segunda-feira, 31 de março de 2014

Espinossaurídeos


Os espinossaurídeos são um grupo de dinos pescadores, ou seja, alimentavam-se principalmente de peixes. Os dinossauros desse grupo têm como principais características: um crânio alongado e fino; grandes garras curvas em suas patas dianteiras; e, em algumas espécies, um alongamento na parte de cima das vértebras formando um tipo de vela dorsal que provavelmente servia para controle da temperatura corporal.
Os espinossaurídeos são um grupo de dinossauros que possuí apenas 13 espécies, veja abaixo quais são elas.

Spinosaurus aegyptiacus: foi o maior não só dos espinossaurídeos, mas também o maior de todos os Terópodes. Media cerca de 18 metros de comprimento e pesava 20 toneladas. Viveu no norte da África durante o período Cretáceo. Também foram encontrados vestígios desta espécie nas regiões norte e nordeste do Brasil, especialmente no local que hoje corresponde ao Ceará. O nome Espinossauro significa "Lagarto Espinho".


Spinosaurus maroccanus: medindo aproximadamente 14 metros de comprimento e pesando cerca de 7 toneladas, esta é uma espécie de Espinossauro descoberta no Marrocos (daí a origem de seu nome). Foi originalmente descrito por Dale Russell, em 1996, como uma nova espécie com base no comprimento das vértebras do pescoço.

Cristatusaurus lapparenti: seu nome significa "Réptil com crista". Viveu durante o período Cretáceo na região que hoje corresponde ao Níger, na África. Esta espécie foi formalmente descrita por Taquet e Russell, em 1998, e teve seus fósseis encontrados em 1973. O Cristatusaurus era bem semelhante ao Baryonyx e ao Suchomimus, o que causa um debate sobre a identidade desta criatura, em que alguns argumentam que ele pode ser o mesmo dinossauro que o Suchomimus.



Suchomimus tenerensis: viveu na África durante a primeira metade do período Cretáceo. Seus fósseis foram encontrados no Deserto do Teneré (daí a origem de seu nome), no Níger, em 1997. Media 11 metros de comprimento e 3,7 metros de altura, pesando cerca de 5 toneladas. O nome Suchomimo significa "imitação de crocodilo". Assim como alguns outros espinossaurídeos, este não possuía uma vela dorsal em suas costas.
                                     
Siamosaurus suteethorni: seu nome significa "lagarto siamês". Viveu no início do período Cretáceo no local que hoje corresponde a Tailândia. Esta espécie tem tamanho desconhecido, mas é provável que tenha alcançado cerca de 9 metros de comprimento. Foi formalmente descrito por Buffetaut e Ingavat em 1986. Há muito pouco informação sobre este dino, mas sabe-se a partir de seus dentes semelhantes aos do Espinossauro, que alimentava-se de peixes.


Baryonyx walkeri: foi um dinossauro de grande porte que viveu no limite Jurássico-Cretáceo (por volta de 144-128 milhões de anos atrás) no local que hoje corresponde a Grã-Bretanha, alimentando-se de peixes e pequenos animais. Seus restos fósseis foram encontrados em 1983 junto a pedaços de escamas de peixe, o que indicou sua dieta. Apenas dois exemplares fósseis foram encontrados até hoje. O Baryonyx media cerca de 8,5 metros de comprimento, no entanto, a análise dos ossos sugere que o espécime encontrado não estava plenamente desenvolvido, de modo que um indivíduo adulto poderia ter sido bem maior (cerca de 12 a 14 metros de comprimento).

Irritator challengeri: viveu há aproximadamente 110 milhões de anos atrás durante o período Cretáceo. Media cerca de 8 metros de comprimento. O nome Irritator é em referência ao fato de que o fóssil havia sido alterado pelos mineradores que o encontraram a fim de torná-lo mais bonito para a venda. A dificuldade para eliminar as feições artificiais "irritou" os paleontólogos que o estudaram, dando origem ao nome do dino. O fóssil corresponde a um crânio de 80 centímetros. Este foi estudado e descrito em 1996 e re-estudado em 2002. A data de sua descoberta, feita provavelmente por trabalhadores das pedreiras, é desconhecida.

Angaturama limai: é mais um espinossaurídeo de médio porte que viveu na Chapada do Araripe durante o Cretáceo. Suas dimensões são difíceis de serem medidas, pois não há muitos fósseis encontrados atualmente. Comparando o tamanho dos ossos já encontrados com os de outros espinossaurídeos, pode-se chegar a uma estimativa, de que alcançasse cerca de 7 metros de comprimento e 2 metros de altura. O nome Angaturama vem do Tupi e significa "nobre".


Oxalaia quilombensis: viveu no final do Cretáceo há aproximadamente 98 milhões de anos atrás. Teve seus fósseis encontrados na Ilha do Cajual, Estado do Maranhão. Media 14 metros de comprimento e pesava entre 5 e 7 toneladas. Este é o maior dinossauro carnívoro encontrado em terras brasileiras. O nome Oxalaia é inspirado na divindade da religião africana, e quilombensis vem da palavra quilombo, pois no local onde foi descoberto o dinossauro havia um refúgio de escravos.

Ichthyovenator laosensis: seu nome significa "caçador de peixe". Viveu durante o período Cretáceo no local que hoje corresponde a Província de Savannakhet, no Laos, Sudeste Asiático. Em 2010 foram encontrados seus restos fósseis; um esqueleto parcial consistindo de vértebras e restos pélvicos. Este é o segundo espinossaurídeo asiático a ser descrito. Seu tamanho é incerto, mas estima-se que tivesse aproximadamente 7 a 9 metros de comprimento. Diferente das outras espécies de espinossaurídeos, este aparenta ter 2 velas dorsais.


Ostafrikasaurus crassiserratus: seus restos fósseis foram encontrados ao redor de Tendaguru, no Sudeste da Tanzânia e datam do Jurássico Superior. Seu tamanho é desconhecido, mas é provável que chegasse aos 8 metros de comprimento. Seus restos fósseis encontrados consistem apenas em dentes.
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"Sinopliosaurus" fusuiensis: é uma espécie de dinossauro espinossaurídeo do Cretáceo Inferior do Sul da China, conhecido apenas a partir de dentes. Inclui uma única espécie, "S". fusuiensis, que foi atribuída em primeiro lugar ao plesiossauro Sinopliosaurus.
Uma vez que esta espécie não é um plesiossauro e, portanto, não se encontra dentro do gênero Sinopliosaurus, mas ainda não formalmente ou oficialmente chamado, o nome "Sinopliosaurus" é usado entre aspas.


Suchosaurus cultridens: seu nome significa "lagarto crocodilo". Viveu durante o período Cretáceo na Inglaterra, originalmente acreditava ser um gênero de crocodilo. O material encontrado consistia em dentes. Duas espécies, S. cultridens e S. girardi, foram nomeadas, embora S. girardi foi reclassificado por Buffetaut como Baryonyx walkeri.
S. cultridens é conhecido apenas a partir de um único dente que se parece muito com os dentes do contemporâneo Baryonyx. Embora existam algumas diferenças entre os dentes, estes podem ou não representar a variação individual entre os espécimes, e Suchosaurus pode ser um sinônimo de Baryonyx.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Pesquisa aprimora método de detecção de mercúrio em peixes

27/03/2014
Por Fabio Reynol
Agência FAPESP – Metal potencialmente tóxico e com capacidade de se acumular no organismo, o mercúrio é encontrado em rios amazônicos como resquício da atividade de mineração e, em alguns pontos, como ocorrência natural. Essa presença afeta a fauna aquática e pode atingir humanos que consomem o pescado com mercúrio.


Grupo da Unesp analisou animais coletados na área de influência da usina hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira (foto: divulgação

Iniciado em 2011, um projeto coordenado pelo Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP), utilizou ferramentas da biologia molecular para aprimorar métodos de detecção de mercúrio nos principais peixes consumidos na bacia do rio Madeira, em Rondônia.

Com apoio da FAPESP, na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, o projeto “Desenvolvimento de métodos analíticos para estudo metalômico do mercúrio em peixes coletados na área de influência do AHE Jirau Bacia do Rio Madeira” analisou três espécies de peixes entre as mais consumidas na região: dourada (Brachyplatystoma rousseauxii), pacu (Mylossoma sp. , Myleus sp. ) e jaraqui (Semaprochilodus sp. ).

