Devagar e sempre: lentidão foi decisiva na evolução de serpentes e lagartos
A Terra fervilha de lagartos e cobras. Mais de 10.000 espécies desses répteis, da ordem Squamata, popularmente conhecidos como escamados, se adaptaram para prosperar em quase todos os continentes.
Mas essa enorme variedade levou um longo tempo para se desenvolver, de acordo com Jorge Herrera-Flores, paleontólogo da Universidade de Bristol, e seus colegas. Em vez de tentarem novas adaptações o mais rápido possível, os escamados tiveram sucesso ao evoluírem em um ritmo bastante lento, explicam os pesquisadores — uma ideia que vai na contramão das teorias de como e por que a vida se diversifica.
Os cientistas mapearam a evolução dos escamados em um novo estudo publicado em Paleontology, que os compara com evasivos parentes reptilianos da ordem Rhynchocephalia. Hoje, apenas uma única espécie viva representa estes últimos — o tuatara (Sphenodon), endêmico da Nova Zelândia — mas existiam muitos outros no passado remoto. “Por muitas décadas, nos perguntamos sobre a verdadeira causa do declínio dos rincocéfalos”, explica Herrera-Flores.
A equipe observou um padrão estranho: as trajetórias evolutivas dos dois grupos estavam invertidas. Os escamados evoluíram seu tamanho corporal lentamente durante dois terços de sua existência — entre 240 e 80 milhões de anos atrás. Ao mesmo tempo, os rincocéfalos se ramificaram em uma profusão de tamanhos diferentes — até sua diversidade se extinguir. Até agora, parecia que rápidos surtos de experimentação evolutiva construíam uma capacidade de perdurar.
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Estudos anteriores de dois outros grupos de répteis, dinossauros e crocodilos, propuseram que uma rápida evolução inicial ajudou esses animais a superar competidores e dominar a paisagem. Por essa lógica, as rápidas variações dos rincocéfalos deveriam antecipar um sucesso maior.
Em vez disso, sugerem Herrera-Flores e colegas, a evolução acelerada pode criar um tipo de volatilidade que conduz à extinção. O ritmo evolutivo mais lento dos escamados resultou em uma história estável, seguida de posterior explosão de diversidade, quando os parentes dos tuataras estavam em declínio.
Répteis não estão sozinhos nessa estratégia de “devagar e sempre”. Embora modernos peixes ósseos sejam muito diversos hoje, um estudo descobriu que no passado eles não eram tão variados como os holocênicos — parentes pré-históricos dos gars e dos peixes da família Polyodontidae da atualidade. Esses estudos sugerem que diversificar com rapidez para ocupar mais nichos nem sempre é um caminho para o sucesso de longo prazo. Diferentemente de seus primos, a linhagem do tuatara também evoluiu muito mais lentamente. Hoje, ele é um “fóssil vivo” de uma primeva explosão evolutiva fracassada.
Riley Black
Publicado originalmente na edição de abril de 2022 da Scientific American Brasil; aqui em 16/06/2022.
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