quinta-feira, 29 de março de 2012

USP contribui para discussões na RIO+20

29/03/2012
Por Elton Alisson
Agência FAPESP – A Universidade de São Paulo (USP) planeja dar nas próximas semanas contribuições importantes aos temas que estarão em discussão na Conferência das Nações sobre Desenvolvimento Sustentável, a RIO+20, que será realizada nos dias 20 a 22 de junho no Rio de Janeiro.
Em abril, o Grupo de Pesquisa em Ciências Ambientais do Instituto de Estudos Avançados (IEA) lançará o livro Governança da ordem ambiental internacional e inclusão social.
De acordo com Wagner Costa Ribeiro, professor do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e organizador do livro, a publicação não representa uma posição institucional da USP.

Trata-se, antes, de uma análise de destacados pesquisadores de diversas áreas que integram o Grupo de Pesquisa em Ciências Ambientais do IEA sobre o que se pode esperar da RIO+20. Traz também um balanço da RIO92 (ou ECO-92), identificando as lacunas e os avanços no período entre as duas grandes conferências.

“O livro tem o objetivo de dar uma contribuição para os temas que estarão em discussão na RIO+20, relacionados à governança, inclusão social e economia verde, que são bastante abrangentes, mas que não tratam de questões como a biodiversidade, as mudanças climáticas e os recursos hídricos”, disse Ribeiro à Agência FAPESP.

A publicação é dividida em duas partes. A primeira, intitulada “Ordem ambiental internacional, governança e inclusão social”, é composta por seis artigos de autoria dos professores Jacques Marcovitch, José Eli da Veiga, Pedro Jacobi, Oswaldo Lucon e José Goldemberg, Célio Berman, Fernanda Mello Sant’Anna e o próprio Ribeiro, sobre as propostas de revisão da gestão ambiental internacional. Entre elas estão a criação de uma nova agência ambiental global, fortalecer o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) ou levar a discussão das questões ambientais ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A parte do livro “Saúde, pobreza e mudanças climáticas” reúne reflexões sobre as relações entre economia verde, inclusão social e saúde, formas de combate à pobreza por meio do uso do patrimônio cultural, análise de políticas territoriais associadas à inclusão social, o papel dos catadores no processo de gestão dos resíduos sólidos e avanços nas pesquisas climáticas.
“O conjunto de artigos reunidos no livro oferece uma ampla gama de perspectivas para assuntos centrais no mundo atual. O resultado pode contribuir para a busca de alternativas de inclusão social que associem a erradicação da pobreza com os padrões de produção econômicos e que considerem a capacidade de reprodução da natureza em suas múltiplas formas de expressão”, avaliou Ribeiro.
No início de abril o IEA também lançará as edições impressa e eletrônica da revista Estudos Avançados com um dossiê sobre sustentabilidade.

De acordo com Alfredo Bosi, professor da USP e editor da revista, o número especial da publicação sobre sustentabilidade também visa contribuir para as discussões do conceito e dos temas que serão abordados durante a RIO+20.

“Hoje, é consenso entre os cientistas, economistas e políticos bem informados a necessidade urgente de combinar crescimento econômico e respeito às reservas naturais. E estamos às vésperas da RIO+20, que discutirá as diretrizes a serem retomadas em face de problemas candentes, como o da poluição provocada pelos combustíveis fósseis. A revista pretende dar subsídios à discussão desses temas durante o evento”, disse Bosi.

O primeiro artigo da revista é do economista polonês Ignacy Sachs, autor do conceito de ecodesenvolvimento. “A Cúpula da Rio+20 terá pela frente dois grandes desafios intimamente interligados: conter a mudança climática, que cada vez mais resulta de fontes antropogênicas (do próprio homem), e pôr fim ao escândalo da desigualdade abissal nas condições e na qualidade de vida existentes hoje em cada nação e entre elas”, apontou Sachs.
A edição também apresenta diversos outros artigos sobre a RIO+20, como uma série de análises pontuais realizadas por um grupo de trabalho criado pela USP para organizar a contribuição da universidade paulista ao evento.

Coordenado por Ribeiro, o grupo de trabalho fez um levantamento e análise de teses e dissertações de mestrado e doutorado defendidas na USP entre 1992 e 2011 sobre temas vinculados à RIO+20.
A seleção, com cerca de 1,3 mil trabalhos, será reunida em uma página eletrônica que deverá ser lançada em abril e permitirá ao usuário realizar buscas por autor, resumo e palavras-chave, além de fazer o download da pesquisa completa.

No fim de abril, o Grupo de Pesquisa de Ciências Ambientais do IEA e o Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (Procam) da USP também realizarão um evento no IEA para discutir inclusão social associada à economia verde e à governança da ordem ambiental internacional.
Na ocasião, será lançado o livro Governança da ordem ambiental internacional e inclusão social, publicado pela editora Annablume. “Pretendemos realizar todas essas ações em conjunto. Isso mostra que a USP está atenta à RIO+20”, disse Ribeiro.

O livro poderá ser adquirido após o lançamento por meio da loja virtual da editora. Já a edição eletrônica da revista do IEA sobre sustentabilidade poderá ser acessada nos sites da SciELO e da Scopus.

NOTÍCIAS


sexta-feira, 23 de março de 2012

São Paulo terá de buscar água a 74 km de distância

Sistema de R$ 1 bi que entrará em operação até 2018 vai ligar capital a Juquitiba

22 de março de 2012 | 23h 53

Artur Rodrigues e Rodrigo Burgarelli - O Estado de S.Paulo
 
A escassez hídrica na Região Metropolitana vai obrigar o governo do Estado de São Paulo a criar um sistema de R$ 1 bilhão para buscar água a mais de 74 km de distância da capital e bombeá-la à altura de 500 metros - o equivalente a dez prédios de 17 andares. O Sistema de Produção São Lourenço deve estar em operação até 2018, mas mesmo assim não será suficiente para atender o crescimento da demanda nos próximos anos.
O sinal verde para o plano deverá ser dado na próxima quinta-feira dia 29, quando está prevista a votação do projeto no Conselho Gestor do Programa Estadual das Parcerias Público-Privadas (PPPs). Após a liberação, a Secretaria de Estado de Saneamento e Recursos Hídricos poderá lançar o edital para as obras, que devem durar de cinco a seis anos após a assinatura do contrato. A operação do sistema deverá custar R$ 500 milhões por ano.

Para se ter uma ideia do tamanho do esforço de subir a água por 500 metros de altura, o Sistema Cantareira, o maior do Estado, tem uma diferença de nível de 100 metros. Mas não havia outra opção, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a não ser investir mais para trazer a água de mais longe. "Ou você tem água ou pede para a população não crescer mais, para as indústrias não virem mais para cá", afirma o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato.

O sistema vai tirar água da Represa Cachoeira do França, em Juquitiba, na bacia do Rio Ribeira, e alimentar bairros da zona oeste da capital (como Perdizes e Lapa) e municípios do oeste da Grande São Paulo.
A distância e o fato de Juquitiba estar em nível mais baixo do que o destino da água podem elevar o custo de transporte. "A captação está abaixo da Região Metropolitana. Só em termos de consumo de energia para bombear a água, pode ter um valor superior ao custo de tratamento", afirma o professor de engenharia José Carlos Mierzwa, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

Déficit. Mesmo com o novo sistema, o problema da falta de água na Região Metropolitana, uma das regiões com maior escassez hídrica do País, não será totalmente resolvido. O Sistema São Lourenço vai adicionar 4,7 metros cúbicos por segundo à capacidade de abastecimento na região, o que é suficiente para a demanda de 1,5 milhão de habitantes. Hoje, funcionam oito sistemas diferentes, que geram uma vazão média total de 67,8 m³ por segundo.

