Jiboia mais rara do mundo é achada viva após mais de 60 anos de buscas
Animal foi encontrado em área de Sete Barras, no Vale do Ribeira, SP.
Último registro do animal vivo havia sido feito na mesma região em 1953.
Último registro do animal vivo havia sido feito na mesma região em 1953.
A região do Vale do Ribeira, no interior
de São Paulo, é a casa de uma jiboia considerada por especialistas como
a mais rara do mundo.
O último animal da espécie capturado vivo foi
achado há mais de 60 anos, em Miracatu. Passadas mais de seis décadas, a
“jiboia do Ribeira”, ou Corralus cropanii, apareceu viva na pequena
comunidade do município de Sete Barras. A captura aconteceu no mês
passado e foi divulgada na última sexta-feira (3) por pesquisadores do
Insituto Butantan e do Museu de Zoologia da USP.
A descoberta do animal que, pelo que se
sabe até o momento, é exclusivamente brasileiro, só foi possível graças a
um projeto de educação e conservação ambiental desenvolvido há cerca de
um ano na comunidade rural do Guapiruvu, onde a jiboia foi encontrada
no dia 21 de janeiro por dois moradores.
Trata-se de um macho, de 1,70 metro de
comprimento e 1,5 kg, de cor alaranjada, com escamas bem definidas e
losangos pretos espalhados pelo corpo.
O biólogo Bruno Rocha, de 33 anos, um
dos responsáveis pelo programa comunitário na região, nem era nascido
quando a primeira serpente da espécie foi capturada viva, em 1953. O
animal foi descrito pelo herpetólogo do Instituto Butantan, Alphonse
Richard Hoge, como um macho de um metro de comprimento.
Mais de meio século depois, Rocha não
esconde a felicidade de participar do que ele classifica como um novo
capítulo da história da ciência mundial. “Não se sabe nada sobre os
hábitos dela. Agora será possível estudá-la com todos os detalhes.
Existem exemplares da mesma família registrados há muito tempo na
África, Ásia e até aqui nas Américas, mas a cropanii só temos
identificada na Mata Atlântica do Vale do Ribeira”, explica Rocha, que
integra a equipe do Museu de Zoologia da USP.
Apesar das poucas informações sobre a
jiboia do Ribeira, os pesquisadores sabem que não se trata de uma
serpente venenosa. “É uma descoberta rara e muito importante para a
biologia. Finalmente vamos desvendar os mistérios a partir de um um
rádio transmissor que será colocado no corpo da cobra, semelhante aos
usados em onças e outros animais silvestres, para monitorar o
comportamento dela na natureza”, acrescenta.
Por que Vale do Ribeira?
O foco dos pesquisadores sempre foi a
região do Vale do Ribeira justamente pelos primeiros registros datados
da década de 1950, em Miracatu. Ao longo dos anos, a jiboia chegou a
aparecer outras vezes em Eldorado e em Sete Barras, mas morta.
Motivados pelas últimas ocorrências, os
pesquisadores decidiram investir em um trabalho de parceria com a
própria comunidade local. O projeto foi determinante para o sucesso da
empreitada em busca da “cobra rara”. Para auxiliar na procura, os
moradores receberam treinamentos e foram orientados a acionarem a equipe
de pesquisadores assim que encontrassem a cropanii. Até um panfleto
informativo foi distribuído para facilitar a identificação.
“O projeto mostrou que a parceria entre a ciência e a sociedade funciona e traz benefícios para a produção de conhecimento científico, para a comunidade local e também para a preservação de espécies ameaçadas de extinção”, reforça a bióloga Lívia Corrêa, do Instituto Butantan.
“O pessoal da comunidade Guapiruvu já possui uma frente ambiental chamada ‘Amigos da Mata’ e eu espero que, a partir dessa descoberta, eles ganhem mais visibilidade e recebam ajuda para melhorar a estrutura. A participação deles para encontrar esse animal, que já era praticamente considerado extinto, foi essencial”, acrescenta o biólogo Bruno Rocha.
Pesquisadores do Instituto Butantan, do Museu de Zoologia da USP e do Grupo de especialistas em Boideos e Pitonídeos da IUCN (International Union for Conservation of Nature) desenvolveram um projeto para conservar a jiboia-do-Ribeira. O projeto conta também com o apoio governamental do RAN-ICMBio (Centro Nacional de pesquisa e conservação de Répteis e Anfíbios) e financiamento de The Mohamed Bin Zayed Species Conservation Fund e do Boa & Pythons Specialist Group.
Apesar dos estudos que envolvem dezenas
de pessoas, o biólogo Bruno Rocha espera que o trabalho atual seja só o
começo de uma grande história que dê ainda mais frutos. “Essa descoberta
mexe com meu coração porque vários cientistas tentaram em métodos
tradicionais de coleta e não conseguiram, mas a parceria, educação e
comunidade foram fundamentais. É fantástico viver um momento desses como
cientista, mas o mais importante agora é que a própria jiboia comece a
contar sua história quando voltar à natureza nos próximos dias”
Fonte: globo.com
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