopoldina (ES)/ Walter Garbe, 1909/Biblioteca Nacional Digital )


Em um trabalho publicado em 2015 no American Journal of Physical Anthropology, os antropólogos físicos André Strauss, pesquisador associado do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos e do Laboratório de Antropologia Biológica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha; Danilo V. Bernardo, da Universidade Federal do Rio Grande; e Mark Hubbe, da Universidade Estadual de Ohio, em Columbus, Estados Unidos, entre outros, se propõem a eliminar uma daquelas possibilidades. No caso, a que prega que os botocudos seriam descendentes diretos de uma primeira e hipotética migração para as Américas. A pesquisa teve apoio da FAPESP nas modalidades bolsa de doutorado e mestrado.

A onda migratória da qual os botocudos seriam os seus herdeiros modernos é simbolizada pelo chamado “Povo de Lagoa Santa”, nome coletivo dado aos 30 esqueletos fossilizados de paleoíndios descobertos pelo naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund em uma gruta inundada de Lagoa Santa, Minas Gerais, em 1844.

A hipótese de que os crânios dos botocudos teriam uma morfologia distinta da dos tupis, e talvez parecida com a do homem de Lagoa Santa, foi levantada pela primeira vez por antropólogos do Museu Nacional do Rio de Janeiro ainda nos idos de 1870.

Desde então, a busca de uma resposta para a questão tem impulsionado as investigações arqueológicas em Lagoa Santa. Um dos pontos altos desta pesquisa foi a missão franco-brasileira que encontrou, nos anos 1970, um crânio com cerca de 12.500 anos, apelidado carinhosamente de Luzia, a “primeira brasileira”, por Walter Neves, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP.
Outro ponto alto da pesquisa foram as escavações realizadas entre 2003 e 2009 em diversas grutas e abrigos da região de Lagoa Santa. O trabalho foi liderado pelo próprio Neves, com apoio da FAPESP, no âmbito do Projeto Temático “Origins and microevolution of man in the Americas: a paleoanthropological approach”. Durante o trabalho de campo, Neves, que foi orientador de Strauss e Hubbe, escavou 23 crânios de paleoíndios com idades de até 8 mil a 10 mil anos. Foram esses crânios que forneceram a base principal de comparação para o estudo agora publicado.
A análise multivariada consistiu na comparação dos 32 crânios de botocudos da coleção do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro com a morfologia craniana de 3 mil crânios humanos modernos e pré-históricos de todo o mundo (incluídos aí 19 crânios de paleoíndios de Lagoa Santa e 66 de paleoíndios da Colômbia).

O objetivo dos pesquisadores foi chegar a um veredicto sobre a pretensa ancestralidade dos botocudos. O resultado comprovou o que os estudiosos do século 19 suspeitavam. “Nosso artigo confirma que a morfologia craniana dos botocudos era mais parecida com a dos crânios de Lagoa Santa do que com a dos tupis,” afirma Strauss.

O estudo sugere que a morfologia dos antigos paleoíndios foi conservada por milhares de anos nos ancestrais dos botocudos e sobreviveu até o século 19, apesar da existência de grupos tupis-guaranis ocupando a mesma região.

Daí se infere que a baixa afinidade morfológica entre os tupis-guaranis e os botocudos é sinal de um fluxo genético muito limitado entre os dois grupos. Em outras palavras, apesar de ocuparem as mesmas regiões por milhares de anos, praticamente não houve cruzamento entre os ancestrais dos botocudos e os dos tupis-guaranis.
Indo além, o fato de haver dois componentes genéticos, os ancestrais dos botocudos e os dos tupis, indicaria a existência de duas ondas migratórias distintas que teriam povoado o nosso continente – hipótese defendida por Neves desde os anos 1980.

Polinésios nas Américas?

Em 2014, um estudo internacional realizado a partir de DNA extraído dos crânios de botocudos do Museu Nacional e publicado no Current Biology, chegou a conclusões surpreendentes. Entre os crânios estudados, dois deles (os de números 15 e 17) revelaram ser 100% polinésios, enquanto os demais crânios da coleção eram 100% ameríndios.
A hipótese mais aceita para o povoamento das Américas prega que os primeiros grupos humanos que adentraram o Novo Mundo o fizeram através de uma ponte terrestre, hoje submersa, que existia no estreito de Behring. Essa ponte ligou a Ásia ao Alasca durante a Idade do Gelo, quando o nível dos mares era 130 metros mais baixo do que o nível atual.

Desde os tempos da expedição Kon-Tiki, do norueguês Thor Heyerdahl, que saiu do Peru em 1947 numa jangada para, três meses depois, atingir a Polinésia francesa, especulava-se se o povoamento das Américas teria ocorrido no sentido contrário, da Polinésia para o Novo Mundo.
Os autores do estudo entendem a surpresa do achado e procuram explicá-la por meio das seguintes suposições: o DNA polinésio poderia ter se imiscuído nas tribos dos botocudos do tempo do Império pelo tráfico de escravos entre a Polinésia e o Peru, ou entre Madagascar e o Brasil. Outras possibilidades seriam a vinda de polinésios ao Brasil como tripulantes de navios europeus – ou via travessias oceânicas realizadas pelos próprios polinésios.

“Como explicar que, à exceção daqueles dois crânios com DNA francamente polinésio, todos os demais possuem DNA ameríndio?”, questiona Strauss. “Como explicar DNA polinésio na costa atlântica do Brasil se jamais se encontrou nenhuma evidência neste sentido em nenhum outro ponto da América do Sul?”, complementa Hubbe. Se houvesse de fato ocorrido uma antiga migração polinésia para as Américas, por menor que esta fosse, seria de esperar que todos, ou pelo menos uma parte considerável dos crânios pesquisados, tivessem traços genéticos polinésios, o que não acontece.
Para Strauss e Hubbe, uma vez eliminadas todas as possíveis explicações para a chegada do DNA polinésio no Brasil, a única probabilidade que resta, e que deve ser verdadeira, é o fato de aqueles dois crânios com DNA polinésio não serem de botocudos. Em outras palavras, em algum momento nos últimos 150 anos ocorreu um erro no registro daqueles crânios.

“Fui ao Museu Nacional, pesquisei o tombo da coleção. Pude verificar que mais ou menos na mesma época da aquisição dos crânios de botocudos, na década de 1870, também foram adquiridos crânios da Polinésia para a montagem de uma exposição antropológica”, afirma Strauss. “Como o tombo do museu como conhecemos hoje só foi feito 30 anos mais tarde, já no início do século 20, tudo leva a crer que possa ter ocorrido um equívoco no registro daqueles dois crânios polinésios, que inadvertidamente acabaram rotulados como botocudos.”

Pesquisador com múltipla formação, Strauss irá concluir na Alemanha em 2016 um duplo doutorado em evolução humana, em Leipzig, e arqueologia, na Universidade de Tübingen. “Em museus alemães já vi crânios de gorilas classificados como sendo de chimpanzés. Esse tipo de troca pode ter ocorrido no Museu Imperial de Dom Pedro II no século 19.”

Com a palavra o geneticista Sergio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, um dos líderes do trabalho com DNA polinésio. “No nosso artigo tínhamos como coautores excelentes antropólogos cranianos, como o próprio Walter Neves, e provavelmente o maior especialista mundial na origem dos polinésios, Mark Stoneking. Nenhuma pista deixou de ser investigada”, afirma Pena. “É lógico que a possibilidade de troca no Museu Nacional foi extensivamente investigada, mas nenhuma evidência a seu favor foi encontrada.”