Esse trabalho continuou o aprimoramento de técnicas trabalhadas em outro projeto, “Desenvolvimento de metodologias analíticas para avaliação de metaloproteínas de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus)”, outro Auxílio à Pesquisa –-Regular FAPESP, realizado de 2008 a 2010, com peixes dessa espécie encontrados no Estado de São Paulo.
Desta vez, o estudo se restringiu aos peixes coletados na área de influência da usina hidrelétrica de Jirau, que represou em 2010 parte do rio Madeira em um trecho a 120 quilômetros de Porto Velho (RO). “Esse tipo de construção altera a dinâmica do rio, podendo disponibilizar espécies mercuriais que estavam inertes no leito do rio e podem ser absorvidas pela biota aquática”, explicou o químico Pedro de Magalhães Padilha, professor da Unesp e coordenador do projeto.
De acordo com Padilha, o trabalho conseguiu otimizar os métodos de especiação de metais por meio de uma área do conhecimento recente, a metalômica. União da proteômica com técnicas de detecção de metais, a metalômica procura verificar a distribuição das espécies metálicas e metaloides e elucidar aspectos fisiológicos e funcionais das biomoléculas que contenham íons metálicos em suas estruturas.
Padilha disse que há duas maneiras de uma proteína carrear metais. A primeira é quando o metal faz parte da própria molécula de proteína – caso da hemoglobina, metaloproteína que possui átomos de ferro utilizados para transportar oxigênio.
A outra maneira de transporte é quando o metal ou metaloide se liga à proteína por ligações não específicas, formando uma proteína denominada metal-binding. É desse último grupo que a equipe de pesquisa elegeu proteínas capazes de atuar como possíveis biomarcadores da presença de mercúrio nos peixes.
“Identificamos oito tipos de proteínas e 16 isoformas como fortes candidatas a biomarcadores”, informou o professor. Isoformas são proteínas com mesma função, porém, codificadas por genes distintos e que apresentam pequenas diferenças em suas sequências peptídicas. A definição de um biomarcardor eficaz ocorrerá em uma próxima etapa do trabalho. Neste projeto, os pesquisadores aprimoraram os métodos de estudo metaloproteômico do mercúrio, segundo o professor da Unesp.

A rotina de pesquisa iniciava-se em Rondônia com a captura dos peixes, execução de biometria e a retirada de tecidos muscular e hepático para as análises. As amostras eram congeladas a -190°C em nitrogênio líquido e enviadas à Unesp. Nos laboratórios em Botucatu, os pesquisadores enfrentaram uma das partes mais complicadas do trabalho, a extração das proteínas.

“O desafio é extrair a proteína sem destruir nem alterar sua estrutura, ainda que isso implicasse a destruição do tecido que a continha”, contou Padilha. Optou-se por um método simples, a maceração do tecido em nitrogênio líquido e em água ultrapura.
A solução aquosa obtida passava por eletroforese bidimensional e depois por fluorescência de raios X por radiação síncrotron, etapa realizada nas instalações do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas (SP).
O trabalho fez um mapeamento qualitativo que determinou os chamados spots proteicos ou possíveis proteínas que continham mercúrio. A determinação quantitativa do mercúrio nos spots proteicos foi feita por espectrometria de absorção atômica em forno de grafite e a realização de cálculos estequiométricos complexos. Por isso, um dos resultados da pesquisa foi o aperfeiçoamento de uma nova tecnologia para determinação de mercúrio, publicada no Food Chemistry em dezembro de 2013.

Uma das revelações mais importantes do projeto foi a especial relação do mercúrio com as proteínas pequenas. O metal foi encontrado principalmente nas proteínas de baixa massa molar, que seriam as suas principais carreadoras e mais fortes candidatas a biomarcadores.

Já as células do tecido hepático são particularmente importantes para esse estudo porque, na presença de alguns metais, o fígado produz as chamadas metalotioneínas, proteínas detoxificadoras e diretamente relacionadas à presença de metais no organismo.

Nos animais estudados no projeto não foram encontradas quantidades de mercúrio igual ou superior a 500 microgramas por quilo de carne, limite máximo estipulado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para esse metal.

No entanto, Padilha alertou para os efeitos no longo prazo. “Devemos considerar que, quando um metal se ligou a uma proteína, é porque ele deslocou algum elemento essencial que poderá fazer falta no organismo”, disse.
Além disso, o pesquisador lembra que o mercúrio, assim como metais semelhantes, tem a propriedade de se acumular no organismo, provocando efeitos na saúde quando atinge quantidades maiores com o passar do tempo.

Mercúrio no leite materno

Até o momento, o projeto de pesquisa produziu quatro artigos científicos publicados e a tese de doutorado “Desenvolvimento de métodos analíticos para estudo metalômico do mercúrio em peixes coletados na área de influência do AHE Jirau, Bacia do Rio Madeira”, da bióloga Paula Martin de Moraes que recebeu bolsa FAPESP na modalidade Doutorado Direto.

O trabalho também rendeu a pesquisa de mestrado “Estudo metaloproteômico do mercúrio em amostras de tecido hepático de peixes coletados na área de influência do AHE Jirau - Bacia do Rio Madeira”, do biólogo José Cavalcante Souza Vieira, também bolsista FAPESP. Ambos foram orientados por Padilha.

Felipe André dos Santos participou do projeto analisando, em seu doutorado, outro tipo de amostra. Em vez de peixes, Santos aplicou técnicas de metalômica no leite materno coletado entre a população ribeirinha do Rio Madeira, com o objetivo de detectar traços de mercúrio e encontrar biomarcadores para o metal.
A investigação gerou a tese “Estudo metalômico do mercúrio em leite materno coletado da população ribeirinha da área de influência do AHE Jirau - Bacia do Rio Madeira”. “A proposta se baseou na hipótese de que a população ribeirinha, por consumir mais pescado do rio em relação à população urbana, estaria mais sujeita ao mercúrio encontrado nos peixes”, explicou Padilha, que também orientou Santos.
Como no projeto maior, o objetivo da pesquisa de Santos consistiu em identificar proteínas responsáveis pelo transporte de mercúrio, só que por meio de amostras de leite materno. Inicialmente, o estudante selecionou as lactantes que estavam contaminadas por mercúrio. Essa etapa foi executada analisando-se o cabelo das mulheres que estavam amamentando, uma vez que os cabelos têm a propriedade de acumular metais potencialmente tóxicos.

Depois, foram analisadas amostras de leite do grupo que teve a contaminação confirmada. Santos obteve o proteoma de cada amostra por meio de eletroforese bidimensional e, após submeter o material a outras técnicas analíticas, ele selecionou proteínas nas quais o mercúrio se mostrou presente. Esse trabalho levantou a proteína lisozima C como um possível biomarcador do mercúrio.

O projeto de pesquisa coordenado por Padilha contou com a participação de especialistas da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás) e da Energia Sustentável do Brasil (ESBR), consórcio que administra a usina hidrelétrica de Jirau.

sábado, 22 de março de 2014

Pesquisadores brasileiros desenvolvem modelo sobre a origem da água na Terra

25/02/2014
Por Elton Alisson, de Chicheley, Inglaterra
Agência FAPESP – Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Guaratinguetá, em colaboração com colegas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e do Instituto de Astrobiologia da agência espacial norte-americana (Nasa), desenvolveram um modelo mais preciso para determinar a origem da água e da vida na Terra.


 

Resultados do estudo foram apresentados no encontro científico UK-Brazil-Chile Frontiers of Science, realizado no Reino Unido pela Royal Society, FAPESP e pelas academias Brasileira



Realizado no âmbito do projeto de pesquisa “Dinâmica orbital de pequenos objetos”, apoiado pela FAPESP, o modelo foi descrito em um artigo publicado no The Astrophysical Journal, da Sociedade Americana de Astronomia, e apresentado nesta segunda-feira (24/02) no UK-Brazil-Chile Frontiers of Science.

Organizado pela Roya
l Society, do Reino Unido, em conjunto com a FAPESP e as Academias Brasileira e Chilena de Ciências, o evento ocorre até quarta-feira (26/02) em uma propriedade da Royal Society em Chicheley, vilarejo do condado de Buckinghamshire, no sul da Inglaterra. E tem como objetivo fomentar a colaboração científica e interdisciplinar entre jovens pesquisadores brasileiros, chilenos e do Reino Unido em áreas de fronteira do conhecimento.