Até 2035, porém, o consumo na Grande São Paulo deve subir cerca de 40%, o que significa que a oferta de vazão precisaria subir ao menos 30 m³ por segundo. A Sabesp quer investir na diminuição de perdas com vazamentos e ligações irregulares para ajudar a resolver parcialmente o problema. "Temos de começar a agir agora para evitar problemas no futuro", afirmou o secretário de Recursos Hídricos, Edson Giriboni. A Região Metropolitana de São Paulo ganha 250 mil habitantes por ano - como se fosse uma nova cidade de Barueri a cada 12 meses.

Para o ambientalista Samuel Barreto, da ONG WWF-Brasil, outro foco deveria ser adotado. "O Estado tinha de apresentar a sua meta de controle de perdas e um plano de economia de água para os setores que mais consomem. É sempre a lógica da obra, sem a perspectiva de melhoria na manutenção e no gasto."

quinta-feira, 22 de março de 2012

Pesquisadores brasileiros fazem descoberta na Antártica

22/03/2012
Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram uma estrutura glacial fundamental para esclarecer a história paleoclimática da Antártica durante o período Mioceno (há cerca de 15 milhões de anos).
A estrutura – denominada pavimento de clastos glacial – comprova ter havido um período de expansão do manto de gelo da Antártica Ocidental, após o intervalo de aquecimento, denominado Ótimo Climático do Mioceno, quando se estima que o manto de gelo antártico começou a se expandir.


Equipe de pesquisa do CPA-USP na ilha Seymour, verão de 2011 (esq.p/dir.: Matheus Kuchenbecker-IG-UFMG, Fernanda Canile-IGc-USP, Paulo R. dos Santos-IGc-USP e A.C. Rocha Campos-IGc-USP; foto: Francisco Schorer Petrone, Clube Alpino Paulista

Os detalhes do estudo serão apresentados em julho durante a conferência bienal do Scientific Committee on Antarctic Research (Scar), que será realizada em Portland, nos Estados Unidos.
“O pavimento documenta um importante evento paleoclimático da Antártica Ocidental durante o Mioceno”, disse Antonio Carlos Rocha Campos, professor do Instituto de Geociências da USP e coordenador do projeto à Agência FAPESP. Rocha Campos conduziu projetos apoiados pela FAPESP, entre os quais o Temático “Controles tectônico, climático e paleogeográfico das características, gênese e preservação de depósitos glaciais pré-cenozoicos do Brasil”.
De acordo com o pesquisador, a estrutura encontrada fornece a evidência cabal e irrefutável de que o continente antártico passou por uma fase de glaciação há cerca de 10 milhões de anos, após um período de aquecimento há cerca de 15 milhões de anos.

O pavimento de clastos glacial (fragmentos de rochas) é produzido pela ação de geleiras. Ao deslizarem sobre a superfície na qual se encontram, elas arrastam consigo fragmentos de rocha de diversas formas e tamanhos, que são incorporados ao gelo. O pavimento tem origem na liberação dos fragmentos de rochas, que são realojados subglacialmente (abaixo da camada de gelo) e erodidos durante o avanço da geleira, resultando em uma espécie de calçada de pedras.

Em 2011, durante realização de pesquisa na ilha de Seymour (Marambio), na parte ocidental do mar de Weddel, na Antártica Ocidental, a equipe de pesquisadores do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), integrada por Rocha Campos, deparou-se e identificou pela primeira vez esse tipo de estrutura glacial nessa parte do continente antártico.
Segundo Rocha Campos, a presença do pavimento de clastos indica que o manto de gelo da Antártica Ocidental atingiu a ilha de Seymour durante o Mioceno superior (há cerca de 10 milhões de anos), deslocando-se rapidamente, provavelmente, em condições terrestres.
“A história da glaciação na Antártica durante o Mioceno era contada com base em evidências que ainda deixavam dúvidas. A existência do pavimento de clastos esclareceu a questão porque são estruturas sabidamente associadas à ação de geleiras”, afirmou.
Os pesquisadores pretendem analisar agora outras fases da história paleoclimática da Antártica Ocidental sobre as quais ainda restam dúvidas quanto à identificação de evidências que caracterizem e comprovem as mudanças climáticas que ocorreram no continente.
Entre essas fases está a passagem do Eoceno (cerca de 36 milhões de anos atrás) para o Oligoceno (há 30 milhões de anos), quando houve uma notável mudança climática em praticamente toda a Antártica, associada ao início da formação do manto de gelo que cobre o continente.
Nesse intervalo geológico, a Antártica também experimentou mudanças de fase de aquecimento, seguida de glaciação, similar à variação climática que ocorreu no Mioceno.
“A história da formação do manto de gelo antártico é cheia de irregularidades. Não houve só uma diminuição gradativa da temperatura e aumento progressivo da massa de gelo na Antártica, mas uma alternância entre épocas de clima mais ameno, seguidas de fases de clima mais quente”, explicou Rocha Campos.
Uma das evidências utilizadas para caracterizar essas mudanças climáticas são os depósitos de origem glacial. Entretanto, de acordo com o pesquisador, a identificação desse tipo de sedimento ou rocha é bastante complexa e não raro inconclusiva.
Na ilha de Seymour, por exemplo, onde os pesquisadores brasileiros estão realizando seus estudos, vários intervalos climáticos são baseados na presença de sedimentos glaciais. Contudo, nem sempre a identificação pode ser feita com absoluta certeza. “Estruturas glaciais diagnósticas, como o pavimento de clastos glacial, são raras”, disse Rocha Campos.

Incêndio da estação brasileira

Rocha Campos e colegas de seu grupo na USP ficaram alojados na Base Argentina Marambio e alguns deles já haviam voltado ao Brasil quando ocorreu o incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) – a base do Proantar no continente – no final de fevereiro.
Segundo Rocha Campos, a pesquisa que executam não depende da estação brasileira. “Mas é claro que lamentamos profundamente a perda da EACF pela sua importância simbólica e científica e, mais ainda, a de vidas humanas”, destacou.
Como a maioria das rochas em volta da estação é vulcânica e o grupo de pesquisa de Rocha Campos se dedica ao estudo de rochas glaciais, os pesquisadores montam acampamento ou solicitam alojamento em alguma estação perto da região onde realizarão suas pesquisas, como a da Argentina, na ilha de Seymour.

Especialistas dão dicas para a publicação de artigos científicos

22/03/2012
Por Karina Toledo
Agência FAPESP – Editores de revistas científicas procuram trabalhos com resultados inéditos, escritos em inglês claro e conciso e que despertem interesse em seu grupo de leitores. Artigos que abordam temas quentes do momento levam vantagem, pois têm mais chance de serem citados em futuras pesquisas e de contribuírem para aumentar o fator de impacto do periódico.


Escolher periódico antes da redação do texto e considerar grau de novidade e relevância da pesquisa é fundamental, dizem especialistas no workshop "How to Write for and Get Published in Scientific Journals"

Essas foram algumas das dicas apresentadas por Daniel McGowan, diretor do Grupo Edanz, durante o workshop “How to Write for and Get Published in Scientific Journals”, realizado no dia 16 de março pela FAPESP e pela editora científica Springer.

Desde 1990, o número de artigos submetidos para revisão teve um aumento 100% superior ao do número de novos periódicos, segundo dados do Grupo Edanz, empresa de consultoria na área. Com o crescimento da competição, de acordo com McGowan, “o mínimo que os editores esperam é ciência de qualidade e linguagem adequada”.

“A pesquisa brasileira é boa, mas vejo dois grandes desafios a serem superados pelos pesquisadores do país: a dificuldade com a língua inglesa e a falta de entendimento de como deve se estruturado um artigo científico. Muitos parecem não saber o que colocar na introdução, na discussão e na conclusão do trabalho”, disse McGowan à Agência FAPESP.