A suspeita de erro no tombo dos crânios faz sentido, porém jamais poderá ser comprovada. Não há forma de saber com certeza a origem e a real identidade daqueles dois crânios polinésios. O que é possível, e que está de fato em vias de ser conhecida, é a real ancestralidade dos índios botocudos.
Desde 2011, Strauss dá continuidade aos trabalhos iniciados por Neves na Lapa do Santo, dirigindo as escavações arqueológicas naquele abrigo rochoso. Ele revela que foram achados mais cinco crânios antigos, dos quais se procura, neste exato momento, extrair material genético no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva – a instituição responsável por inventar as técnicas que revolucionaram o estudo de DNA fóssil e onde foi sequenciado o genoma dos neandertais. De acordo com Strauss, os resultados parecem promissores.

Afinal, quem eram os botocudos?

Os índios botocudos, também conhecidos como aimorés ou aimberês, eram assim chamados pelos colonizadores portugueses por causa dos discos de madeira (os botoques) que costumavam usar no lábio inferior e nas orelhas. No início do século 19, as tribos de botocudos viviam no vale do rio Doce, entre o Espírito Santo e a Bahia. Não eram tupis, mas pertencentes ao grupo linguístico macro-jê. Guerreiros, eles evitavam o contato com o colonizador branco, daí terem recebido a alcunha de “índios ferozes” ou “de vis aimorés”, como declama o poema I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias.
Em 1808, Dom João VI transferiu a sua Corte de Lisboa para o Rio de Janeiro. No mesmo ano, além de fundar o Banco do Brasil, a Casa da Moeda e o Jardim Botânico, o monarca assinou duas cartas régias deflagrando uma guerra ofensiva contra os botocudos. A primeira carta permitia o cativeiro de indígenas por até dez anos, ou enquanto durasse a “fereza” e a “antropofagia” entre eles. A segunda afirmava a intenção de colonizar o vale do rio Doce graças à guerra, tornando os territórios conquistados terra devoluta, própria para distribuição aos novos colonos.

A campanha militar contra os botocudos se estendeu por todo o século 19. Os que conseguiram sobreviver ao massacre fugiram para os vales do Mucuri e do Jequitinhonha. Os pouquíssimos remanescentes só foram declarados oficialmente pacificados em 1912.

Ao longo de um século de perseguição, que resultou no extermínio dos botocudos, a alcunha conferida a eles como sendo índios “ferozes” foi aos poucos virando sinônimo de feiúra, de seres primitivos. A partir daí, foi natural os botocudos despertarem o interesse científico dos antropólogos do Museu Nacional do Rio de Janeiro.

O artigo, assinado por André Strauss, Mark Hubbe, Walter A. Neves, Danilo V. Bernardo e João Paulo V. Atui, The cranial morphology of the Botocudo Indians, Brazil, publicado no American Journal of Physical Anthropology, está acessível no endereço http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ajpa.22703/abstract;jsessionid=60C5158D2873DCB73B13B0E4CB603A7D.f04t04.


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Bactérias do intestino podem ser gatilho para o diabetes tipo 1

Agosto de 2016

Karina Toledo | Agência FAPESP – Estudos recentes têm mostrado que portadores de diabetes frequentemente apresentam um desequilíbrio entre as bactérias benéficas e as patogênicas que compõem a microbiota intestinal – condição conhecida como disbiose, potencialmente maléfica ao organismo. Não está claro, contudo, se isso é uma das causas ou uma consequência dessa doença metabólica.

Novas evidências publicadas por pesquisadores brasileiros no Journal of Experimental Medicine sugerem que, quando bactérias intestinais conseguem escapar para os gânglios linfáticos localizados próximos ao pâncreas – devido a alterações de permeabilidade da parede do intestino causadas pelo processo de disbiose –, elas podem ativar certos receptores existentes em células do sistema imune inato (primeira linha de defesa do organismo), particularmente nos macrófagos e nas células dendríticas.
Bactérias do intestino podem ser gatilho para o diabetes tipo 1 Ilhota pancreática com reduzida marcação de insulina do grupo de roedores tratados com STZ, antibiótico e MDP, mostrando o processo de destruição contra as células beta produtoras de insulina (Imagem: Divulgação).
 
 Segundo os autores, essa ativação induziria uma condição pró-inflamatória no organismo e favoreceria o desenvolvimento de uma resposta imunológica direcionada (adaptativa) às células beta produtoras de insulina no pâncreas – processo que resulta no chamado diabetes tipo 1 ou autoimune.

“A fase final de desenvolvimento do diabetes tipo 1 já é bem compreendida. Sabe-se que o sistema imune, em um dado momento, passa a considerar as células beta do pâncreas como algo estranho ao organismo. Consequentemente, células específicas conhecidas como linfócitos T são ativadas e anticorpos são produzidos para destruir as produtoras de insulina. Porém, ainda não está claro quais são os gatilhos acionados no sistema imune inato para induzir a resposta imune adaptativa. Neste estudo, mostramos que há envolvimento de um receptor intracelular chamado NOD2”, contou Daniela Carlos, pesquisadora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), e coordenadora da pesquisa apoiada pela FAPESP.

As conclusões apresentadas no artigo são baseadas em experimentos com camundongos realizados durante o mestrado de Frederico R. C. Costa, sob orientação de Daniela e com a colaboração do professor da FMRP-USP João Santana Silva.

Nos ensaios, o grupo observou que camundongos modificados geneticamente para não expressar a proteína NOD2 eram resistentes ao desenvolvimento do diabetes tipo 1 mesmo quando desafiados com um estímulo químico.
“Para induzir diabetes em roedores sadios no laboratório é administrada uma droga chamada estreptozotocina, que é tóxica para as células beta do pâncreas. A morte dessas células funciona como um sinal inflamatório e outras células de defesa são ativadas e recrutadas para o local, reconhecem e atacam as células beta produtoras de insulina. Os animais recebem a substância durante cinco dias consecutivos e, após 15 dias, já estão diabéticos”, explicou Daniela.
A confirmação da doença é realizada por meio de testes como glicemia de jejum, tolerância à glicose e à insulina. Todos esses parâmetros clínicos, porém, se mantiveram inalterados nos animais que receberam estreptozotocina, mas não expressavam NOD2.

O perfil do suspeito

Conforme explicou Daniela, o papel desse receptor já está bem descrito na literatura científica. NOD2 está presente nas células de defesa e do epitélio intestinal, com a função de reconhecer um dos componentes bacterianos, o MDP (dipeptídeo muramil). Quando ativado, o receptor induz uma sinalização intracelular que resulta na expressão de peptídeos antimicrobianos e citocinas inflamatórias, como a interleucina 1 beta (IL-1β), a interleucina 6 (IL-6) e a interleucina 23 (IL-23) – substâncias envolvidas na ativação e migração de células de defesa para o intestino. Dessa maneira, NOD2 desempenha um papel essencial na imunidade local e sistêmica, mantendo a integridade da barreira intestinal e controlando a translocação bacteriana do lúmen (cavidade interna do intestino) para a mucosa.

“Decidimos investigar a participação da proteína NOD2 na patogênese do diabetes tipo 1 porque estudos anteriores descreveram a associação entre uma microbiota alterada e o desenvolvimento do diabetes autoimune em humanos e em modelos experimentais. No entanto, os mecanismos pelos quais as bactérias intestinais levam à patologia continuavam obscuros. Nesse contexto, o receptor NOD2, importante por auxiliar na manutenção da homeostase intestinal, apareceu como um alvo-chave a ser estudado”, explicou Daniela.
De acordo com a pesquisadora, todos os autoantígenos (próprios do organismo) estão constantemente sendo apresentados aos linfócitos T por células do sistema imune inato. Normalmente, isso acontece em um contexto “tolerogênico”, ou seja, o sistema imune inato sinaliza, por meio da interleucina10 (IL-10), para que os linfócitos T assumam um perfil regulador (imunossupressor).
No entanto, segundo a teoria do grupo de Ribeirão Preto, quando componentes bacterianos ativam o receptor NOD2 em células dendríticas e macrófagos, as citocinas inflamatórias liberadas induzem um ambiente inflamatório, ou seja, os linfócitos T passam a receber um sinal diferente e se convertem em células patogênicas, capazes de reconhecer e atacar as células beta produtoras de insulina.

