sábado, 21 de dezembro de 2024

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O misterioso fóssil “alien” que desafia as classificações modernas

Antes considerada parente do ginseng, a planta agora é tida como a única representante de uma família desconhecida

Por Marília Monitchele Atualizado em 18 dez 2024, 20h56 - Publicado em 18 dez 2024, 12h19

Em 1969, fósseis de folhas da espécie Othniophyton elongatum — traduzida como “planta alienígena” — foram descobertos na Formação Green River, no leste de Utah. Com poucas informações disponíveis à época, os pesquisadores atribuíram a planta extinta à família do ginseng (Araliaceae), baseando-se unicamente na análise das folhas fossilizadas. O caso foi considerado encerrado. Porém, novas descobertas estão reescrevendo a história da espécie misteriosa.

Décadas após a análise inicial, Steven Manchester, curador de paleobotânica do Museu de História Natural da Flórida, trouxe o caso de volta à discussão. Durante uma visita à coleção de fósseis da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, Manchester se deparou com um espécime extraordinariamente bem preservado, encontrado na mesma região onde os fósseis originais de 1969 haviam sido coletados. Esse novo achado, que vinha com flores, frutos e folhas ainda presos ao caule, revelou que uma planta ainda mais enigmática do que se imaginava.

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Manchester e sua equipe publicaram um estudo mostrando que os fósseis de 1969 e o exemplar recém-descobertos pertenciam à mesma espécie. Contudo, as folhas, frutos e flores do novo fóssil não se assemelhavam em nada às características das plantas da família do ginseng.

Um mistério em aberto

Os fósseis originais fornecem informações limitadas, baseadas apenas no formato e nos padrões de nervuras das folhas. Isso levou os pesquisadores a classificá-las como folhas compostas, típicas de várias plantas da família do ginseng. Entretanto, os novos fósseis mostraram folhas simples, diretamente conectadas aos caules, descartando a hipótese inicial.

As peculiaridades não pararam por aí. Os frutos e flores apresentavam características que desafiavam as comparações com plantas modernas. Uma das descobertas mais intrigantes envolveu os estames (órgãos reprodutores masculinos da planta) que permaneciam presos mesmo após os frutos alcançarem maturidade, uma característica que não costuma ser observada em plantas vivas conhecidas. Além disso, bagas e flores descartaram possíveis ligações com famílias como as gramíneas e magnólias. Ou seja, apesar do fóssil estar excepcionalmente bem preservado, os cientistas encontraram mais perguntas do que respostas.

A centelha de esperança de solucionar o mistério foi acesa com a chegada de um novo pesquisador que atuava como curador de inteligência artificial no Museu da Flórida e implementou uma estação avançada de microscopia. Com o uso de microscópios digitais e iluminação aprimorada, a equipe pôde observar peculiaridades antes imperceptíveis nos fósseis, incluindo microimpressões das sementes em desenvolvimento.

Mesmo assim, não foram encontradas correspondências com nenhuma das mais de 400 famílias de plantas floridas conhecidas atualmente em nosso planeta. Os pesquisadores passaram, então, a investigar possíveis vínculos com famílias extintas mapeadas por outros paleobotânicos, mas novamente nenhum parentesco foi detectado.

Esse impasse reflete um problema recorrente na paleobotânica: as plantas extintas, especialmente aquelas que viveram há menos de 65 milhões de anos, frequentemente são classificadas como ancestrais de famílias modernas, o que pode distorcer a compreensão da biodiversidade dos ecossistemas antigos. 

As famílias de plantas podem conter quantidades espantosas de diversidade. Plantas aparentemente díspares como hera venenosa, castanhas de caju e mangas estão todas na mesma família, junto com mais de 800 outras espécies e ainda não está claro quanta diversidade neste misterioso grupo extinto foi perdida com o tempo.

A Formação Green River, onde os fósseis foram descobertos, era um antigo sistema de lagos interiores com condições ideais para a preservação de organismos jurássicos. Fósseis de plantas desta localidade frequentemente surpreendem pesquisadores, levando à identificação de grupos extintos. Quem sabe em um futuro próximo, novas peças não se encaixam nesse longevo quebra-cabeças.



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