Durante sua apresentação no workshop, McGowan explorou o tema e deu exemplos de como estruturar um resumo, como inserir tabelas, gráficos e figuras no texto, como formatar referências e escolher o título e como elaborar uma carta de apresentação ao editor. Deu também dicas sobre o tempo verbal mais adequado nas diferentes situações e recomendou aos cientistas redigir frases na voz ativa e deixar sempre o sujeito da oração perto do verbo.
“Grande parte das pessoas que vão ler o artigo científico também não tem o inglês como primeira língua. O que elas desejam é ler rapidamente, apenas uma vez e conseguir entender a lógica do pesquisador”, destacou.

Para McGowan, ex-editor associado da Nature Reviews Neuroscience, o primeiro passo para melhorar a qualidade da produção científica é a leitura do maior número possível de artigos publicados.
“Isso ajuda o pesquisador a saber se está fazendo as perguntas certas, usando os métodos adequados, interpretando os resultados no contexto apropriado, citando os estudos mais relevantes da área e escolhendo o periódico com o perfil indicado para sua pesquisa”, disse.
Como cada publicação tem regras próprias para estruturar o texto e citar referências, a redação do artigo só deve começar após estar definida a revista para a qual ele será submetido.
“O pesquisador deve ser honesto ao avaliar o grau de relevância e novidade da pesquisa e escolher um periódico com fator de impacto compatível. Ela traz um avanço incremental ou conceitual? Afeta a vida de uma pequena população ou de milhares de pessoas? Melhora o conhecimento sobre um fenômeno ou apresenta uma nova tecnologia?”, exemplificou McGowan.

O pesquisador deve ainda considerar fatores como o perfil do público a ser atingido, o prestígio da publicação e se ela trabalha como sistema de acesso aberto ou assinatura. “Acesso aberto permite alcançar um número maior de leitores e, portanto, gera mais citações. Mas também tem um custo muito maior”, disse.
Segundo McGowan, um artigo nunca deve ser enviado a mais de um periódico ao mesmo tempo. “Por outro lado, se um pesquisador demora muito para publicar suas descobertas, pode ocorrer de outro grupo publicar antes. Recomendo, portanto, entrar em contato com o editor caso não receba retorno após seis semanas. Se depois de dois meses ainda não houver resposta, sugiro cancelar formalmente a submissão e só então enviar para outra revista”, afirmou.

Outra dica do consultor é relatar no fim do artigo os financiamentos recebidos de agências de fomento ou de outras instituições e empresas, descrever possíveis conflitos de interesse e as limitações do trabalho, como tamanho pequeno da amostra por exemplo.
“Os editores percebem quando há falhas ou limitações na pesquisa, mas ainda assim podem publicá-la se os resultados forem interessantes. Não mencionar esses fatores, porém, pode ser um motivo para rejeição”, disse.
Pesquisa brasileira
Na abertura do workshop, o vice-presidente da editora Springer, Paul Manning, contou que o motivo que levou a empresa a abrir um escritório no Brasil foi o crescimento expressivo da produção científica do país.
“A Springer surgiu na Alemanha no século 19 e foi para Nova York após a Segunda Guerra, pois era onde a ciência estava acontecendo. Nos anos 1970, fomos para o Japão pelo mesmo motivo. Agora, percebemos que havia muita coisa interessante aqui no Brasil”, disse. A Springer atualmente está presente em 20 países.
Segundo dados apresentados pelo diretor da Springer Brasil, Harry Blom, a produção científica brasileira cresce a uma taxa de 17% ao ano – enquanto a média mundial é de 3% – e já corresponde a 55% da produção científica da América Latina.

Mariana Biojone, editora da Springer Brasil, apresentou as ferramentas gratuitas oferecidas no site da empresa para apoiar pesquisadores. Uma delas é o Author Mapper, que mostra os temas mais pesquisados do momento e em quais centros. “Isso pode ajudar o cientista a encontrar colaboradores para seu projeto”, afirmou.
As apresentações do evento estão disponíveis em: www.fapesp.br/6848

quarta-feira, 21 de março de 2012

Cientistas descrevem proteína que regula metabolismo do ferro em cavalos

21/03/2012
Por Karina Toledo
Agência FAPESP – A hepcidina é um peptídeo que desempenha papel fundamental no metabolismo do ferro e na defesa do organismo contra bactérias e fungos. Seu mecanismo de ação, demonstrado em humanos no ano 2000, agora foi descrito também em equinos, ovinos e asininos por cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp).


Hepcidina é excretada durante processos inflamatórios para reduzir níveis de ferro no sangue e dificultar multiplicação de microrganismos, indica pesquisa feita na Unesp (Wikimedia)

“O ferro é um elemento essencial para a multiplicação de alguns microrganismos”, disse Alexandre Secorun Borges, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) de Botucatu. Ao primeiro sinal de infecção, portanto, a hepcidina entra em ação para reduzir os níveis do mineral na corrente sanguínea e tornar o ambiente menos propício aos invasores.
“Expressa principalmente pelas células do fígado, a hepcidina se liga a outra proteína chamada ferroportina. Isso faz com que o ferro fique retido dentro de algumas células específicas, em vez de ser exportado para a corrente sanguínea. Por esse motivo, quadros de inflamação crônica costumam provocar anemia”, explicou o veterinário.

Estima-se que esse mecanismo de defesa esteja presente em todos os mamíferos e também em alguns peixes, mas, segundo Borges, na maioria das espécies o peptídeo ainda não foi caracterizado e sua função não foi comprovada.
Em equinos, o gene da hepcidina foi sequenciado pela equipe coordenada por Borges. A expressão gênica do peptídeo foi analisada em células do fígado e em outros tecidos de cavalos saudáveis.
A pesquisa, feita em parceria com cientistas da Universidade de Cornell, resultou na tese de doutorado de José Paes de Oliveira Filho, financiada pela FAPESP e concluída em dezembro de 2010.
Os resultados foram publicados em artigo na revista Veterinary Immunology and Immunopathology.
Com os recursos da Bolsa de Doutorado e também de um projeto de Auxílio à Pesquisa – Regular, o grupo montou o Laboratório de Biologia Molecular da Clínica Veterinária da FMVZ.

Inflamação induzida

A segunda etapa da pesquisa consistiu em comprovar o papel da hepcidina na defesa do organismo contra infecções. Foram usados dois modelos experimentais para induzir um quadro inflamatório leve em cavalos sadios.
No primeiro experimento, os pesquisadores injetaram, por via intravenosa, uma toxina extraída da membrana de bactérias – o lipopolissacarídeo bacteriano (LPS). “Isso causa uma inflamação sistêmica discreta, de curta duração e que não provoca danos de longo prazo aos animais”, contou Borges.
A cada duas horas após a administração do LPS, os pesquisadores coletavam e analisavam o sangue dos cavalos. “Os níveis plasmáticos de ferro caíram rapidamente. Por meio de uma biópsia de fígado, comprovamos que a expressão gênica da hepcidina havia aumentado nesse órgão”, disse.
Os resultados do teste foram publicados na revista Innate Immunity.
O segundo experimento consistiu em aplicar, por via intramuscular, uma substância chamada adjuvante completo de Freund, composta de micobactérias inativadas. Isso provocou um processo inflamatório nos animais.

Os resultados, similares aos do primeiro teste, foram apresentados no American College Veterinary Internal Medicine, nos Estados Unidos, em 2010. Devem, em breve, ser submetidos para publicação. O grupo realizou experimentos semelhantes em ovinos, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A pesquisa foi tema de mestrado de Peres Ramos Badial.
O sequenciamento e a expressão da hepcidina em asininos também foram objeto de um projeto de iniciação científica com Bolsa da FAPESP.

A linha de pesquisa teve início durante o pós-doutoramento de Borges na Universidade Cornell. “Analisamos prontuários de cavalos com inflamação crônica, sistêmica e localizada e comparamos com prontuários de cavalos sadios. Vimos que o ferro caía consideravelmente e de forma rápida sendo, portanto, um marcador confiável de inflamação em cavalos”, disse.