“Desenvolvemos um modelo em que analisamos todas as possíveis fontes espaciais de água e estipulamos qual seria a provável contribuição de cada uma delas na quantidade total de água existente hoje na Terra”, disse à Agência FAPESP Othon Cabo Winter, pesquisador do Grupo de Dinâmica Orbital & Planetologia da Unesp de Guaratinguetá e coordenador do estudo.

De acordo com Winter, até recentemente se acreditava que os cometas, ao colidir com a Terra durante a formação do Sistema Solar, haviam trazido a maior parte da água existente hoje no planeta.
Simulações computacionais da quantidade de água que esses objetos celestes compostos de gelo podem ter fornecido para a Terra – baseadas em medições da quantidade de deutério (o hidrogênio mais pesado) da água deles – revelaram, no entanto, que os cometas não foram as maiores fontes. E que eles não poderiam ter contribuído com uma fração tão significativa de água para o planeta como se estimava, explicou Winter.
“Pelas simulações, a contribuição dos cometas no fornecimento de água para a Terra seria de, no máximo, 30%”, disse o pesquisador. “Mais do que isso é pouco provável”, afirmou Winter.
No início dos anos 2000, segundo o pesquisador, foram publicados estudos internacionais que sugeriram que, além dos cometas, outros objetos planetesimais (que deram origem aos planetas), como asteroides carbonáceos – o tipo mais abundante de asteroides no Sistema Solar –, também poderiam ter água e fornecê-la para a Terra por meio da interação com planetas e embriões planetários durante a formação do Sistema Solar.
A hipótese foi confirmada nos últimos anos por observações de asteroides feitas a partir da Terra e de meteoritos (pedaços de asteroides) que entraram na atmosfera terrestre.
Outras possíveis fontes de água da Terra, também propostas nos últimos anos, são grãos de silicato (poeira) da nebulosa solar (nuvem de gás e poeira do cosmos relacionada diretamente com a origem do Sistema Solar), que encapsularam moléculas de água durante o estágio inicial de formação do Sistema Solar.
Essa “nova” fonte, no entanto, ainda não tinha sido validada e incluída nos modelos de distribuição de água por meio de corpos celestes primordiais, como os asteroides e os cometas.
“Incluímos esses grãos de silicato da nebulosa solar, com os cometas e asteroides, no modelo que desenvolvemos e avaliamos qual a contribuição de cada uma dessas fontes para a quantidade de água que chegou à Terra”, detalhou Winter.

Simulações computacionais

Segundo Winter, a água de cada uma dessas possíveis fontes para a Terra possui uma quantidade diferente de deutério – que pode ser utilizado como um indicador de origem da água.
O pesquisador e seus colaboradores conseguiram estimar a contribuição de cada um desses objetos celestes com base nesse “certificado de origem” da água encontrada na Terra, por meio de simulações computacionais. Além disso, conseguiram determinar qual o volume de água que cada uma dessas fontes forneceu e em que momento fizeram isso durante a formação do planeta terrestre, uma vez que a contribuição de cada uma delas foi feita em períodos diferentes.

“A maior parte veio dos asteroides, que deram uma contribuição de mais de 50%. Uma pequena parcela veio da nebulosa solar, com 20% de participação, e os 30% restantes dos cometas”, detalhou Winter.
Os resultados das simulações feitas pelos pesquisadores também indicaram que grandes planetas, com grandes quantidades de água, como a Terra, podem ter sido formados entre 0,5 e 1,5 unidade astronômica – entre 75 milhões e 225 milhões de quilômetros de distância do Sol.
“Essa faixa de distância do Sol, que nós chamamos de ‘zona habitável’, permite ter água no estado líquido”, disse Winter. “Fora dessa região é muito frio e a água ficaria congelada. Já mais próximo do Sol é muito quente e a água seria vaporizada”, explicou.

As simulações também sugeriram que o modelo desenvolvido parece mais eficiente para determinar a quantidade e o momento da entrega de água para a Terra por esses corpos planetários do que modelos que indicam que a água foi transferida meramente por meio de meras colisões entre corpos celestes em início de formação (protoplanetários), afirmou Winter.

“As informações parciais da possível contribuição de cada uma dessas fontes já existiam. Mas, até então, não tinham sido reunidas em um único modelo e não havia sido determinado quando e quanto contribuíram para a formação da massa de água na Terra”, disse.

Importância de corpos menores

Winter destacou em sua palestra na Inglaterra a importância da exploração de corpos menores, como asteroides e cometas, pelas missões espaciais. A última missão espacial para a exploração de asteroides, realizada pela agência espacial japonesa (Jaxa, na sigla em inglês) com a sonda Hayabusa para tirar amostras do asteroide Itokawa, resultou em diversos artigos em revistas como a Science e a Nature.
O país oriental planeja lançar este ano a sonda espacial Hayabusa-2, para extrair amostras do subsolo do asteroide “1999JU3” em 2018 e trazê-las para a Terra em 2020.

Por sua vez a agência espacial europeia (ESA) mantém no espaço a sonda Rosetta, que deve ser o primeiro objeto a pousar em um cometa, o 67P/Churyumov-Gerasimenko. E a Nasa também pretende realizar uma missão para captura de asteroide próximo da Terra.

Já o Brasil pretende desenvolver e lançar em 2017 a sonda espacial Áster, para orbitar em 2019 um asteroide triplo, o 2001-SN263, formado por um objeto central, com 2,8 quilômetros de diâmetro, e outros dois menores com 1,1 quilômetro e 400 metros de diâmetro.
“Nunca foi realizada uma missão para um sistema de asteroides desse tipo”, disse Winter. “Todas as missões foram feitas para observar um único asteroide”, afirmou.
Ao explorar asteroides e cometas, em missões como essas, é possível explicar melhor as condições de formação da Terra e a aparição da vida no planeta, explicou o pesquisador.

“Como são corpos celestes primordiais, os cometas e os asteroides preservam informações sobre como era o Sistema Solar durante seu estágio de formação”, disse Winter.
Um dos desafios para disponibilizar esses preciosos materiais geológicos para estudos científicos, contudo, é não apenas coletar, mas realizar uma curadoria cuidadosa das amostras, assegurando a gravação e o arquivamento de diversas informações relacionados a cada uma das espécimes, tais como as circunstâncias nas quais foram coletadas e os resultados de análises, destacou Caroline Smith, curadora da coleção de meteoritos do Museu de História Natural de Londres, na palestra que proferiu após Winter.
De acordo com Smith, os meteoritos começaram a ser estudados cientificamente no final do século XVIII por cientistas como o físico alemão Ernest Chladni (1756-1827).
O Museu Britânico começou a sua coleção de meteoritos 50 anos após ser fundado, em 1753, contou Smith.

Desde então, com as amostras colhidas por missões realizadas por agências espaciais de diversos países, as coleções de instituições, como a do Museu de História Natural de Londres, têm se expandido muito rapidamente.

“Em 1961 havia, aproximadamente, 2.100 meteoritos conhecidos, dos quais 40% possuíam o registro do momento e do lugar onde caíram”, disse Smith. “Em contrapartida, hoje, há 48 mil meteoritos conhecidos e apenas 2,4% têm o registro da queda”, contou Smith.
O número cada vez maior de amostras de meteoritos coletadas e os estudos científicos realizados a partir deles têm imposto grandes desafios às equipes de curadoria desses objetos dos museus, avaliou a pesquisadora.

“Alguns dos nossos atuais dilemas é manter o acesso à coleção e, ao mesmo tempo, preservar os meteoritos para as futuras gerações”, afirmou.
O artigo A compound model for the origin of Earths’s water (doi:10.1088/0004-637X/767/1/54), de Winter e outros, pode ser lido no The Astrophysical Journal em iopscience.iop.org/0004-637X/767/1/54/article.