Conforme já mencionado, é preciso haver também a morte celular das células beta pancreáticas e a subsequente liberação de autoantígenos para criar o contexto inflamatório. No animal de laboratório, a morte celular é induzida pela estreptozotocina. Em humanos, segundo Daniela, a causa pode ser um fator ambiental, como, por exemplo, uma infecção viral.

Validação

Para validar a importância dos receptores NOD2 na patogênese do diabetes tipo 1 e confirmar a participação das bactérias intestinais em sua ativação, um segundo experimento foi feito com camundongos.
Desta vez, um grupo de roedores teve a microbiota intestinal reduzida com o uso de um potente coquetel de antibióticos. Ao ser desafiado com a administração de estreptozotocina, o grupo mostrou-se resistente ao desenvolvimento da doença, mesmo sendo capaz de expressar NOD2. Para os pesquisadores, isso está relacionado com a eliminação de bactérias nos linfonodos pancreáticos.

Já um outro conjunto de animais também teve a microbiota intestinal reduzida, mas recebeu, além de estreptozotocina, injeções de MDP – molécula encontrada em várias bactérias e capaz de ativar NOD2. Nesse caso, os animais tornaram-se diabéticos.
“Esses resultados confirmam, portanto, que existe alguma bactéria reconhecida via NOD2 nos linfonodos pancreáticos que está envolvida no desenvolvimento do diabetes tipo 1. Não conseguimos descobrir qual exatamente é a espécie bacteriana, mas agora pretendemos realizar uma análise metagenômica mais abrangente para tentar identificá-la”, disse Daniela.

Segundo a pesquisadora, com base nessas evidências, o próximo passo será testar algumas intervenções preventivas ou terapêuticas, como a modulação da microbiota intestinal por meio de compostos probióticos e prebióticos, ou a inibição do receptor NOD2 com drogas farmacológicas.

Os resultados publicados no Journal of Experimental Medicine também foram apresentados por Daniela durante o FAPESP/EU-LIFE Symposium on Cancer Genomics, Inflammation & Immunity. O evento realizado entre os dias 7 e 9 de junho, na sede da FAPESP, teve como objetivo fomentar a colaboração entre cientistas do Estado de São Paulo e da Europa.

O artigo Gut microbiota translocation to the pancreatic lymph nodes triggers NOD2 activation and contributes to T1D onset (doi: 10.1084/jem.20150744) pode ser lido em jem.rupress.org/content/213/7/1223.abstract.
 

Um verme ameaça a produção de ostras em cativeiro no Brasil

Agosto de 2016

Peter Moon | Agência FAPESP – A produção nacional em cativeiro de ostras, vieiras e mexilhões corre riscos devido à infestação de um verme anelídeo da classe Polychaeta, chamado Polydora hoplura, uma espécie invasora natural do oceano Pacífico. É o que alertam os biólogos Álvaro Migotto, do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo, e Vasily I. Radashevsky, especialista mundial em poliquetas, do A.V. Zhirmunsky Institute of Marine Biology, de Vladivostok, da Rússia.

Migotto e Radashevsky identificaram a presença da poliqueta P. hoplura em ostras selvagens coletadas em Ilhabela, litoral norte do Estado de São Paulo. É a primeira vez que se constata sua presença no Atlântico Sul. O estudo acaba de ser publicado no periódico Marine Biodiversity. Radashevsky veio ao Brasil graças ao Auxílio à Pesquisa - Pesquisador Visitante da FAPESP.

Um verme ameaça a produção de ostras em cativeiro no Brasil Estudo identificou anelídeos da classe Polychaeta em Ilhabela, no litoral norte do Estado de São Paulo (Ilustração: Polydora hoplura/Álvaro Migotto)  
 
 A constatação da presença de Polydora no Brasil é uma ameaça em potencial para a aquicultura de ostras em Santa Catarina. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado produziu 21,65 mil toneladas do molusco em 2014, ou 98% da produção brasileira. De acordo com Migotto, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina já confirmaram a presença de poliquetas nos plantéis de ostras catarinenses, mas ainda não se sabe quais seriam as espécies de Polydora, nem os possíveis impactos negativos que elas poderiam causar a esses cultivos.

Mas como a Polydora chegou ao nosso litoral? E de que forma sua presença ameaça a aquicultura de ostras de Santa Catarina? P. hoplura é uma das dezenas de espécies do gênero Polydora. Trata-se de vermes perfuradores de conchas, que escavam pequenos canais na estrutura calcária das conchas de moluscos para ali se instalar e viver.

A presença de P. hoplura é fator de desequilíbrio no desenvolvimento e na saúde do molusco. Isso pode ocorrer de várias formas. Se o molusco contaminado tem uma casca muito fina, o verme pode atingir o interior mole do molusco. Neste caso, o molusco irá gastar mais energia na produção de material calcário para cobrir e isolar o buraquinho feito pelo verme. A energia gasta é desviada de funções vitais, como alimentação e reprodução.

Em uma infestação generalizada, a proliferação de P. hoplura pode fazer com que uma única ostra seja perfurada por dezenas de indivíduos. Isso vai fazer o molusco despender toda a sua energia na tentativa de se proteger dos vermes invasores. O resultado é a morte do animal.
Nos países onde há infestação de Polydora e outras poliquetas, a produção de ostras é muito afetada, havendo casos específicos na Nova Zelândia e na África do Sul onde a produção foi drasticamente atingida. “Se a infestação for muito alta, o bicho vai gastar muita energia para produzir concha. Se a infestação for demasiada, o bicho morre”, atesta Migotto. “Há casos de colapso total na atividade de aquicultura, provocada pela infestação.”

Como essa espécie invasora se proliferou pelo mundo? Segundo Migotto, é bem provável que tenha chegado ao Brasil dentro de matrizes da ostra-do-pacífico (Crassostrea gigas), a espécie natural do mar do Japão que é cultivada ao redor do planeta.

As matrizes de ostra-do-pacífico são importadas pelos criadores para formar a operação de cultivo e também manter a diversidade genética e a saúde do plantel. Nas Américas, já é conhecida a presença de poliquetas invasoras nas águas da Califórnia e do Maine, na costa Oeste e Leste dos Estados Unidos, respectivamente, e também no litoral do Chile.
“Achamos poliquetas da espécie P. hoplura em conchas e moluscos nativos do litoral de São Paulo,” diz Migotto. “Se elas vieram dentro das matrizes de ostra-do-pacífico, podemos considerar que a espécie invasora já se espalhou pelo litoral sul do Brasil."

Há várias espécies de Polydora no Atlântico Sul. Elas também perfuram conchas de moluscos, mas não há registros de que impactem de forma significativa a atividade de aquicultura.

O artigo assinado por Vasily I. Radashevsky e Alvaro E. Migotto, First report of the polychaete Polydora hoplura (Annelida: Spionidae) from North and South America and Asian Pacific, publicado no períodico Marine Biodiversity, está acessível no endereço http://link.springer.com/article/10.1007/s12526-016-0515-0.