Futuramente, a equipe pretende avaliar como se comporta o metabolismo do ferro em diferentes enfermidades. “Queremos descobrir se a intensidade na queda dos níveis de ferro está relacionada à agressividade do quadro inflamatório”, apontou Borges.
Outro projeto futuro é avaliar se a redução artificial de ferro na corrente sanguínea pode facilitar o combate a infecções. “Vamos testar se a administração de hepcidina, como medicamento, ajuda na fase inicial da doença”, disse.

Evolução será tema de Escola São Paulo de Ciência Avançada

21/03/2012
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Cerca de 80 estudantes e pesquisadores do Brasil e do exterior se reunirão em Ilhabela (SP), entre os dias 19 e 31 de agosto, para interagir com alguns dos principais especialistas do mundo nas mais diversas áreas da Biologia Evolucionária.
A 1ª Escola São Paulo de Ciência Avançada – Evolution (SPSAS-Evo, na sigla em inglês) será organizada conjuntamente pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).


Evento promovido em conjunto por USP, Unesp e Unicamp será realizado em agosto, em Ilhabela. Objetivo é promover interação de dezenas de estudantes com alguns dos principais especialistas mundiais em diversos aspectos dos estudos sobre evolução (Wikipedia)

Estudantes de todo o mundo interessados em participar poderão se inscrever até o dia 9 de abril. Os participantes receberão financiamento para passagens aéreas, transporte terrestre, alojamento, refeições e material de curso.

O evento, realizado no âmbito da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), modalidade de apoio da FAPESP, incluirá uma série de conferências sobre os últimos avanços na área de Evolução, discussões organizadas na forma de estudos dirigidos e sessões de apresentação de pôsteres.
De acordo com o coordenador da SPSAS-Evo, Antonio Carlos Marques, professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (IB) da USP, um dos objetivos centrais do evento é discutir os avanços recentes nas pesquisas sobre evolução em seus vários aspectos.
Os temas permeiam praticamente toda a ciência da biologia, de abordagens “micro” como desenvolvimento evolutivo – que estuda a trajetória de uma espécie isolada na evolução – até campos “macro” como a biogeografia, que busca compreender como a biota se distribui no globo.
“A Evolução é a área que conecta e justifica toda a biologia, uma vez que a diversidade biológica é, em última instância, o resultado final de um processo evolutivo desenvolvido ao longo de centenas de milhões de anos. Portanto, a Evolução permeia toda a biologia, por perspectivas que vão da genética e da fisiologia dos organismos até o estudo de sua distribuição geográfica”, disse Marques à Agência FAPESP.

A SPSAS-Evo procurará contemplar esses vários aspectos dos estudos evolutivos. Para isso, foram convidados docentes das mais diversas áreas de pesquisa. “Dos 14 professores que ministrarão conferências, oito são estrangeiros e seis brasileiros. Todos eles são pesquisadores líderes em suas áreas, com contribuições científicas da mais alta relevância e de alcance mundial”, contou Marques.
O tema da Evolução será enfocado em três módulos principais, de acordo com Marques: “Microevolução”, “Macroevolução” e “Abordagens integradas”. A microevolução tem uma abordagem em nível populacional, com uso de ferramentas genéticas. A macroevolução trata de estudos evolutivos operando acima do nível das espécies.
As abordagens integradas, por sua vez, unem os aspectos “macro” e “micro”, usando elementos da genética, da biologia molecular, da geologia e da química a fim de levantar questões fundamentais para o paradigma evolucionário.
“Teremos 80 estudantes, sendo 60 pós-graduandos, 10 graduandos e 10 pós-doutorandos. Pelo menos metade do grupo será proveniente de outros países. Optamos por reunir integrantes dos três níveis para gerar um processo de integração, no qual os mais graduados serão confrontados com a necessidade de transmitir seu conhecimento para os demais”, explicou Marques.

Pesquisadores visitantes

Os três módulos, de três dias cada um, serão intercalados por visitas a algumas das mais importantes instalações paulistas de pesquisa na área de Evolução. Ilhabela, segundo Marques, está em uma localização estratégica para que os participantes tenham uma experiência de imersão e, ao mesmo tempo, possam conhecer os equipamentos e parques existentes no litoral norte do estado, incluindo o Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da USP.

“O Cebimar tem instalações com condições excelentes de pesquisas e hoje inclui vários projetos de alto nível científico. Estamos também tratando com o Instituto Oceanográfico da USP uma possível visita ao Alpha Crucis, o navio oceanográfico comprado pela FAPESP que já está a caminho do Brasil”, disse Marques.
Paralelamente às atividades de campo, haverá trabalhos em grupo no formato de estudos dirigidos, seminários, conferências e mesas-redondas com participação dos palestrantes.
“Teremos ainda de seis a nove convidados, que serão pesquisadores paulistas de excelente nível na área de estudos evolutivos. Eles terão a oportunidade de apresentar seus trabalhos e seus laboratórios para os estudantes e para os professores convidados”, disse Marques.
Uma das intenções da escola é trazer estudantes e pesquisadores estrangeiros interessados em atuar no Brasil em projetos de pesquisa sobre Evolução. De acordo com Marques, vários aspectos contribuem para que São Paulo seja atraente para os pesquisadores da área.

“Com o apoio das agências de fomento como a FAPESP, tivemos a oportunidade, em São Paulo, de criar uma excelente estrutura de pesquisa. Além disso, temos uma massa crítica de pesquisadores e docentes de altíssimo nível produzindo trabalhos relevantes. Por fim, temos em território paulista um fantástico laboratório natural de evolução, com matas, cerrados e uma imensa extensão oceânica”, disse.

A comissão científica que coordena o evento inclui, além de Marques, os professores Marcello Simões, da Unesp em Botucatu (SP), e André Freitas, da Unicamp. Além do financiamento da FAPESP, a SPSAS-Evo tem uma série de apoios institucionais, de acordo com Marques: IB-USP, Instituto de Biociências da Unesp em Botucatu, Instituto de Biologia da Unicamp, Cebimar e Núcleo de Pesquisas em Biodiversidade Marinha da USP (NP-Biomar).
Mais informações: www.ib.usp.br/zoologia/evolution

terça-feira, 20 de março de 2012

Crânio de animal pré-histórico 'russo' é encontrado no Brasil

Fóssil ajuda a entender distribuição de ancestral dos mamíferos pela Terra.
É o 1º fóssil de carnívoro terrestre da Era Paleozoica na América do Sul.

Mário Barra Do G1, em São Paulo

16/01/2012 18h00 - Atualizado em 20/03/2012
 

O crânio de um ancestral dos mamíferos só encontrado antes em terras russas e africanas foi descoberto em São Gabriel, no Rio Grande do Sul, anunciaram cientistas brasileiros nesta segunda-feira (16). O fóssil é o primeiro descoberto na região de um carnívoro terrestre que teria vivido na América do Sul durante a Era Paleozoica – entre 540 milhões e 250 milhões de anos atrás.