O valor da natureza

Palestras do Ciclo de Conferências defendem a importância dos serviços ecossistêmicos associados à biodiversidade 

RODRIGO DE OLIVEIRA ANDRADE | Edição 217 - Março de 2014
© GABRIEL MONTEIRO
A baía do Araçá abriga um dos últimos remanescentes de manguezal do litoral de São Sebastião. Em marés baixas, uma grande área fica descoberta (clique para ver mapa)
A baía do Araçá abriga um dos últimos remanescentes de manguezal do litoral de São Sebastião. Em marés baixas, uma grande área fica descoberta (clique para ver mapa)

Em tempos de mudanças climáticas, princípios ecológicos antes deixados de lado parecem ganhar força, marcando presença em discussões políticas de planejamento econômico para um plano estratégico de desenvolvimento sustentável. “Talvez o melhor exemplo desse avanço em relação às discussões sobre conservação ambiental seja a criação – um tanto atrasada, vale dizer – da Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos pela Organização das Nações Unidas em 2012”, destacou Carlos Joly, coordenador do programa Biota-FAPESP durante sua fala na abertura da temporada 2014 do Ciclo de Conferências Biota-FAPESP Educação no dia 20 de fevereiro, em São Paulo. Segundo Joly, a plataforma, conhecida pela sigla em inglês Ipbes, será responsável pela difícil tarefa de fazer com que o conhecimento científico produzido sobre a biodiversidade em todo o mundo seja reunido e sistematizado com o objetivo de subsidiar decisões políticas e econômicas em nível internacional, “nos mesmos moldes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o IPCC”, completou.

As mudanças na percepção dos agentes políticos sobre a importância da conservação ambiental, contudo, se deram de forma lenta, a partir do século XIX, segundo a bióloga Rozely Ferreira dos Santos, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), começando a ganhar corpo com os estudos que procuraram valorizar as funções ecossistêmicas sob a premissa de que as atividades econômicas e o bem-estar humano seriam dependentes dos serviços naturais por elas geradas, como a produção de oxigênio, alimento e água potável. Por décadas essas ideias foram discutidas, reformuladas e criticadas – “os animais, as plantas e os ecossistemas têm um valor em si mesmos, independentemente da utilidade que possam representar para o homem”, diria o ambientalista norte-americano Aldo Leopold. De qualquer forma, até a década de 1990, “os processos de produção econômica sempre superavam a discussão da conservação ambiental”, disse Rozely durante sua palestra, em que apresentou um apanhado histórico de estudos conduzidos por economistas e ambientalistas na busca por definições objetivas e integradas sobre o tema.

© LÉO RAMOS
Rozely Ferreira dos Santos e Alexander Turra
Rozely Ferreira dos Santos e Alexander Turra

Segundo ela, por anos esses grupos discordaram em relação a conceitos como o de funções ambientais e serviços naturais, entre outros, sendo incapazes de entendê-los como princípios unificadores dos interesses de ambas as partes. Esse conflito foi se amenizando à medida que se passou a entender os bens e serviços ecossistêmicos como sistemas de suporte não só à vida, mas também à economia. Estudos publicados em meados de 1990, por exemplo, estimaram o valor dos serviços ecossistêmicos no mundo em US$ 33 trilhões, dos quais US$ 20,9 trilhões são  bens e serviços associados aos ambientes marinhos e costeiros. “Percebemos que os processos oceanográficos estavam atrelados a serviços que precisávamos começar a entender”, disse o biólogo Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da USP e um dos palestrantes convidados.

Baía do Araçá

Desde 2012, Turra participa da coordenação de um projeto temático no âmbito do programa Biota-FAPESP com o objetivo de compilar – ainda que preliminarmente – e descrever a biodiversidade da baía do Araçá, no município de São Sebastião, litoral de São Paulo, também apresentando alternativas à intervenção do ser humano no funcionamento desse ambiente e, inclusive, estimulando iniciativas que tentem reverter o atual quadro de degradação ambiental. “Queremos integrar diferentes áreas do conhecimento ambiental, físico, biológico e social para estudos em biodiversidade, conservação e gestão marinha”, explicou. Segundo ele, a ideia é tentar conciliar o estilo de vida local com a conservação ambiental. Um desafio e tanto, ele reconhece, “que requer mudanças culturais profundas na sociedade”.

A enseada do Araçá é uma área limitada por flancos rochosos que abrange quatro praias – Deodato, Pernambuco, Germano e Topo – e duas ilhas – Pernambuco e Pedroso – entre Ilhabela e São Sebastião. Devido à proximidade com a malha urbana, esse conjunto de pequenas praias, costões rochosos, bancos arenosos e lamosos vem há anos sendo exposto a diferentes tipos de ações antrópicas, como ocupações irregulares, efluentes de esgoto doméstico e vazamentos de óleo, por conta da proximidade do porto de São Sebastião e do terminal aquaviário da Petrobras.

© GABRIEL MONTEIRO
Alga comum no Araçá lembra um pequeno cacho de uva
Alga comum no Araçá lembra um pequeno cacho de uva

Mesmo assim, o ambiente parece resistir à interferência humana. A baía do Araçá mantém hoje um dos últimos remanescentes de manguezal do litoral de São Sebastião. Segundo Turra, esses ecossistemas são importantes para a manutenção da vida marinha. Além disso, a capacidade dos manguezais de absorverem carbono da atmosfera e estocá-lo aumentou sua importância diante das alterações climáticas (ver Pesquisa FAPESP nº 216). O Araçá abriga uma alta diversidade biológica. Por lá, a biodiversidade conhecida alcança 733 espécies, das quais 34 foram descritas como novas para a ciência, além de ser reduto de pescadores artesanais, que usam pequenas canoas caiçaras para capturar peixes e crustáceos. “Mas tão importante quanto identificar essa riqueza biológica é entender a importância dessa diversidade e quais serviços estão associados a ela”, disse o biólogo.

Com pouco mais de dois anos de projeto, Turra e seus colaboradores ainda tentam entender como os habitantes dessa região enxergam o Araçá. Com base em entrevistas, eles observaram que a população parece compreender a importância desse ambiente para o suporte à vida, à economia e também à manutenção de sua identidade e herança cultural. Com base nessas entrevistas e outros dados, os pesquisadores sistematizaram os bens e serviços marinhos providos pela biodiversidade marinha daquela região. “A baía do Araçá oferece ao homem serviços ambientais, culturais e econômicos importantes, que variam da provisão de alimento e matéria-prima à regulação climática – via sequestro de dióxido de carbono (CO2) – e ciclagem de nutrientes”, sintetizou.

O grupo de Turra também vem desenvolvendo iniciativas a fim de aproximar diferentes atores sociais para uma discussão em vários setores, “como professores de ensino fundamental e médio, que podem trabalhar a lógica dos serviços ecossistêmicos e da valoração dos benefícios ambientais com seus alunos”, disse. Segundo ele, os serviços ecossistêmicos normalmente não são reconhecidos nas tomadas de decisões. Daí a importância de mostrar quão valiosos eles são e formular mecanismos que possam capturar de fato seus valores.

Uma tarefa não muito fácil, a julgar pela própria dificuldade em estabelecer um conceito único para o termo “serviços ecossistêmicos”. Para Rozely Ferreira dos Santos, à medida que diferentes autores foram ao longo dos anos trabalhando separadamente, foi-se ampliando o conjunto de definições atribuídas a esses serviços. “Ora os serviços são condições e processos, ora são funções ecossistêmicas, em outras situações são produtos de funções ecológicas”, disse. Para ela, a definição é simples: as paisagens abrigam estruturas e processos ligados a funções (como as populações de peixes) que fornecem serviços (estoques de peixes), os quais devem ser trabalhados dentro de um contexto sociocultural, a partir de seus benefícios. Segundo a bióloga, a valoração desses serviços deve começar nas estruturas e nos processos que determinam as funções.
© GABRIEL MONTEIRO
Anêmonas-do-mar (Anemonia sulcata) em poça d’água formada pela maré no Araçá
Anêmonas-do-mar (Anemonia sulcata) em poça d’água formada pela maré no Araçá

Conceito indefinido

Em 2010, um projeto de lei que dispõe sobre a Política Estadual de Mudanças Climáticas no estado de São Paulo foi além e definiu os serviços ecossistêmicos como benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas e os serviços ambientais como os serviços ecossistêmicos que resultam em impactos positivos para além da área onde são gerados. Para Rosely, a lei acrescentou ao debate um conceito de serviços ambientais que poucos autores usam. “O problema é que mal se consolidou um conceito e já estão criando outros, aplicando-os na forma de lei. Isso pode comprometer uma abordagem de valoração integrada, em que tanto aspectos ecológicos quanto sociais e econômicos são considerados na avaliação das interfaces existentes entre serviços ecossistêmicos, sistema econômico e bem-estar social.