Composto da pariparoba-murta se mostra eficaz contra parasitas

24 de agosto de 2016

Karina Toledo  |  Agência FAPESP – Análogos sintéticos de uma molécula encontrada nas plantas da espécie Piper malacophyllum – popularmente conhecida como pariparoba-murta – apresentaram em ensaios in vitro atividade antiparasitária até 40 vezes maior do que as drogas mais usadas atualmente contra os protozoários causadores da doença de Chagas e da leishmaniose visceral.
Os resultados da pesquisa realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com apoio da FAPESP, foram divulgados no início de agosto durante o workshop “The momentum and perspectives of Drug Discovery and Development in Brazil”. O evento foi organizado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) pelo Centro de Espectrometria de Massas Aplicada (Cemsa).
Composto da pariparoba-murta se mostra eficaz contra parasitas Análogos sintéticos de uma molécula extraída da planta apresentam in vitro alta atividade contra os protozoários causadores da doença de Chagas e da leishmaniose visceral (foto: pariparoba-murta/divulgação)


Os dados também foram publicados na revista Bioorganic & Medicinal Chemistry Letters.
“Foi identificado nessa planta um composto com ação antiparasitária chamado gibilimbol e nosso grupo já sintetizou mais de 15 análogos. Fizemos pequenas modificações na estrutura da molécula com o objetivo de aumentar sua eficácia”, contou João Paulo dos Santos Fernandes, professor do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF) da Unifesp.

Duas versões da molécula de gibilimbol – nomeadas como “A” e “B” – foram originalmente extraídas da pariparoba-murta e caracterizadas no âmbito de um projeto coordenado pelo professor João Henrique Ghilardi Lago, também do ICAQF-Unifesp, cujo objetivo é procurar compostos com ação antiparasitária em plantas da Mata Atlântica.
O desenvolvimento de análogos sintéticos com atividade potencializada vem sendo feito, sob a orientação de Fernandes, durante os projetos de iniciação científica e mestrado de Marina Themoteo Varela.
Já os ensaios in vitro para avaliar a eficiência dos compostos sobre os parasitas são coordenados por Andre Gustavo Tempone Cardoso, no Instituto Adolfo Lutz (IAL), e também contam com apoio da FAPESP.

Design de moléculas

Os primeiros ensaios in vitro, feitos ainda com os compostos naturais, indicaram que o gibilimbol B era mais eficaz contra os parasitas do que o gibilimbol A.

“Quando estudamos a estrutura química das duas moléculas, observamos que a única diferença entre elas era a posição de uma dupla ligação – que na molécula B fica mais próxima do anel aromático. Então sintetizamos análogos buscando inserir outros substituintes próximos do anel e grupos funcionais adicionais que pudessem realizar interações específicas com as células dos parasitas e, assim, aumentar a atividade”, contou Fernandes.

Segundo o pesquisador, muitos dos análogos sintéticos já feitos se mostraram mais eficazes para matar os parasitas do que os compostos naturais, nos testes in vitro. A molécula mais promissora tem sido chamada pelos pesquisadores de LINS03003.
Além de comparar com os protótipos naturais, os pesquisadores também fizeram ensaios para avaliar o desempenho dos análogos sintéticos em relação ao das drogas hoje mais usadas contra o Trypanossoma cruzi, causador de Chagas, e o Leishmania infantum, causador de leishmaniose visceral. “Usamos um método que fornece valores conhecidos como IC50. Esse teste avalia a quantidade do composto necessária para matar 50% dos parasitas. De maneira geral, valores abaixo de 10 micromolar (μM) são considerados promissores”, explicou Fernandes.

Contra a forma amastigota do T. cruzi (que é intracelular e é considerada a mais importante de ser combatida para o controle da doença na fase crônica), o LINS03003 se mostrou 40 vezes mais eficaz que o benznidazol, a droga utilizada no tratamento. Com apenas 5,5 μM foi possível eliminar 50% dos parasitas. Já contra a forma tripomastigota (encontrada apenas quando o protozoário migra de uma célula para outra), o composto foi 26 vezes mais eficaz que o benznidazol.

“Outra grande vantagem observada foi a baixa toxicidade relativa. O nosso composto se mostrou quatro vezes mais tóxico para a forma amastigota do T. cruzi do que para as células humanas, ou seja, é necessária uma dose quatro vezes maior do que a usada contra os parasitas para matar 50% das células humanas. Já no caso do benznidazol essa seletividade é igual ou menor”, comentou Fernandes.
Já nos testes contra o L. infantum a droga de comparação foi a miltefosina, usada principalmente na Índia para tratar leishmaniose visceral. Contra a forma amastigota (intracelular), o LINS03003 se mostrou 10 vezes mais potente, eliminando 50% dos parasitas com apenas 1,8 μM. Já contra a forma promastigota (encontrada no mosquito transmissor e na circulação sanguínea do hospedeiro humano após a inoculação) sua eficácia foi comparável à da miltefosina, com um IC50 de 28 μM.
Em relação à segurança, o LINS03003 foi 13 vezes mais tóxico para a forma amastigota de L. infantum que para as células humanas em cultura. O valor é comparável ao da miltefosina – 14 vezes mais tóxica para o parasita que para os humanos.

Atualmente, durante o mestrado, Varela está criando novas variações sintéticas do gibilimbol, mexendo em outras partes da molécula, para buscar um composto ainda mais eficiente e menos tóxico. Os análogos serão usados em novos testes in vitro e, posteriormente in vivo.

“Os compostos parecem bem promissores, pois são pequenos, fáceis de sintetizar e sua estrutura química indica baixa toxicidade. Mas somente após os primeiros testes em animais poderemos ter certeza de como eles se comportam no organismo, ou seja, como são metabolizados, se conseguem chegar até o parasita, entre outros fatores”, ponderou Fernandes.

O artigo Gibbilimbol analogues as antiparasitic agents—Synthesis and biological activity against Trypanosoma cruzi and Leishmania (L.) infantum (doi: 10.1016/j.bmcl.2016.01.040) pode ser lido em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960894X16300403.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Maior vulcão do planeta é descoberto no Oceano Pacífico

Denominado Tamu Massif, o vulcão tem a área do estado do Rio Grande do Sul e está entre os maiores do Sistema Solar


Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu o maior vulcão já encontrado na Terra. Submerso no Oceano Pacífico, o Tamu Massif tem tamanho comparável aos vulcões gigantes de Marte, o que o coloca também entre os maiores do Sistema Solar – o Olympus Mons, um vulcão gigante de Marte considerado o maior do Sistema Solar, é apenas 25% maior do que o Tamu Massif. O vulcão está localizado a cerca de 1.600 quilômetros a leste do Japão e ocupa uma área de aproximadamente 300.000 quilômetros quadrados – maior do que o estado do Rio Grande do Sul.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: An immense shield volcano within the Shatsky Rise oceanic plateau, northwest Pacific Ocean

Onde foi divulgada: periódico Nature Geoscience
Quem fez: William W. Sager, Jinchang Zhang, Jun Korenaga, Takashi Sano, Anthony A. P. Koppers, Mike Widdowson e John J. Mahoney
Instituição: Universidade de Houston, EUA, e outras
Resultado: O Tamu Massif, vulcão submerso no Oceano Pacífico, é o maior já encontrado na Terra, com 300.000 quilômetros quadrados de área.
William Sager, professor do Departamento de Ciências Atmosféricas e da Terra da Universidade de Houston, nos Estados Unidos, começou a estudar o vulcão vinte anos atrás. Até agora, não estava claro para os pesquisadores se o Tamu Massif era um vulcão único ou se era formado por diversos pontos de erupção.

No novo estudo, publicado nesta quinta-feira no periódico Nature Geoscience, os autores analisaram amostras do vulcão colhidas pelo navio de pesquisa Joides Resolution, parte do Ocean Drilling Program (Programa de Perfuração Oceânica), uma iniciativa internacional de exploração e estudo da composição e estrutura do solo oceânico. A partir dessas amostras, eles concluíram que o vulcão entrou em erupção a partir de um único ponto, perto do centro, o que permite que ele seja considerado o maior vulcão individual do planeta.