Os chamados "terápsidos" viveram há 260 milhões de anos e se alimentavam de pequenos herbívoros.
O crânio completo encontrado tem aproximadamente 32 centímetros de comprimento e foi visto pela primeira vez em dezembro de 2008 na região dos pampas, dentro de uma fazenda. Depois de três anos de análises, os cientistas conseguiram identificar a espécie do animal e a anunciaram nesta segunda.
Para os pesquisadores responsáveis pela descoberta, as comparações com os “parentes” russos e africanos permitem estimar que o carnívoro brasileiro tinha 3 metros de extensão, pesando mais do que um leão.
O crânio encontrado na região dos pampas, no RS. (Foto: Cortesia Juan Carlos Cisneros / Divulgação)O crânio encontrado na região dos pampas, no RS. (Foto: Cortesia Juan Carlos Cisneros / Divulgação)
O nome científico do bicho (Pampaphoneus biccai) significa “matador dos pampas”, explica um dos autores da descoberta, o pesquisador Juan Carlos Cisneros, da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
O animal pertence a um grupo particular de terápsidos conhecidos como "dinocefálios". Este grupo de animais já extintos também recebeu um apelido ameaçador na tradução do latim: “cabeça terrível”.
A bravura está ligada aos ossos grossos dos dinocefálios, reforçados por rugas e cristais no crânio. “Essa característica era voltada para proteção. Algumas espécies usavam a cabeça para brigar, como fazem as cabras hoje em dia”, diz o pesquisador.
Mesmo bravos, a maior parte dos dinocefálios era herbívora. As poucas espécies carnívoras mediam até 6 metros e eram os maiores predadores terrestres na época em que P. biccai viveu.
“Carnívoros são raros. Até hoje, se você vê um documentário na África, vai ver um monte de zebra, mas poucos leões”, diz Cisneros. “Eles são limitados pelo volume de alimento disponível, há sempre menos carnívoros do que herbívoros.
Caça a fósseis
O achado foi divulgado na revista da Academia de Ciências Americana, a PNAS, nesta segunda. Cisneros já esperava encontrar fósseis no Rio Grande do Sul que fossem parecidos com os de outras partes do globo.
“A gente tinha uma suspeita de que esse animal pudesse existir no Brasil”, afirma.
Entre 2008 e 2009, a equipe de Cisneros visitou 50 localidades no país, procurando por sítios paleontológicos relevantes. Eles escolheram dez lugares, sendo que um deles rendeu a descoberta de outro animal pré-histórico, mas herbívoro: o Tiarajudens eccentricus, um terápsido com dentes no céu da boca (palato), cujo fóssil também foi achado em São Gabriel.
“Procurávamos sempre por lugares sem vegetação e, dependendo das cores observadas e da erosão no local, nós avaliamos as chances de encontrar fósseis ou não”, explica o especialista. “Essa área dos pampas gaúchos apresenta grande potencial, há rochas sedimentares ali, que cobrem os restos mortais dos seres vivos com areia e lama.”
Ilustração mostra como seria o 'Pampaphoneus biccai'. (Foto: Cortesia Juan Carlos Cisneros / Divulgação)Ilustração mostra como seria o 'Pampaphoneus biccai'. (Crédito: Voltaire Neto / Divulgação)
Passeio pela Pangeia

Cisneros defende que o estudo é uma prova da grande mobilidade dos vertebrados terrestres por todos os cantos do supercontinente Pangeia, que unia, no passado, todos os continentes atuais.
O fóssil é muito parecido com as espécies encontradas atualmente na Rússia, no Cazaquistão, na China e na África do Sul. Com a versão brasileira deste tipo de animal, especialistas acreditavam que uma distribuição mais cosmopolita dos terápsidos pode ter ocorrido muito antes do que se imaginava.
Até então, os cientistas afirmavam que este tipo de interação teria ocorrido somente mais tarde, durante o período Triássico – entre cerca de 250 milhões e 200 milhões de anos atrás.


'Pais' dos mamíferos

Apesar de serem muito parecidos com répteis, os terápsidos se encontram mais próximos dos mamíferos na arvore genealógica dos animais pré-históricos. Isso os distancia também das comparações com os dinossauros.
Os mamíferos atuais possuem ossos dentro do ouvido que participam da audição, além de dentes mais complexos, cauda menor e uma postura mais ereta. No caso de P. biccai, a semelhança com répteis aparece somente quando se leva em conta a forma como os dentes se encaixavam: os de cima entre os debaixo, como ocorre em uma boca de jacaré.

Fóssil encontrado na Argentina seria precursor dos dinossauros gigantes

Animal media cerca de 3 m e viveu há mais de 170 milhões de anos.
Argentina é um dos mais importantes centros de pesquisas na área.

Da France Presse
Dinossauro tinha cerca de três metros (Foto: AFP) 
Dinossauro tinha cerca de três metros (Foto: AFP)
 
O novo fóssil de dinossauro encontrado na Patagônia argentina é uma espécie desconhecida que explica a origem dos gigantes herbívoros que habitaram a Terra há 170 milhões de anos, disse nesta quarta-feira (23) à AFP o pesquisador que participou da descoberta.

"A importância da descoberta é que se trata de uma nova espécie. Ela nos oferece dados sobre a origem dos dinossauros saurópodes, de pescoço e cauda longos, herbívoros, e que foram os maiores seres da história da Terra", disse Diego Pol, cientista do Museu de Paleontologia Egidio Feruglio.

O animal, que mede cerca de 3 m de comprimento, foi batizado Leonerasaurus taquetrensis e é uma "espécie muito primitiva, de 180 milhões de anos que ajuda a entender a árvore genealógica dos gigantes que surgiram depois", segundo Pol.

A Argentina se tornou há alguns anos um importante centro pelas descobertas de fósseis de dinossauros, entre eles o Argentinosaurus huinculensis, de 98 milhões de anos, o maior herbívoro já encontrado no mundo.

"Boa parte do esqueleto do Leonerasaurus foi encontrada. Falta parte do crânio e a cauda. Mas temos a coluna vertebral, a cintura, as patas dianteiras e as traseiras", disse Pol, cientista do organismo estatal de pesquisas científicas Conicet, em Trelew, 1.400 Km ao sul de Buenos Aires.

O Leonerasaurus foi encontrado em um sítio da era Jurássica localizado nas serras patagônicas de Taquetrén, que serviram de inspiração para o "nome" do fóssil. A espécie é considerada um "elo perdido" que liga os antigos e pequenos prossaurópodes com seus irmãos maiores, os saurópodes.
A descoberta foi publicada na revista científica "Plos One".

Crânio de dinossauro de 165 milhões de anos é reconstruído em 3D

Imagens revelam ouvido interno avançado em espécie descoberta no Níger.
Trabalho foi divulgado na publicação de livre acesso 'PLoS One'.

Da Agência EFE
Uma equipe de pesquisadores espanhóis reconstruiu em 3D a cavidade craniana de um dinossauro da espécie Spinophorosaurus nigeriensis, de 165 milhões de anos. As imagens revelaram que esses exemplares possuíam um ouvido interno muito desenvolvido, característica relacionada à coordenação dos olhos e da cabeça.

Atualizado em 20/03/2012

ados do trabalho foram publicados na publicação de livre acesso "PLoS One" por cientistas do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC), da Espanha. O trabalho contou também com a colaboração de pesquisadores da Universidade Nacional de Educação a Distância da Espanha, da Universidade de Ohio (EUA) e da Universidade Humboldt de Berlim (Alemanha).

O estudo foi feito em fósseis encontrados no Níger em 2006 que pertencem ao período Jurássico Médio (entre 175 milhões e 161 milhões de anos atrás), informa o CSIC.
A descoberta sugere que este dinossauro, apesar de ser um animal de menor ágil que seus ancestrais, apresentava um aparelho vestibular (conjunto de órgãos do ouvido interno) considerável.
A nota indica que os animais Spinophorosaurus eram quadrúpedes herbívoros de pescoço longo que costumavam alcançar 15 metros de comprimento e cujas caudas apresentavam protuberâncias ósseas como espinhos.
Os órgãos do ouvido interno eram a base do equilíbrio e tinham três canais semicirculares encarregados de detectar aspectos da movimentação da cabeça do animal. Esses canais são mais alongados em animais ágeis e mais curtos nos mais lentos.
Ilustração mostra o ouvido interno esquerdo de alguns dinossauros, entre eles os do gênero 'Spinophorosaurus'. (Foto: PLoS One)Ilustração mostra ouvido interno esquerdo de dinossauros; Entre eles, o 'Spinophorosaurus'.(Foto:PLoS One)
 

Roedores mamíferos podem ter convivido com dinossauros

Eles apareceram nos últimos 20 milhões de anos do reinado dos dinos.
Com dentição complexa, animais deveriam se alimentar de vegetais.