O Ciclo de Conferências Biota-FAPESP Educação é uma iniciativa do programa Biota-FAPESP, em parceria com a revista Pesquisa FAPESP. Em 2014, as palestras terão como foco os serviços ecossistêmicos (ver programação), complementando as palestras de 2013 sobre os principais ecossistemas brasileiros. De acordo com Carlos Joly, os conceitos desse debate ainda não estão completamente definidos, mas em evolução, “se fazendo cada vez mais presentes nas discussões sobre conservação, estratégias e políticas”, concluiu.

Asas da mata atlântica

Novo levantamento aponta a existência de 891 espécies de aves no bioma, um quarto delas ameaçadas de extinção 

MARCOS PIVETTA | Edição 217 - Março de 2014
© LUCIANO LIMA
Pintor-verdadeiro (Tangara fastuosa): espécie endêmica da mata atlântica ameaçada de extinção
Pintor-verdadeiro (Tangara fastuosa): espécie endêmica da mata atlântica ameaçada de extinção

Apesar de ter sido desmatada até que sobrassem apenas cerca de 10% de sua extensão original, a mata atlântica ainda é, literalmente, o quintal da casa da maioria dos brasileiros. Um em cada sete habitantes do país mora em áreas legalmente definidas como parte desse bioma, que margeia o oceano e a borda oriental do território nacional e corta 17 estados, indo do Piauí até o Rio Grande do Sul. A mais atualizada e completa radiografia da diversidade de aves que vivem em áreas remanescentes desse jardim litorâneo pressionado pelo crescimento das cidades acaba de ser concluída.

Sob a supervisão de Luís Fábio Silveira, curador da coleção de ornitologia do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), o ornitólogo Luciano Lima, 29 anos, produziu um levantamento de mais de 500 páginas no qual lista todas as espécies de aves conhecidas do bioma, fornece um resumo de suas principais características e de seus locais de ocorrência e atualiza seu status de conservação (se ameaçadas ou não de extinção).

O trabalho consumiu cinco anos de revisão da literatura científica e visitas a quase todos os estados com trechos de mata atlântica. “Só não estive em Sergipe e no Mato Grosso do Sul”, afirma Lima, que mora em Resende (RJ), perto do Parque Nacional do Itatiaia, em cujas matas observa aves desde os 13 anos de idade.
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Os grandes números do mapeamento, que reforçam a importância desse bioma para o mundo das aves, são reveladores. A mata atlântica apresenta 891 espécies de aves, cerca de 45% de todas as espécies encontradas em terras nacionais. A Amazônia tem mais espécies, cerca de 1.300, mas sua área é quatro vezes maior, de acordo com os limites geográficos adotados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Aproximadamente um quarto das espécies de aves – 213 em números absolutos ou 24% do total – é endêmico da mata atlântica. No jargão da biologia, endêmicas são as espécies encontradas exclusivamente num determinado tipo de formação vegetal e em mais nenhum outro. Outras 17 espécies são quase endêmicas, ou seja, ocorrem fundamentalmente na mata atlântica e apenas marginalmente em outros biomas.

Pouco mais de 25% de todas as espécies – 233 em números absolutos – estão ameaçadas de extinção, segundo listagens internacionais e nacionais que elencam as aves mais inclinadas a sumir do planeta. Nem toda espécie endêmica está em perigo, nem toda espécie em risco de desaparecer é exclusiva do bioma. No entanto, das aves ameaçadas de extinção, 147 espécies são endêmicas ou quase endêmicas da mata atlântica. “Esse dado é realmente preocupante”, diz Lima. De acordo com o levantamento, a mata atlântica apresenta ainda 1.035 subespécies de aves, das quais 351 são endêmicas. “É a primeira vez que dados sobre a ocorrência de subespécies de aves nesse bioma são apresentados em um estudo”, diz Silveira. Em ornitologia, o termo subespécie se refere a populações geograficamente isoladas de uma ave que apresentam algum grau de distinção entre si, mas que não foram consideradas suficientemente distintas para merecer o status de espécie. “Esse conceito foi utilizado de maneira indiscriminada na mata atlântica e muitas espécies válidas de aves estão ‘escondidas’ sob o nome de uma subespécie”, afirma o pesquisador do MZ-USP.
© LUCIANO LIMA
Araçari-banana (Pteroglossus bailloni)
Araçari-banana (Pteroglossus bailloni)

Inflação de espécies

Os dados compilados e produzidos no estudo de Lima diferem de outros trabalhos publicados nas últimas décadas. Há levantamentos relativamente recentes que chegam a apontar a existência de mais de mil espécies de aves na mata atlântica. Em grande medida, as divergências eram esperadas e inevitáveis. “Lima usou critérios mais claros, baseados nas características naturais do bioma e nos aspectos biogeográficos das espécies, para definir o que era uma área de mata atlântica e quais aves efetivamente habitavam esses trechos”, afirma Silveira, orientador dos esforços do jovem ornitólogo, que concluiu o mestrado neste ano com o estudo. “No passado, outros trabalhos adotaram a definição legal de mata atlântica, que também abrange áreas adjacentes a esse bioma, mas que são, na verdade, segmentos de cerrado, da caatinga ou dos pampas.”

A consequência dessa abordagem excessivamente liberal que predominou até pouco tempo atrás foi levar a uma inflação de espécies descritas como sendo da mata atlântica, com a inclusão de aves que, a rigor, vivem nas cercanias desse tipo de formação vegetal, mais precisamente em segmentos de outros biomas, segundo Silveira e Lima. Para minorar esse problema, as aves que vivem predominantemente numa faixa de 100 quilômetros (km) situada na fronteira com outros biomas – 50 km dentro dos limites legais da mata atlântica e 50 km fora – não foram consideradas como pertencentes a essa formação vegetal no levantamento do jovem ornitólogo.

© LUCIANO LIMA
Jacamaralcyon tridactyla: espécie endêmica da mata atlântica ameaçada de extinção
Jacamaralcyon tridactyla: espécie endêmica da mata atlântica ameaçada de extinção

“O trabalho de Lima coloca ordem na casa e passa a ser a referência em termos de aves da mata atlântica”, afirma José Fernando Pacheco, um dos diretores do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), fórum associado à Sociedade Brasileira de Ornitologia que zela pela qualidade dos dados referentes à distribuição geográfica das aves do país. “Nunca ninguém dedicou tanto tempo a organizar a lista das espécies desse bioma. É claro que a adoção de qualquer critério de trabalho sempre tem algo de arbitrário, mas as escolhas que ele fez são pertinentes e fazem sentido.”

Ordens mais representativas

Mais da metade das espécies mapeadas da mata atlântica pertence à ordem dos Passeriformes, os populares passarinhos, grupo que reúne 55% das formas conhecidas de aves do planeta. De acordo com o trabalho de Lima, existem 476 espécies de pássaros no bioma. Nessa ordem, há desde animais banais paras os habitantes urbanos, como os pardais, até bichos pouco conhecidos e ameaçados de extinção, caso do pintor-verdadeiro (Tangara fastuosa). Essa ave colorida, com pouco mais de 10 centímetros de comprimento,  é encontrada apenas em trechos de mata atlântica entre o Rio Grande do Norte e Alagoas.
A segunda ordem com mais representantes é a dos Apodiformes, com 53 espécies de beija-flores e andorinhões. Em terceiro lugar aparecem os Charadriiformes, com 50 espécies de gaivotas e maçaricos. Em seguida surgem os Accipitriformes (águias e gaviões, com 37 espécies), Piciformes (pica-paus, tucanos e araçaris, 36), Psittaciformes (araras, papagaios e periquitos, 31) e Gruiformes (galinhas-d’água, 25).
© LUCIANO LIMA
Jacuaçu (Penelope obscura)
Jacuaçu (Penelope obscura)

Embora seja o bioma mais estudado pelos ornitólogos, a mata atlântica ainda reserva surpresas. Às vezes, de onde menos se espera surge uma novidade. Esse é o caso da primeira espécie de ave endêmica do estado de São Paulo, a Formicivora paludicola, que ocorre exclusivamente em brejos da região de Mogi das Cruzes. O bicudinho-do-brejo-paulista, nome popular da espécie, acaba de ser descrito num trabalho científico. “Quem diria que a 50 quilômetros da minha sala de trabalho haveria uma espécie nova, ainda não identificada?”, diz Silveira, um dos autores da descoberta (ver texto).