Além do tamanho, o Tamu Massif também se destaca por seu formato: é um vulcão-escudo, nome dado aos vulcões que têm forma de uma larga montanha, com o perfil de um escudo. Ele é relativamente baixo e amplo, o que indica que a lava expelida deve ter percorrido longas distâncias antes de resfriar, diferentemente da maioria dos vulcões, que costumam ser pequenos e verticais.
De acordo com o pesquisador, a idade estimada do vulcão é de 145 milhões de anos. Acredita-se que ele tenha se tornado inativo alguns milhões de anos depois de sua formação. “Podem existir vulcões maiores, porque existem formações ígneas maiores no mundo, mas não sabemos se essas formações são um vulcão único ou um complexo de vulcões”, explica o pesquisador.

Temperatura no centro da Terra chega a 6.000 graus Celsius

Estimativa supera em mil graus cálculos de experimentos anteriores

Por: Marcus V. Cabral - atualizado em 23/08/2016

Pesquisadores conseguiram determinar que a temperatura da Terra perto de seu centro é de 6.000 graus Celsius, mil graus mais quente do que experimentos anteriores haviam mostrado. Esses cálculos também confirmam modelos geofísicos que previam que, para explicar a formação do campo magnético terrestre, a diferença entre a temperatura do núcleo e do manto terrestre deveria ser de 1.500 graus. O resultado foi publicado nesta quinta-feira na revista Science.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Melting of Iron at Earth’s Inner Core Boundary Based on Fast X-ray Diffraction

Onde foi divulgada: periódico Science
Quem fez: S. Anzellini, A. Dewaele, M. Mezouar, P. Loubeyre, G. Morard
Instituição: Comissão Francesa de Energia Atômica e Energias Alternativas
Dados de amostragem: Amostras de ferro, submetidas a diferentes valores de temperatura e pressão
Resultado: Os pesquisadores descobriram que, se submetido à pressão de 2,2 milhões de atmosferas, o ponto de fusão do ferro é de 4.8000 graus Celcius. Cálculos matemáticos mostraram que a temperatura do núcleo sólido do planeta, onde a pressão é de 3,3 milhões de atmosferas, pode chegar 6.000 graus.

O núcleo da Terra é formado, em sua maior parte, por uma esfera de ferro líquido com temperaturas superiores a 4.000 graus Celsius e pressão equivalente à de 1,3 milhão de atmosferas. Sob essas condições, o ferro se torna tão líquido quanto a água dos oceanos. É apenas no centro dessa esfera, onde as temperaturas e pressão são ainda maiores, que o ferro volta a se solidificar.

Os pesquisadores conhecem a maior parte dessas características a partir da análise do movimento das ondas sísmicas – causadas por terremotos – entre essas camadas. Essas ondas, no entanto, não são capazes de mostrar a temperatura nessas regiões, o que deixa de fora informações importantes para os cientistas compreenderem os movimentos dos materiais que compõem o centro da Terra. Por exemplo, a diferença entre as temperaturas do núcleo e do manto é um dos fatores responsáveis, junto com a rotação do planeta, por gerar o campo magnético da Terra.

Para descobrir a temperatura dessas camadas, os cientistas analisaram a temperatura de fusão do ferro em diferentes pressões, usando equipamentos feitos de diamante para comprimir pequenas partículas de ferro a pressões que são milhões de vezes superiores à exercida pela atmosfera. Nessas condições, os pesquisadores dispararam poderosos raios laser nas amostras, que são capazes de esquentar o material a até quase 5.000 graus Celsius. “Na prática, tivemos de superar muitos desafios experimentais, uma vez que as amostras precisam ser termicamente isoladas e não podem interagir quimicamente com o ambiente. Além disso, mesmo que uma amostra alcance temperatura e pressão extremas como as do centro da Terra, isso só vai acontecer por alguns segundos – período muito curto para determinar se o material começou a derreter ou continua sólido”, Agnès Dewaele, pesquisadora da Comissão Francesa de Energia Atômica e Energias Alternativas, responsável pela pesquisa.
ESRF
Temperatura
A fim de superar esse problema, os pesquisadores utilizaram raios-X como ferramenta para analisar as amostras de ferro. “Nós desenvolvemos uma nova técnica onde raios-X intensos podem atingir uma amostra e deduzir se ela está sólida, liquida ou parcialmente derretida, em períodos curtos de tempo, de até um segundo. Isso é rápido o suficiente para que a temperatura e pressão das amostras sejam mantidas constantes”, disse Mohamed Mezouar, pesquisador do Laboratório Europeu de Radiação Síncrotron, um dos autores do estudo.

Assim, eles conseguiram determinar experimentalmente que o ponto de fusão do ferro é de 4.800 graus a uma pressão de 2,2 milhões de atmosferas – os limites do equipamento. Utilizando modelos matemáticos, os pesquisadores calcularam o mesmo ponto de fusão para uma pressão de 3,3 milhões de atmosferas, equivalente à sentida na fronteira entre o núcleo sólido e o liquido. O resultado foi 6.000 graus Celsius.
Saiba mais:
Saiba mais: Missão quer chegar até o centro da Terra em 2020
Os pesquisadores também descobriram por que as pesquisas anteriores haviam calculado essa temperatura de forma errada. Segundo os cientistas, a partir dos 2.400 graus, um processo químico conhecido como recristalização acontece na superfície do ferro, levando a mudanças em sua estrutura. A pesquisa anterior havia usado técnicas ópticas para determinar se as amostras estavam sólidas ou líquidas, e é possível que os pesquisadores tenham interpretado a recristalização na superfície da amostra como um sinal de seu derretimento.

Saiba mais

CROSTA
Parte mais externa do planeta, pode medir até 60 quilômetros

MANTO
Camada densa feita de rochas quentes e semissólidas. Mede quase 3.000 quilômetros

NÚCLEO EXTERNO
Camada líquida do núcleo, é composta principalmente de ferro e níquel

NÚCLEO INTERNO
Centro extremamente quente e sólido, formado por ferro e níq

domingo, 21 de agosto de 2016

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Sobre o Monte Everest

Ama montanhas? Veja isto: As 10 montanhas mais incríveis do mundo
Também conhecido como: Sagarmāthā (Nepal), Chomolungma (Tibet, China)
Elevação: 8.848 metros
Localização: Nepal, China (Tibet)
Primeira vez que foi escalado: 29 de maio de 1953 (Tenzing Norgay e Edmund Hillary)
Rota mais popular: lado sul (Nepal)
Coordenadas (WGS84): 27° 59′ 17″ N, 86° 55′ 31″ E

Everest – a montanha mais alta do mundo

O Everest (ou Chomolungma, como é chamado no Nepal) tem 8848,43 metros de altura e é o sonho de todo alpinista, mas é sem dúvida o desafio mais perigoso e a montanha mais mortal da Terra. Sim, é o lugar mais alto do nosso planeta e o cume mais famoso de todos, e que toda criança conhece. Mas a história da sua descoberta e das pessoas corajosas que tentaram chegar ao topo é desconhecida da maioria do público. Tendo uma forma de pirâmide por causa dos derretimentos das geleiras, o Everest está bem na fronteira entre dois países asiáticos – China e Nepal.

Infográficos

A Verdade chocante

Este pico é considerado um dos lugares mais magníficos e ao mesmo tempo trágicos e perigosos no mundo. Sua silhueta rochosa já atraiu várias pessoas corajosas tentando atingir o cume. Infelizmente, muitos deles ficaram nas suas neves e penhascos para sempre. Mais de 235 alpinistas e pessoais da região morreram ao tentar subir o pico mais alto do mundo, porém o número exato é desconhecido, pois nem todos se registram antes de começar a viagem. Os problemas maiores são a pressão e o ar rarefeito, que são impossíveis de respirar por muito tempo. Ainda assim, apesar do perigo, o ar congelante e falta de oxigênio no ar que respiram, várias pessoas arriscaram as suas vidas para estar um pequeno período de tempo no topo do mundo. O que há de tão especial nele?