Da France Presse
Comente agora
Multituberculado teria vivido durante período Mesozoico e convivido com dinossauros. (Foto: Divulgação / Jude Swales) 
Multituberculado teria vivido convivido com
dinossauros (Foto: Divulgação / Jude Swales)
 
Os cientistas acreditavam que, durante a era Mesozoica, os mamíferos eram criaturas pequenas que viviam à sombra de outras. No entanto, agora, eles dizem que pelo menos um grupo de mamíferos conseguiu prosperar.

Criaturas semelhantes a roedores, chamados multituberculados, apareceram nos últimos 20 milhões de anos de reinado dos dinossauros e sobreviveram após a extinção destes, há 66 milhões de anos.
O novo estudo de um paleontólogo da Universidade de Washington indica que os chamados multituberculados conseguiram sobreviver tão bem porque desenvolveram diversos tubérculos (protuberâncias ou cúspides) nos dentes posteriores, o que permitiu que se alimentassem de angiospermas, plantas com flores que estavam se tornando um elemento comum na paisagem.

"Esses mamíferos eram capazes de proliferar em termos de número de espécies, tamanho do corpo e formato de seus dentes, características que influenciaram o que comiam", disse Gregory P. Wilson, professor assistente de biologia da Universidade de Washington.
Ele é o principal autor da pesquisa, publicada nesta quarta-feira (14), em uma edição on-line da revista científica "Nature".

Características

Cerca de 170 milhões de anos atrás, os multituberculados tinham o tamanho aproximado de um rato. As angiospermas começaram a aparecer há aproximadamente 140 milhões e, depois disso, o tamanho dos pequenos mamíferos aumentou, chegando ao de um castor.

Após a extinção dos dinossauros, os multituberculados continuaram a se destacar até que os outros mamíferos - em grande parte primatas, ungulados e roedores - ganharam uma vantagem competitiva. Isso acabou levando, enfim, ao desaparecimento dos multitubeculados, cerca de 34 milhões de anos atrás.
Os cientistas examinaram os dentes de 41 espécies de multituberculados preservados em fósseis coletados ao redor do mundo a fim de determinar para que direção as manchas presentes nas superfícies dentárias apontavam.

Carnívoros têm dentes relativamente simples, com talvez 110 manchas por arcada, pois seu alimento se despedaça facilmente, explicou Wilson. Mas animais que dependem mais de vegetais para a sobrevivência têm uma dentição um pouco mais afetada porque sua comida é dilacerada com os dentes.
Em alguns multituberculados, dentes em formato de lâmina situados na parte da frente da boca se tornaram menos proeminentes com o tempo e os dentes de trás se tornaram mais complexos, com 348 manchas por arcada, um indício de mastigação de alimento vegetal.

Cientistas conseguem em Mianmar imagens inéditas de macaco raro

Espécie descoberta em 2010 só havia sido descrita por ilustração.
Estimativa é que existam na região uma população de 330 exemplares.

12/01/2012 12h03 - Atualizado em 19/03/2012 12h03

Uma equipe internacional de primatólogos conseguiu capturar as primeiras imagens de uma nova espécie de macaco-de-cara-chata (Rhinopitecus Strykeri), descoberta em 2010 no norte de Mianmar e que tem uma população estimada em 330 animais.

As imagens foram divulgadas nesta semana pelas organizações Fauna & Flora International, Biodiversity and Nature Conservation Association e People Resources and Conservation Foundation, envolvidas no trabalho de pesquisa.

Uma gravura da espécie, apelidada de macaco "Elvis", devido ao seu elevado topete, foi apresentada pela organização ambiental WWF no fim do ano passado, quando foi publicada uma lista com mais 200 animais encontrados na região do região do Grande Mekong, rio que corta seis países do Sudeste Asiático como o Camboja, a China, Laos, Miannmar, Tailândia e Vietnã.
"Trata-se dos primeiros testemunhos do animal em seu habitat natural", destacou o biólogo birmanês Ngwe Lwin, da Associação de Conservação da Natureza e a Biodiversidade de Mianmar, durante a apresentação das fotos.
Jeremy Holden, que coordenou a colocação das câmaras, indicou que não foi um trabalho simples, já que tiveram que enfrentar as nevadas de janeiro e as persistentes precipitações de abril. As dificuldades eram ainda maiores pelo fato dos especialistas desconhecerem o lugar exato onde habitava a comunidade de macacos de cara chata descoberta em 2010.
Primeira imagem do macaco (Foto: Divulgação/FFI/BANCA/PRCF)Primeira imagem do macaco-de-cara-chata realizada por ambientalistas em Mianmar (Foto: Divulgação/FFI/BANCA/PRCF)
Anteriormente, apenas uma ilustração do primata havia sido divulgada. (Foto: Divulgação/WWF/Reuters)Anteriormente, apenas uma ilustração do primata havia sido divulgada. (Foto: Divulgação/WWF/Reuters)
 
Espirro
A espécie se destaca ao apresentar uma pelagem inteiramente negra e caudas "relativamente" longas, que equivalem a uma vez e meia o tamanho de seu próprio corpo. Embora o primata seja novo para a ciência, o macaco-de-cara-chata é conhecido pelos caçadores da região, que afirmam que o "nwoah" (no idioma local) é relativamente fácil de ser encontrado, já que o animal começa a espirrar quando chove.
Para evitar a entrada de água de chuva no nariz, estes símios costumam passar os dias chuvosos sentados com a cabeça entre os joelhos. Já nos meses de verão, entre maio e outubro, os macacos vivem nas montanhas e só descem no inverno, quando a comida começa a faltar.

O primatólogo Frank Momberg, da Fauna & Flora International, se reuniu com vários caçadores locais e descobriu que entre 260 e 330 animais da espécie se concentram em uma área de 270 km² nas margens do Rio Maw, situado no estado de Kachin, no nordeste de Mianmar.
Os macacos encontrados vivem isolados devido às características de Kachin, o qual conta com duas barreiras naturais, os Rios Mekong e Salween. Na China e no Vietnã existem algumas espécies de macacos-de-cara-chata. Porém, esta é a primeira vez que a comunidade científica internacional consegue localizar o animal em Mianmar.
 

 

Cientistas estudam rostos de macacos para entender sua evolução

Equipe de universidade americana analisou mais de 129 rostos dos animais.