A variedade de formas e tamanhos das aves da mata atlântica é impressionante. Basta ver as imagens publicadas nesta reportagem. O araçari-banana (
Pteroglossus bailloni) é membro da ordem dos Piciformes, que conta com 36 espécies. Trata-se de um ruidoso e ainda relativamente abundante parente dos tucanos, que é endêmico da mata atlântica e mede cerca de 35 centímetros (cm) de comprimento. Ocorre do sul da Bahia ao Rio Grande do Sul, incluindo Paraguai e Argentina. Outra foto mostra uma dupla de cuitelões (Jacamaralcyon tridactyla), também endêmicos, mas que correm risco de extinção. Historicamente há registros apenas de populações esparsas dessas aves, de aproximadamente 18 cm, entre o sul da Bahia e o norte do Paraná. Há ainda um registro do imponente jacuaçu (Penelope obscura), ave da ordem dos Galliformes que alcança por volta de 70 cm, encontrada em boa parte da mata atlântica.

Projeto

Aves da mata atlântica: riqueza, composição, endemismos e lacunas de conhecimento (nº 2011/17032-7); Modalidade Bolsa de Mestrado; Pesquisador responsável Luís Fábio Silveira; Bolsista Luciano Lima; Investimento R$ 35.723,34 (FAPESP).

Estruturas promissoras

Base de dados de compostos químicos da biodiversidade brasileira ganha reconhecimento
FABRÍCIO MARQUES | Edição 217 - Março de 2014
© LUANA GEIGER
A primeira base de dados sobre compostos químicos naturais extraídos da biodiversidade brasileira começa a despertar a atenção de pesquisadores de várias partes do mundo. Batizada de NuBBE Database, ela oferece informações sobre 640 substâncias, desde as principais propriedades  físico-químicas e biológicas até a estrutura tridimensional dos compostos, informações essenciais para pesquisadores e empresas que atuam em química medicinal. O acervo, disponível na internet, reúne o conhecimento gerado em 15 anos de pesquisas do Núcleo de Bioensaios, Biossíntese e Ecofisiologia de Produtos Naturais (NuBBE) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara. “O nível de detalhes das informações diferencia a nossa base de produtos naturais de outras existentes no mundo”, diz Vanderlan Bolzani, professora do Instituto de Química (IQ) da Unesp em Araraquara e coordenadora do núcleo, referindo-se a grandes bases como a Napralert, que tem mais de 200 mil compostos, ou a NPact, com cerca de 1.500 compostos naturais com alguma atividade anticâncer.
 
“As bases de produtos naturais trazem informações sobre ocorrência de espécies, hábitat, algumas propriedades físico-químicas e estrutura dos compostos, mas nem sempre disponibilizam outros descritores moleculares que correlacionam a estrutura molecular à atividade biológica e que são essenciais para a pesquisa em química medicinal. A nossa acrescenta, além das propriedades físico-químicas usuais sobre cada molécula, dados importantes como solubilidade, ligações de hidrogênio, volume molecular, cálculo teórico de coeficiente de partição, violação da regra de Lipinski, entre outras, fundamentais para que que uma substância natural alcance o estágio de protótipo”, diz. Esse conjunto de propriedades ajuda a definir o uso do composto em etapas mais avançadas do planejamento de novos fármacos. São informadas, ainda, a espécie a partir da qual a substância foi isolada e o local onde ela ocorre. “Os dados são importantes também para a pesquisa acadêmica em biodiversidade. Se eu consigo correlacionar uma distribuição fitogeográfica em alguma região de mata atlântica ou do cerrado com as classes de substâncias que um conjunto de espécies produzem, temos um dado muito valioso para o avanço do conhecimento, por exemplo, de quimiotaxonomia, ecofisiologia, ecologia química ou de políticas públicas, como a preservação de espécies ricas em constituintes químicos de valor agregado”, afirma Vanderlan.
A base de dados do NuBBE é integrada por 80% de compostos isolados de plantas, 6% de fungos ou microrganismos, 7% de compostos sintéticos inspirados em produtos naturais, 5% de compostos semissintéticos e 2% de produtos de biotransformação (modificados por enzimas).

O lançamento da base foi divulgado em 2013 no Journal of Natural Products, um dos mais importantes da área, ligado à American Chemical Society. O artigo foi mencionado na webpage dos National Institutes of Health dos Estados Unidos como uma das publicações mais relevantes sobre produtos naturais de 2013. Em novembro, a base foi apresentada com destaque num artigo sobre bases de dados de produtos químicos na revista Drug Discovery Today, periódico consagrado na área de descoberta de fármacos. A base Zinc, a maior do mundo em química medicinal, com mais de 35 milhões de compostos, sediada no Departamento de Química Farmacêutica da Universidade da Califórnia em São Francisco, agora tem um cruzamento (cross link) com a base do NuBBE, em outro sinal de reconhecimento. “Recentemente, fomos contatados pela Royal Society of Chemistry, do Reino Unido, que sedia  a Chem-Spider, base de dados químicos mundialmente conhecida, com 30 milhões de estruturas de centenas de fontes diferentes”, diz Vanderlan. “A RSC tem interesse em produtos naturais das regiões tropicais e equatoriais e quer inserir nosso acervo na plataforma da Chem-Spider.”

© LUANA GEIGER
A criação da base de dados foi um dos objetivos do projeto de doutorado da bolsista da FAPESP Marilia Valli, sob orientação de Vanderlan, no âmbito do programa Biota-FAPESP (ver Pesquisa FAPESP nº 200). Em 2013 incorporou-se ao Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um dos 17 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP, que tem como pesquisador responsável Glaucius Oliva, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo e presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e Vanderlan Bolzani como vice-diretora e um dos pesquisadores principais.

O CIBFar é o sucessor de um Cepid coordenado por Oliva que funcionou entre 2000 e 2011, o Centro de Biotecnologia Molecular Estrutural, voltado para estudos da estrutura e da função de moléculas de interesse biotecnológico.
O novo Cepid busca aproveitar a experiência do anterior e associá-la ao conhecimento acumulado pelo Nubbe a fim de desenvolver fármacos com base em compostos encontrados na biodiversidade brasileira e também de substâncias sintéticas. “Há estruturas muito interessantes para desenvolver como candidatos a fármacos. A questão agora é associar a informação da base de dados de pesquisa CIBFar com outros projetos afins do programa”, diz Adriano D. Andricopulo, professor do IFSC da USP, coordenador de transferência de tecnologia e um dos pesquisadores principais do CIBFar. “Já realizamos diversos ensaios biológicos contra parasitas e células de câncer, e recentemente com substâncias pesquisadas pelo NuBBE. Buscamos agora caracterizar moléculas de origem natural para servir como modelos alternativos e, depois disso, dar continuidade à pesquisa por meio de colaborações internacionais e no Brasil. Temos essa perspectiva, pois o programa Cepid nos garante investimento de longa duração para fazer pesquisa bem estruturada e de alta qualidade”, diz Andricopulo. A parceria está ajudando a aperfeiçoar as informações da base de dados. “Algumas das propriedades dos compostos são identificadas por meio de cálculos matemáticos.