Quanto custa subir o Everest?

Atualmente, esta é uma pergunta bastante popular. Estas expedições para montanhas requerem pagamento para que você possa participar delas, e você também precisa ser não apenas fisicamente preparado e ter habilidades em montanhismo, como também estar em condições de pagar por isso. O preço mínimo é de cerca de 30 mil dólares, se você for por conta própria. As empresas de viagens oferecem expedições guiadas, e o preço de seus serviços fica em torno de 60 mil dólares. O serviço VIP, que inclui acesso constante à Internet e ao telefone, custa em torno de 90 mil dólares. No geral, depende do guia e do número de serviços oferecidos no pacote. Porém, ao escolher uma empresa e o guia para fazer a viagem, é importante levar em conta não apenas o preço e o nome do fornecedor. É sempre importante fazer uma pesquisa e verificar se o vôo está incluído. É recomendável verificar também se o serviço dos Xerpas está incluso. Em alguns casos, você precisa pagar os Xerpas quand você está no acampamento-base. Então, para evitar surpresas inesperadas, é sempre melhor prestar atenção aos detalhes.

Porque tão caro?

O Governo do Nepal cobra uma taxa obrigatória para todos os estrangeiros que queiram escalar o Everest. Dependendo do tamanho do grupo, e do tempo necessário, esta taxa pode variar de 11 mil a 25 mil dólares.
Muitos leitores devem estar indignados agora: “Mas que bando de ladrões!”. Mas por outro lado, pense um pouco. Mesmo com estes preços, nas encostas da montanha existem mais de 200 mortos e toneladas de lixo. Imagine o que aconteceria se a taxa fosse mais baixa. O número de alpinistas iria aumentar dramaticamente e o Everest seria algo entre um lixão e um necrotério.
Outra coisa importante é ter um conjunto de equipamentos necessários, que também custa muito dinheiro. As despesas pelos serviços dos guias e dos alpinistas, além dos Xerpas, dependem geralmente do tamanho do grupo, e podem variar de um ano para o outro.

Fatos sobre o Monte Everest

  1. O Everest, que é parte da cadeia Mahalangur, tem 29.035 pés (8848 metros) de altura.
  2. Um vulcão inativo no Hawaii, Mauna Kea, ocupa o primeiro lugar nas montanhas mais altas do mundo, se não contarmos o nível do mar.
  3. Ele tem mais de 60 milhões de anos, e foi formado pelo movimento de uma placa tectônica (a Indiana) sobre a placa Asiática. Devido à atividade tectônica na região, o Everest fica 0,6 cm mais alto a cada ano.
  4. O cume é localizado na fronteira entre o Nepal (ao sul) e a China (também conhecido como Tibet) ao norte.
  5. Chomolungma (derivado do tibetano) significa “Mãe sagrada do universo”.
  6. Para se manterem aquecidos, recomenda-se que os alpinistas usem o oxigênio no máximo. Com relação à comida, antes da escalada, eles comem muito arroz e macarrão, pois eles consomem muita energia durante a subida. Em média, os alpinistas gastam mais de 10 mil calorias por dia, e este número pode dobrar durante a escalada do cume. No geral, os alpinistas perdem de 5 a 10 kg durante suas expedições.
  7. Através da história, relatou-se que 282 pessoas (incluindo 169 montanhistas ocidentais e 113 xerpas) morreram no Everest entre 1924 e agosto de 2015. Com relação às causas das mortes, 102 montanhistas morreram enquanto tentavam escalar sem o uso de oxigêncio suplementar. A maioria dos corpos mortos estão até hoje nas neves da montanha, apesar de a China alegar ter removido vários corpos de lá. O principal motivo das mortes é devido a quedas, seguido por avalanches e exposição ao frio, e também por causa da doença de altitude.
  8. A pessoa mais jovem a ter subido foi o garoto americando Jordan Romero, com 13 anos, no dia 23 de maio de 2010 (ele subiu pelo lado norte).
  9. 14 montanhistas atravessaram de um lado para o outro.
  10. O vento pode soprar lá em velocidades que chegam a 320km/h.
  11. A grosso modo, leva-se 40 dias para escalar o Monte Everest, pois é necessário algum tempo para que o corpo se acostume com altas altitudes.
  12. Os primeiros alpinistas, que tentaram subir o Everest sem o usuo de oxigênio extra foram a equipe de Reinhold Messner e Peter Habler (italianos) em 1978. Depois disso, seguindo o exemplo deles, 193 montanhistas também tentaram escalar sem o uso de oxigênio extra (cerca de 2,7% de todas as escaladas). No geral, existe cerca de 66% menos oxigênio a cada respirada no topo do Everest, do que você normalmente respiraria no nível do mar.
  13. Já foram feitas mais de 7 mil escaladas ao Everest até o momento, realizadas por várias rotas por mais de 4 mil pessoas diferentes.
  14. A pessoa mais velha a conquistar a montanha foi Miura Yiuchiro (do Japão), com 80 anos de idade, em 23 de maio de 2013.
  15. Existem 18 rotas oficiais para escalar o Everest.
  16. A primeira mulher a escalar o cume do Everest foi a montanhista japonesa Junko Tabei (em 1975).
  17. Para evitar tombos, os montanhistas usam cordas de nylong (10mm de diâmetro). Para garantir um caminho bem-sucedido até o topo, os montanhistas usam “esporas” nas botas, que são chamadas de crampons. Além disso, eles usam piolets, que podem pará-los se eles estiverem caindo de uma superfície rochosa ou escorregadia. Com relação às roupas, eles vestem trajes grossos, que são preenchidos com penas de ganso.
  18. Xerpa é o nome genérico das pessoas que vivem no oeste do Nepal. Originalmente, eles migraram do Tibet há centenas de anos. Eles ajudam os montanhistas a carregar comida, barracas e suprimentos nos acampamentos intermediários, localizados acima dos acampamentos-base.
  19. Os montanhistas começam a usar suas garrafas de oxigênio a uma altitude de 7925m (26 mil pés), porém há uma diferença de 915m na sensação que se tem. No geral, na altitude de 8320m, sente-se como se estivesse a 7315m acima do nível do mar, o que não é uma diferença tão significativa.
  20. A temperatura pode cair a até -62ºC.

História

O Everest foi criado pela Terra há 60 milhões de anos. A montanha tem uma longa história desde os “primeiros alpinistas”, começando com os primeiros esforços sem sucesso em 1921, pela expedição britânica de George Mallory e Guy Bullock, até os primeiros humanos no cume da montanha em 1953, que foram os corajosos alpinistas Edmund Hillary e Tenzing Norgay, até os dias de hoje quando, por exemplo, em 23 de maio de 2013, Yuichiro Mirua, com 80 anos à época, se tornou a pessoa mais velha a escalar o Everest. Mas o pico mais alto do mundo não é apenas um ponto de visão ou um desafio para os alpinistas. É também a terra dos habitantes de lugares altos, o povo Xerpa, que vive por lá há mais de 500 anos. Esta pequena nação oferece os melhores guias e carregadores para turistas e profissionais que decidiram brincar com a mrote e escalar a maior e mais dura montanha do nosso planeta.

Onde fica localizado o Everest?