BBC 17/01/2012 11h18 - Atualizado em 17/01/2012 11h48

Uma equipe de pesquisadores da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) analisou 129 rostos de macacos na América Central e América do Sul em busca de pistas sobre a evolução das espécies.
Segundo o professor Michael Alfaro, os cientistas querem entender porque os macacos desenvolveram aspectos tão diferentes em seus rostos - como cores e tamanhos de pelos distintos.
Eles classificaram os rostos em 14 grupos diferentes, e também estudaram os sistemas sociais de cada espécie. Eles também pesquisaram a evolução, para entender quando cada gênero de animal começou se diferenciar dos demais.
As espécies de macacos do continente americano são muito variadas, com cores e rostos complexos. Pesquisadores da Universidade da Califórina Los Angeles (UCLA) estão estudando as diferenças entre eles, como os entorno dos olhos cor-de-rosa deste macaco-de-cheiro. (Foto: J L Alfaro/UCLA) 
As espécies de macacos do continente americano são muito variadas, com cores e rostos complexos. Pesquisadores da Universidade da Califórina Los Angeles (UCLA) estão estudando as diferenças entre eles, como os entorno dos olhos cor-de-rosa deste macaco-de-cheiro. (Foto: J L Alfaro/UCLA)
O resultado da pesquisa surpreendeu os cientistas. "Encontramos fortes evidências para a ideia de que quando uma espécie vive em grupos mais numerosos, os seus rostos são mais simples", disse a pesquisadora Sharlene Santana.
"Acreditamos que isso está relacionado com a habilidade de comunicação mediante expressões faciais. Um rosto mais simples permite transmitir expressões de uma forma mais fácil e clara."
Os cientistas descobriram também que quando os macacos vivem em ambientes com outras espécies semelhantes, seus rostos são mais complexos, para permitir a identificação de cada um.
Alfaro afirma que os humanos não possuem características tão diversas em seus rostos, como foi verificado nos animais, mas que ainda assim os humanos são capazes de comunicar emoções através de uma grande diversidade de expressões faciais.
Em um artigo publicado na revista Royal Society Journal, Proceedings B, a equipe descreve como animais de zonas tropicais, como este macaco-prego, adquiriram suas características faciais - como a cor - para facilitar o reconhecimento à distância entre eles. (Foto: J L Alfaro/UCLA) 
Em um artigo publicado na revista Royal Society Journal, Proceedings B, a equipe descreve como animais de zonas tropicais, como este macaco-prego, adquiriram suas características faciais - como a cor - para facilitar o reconhecimento à distância entre eles. (Foto: J L Alfaro/UCLA)
Animais solitários, ou aqueles que vivem em pequenos grupos, como este macaco-da-noite, têm cores e rostos mais complexos, segundo a cientista Sharlene Santana, que liderou a pesquisa. Isso pode ter evoluído desta forma para que cada macaco tivesse uma identidade diferente, que facilitasse a distinção entre eles. (Foto: C Wolovich/UCLA) 
Animais solitários, ou aqueles que vivem em pequenos grupos, como este macaco-da-noite, têm cores e rostos mais complexos, segundo a cientista Sharlene Santana, que liderou a pesquisa. Isso pode ter evoluído desta forma para que cada macaco tivesse uma identidade diferente, que facilitasse a distinção entre eles. (Foto: C Wolovich/UCLA)
A cor da face e o tamanho dos pelos são dois indícios de como os animais se adaptaram aos seus ambientes. Santana explica: "A área ao redor dos olhos evoluiu para uma cor mais escura em espécies que vivem em lugares com alta radiação ultravioleta." No caso deste macaco-aranha, o rosto escuro ajuda o animal a lidar com o sol forte. (Foto: J L Alfaro/UCLA) 
A cor da face e o tamanho dos pelos são dois indícios de como os animais se adaptaram aos seus ambientes. Santana explica: "A área ao redor dos olhos evoluiu para uma cor mais escura em espécies que vivem em lugares com alta radiação ultravioleta." No caso deste macaco-aranha, o rosto escuro ajuda o animal a lidar com o sol forte. (Foto: J L Alfaro/UCLA)
 

 

Após 21 anos, raro exemplar de lince aparece em floresta dos EUA

Ameaçado, espécime de lince-do-canadá foi descoberto na região de Idaho.
É a primeira vez desde 1991 que animal aparece em área de floresta.

01/02/2012 10h55 - Atualizado em 01/02/2012 12h35

Um exemplar de lince-do-canadá (Lynx canadensis) foi visto na última semana, pela primeira vez em 21 anos, em uma região de floresta de Idaho, nos Estados Unidos.
O animal, que corre perigo de extinção, foi capturado em uma armadilha na Floresta Nacional Salmon-Challis.
A última vez que um exemplar desta espécie havia sido observado na região, que tem 43 mil km² de área de floresta, foi em 1991, quando um animal ficou preso acidentalmente em outra armadilha. Em 1996, o estado registrou o aparecimento do lince, mas em outra região.

Segundo Tom Keegan, gerente regional do Departamento de Caça e Pesca de Idaho, a ocorrência foi muito rara. Ele disse que um homem passeando com seu cão viu o felino preso na última quinta-feira (26), que foi libertado em seguida, sem ferimentos.
Imagem de arquivo do Departamento de Pesca e Caça dos EUA mostra exemplar do lince-do-canadá em floresta do país. Na última semana, depois de 15 anos, um espécime apareceu em parque florestal estado Idaho. (Foto: Governo dos EUA/Reuters)Imagem de arquivo do Departamento de Pesca e Caça dos EUA mostra exemplar do lince-do-canadá em floresta do país. Na última semana, depois de 15 anos, um espécime apareceu em parque florestal estado Idaho. (Foto: Governo dos EUA/Reuters)
 
Acredita-se que existam cerca cem espécimes de lince-do-canadá nas florestas de Idaho. Na década de 1990, a captura do lince foi proibida em 48 estados do país. Já em 2000, esta espécie foi considerada ameaçada de extinção. Raramente avistados, biólogos utilizam rastros e fezes para documentar sua presença.

Uma amostra de DNA foi coletada do animal para analisar se ele é um lince selvagem e adquirir conhecimentos sobre suas possíveis origens. Estes mamíferos podem viajar longas distâncias (centenas de quilômetros às vezes) em busca de comida.
*Com informações da Reuters e da MSNBC
 

 

Crocodilos têm a mordida mais forte do reino animal, dizem cientistas

Mordedura de crocodilo-de-água-salgada tem pressão de até 1.678 kg.
Há 85 milhões de anos, crocodilianos mordiam 2 vezes mais forte que T-Rex.

 

Análise realizada por pesquisadores da Universidade do Estado da Flórida, dos Estados Unidos, em 23 espécies de crocodilos e jacarés vivos comprovou que a mordida desses répteis é a mais forte do reino animal.
A característica seria herança de parentes crocodilianos pré-históricos, cuja mordida era quase duas vezes mais potente que a de um dinossauro Tiranossauro-Rex.
Os resultados foram publicados na última semana em artigo científico da revista “PLoS ONE”. Segundo os autores do estudo, a força da mordida foi medida, juntamente com a pressão dos dentes, em exemplares adultos maduros.
Mandíbula de espécie de crocodilo (Foto: Divulgação)Mandíbula de exemplar de jacaré-americano analisado por pesquisadores. No destaque os dentes que ajudam a espécie a segurar a presa. (Foto: Divulgação)
 
A mordida mais forte é a do crocodilo-de-água-salgada (Crocodylus porosus), que gerou a pressão de 1.678 kg. De acordo com Gregory M. Erickson, um dos autores do estudo, com a análise foi possível verificar a anatomia, a biomecânica e o desempenho entre répteis vivos e fósseis de crocodilianos de 85 milhões de anos atrás.
Os pesquisadores descobriram também que a força da mordida tinha relação principalmente com o tamanho do corpo e pouca interefência do tamanho dos dentes ou a forma da mandíbula.

 

segunda-feira, 19 de março de 2012

 

sábado, 17 de março de 2012

Segredos do homem do gelo

Equipe internacional de pesquisadores completa o sequenciamento do DNA humano mais antigo já coletado de uma múmia. O genoma revela a origem genética e as características físicas de um homem da Idade do Cobre assolado por doenças atuais.
Por: Sofia Moutinho
Publicado em 29/02/2012 | Atualizado em 15/03/2012
Segredos do homem do gelo
Ötzi, o homem do gelo, teria tido olhos castanhos, saúde debilitada e deixado descendentes na região italiana onde hoje é a Sardenha. (foto: South Tyrolean Museum of Archaeology)
Um homem na casa dos 40 anos, de pele branca, cabelos e olhos castanhos, com problemas cardíacos, intolerância à lactose e uma doença provocada por um parasita do carrapato. A descrição, que poderia ser de qualquer indivíduo moderno, é resultado da interpretação do genoma de Ötzi, o homem do gelo, mais antiga múmia humana a ter seu DNA sequenciado. O código genético pré-histórico, de cerca de 5.300 anos, pode ajudar a compreender a evolução e a expansão do homem na Terra.