Com o Cepid, compramos a licença de um software para automatizar esse processo e minimizar erros. Já fizemos várias correções dos dados que foram inseridos”, afirma Vanderlan Bolzani.
Os compostos descritos na base de dados foram identificados ao longo do tempo e publicados em mais de 170 artigos científicos. “A base organizou toda essa informação de certa forma dispersa”, diz Vanderlan. A intenção agora é incorporar novas substâncias identificadas por outros grupos de pesquisadores do país e criar uma base com maior número de substâncias isoladas da biodiversidade brasileira. “Já iniciamos o levantamento de  substâncias de plantas pesquisadas e publicadas por outros grupos do país, com duas bolsistas financiadas pelo CNPq e projeto de pesquisa do Edital Universal aprovado recentemente. Assim, pretendemos ampliar o número de substâncias e de informações para que possamos no futuro ter uma base de dados de produtos naturais do Brasil robusta, com informação organizada útil para todos os interessados nesta área fascinante de pesquisa”, diz a pesquisadora.
© LUANA GEIGER
Segundo Adriano Andricopulo, a expansão da base, com a inclusão de mais compostos da biodiversidade brasileira, é importante para ampliar as possibilidades de pesquisa. “A base de dados tem um caráter inovador de reunir informações e abrir a possibilidade de produzir novos conhecimentos. Se conseguirmos expandi-la, o país terá um papel proeminente nesse tipo de pesquisa”, afirma. “Há vários grupos dos Estados Unidos, da Europa e daqui do Brasil que já usam as informações da base de dados do Nubbe para fazer triagens virtuais de substâncias, usando programas computacionais, um tipo de tecnologia avançada de planejamento de novos fármacos. Creio que dentro de mais algum tempo começaremos a conhecer resultados dessas triagens”, afirma. Bruno Villoutreix, professor da Universidade Paris Diderot e autor principal do artigo na Drug Discovery Today que mencionou o NuBBE, ressalta que bases de dados de compostos químicos com informações fidedignas e precisas são fundamentais para gerar novos conhecimentos e desenhar novas moléculas com finalidades terapêuticas. “É sabido que muitos medicamentos disponíveis no mercado, cerca de 60% deles, são derivados de produtos naturais ou inspiraram-se em produtos naturais”, disse a Pesquisa FAPESP o professor, que há 10 anos acompanha a evolução de bases de dados desse tipo. “A coleção do NuBBE contém uma numerosa quantidade de informações valiosas que frequentemente não estão disponíveis em outras coleções. Disponibiliza moléculas novas e originais e é construída como um banco de dados no qual se pode buscar vários tipos de informação, enquanto em outras bases apenas um arquivo eletrônico é fornecido. Além disso, reflete a biodiversidade rica e única de espécies botânicas encontradas no Brasil e deve com certeza contribuir para a concepção de novos compostos terapêuticos para os próximos anos.” Ele observa que várias iniciativas parecidas estão sendo desenvolvidas em outras partes do mundo, compilando produtos naturais de plantas medicinais africanas, plantas usadas na medicina chinesa e também da Ayurveda, o conhecimento médico desenvolvido na Índia nos últimos 7 mil anos. “Esses projetos devem ser estimulados. É preciso garantir suporte financeiro para eles, pois vão ajudar os cientistas a projetar novos compostos terapêuticos, a adquirir novos conhecimentos e contribuir para muitas outras áreas”, afirma Villoutreix.

Projetos

1. CIBFar – Centro de Inovação em Biodiversidade e Fármacos (nº 2013/07600-3); Modalidade Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid); Pesquisador responsável Glaucius Oliva; Investimento R$ 18.219.303,58 para todo o Cepid (FAPESP).

2. Produtos Naturais do NuBBE, fonte de diversidade micromolecular para o planejamento racional de novos agentes antitumorais (nº 2010/17329-7); Modalidade Bolsa de Doutorado; Pesquisadora responsável Vanderlan da Silva Bolzani; Bolsista Marilia Valli; Investimento R$ 65.003,67 (FAPESP).

Sob efeito da Lua

Força gravitacional lunar causa perturbações na atmosfera da Terra, facilitando interferência na comunicação com satélites 

RICARDO ZORZETTO | Edição 217 - Março de 2014
© NASA / EARTH OBSERVATORY
Um clássico de 1968: a Terra vista pela equipe da Apollo 8, a primeira missão tripulada a orbitar a Lua
Um clássico de 1968: a Terra vista pela equipe da Apollo 8, a primeira missão tripulada a orbitar a Lua

A Lua, o maior objeto celeste próximo à Terra, influencia mais do que o nível dos oceanos. Assim como faz as águas subirem e baixarem ao longo do dia, a Lua também deforma a atmosfera do planeta – bem pouco, é verdade, cerca de 1 metro – e a deixa alongada como uma bola de futebol americano. Esse esticão sutil, decorrente da atração gravitacional lunar, gera perturbações na alta atmosfera que foram agora mapeadas em escala global por uma equipe do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O grupo coordenado pelo físico Paulo Prado Batista usou dados coletados durante 10 anos por um satélite norte-americano projetado para estudar a alta atmosfera da Terra e produziu o mais detalhado levantamento das variações na temperatura a altitudes superiores a 30 quilômetros (km) – três vezes mais alto do que voam os aviões comerciais.

Os pesquisadores verificaram que na faixa que vai dos 30 km aos 110 km de altura – e envolve a estratosfera e a mesosfera, na última estão as temperaturas mais baixas da atmosfera (até 100 graus Celsius negativos) – a temperatura pode oscilar até 8 graus ao longo do dia por influência, em grande parte, da atração gravitacional lunar. A força exercida pela Lua sobre o planeta provoca vibrações nas camadas mais baixas da atmosfera que se propagam para as mais altas na forma de ondas semelhantes às que surgem quando se agita uma corda. Assim como fazem a superfície do oceano oscilar, essas ondas, conhecidas como marés lunares, fazem a atmosfera pulsar. “Nos oceanos, a força gravitacional da Lua se manifesta como uma mudança de altura, já na atmosfera ela altera a temperatura ou a velocidade dos ventos”, explica Batista. Ele e as físicas Inez Staciarini Batista, pesquisadora do Inpe, e Ana Roberta Paulino, sua ex-aluna de doutorado no Inpe, apresentaram os detalhes desse mapeamento em dezembro de 2013 no Journal of Geophysical Research.
056-059_Atm-Lunar_217-infoAs variações observadas pelo trio se tornam maiores à medida que se sobe na atmosfera – e atingem o grau máximo por volta dos 110 km de altura, onde o ar é mais rarefeito e a densidade de gases menor. Essas oscilações de temperatura ocorrem em ciclos com 12 horas e 25 minutos de duração, característicos das marés lunares. O período corresponde ao tempo que leva para o planeta dar meia volta em torno de seu eixo e o ponto de sua superfície que estava mais próximo à Lua se tornar o mais distante – tanto a rotação da Terra como a translação da Lua ocorrem no mesmo sentido, embora o movimento da Lua seja mais lento, razão por que esse tempo não coincide com 12 horas. Como a atração gravitacional entre dois corpos depende da distância entre eles, quanto mais próximo da Lua, maior a força e quanto mais distante, menor. Tanto no ponto em que a força é máxima como naquele em que é mínima a atmosfera se esgarça: no primeiro caso, por sofrer um puxão mais intenso e, no segundo, por tender a escapar onde a força é mais fraca. É por causa dessa combinação que a atmosfera ganha a aparência de bola de futebol americano.

O mapeamento do Inpe fornece as evidências mais abrangentes de que as marés lunares na atmosfera, de cuja existência já se duvidou, de fato existem e são importantes para conhecer melhor o clima de uma região do espaço habitada por satélites de pesquisa e comunicação.
Quando formulou sua lei de gravitação universal no final do século XVII, o físico e matemático inglês Isaac Newton propôs que, assim como provoca oscilações no nível dos oceanos, a Lua também poderia influenciar a atmosfera, que também se comporta como um fluido. Pierre-Simon Laplace, astrônomo e matemático francês, retomou o tema cerca de um século mais tarde, mas os dados observacionais disponíveis eram insuficientes. Só em 1846 o coronel inglês Edward Sabine publicou as primeiras medições consideradas confiáveis das marés lunares na atmosfera, feitas no observatório da ilha britânica de Santa Helena, próximo à costa ocidental da África. Mas tanto essas medições como as feitas nas primeiras décadas do século XX eram pontuais. Agora, com o auxílio do satélite Timed, se conseguiu coletar informações sobre a estratosfera e a mesosfera numa faixa que se estende da latitude 50 Norte, mais ou menos na altura do Canadá e da Rússia, até a latitude 50 Sul, onde ficam a Nova Zelândia e o sul do Chile e da Argentina.