O Monte Everest não é apenas a maior montanha. Ela detém outro recorde – é a fronteira mais alta entre dois países também. A montanha se estende entre os territórios da China e do Nepal, mas o seu pico é localizado na China – ou, se preferir, na Região Autônoma do Tibet. O Everest faz parte do sistema de montanhas do Himalia e é apenas uma das nove montanhas do maciço do Himalaia. O mais interessante é que as montanhas do Himalaia consistem das trinta e nove montanhas mais altas do mundo. Ou seja, o Everest tem muitos “irmãos menores”. Juntas elas formam uma “cerca” entre o planalto tibetano e o subcontinente indiano.
Todo o sistema de montanhas está localizado no sul da Ásia, e passa através do Paquistão, Butão, Tibet, Índia e Nepal. Este é o motivo pelo qual o Monte Everest tem vários nomes. No Tibet, ele é chamado de “Chomolungma” ou “Qomolangma”. Na China, é “Shèngmǔ Fēng”. Os locais em Darjeeling o chamam de “Deodungha”, que é traduzido como “Montanha Sagrada”. Há muitos anos, pensava-se que a localização da montanha mais alta do estava nos Andes, e apenas em 1852 um matemático da Índia e um cartógrafo bengali descobriram qual era realmente o pico mais alto do mundo.

Qual a origem do seu nome?

A montanha mais alta do mundo foi descoberta originalmente por George Everest, que era o Engenheiro Cartógrafo Geral da Índia, em 1841. Desde então, o nome oficial que foi dado ao pico mais alto da Terra foi em sua homenagem. O nome foi oficializado apenas em 1865, pois haviam vários nomes locais para este pico impressionante, mas a montanha mais alta do mundo precisava ter um nome que fosse reconhecido internacionalmente. Andrew Magh foi um dos que insistiram em dar o nome do seu antecessor no cargo na Índia ao monte que ele descoriu ser o mais alto.

Em que país está o Monte Everest

Através da história, o monte Everest era parte da China ou do Nepal, exatamente como aconteceu com a Região Autônoma do Tibet. Mas até hoje as autoridades do Tibet estão tentando reaver sua independência da República Popular da China, após terem sidos anexados em maio de 1959. As relações entre Nepal e China são absolutamente amistosas, e é simbólico o fato de que a fronteira entre os dois países contém a montanha mais alta do mundo. Então, teoricamente, o pico que está mais perto do espaço não pertence a um único estado, é uma propriedade comum do Nepal e da China. Todo turista que decidir se aproximar do Everest por conta própria pode escolher por qual lado deseja fazer isso, mas é fato conhecido que o lado do Nepal é mais bonito e mais fácil de escalar.

Qual a altura do Monte Everest?

Imagine que você viva em um mundo onde não houvesse o Monte Everest. Ele ainda não foi descoberto e na escola o seu professor diz a você que a montanha mais alta do mundo é uma montanha chamada Kangchenjunga, ou Dhaulagiri, por exemplo. Mas mesmo no século XX, a sociedade tinha certeza que o ponto mais alto do nosso planeta era qualquer lugar, menos o Everest. Apenas em 1852 foi confirmado que o Monte Everest é a montanha mais alta do mundo. A altura da montanha é de 8.848 metros acima do nível, e anualmente aumenta em cerca de 4 milímetros, devido ao movimento das placas. Além do mais, terremotos no Nepal podem mover o Monte Everest e até mesmo alterar a sua altura. E os cientistas modernos continuam a provar que nem as medidas chinesas e nem as nepalesas da montanhas estão corretas. O Chomolungma continua a crescer. As placas continentais não estão paradas; elas constantemente empurram o Everest para cima.
É curioso que a altura exata do Everest ainda é objeto de disputa. Em 1856, quando os exploradores britânicos tentaram calcular a altura do pico com a ajuda de um teodolito, o valor registrado foi 8.840m. Atualmente, a altura oficial do Everest é 8.848m. Para imaginar a altura do Everest, é suficiente dizer que o pico deve ficar localizado logo abaixo do nível regular de vôo de um jato. Não é difícil imaginar porque quase não há vida selvagem nesta altura, pois a pressão do ar é baixa e o ar é rarefeito e com pouco oxigênio. Apesar disso, o Everest é o lar de um tipo raro de aranha, que se esconde nas fendas. Esta aranha negra puladora se alimenta de insetos congelados, que chegam até o topo com os ventos e as massas de neve.

“Vizinhança”

Falando sobre o maciço do Everest, ele consiste de vários picos separados, como o Changtsé, que tem 7.580m de altura, o Nuptsé, que tem 7.855m e o Lhotse, que tem 8.516m. Era extremamente desafiador atualmente medir a altura exata do monte, mesmo com um dispositivo chamado teodolito, que pesa mais de 500kg e requerer 10 a 15 homens para carregá-lo. Foram feitas várias tentaticas de medir a altura exata do Everest, até que a medida exata da altura foi obtida em 1949.
O lugar mais próximo em que existem pessoas vivendo é no Monastério Rongbuk. É um templo budista, que foi fundando em 1902 e foi reconstruído recentemente após a sua total demolição nos anos 70, durante conflitos civis na região. Atualmente, ele é na verdade o último resort para os montanhistas que vêm dos acampamentos-base. No Monastério Rongbuk, pode-se ficar em um pequeno hotel e num restaurante minúsculo.

Sobre a altura

Durante quase trezentos anos, o ponto mais alto conhecido na Terra foi o Chimborazo, um vulcão nos Andes. A sua altura é de “apenas” 6.267 metros. No século XIX, esta crença caiu por terra e um novo “campeão” foi encontrado – o monte Nanda Devi na Índia, com a altura de 7.816 metros. Pode parecer piada, mas o Nanda Devi é apenas o 23° monte mais alto na lista de montanhas mais altas. Mas há um motivo pelo qual estas “crianças” eram consideradas as mais altas – toda a região do Nepal e seu “telhado do mundo” ficou fechada por muito tempo de todo o mundo exterior.

Fatos interessantes que você deve conhecer

O Monte Everest é oficialmente considerado como sendo uma das montanhas mais poluídas do mundo, devido à falta de infraestrutura e um grande fluxo de lixo dos turistas, desde simples pacotes de comida até cilindros de oxigênio e equipamentos antigos, que ficam armazenados por décadas nesta montanha sagrada para a comunidade local.
É também interessante o fato de que os cientistas de hoje estão constantemente encontrando resquícios de vida marinha, que ficaram nas pedras há cerca de 450 milhões de anos, na época que a superfície do Monte Everest não era nada mais que o leito do mar, e apesar do fato que o Himalaia foi formado há cerca de “apenas” 60 milhões de anos. Se falarmos sobre pessoas, alguém pode perguntar: “quem visitou o cume do Everest mais vezes?”. A resposta é: dois xerpas – Apa Xerpa e Tashi Purba, que viram a paisagem do lugar mais alto do mundo 21 vezes.

Mortes

Infelizmente, o Monte Everest tem se mostrado um lugar desafiador de se chegar, além de um dos lugares mais perigosos do mundo, devido às baixas temperaturas, baixo nível de oxigênio no ar e avalanches perigosas que levaram inúmeras vidas de cidadãos locais e montanhistas corajosos. A maior tragédia na história do Everest aconteceu em 2014, quando uma grande avalanche matou 16 guias nepaleses locais. Isto aconteceu próximo a um acampamento-base. O segundo acidente mais trágico aconteceu em 1996, quando cerca de 15 pessoas morreram na tentativa de retornarem do topo do mundo.
Estas pessoas morreram por motivos variados. Algumas por causa de equipamentos inapropriados, outras por falta de oxigênio nos cilindros de gás ou ainda por tempestades inesperadas, que impossibilitaram o retorno da equipe ao ponto de partida a tempo. Este foi o segundo acidente mais numeroso que tirou vidas humanas em um ano, neste mesmo local. A terceira situação mais trágica aconteceu em 2012, quando 11 pessoas ficaram para sempre no Everest. No geral, existem cerca de 200 corpos na montanha, apesar de o número exato ser desconhecido. Eles estão enterrados entre as rochas e neves do Everest. Avalanches e quedas são os motivos principais de acidentes fatais no Everest.