Ötzi, que viveu no período Calcolítico, ou Idade do Cobre (3000-1800 a.C.), foi descoberto em 1991 por um casal de alpinistas alemães na parte italiana dos Alpes Ötztal – daí o nome. Desde então, está em exibição no Museu Arqueológico do Tirol do Sul, em Bozano, Itália.
A equipe internacional de pesquisadores responsável pela análise do DNA do homem do gelo, iniciada em 2010 e publicada ontem (28/2) na revista Nature Communications, usou uma mostra recolhida do osso do quadril da múmia para destrinchar a sua história.
Para detectar características físicas e propensões genéticas do homem, os pesquisadores se basearam na análise de Snps. Esses marcadores genéticos são originados na troca de um par de base nitrogenada durante a duplicação do DNA – por exemplo, uma sequência que deveria ser ATCG, por erro, vira ATGG.
Essas variações de base nitrogenada, que são passadas de geração para geração, nem sempre têm implicações para quem as carrega, mas podem determinar algumas características físicas, a presença ou risco de desenvolvimento de doenças e também a etnicidade, já que se tornam típicas de determinados grupos humanos que conviveram por muito tempo.

Na análise do DNA de Ötzi, os pesquisadores identificaram Snps relacionados ao risco de doenças coronarianas e à intolerância à lactose. Uma tomografia feita na múmia confirmou: o homem do gelo tinha sinais de calcificação no coração próprios de quem sofreu de arteriosclerose.
“A predisposição a doenças cardiovasculares é considerada uma característica do homem moderno e chamada de doença da civilização”, diz Albert Zink, líder da pesquisa e antropólogo molecular do Instituto do Homem do Gelo e Múmias. “Com o genoma de Ötzi, sabemos que as mutações genéticas que levaram a isso já estavam presentes há mais de cinco mil anos.”

A intolerância à lactose do homem do gelo também diz muito sobre a evolução e a saúde humana. Zink explica que a capacidade do homem de beber leite depois de adulto sem ter problemas só surgiu depois da domesticação de animais leiteiros na Europa. O período preciso da mudança ainda é incerto, mas o genoma de Ötzi oferece mais uma pista.
“Na época de Ötzi, era provável que as pessoas ainda fossem majoritariamente intolerantes ao açúcar do leite”, explica. “E essa evidência é mais uma das contribuições da pesquisa. É importante investigar o marcador genético associado a essa característica para entender como e quando essa mudança tão significativa ocorreu.”
Múmia do Homem do Gelo
O genoma de Ötzi é o mais antigo já sequenciado a partir de uma múmia. (foto: Wikimedia Commons/ Jacklee)
Junto ao DNA do homem do gelo, os cientistas encontraram ainda o material genético da bactéria Borrelia burgdorferi, causadora da doença de Lyme. Transmitida pela picada de carrapatos, a enfermidade, diagnosticada apenas no século 18, provoca desde sintomas leves, como irritação cutânea, até mais graves, como distúrbios neurológicos.
Esse é o registro mais antigo da doença e pode ajudar a explicar estranhas marcas encontradas na pele de Ötzi. Alguns arqueólogos acreditam que as pequenas linhas tatuadas no homem eram uma forma antiga de tratamento, uma espécie de acupuntura pré-histórica ocidental, e a doença de Lyme poderia ser o alvo dessa terapia.


Origem revelada

Depois de terminar o sequenciamento do genoma de Ötzi, os pesquisadores utilizaram bancos de dados e programas de computador para comparar o DNA da múmia com o de humanos modernos.
O material genético do homem do gelo foi confrontado com amostras de mais de 1.300 europeus, 125 indivíduos de populações africanas e 20 pessoas do Oriente Médio. Mas só apresentou marcadores compatíveis com o DNA de europeus, mais especificamente de pessoas que vivem na ilha italiana Sardenha.
Na análise do DNA de Ötzi, os pesquisadores identificaram Snps relacionados ao risco de doenças coronarianas e à intolerância à lactose. Uma tomografia feita na múmia confirmou: o homem do gelo tinha sinais de calcificação no coração próprios de quem sofreu de arteriosclerose.
“A predisposição a doenças cardiovasculares é considerada uma característica do homem moderno e chamada de doença da civilização”, diz Albert Zink, líder da pesquisa e antropólogo molecular do Instituto do Homem do Gelo e Múmias. “Com o genoma de Ötzi, sabemos que as mutações genéticas que levaram a isso já estavam presentes há mais de cinco mil anos.”

A intolerância à lactose do homem do gelo também diz muito sobre a evolução e a saúde humana. Zink explica que a capacidade do homem de beber leite depois de adulto sem ter problemas só surgiu depois da domesticação de animais leiteiros na Europa. O período preciso da mudança ainda é incerto, mas o genoma de Ötzi oferece mais uma pista.
“Na época de Ötzi, era provável que as pessoas ainda fossem majoritariamente intolerantes ao açúcar do leite”, explica. “E essa evidência é mais uma das contribuições da pesquisa. É importante investigar o marcador genético associado a essa característica para entender como e quando essa mudança tão significativa ocorreu.”
Múmia do Homem do Gelo
O genoma de Ötzi é o mais antigo já sequenciado a partir de uma múmia. (foto: Wikimedia Commons/ Jacklee)
Junto ao DNA do homem do gelo, os cientistas encontraram ainda o material genético da bactéria Borrelia burgdorferi, causadora da doença de Lyme. Transmitida pela picada de carrapatos, a enfermidade, diagnosticada apenas no século 18, provoca desde sintomas leves, como irritação cutânea, até mais graves, como distúrbios neurológicos.
Esse é o registro mais antigo da doença e pode ajudar a explicar estranhas marcas encontradas na pele de Ötzi. Alguns arqueólogos acreditam que as pequenas linhas tatuadas no homem eram uma forma antiga de tratamento, uma espécie de acupuntura pré-histórica ocidental, e a doença de Lyme poderia ser o alvo dessa terapia.


Origem revelada

Depois de terminar o sequenciamento do genoma de Ötzi, os pesquisadores utilizaram bancos de dados e programas de computador para comparar o DNA da múmia com o de humanos modernos.
O material genético do homem do gelo foi confrontado com amostras de mais de 1.300 europeus, 125 indivíduos de populações africanas e 20 pessoas do Oriente Médio. Mas só apresentou marcadores compatíveis com o DNA de europeus, mais especificamente de pessoas que vivem na ilha italiana Sardenha.
Zink explica que os marcadores genéticos de ancestralidade compartilhados pela múmia e pelos sardenhos pertencem a um grupo de humanos que teve origem no Oriente Próximo, região que abrange o sudoeste asiático e os países mediterrâneos, e foi introduzido na Europa durante o período Neolítico (10.000-6.000 a.C.).
“Hoje, esses marcadores genéticos são muito raros e só são encontrados em áreas isoladas como as ilhas de Córsega e Sardenha”, diz Zink. “Em outros lugares, esse grupo foi substituído por outras populações.”
A pista genética é compatível com as teorias arqueológicas correntes sobre o homem do gelo, segundo as quais ele teria vivido em algum povoado próximo ao Mar Tirreno – parte do Mar Mediterrâneo que se estende ao longo da costa oeste italiana – e depois migrado para os Alpes.
Segundo o líder do estudo, a identificação da origem genética de Ötzi pode ser útil ainda para estudos mais aprofundados sobre a expansão do homem antigo na Terra.
“Embora o genoma de um só indivíduo seja pouco para refazer a história demográfica humana, a presença desse grupo específico na Itália no início da Idade do Cobre traz novos elementos para futuras pesquisas que visem entender as migrações da época, especialmente o fluxo entre as comunidades alpinas e mediterrâneas.”

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line
Este texto foi atualizado para incluir as seguintes alterações:

Diferentemente do publicado anteriormente, a lactose não é uma proteína, mas um açúcar presente no leite. Proteína é a lactase, enzima que “quebra” a lactose e permite a digestão do leite. (12/3/2012)

Os marcadores genéticos analisados pelos pesquisadores são originados na troca de um par de base nitrogenada durante a duplicação do DNA, e não a transcrição, como foi dito anteriormente.
(15/3/2012)