Acampamentos-base do Monte Everest

Para qualquer um que ousa escalar o Everest, existem, conforme já mencionado, duas alternativas – ou você vai pelo lado da China, ou conquista a montanha gigante pelo lado nepalês. Para poder se acostumar com o tempo e as condições climáticas específicas das alturas, existem dois acampamentos-base, onde todo mundo, todo e qualquer turista que planeja escalar a montanha, é obrigado a permanecer por muito tempo, para que o corpo se acostume com tais condições, para evitar a doença da altitude. Em ambos os acampamentos existem médicos, que aconselham os alpinistas antes da subida. Ficar por algum tempo, conforme solicitado, em um acampamento-base, ajuda os montanhistas a reduzirem possíveis riscos de problemas de saúde relacionados à mudança de pressão e doença da altitude.
O Acampamento Sul está localizado no Nepal, enquanto o Acampamento Norte está no território do Tibet (China). Apesar do fato de o Acampamento Norte poder ser alcançado de carro no verão, o Acampamento Sul é cada vez mais popular. E, claro, os visitantes das vilas nos arredores, que antes focavam na agricultura e na criação de gado, estão agora totalmente focados em oferecer aos visitantes tudo o que eles precisam – eles ajudam a carregar as bagagens montanha acima, oferecem comida e água, além de uma variedade de produtos. Além dos dois acampamentos no caminho para o Everest, existem vários outros, antes e depois, mas estes foram criados para aqueles que realmente desejam atingir o ponto mais alto do Himalaia.
Os suprimentos dos acampamentos-base no Sul são levados pelos xerpas e pelos carregadores, pois não há meios de transporte para entregar comida e remédios, bem como outras coisas necessárias nesta região. O método de transporte mais comum por aqui são os iaques, animais locais, capazes de carregar bagagem pesada.

Escalada

Se você acha que qualquer pessoa pode escalar o Everest, mesmo desejando muito, você está redondamente enganado. Em primeiro lugar, é muito caro: cerca de 60 mil dólares. A subida para a montanha mais alta do mundo não é muito divertida. Não é exatamente um turismo simples e aconchegante. É um desafio perigoso e mortal. A cada ano, vários turistas morrem na tentativa de conquistarem este gigante rochoso. Alguns caem no abismo ou nos fossos entre as geleiras, alguns não aguentam as temperaturas extremas, e alguns ficam com a doença da altitude.
Naturalmente, tal desafio profissional irá requerer uma grande quantidade de equipamento profissional – sapatos, roupas, ferramentas e dispositivos eletrônicos, bem como uma grande equipe de especialistas acompanhando-o, além de anos de experiência escalando outros montes. Porém, se falarmos sobre o processo, obviamente é algo fascinante. Nâo importa por qual rota você vá, é sempre recomendável viajar em companhia de um xerpa. Hoje a região do Himalaia é o lar de aproximadamente 3 mil xerpas, e todos eles são guias de primeira classe, carregadores e conquistadores verticais. Resumindo, os habitantes de lugares altos. Se você viu as famosas fotos das primeiras pessoas no Monte Everest, você entenderá o quão inexprimível esta sensação pode ser. Nas palavras de Tenzing Norgay: “Eu queria pular e dançar, aquelas foram as melhores sensações da minha vida. Eu estava literalmente com o mundo inteiro aos meus pés”.
A temporada mais comum para a escalada do Everest é a primavera. As expedições de outuno são as menos populares. Atualmente, a maneira mais popular de se escalar o Everest é através de escalada guiada. Ela garante que o guia profissional, que conhece o caminho mais confiável até o cume, poderá sempre instruir sobre o que fazer se algo extraordinário acontecer, e ele estará sempre com o grupo. Além disso, o guia irá explicar tudo o que é necessário saber antes de começar a escalada, irá ajudar a escolher os equipamentos necessários e irá verificar as condições físicas e o estado de saúde de todos os participantes.

O plano

O primeiro passo para se poder escalar o Everest é possuir uma excelente condição física e experiência adequada em escaladas de montanhas, pois este processo é arriscado e perigoso e requer certas habilidades. A expedição começa em um dos acampamentos-base (Sul ou Norte), dependendo do plano da escalada. Em seguida, os participantes passam algum tempo (cerca de uma semana) em um acampamento-base, localizado na altitude de 5 mil metros. Aqui eles podem conversar com guias experientes, verificar suas condições físicas e descansar um pouco antes de começar a escalar o Everest. Então, os montanhistas recebem comida, suprimentos e oxigênio necessários e revisam os equipamentos que eles estão levando. Por uma taxa extra, os grupos podem querer pedir Auxílio Xerpa, o que significa que todo o oxigênio extra será carregado por eles.

Quanto tempo geralmente se leva para escalar o Monte Everest?

Certamente, escalar o topo do mundo não significa caminhar alguns dias através de um ambiente inclinado e coberto de neve. Para alpinistas não-treinados, para pessoas com condições de adquirirem qualquer doença, o período de adaptação em altitude média (no acampamento-base, altitude de cerca de 5100 metros) pode em alguns casos levar de 30 a 40 dias. Durante todo este período você será “cercado” pelos xerpas e seus colegas, até que seu corpo se acostume com a pressão do ar e com a falta de oxigênio. Somente após isso é que você pode continuar a escalada. Em média, quando se fala em destinos dos turistas, toda a escalada, desde a sua chegada em Katmandu e a finalização da sua jornada até o ponto mais alto do mundo, dura cerca de 60 dias. Quando tudo estiver pronto, leva-se cerca de 7 dias do acampamento-base até o cume. Após isso, pode ser necessário até 5 dias para descer de volta até o acampamento-base.

Primeira pessoa a escalar o Monte Everest

Apesar de o primeiro homem a chegar no topo do mundo ter sido Edmund Hillary, antes dele houveram muitas tentativas de conquistar o Everest. Nos anos vinte, uma expedição especial do então recém-estabelecido Comitê do Monte Everest descobriu as rotas mais convenientes, e os membros desta expedição foram os primeiros a pisarem na “Montanha Sagrada”, que é como o Everest é chamado pelos habitantes locais. Além disso, duas pessoas completamente diferentes, Edmund Hillary, um neozelandês, e o montanhista nepalês Tenzing Norgay, subiram juntos pela rota sul e finalmente chegaram ao topo, onde nenhum pé humano havia pisado até então.
Em 1953, quando este incrível evento na história da humanidade aconteceu, a China fechou o Everest para os visitantes, e a comunidade só podia fazer uma expedição por ano. Juntos, atormentados constantemente pelos ventos fortes, e por causa disso eles geralmente tendo que ficar em um lugar por alguns dias, Norgay e Hillary escalaram o telhado do mundo. Edmund Hillary dedicou seu feito à coração da Rainha Elizabeth II, e este foi o melhor presente para este acontecimento marcante no Reino Unido. Apesar de Hillary e Norgay terem ficado apenas 15 minutos no topo da montanha, estes 15 minutos hoje são comparáveis apenas à primeira vez que o homem pisou na lua.
A pessoa mais jovem que já esteve no cume foi um estudante da oitava série da Califórnia, e ele tinha apenas 13 anos quando escalou o Everest. A menina nepalesa de 15 anos Ming Kipa Shira foi a segunda pessoa mais jovem a conquistar o Everest, em 2003. O homem mais velho a já ter escalado o Everest foi o japonês Miura Yiuchiro do Japão. A mulher mais velha a ter pisado no pico do Everest foi Tamae Watanabe, também do Japão, que chegou lá quando tinha 73 anos.
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