A propagação dessas marés na atmosfera agita as moléculas dos gases, provocando a mudança na temperatura. Os dados coletados de 2002 a 2012 pelo satélite Timed mostram que as variações térmicas são maiores nos meses de dezembro e janeiro em boa parte da alta atmosfera e menores entre março e maio. Elas também ocorrem com maior intensidade de junho a setembro no hemisfério Norte e em novembro e dezembro no hemisfério Sul. Segundo Batista, essas variações dependentes da latitude já eram bem explicadas por dois fatores: a excentricidade da órbita da Lua (sua trajetória ao redor da Terra não é circular, mas elíptica); e pela influência combinada da Lua e do Sol sobre a temperatura da atmosfera (enquanto a Lua faz a temperatura mudar pela atração gravitacional, o Sol altera a temperatura pela energia que fornece diretamente na forma de radiação).

© NASA
Um perfil da atmosfera: ônibus espacial Endeavour diante da troposfera (em laranja), estratosfera (em amarelo) e mesosfera (em azul)
Um perfil da atmosfera: ônibus espacial Endeavour diante da troposfera (em laranja), estratosfera (em amarelo) e mesosfera (em azul)

Variação longitudinal

Um resultado, porém, surpreendeu os pesquisadores. Além da variação de acordo com a latitude, eles também observaram variações longitudinais (leste-oeste). Em alguns meses do ano houve picos de flutuação de temperatura nas regiões da alta atmosfera localizadas sobre a Amazônia, a África e o oceano Pacífico. Segundo o físico, algum efeito longitudinal era até esperado, mas não na intensidade observada – como a Terra gira em torno de seu eixo, todos os pontos do eixo longitudinal em algum momento são expostos à mesma força de atração da Lua, o que homogeneizaria essa influência. “Conseguimos separar a influência da componente lunar das demais perturbações na atmosfera”, conta Ana Roberta, atualmente pesquisadora na Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande.

“Nossos dados indicaram, porém, que as características da superfície do planeta se refletem até alturas muito elevadas”, conta Batista. “A deformação na atmosfera decorrente da atração gravitacional da Lua sofre influência da distribuição dos mares e dos continentes no globo”, explica o físico. Além disso, continua Batista, “vimos que a flutuação no nível dos mares, a maré oceânica, afeta a atmosfera mais do que o esperado”.
As implicações desses achados não se restringem ao plano teórico. Do ponto de vista prático, conhecer melhor as variações de temperatura nessa faixa da alta atmosfera deve permitir a elaboração de modelos mais precisos de como funciona o clima em uma região ainda mais alta – a ionosfera, situada entre 100 km e 1.500 km de altitude –, onde estão os satélites de pesquisa e comunicação e é alta a concentração de partículas eletricamente carregadas. “Para modelar com precisão a ionosfera, não se pode mais ignorar fenômenos como as marés lunares”, afirma Batista.

“Esse mapeamento global do efeito das marés lunares é de grande importância para a previsão do clima espacial”, conta o engenheiro Clezio De Nardin, atual gerente do Centro de Estudo e Monitoramento Brasileiro do Clima Espacial (Embrace) do Inpe. As marés lunares são um dos três fatores que disparam a formação de bolhas na ionosfera. Os outros dois motivos são: os campos elétricos ao redor do equador e os fenômenos meteorológicos como a formação de nuvens de tempestade, o deslocamento de frentes frias ou ventos intensos na camada mais baixa da atmosfera (troposfera), onde estão 90% dos gases.

Bolhas de íons

As bolhas são regiões com menor densidade de íons. Elas começam a se formar em geral no início da noite a cerca de 250 km de altura na região do equador magnético da Terra, próximo ao equador geográfico. As marés lunares, explica De Nardin, funcionam como um peteleco que impulsiona o desenvolvimento dessas bolhas que podem alcançar milhares de quilômetros de extensão.

Como são menos densas que o ambiente ao redor, essas bolhas, à medida que crescem, sobem para regiões mais altas da atmosfera e reduzem a concentração de íons na atmosfera superior. Essa mudança na densidade de íons dificulta – e até bloqueia – a passagem das ondas de rádio emitidas pelos satélites de comunicação de baixa órbita, situados a alturas entre 400 e 600 km; pelos satélites do sistema GPS, que estão a 22 mil km de altura; e pelos satélites de comunicação geoestacionários, que orbitam a Terra a 36 mil km de altura. “Quando há bolhas, a comunicação com os satélites é extremamente degradada e até interrompida, às vezes, por horas”, conta De Nardin. Essa interrupção afeta a navegação aérea e marítima, a exploração de petróleo e a agricultura de precisão. “Se nenhuma medida é tomada, ela pode durar o suficiente para um barco em alto-mar se perder ou para romper um duto de uma empresa que faz exploração de petróleo”, exemplifica.

Segundo De Nardin, o mapeamento feito pelo grupo de Batista mostra que os períodos de marés lunares mais intensas coincidem com a temporada de bolhas na ionosfera, que vai de novembro a março. “Esse levantamento nos ajuda a prever e a explicar melhor qual o período em que é mais provável a ocorrência de bolhas”, diz De Nardin. Batista completa: “Não é possível impedir a formação das bolhas, mas se pode ajudar a evitar problemas com os satélites caso se consiga prever com maior precisão quando elas podem ocorrer”.

Artigo científico

PAULINO, A.R et al. A global view of the atmospheric lunar semidiurnal tide. Journal of Geophysical Research: Atmospheres. v. 118, p. 13.128-139. 16 dez. 2013.

No rastro da lagarta

Pesquisadores identificam proteínas usadas por vírus para infectar praga de lavouras de soja
RODRIGO DE OLIVEIRA ANDRADE | Edição Online 13:11 13 de março de 2014
© EMBRAPA/SZEWCZYK ET AL., 2006
A lagarta Anticarsia gemmatalis se alimentando e causando danos à plantação de soja
A lagarta Anticarsia gemmatalis se alimentando e causando danos à plantação de soja

Quase dez anos após o sequenciamento do genoma de um vírus que causa doenças em insetos, um grupo de pesquisadores identificou as proteínas produzidas por esse microrganismo, o Anticarsia gemmatalis múltiplo nucleopoliedrovírus (AgMNPV), em suas duas formas — ou fenótipos — assumidas durante o ciclo viral. A identificação dessas proteínas pode ajudar a complementar o entendimento que os pesquisadores tinham do vírus, pois revela quais dos seus genes estão realmente ativos. Além disso, entender os mecanismos pelos quais essas proteínas interagem com o organismo dos insetos infectados poderá auxiliar pesquisadores a desenvolver novas estratégias para o controle biológico da principal praga das culturas de soja no Brasil, a lagarta-da-soja, cujo nome científico, Anticarsia gemmatalis, é usado para denominar o vírus.

A capacidade de formar dois tipos de estruturas é rara e típica dessa família de vírus, os baculovírus. A primeira estrutura é responsável por manter o vírus no ambiente tempo suficiente para que seja ingerido pela lagarta. A partir daí, ele se desloca para o intestino do inseto e, dentro das células dessa região, produz a segunda forma capaz de infectar todos os tecidos do bicho. Essas características o tornam mais eficaz que outros vírus no ataque à lagarta-da-soja, de modo que, há anos, o AgMNPV tem sido usado em lavouras como um agente de controle biológico específico contra ela.
Por meio de diferentes tecnologias de espectrometria de massa, disponíveis no Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), em Campinas, São Paulo, o grupo, que inclui pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília e do Laboratório de Virologia de Insetos da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, pôde identificar proteínas já conhecidas e também outras 13 proteínas inéditas, todas produzidas pelo vírus nas duas estruturas.

Cada proteína tem um papel específico, auxiliando o AgMNPV em cada etapa do processo de infecção. Segundo a bióloga Carla Torres Braconi, autora principal do estudo, cujos resultados foram publicados na edição de janeiro da revista Journal of General Virology, algumas das proteínas identificadas interferem na resposta celular da lagarta diante da infecção. Outras estão ligadas ao processo de metamorfose do inseto. “Essas proteínas forçam a lagarta a continuar no estágio de alimentação, impedindo-a de formar casulo e se transformar em borboleta”, conta. “Com isso, a lagarta acaba se expondo mais a predadores, como pássaros e insetos maiores”, explica Carla, que foi bolsista de doutorado da FAPESP sob orientação do virologista Paolo Zanotto, da USP.

© EMBRAPA/SZEWCZYK ET AL., 2006
Uma foto de microscopia eletrônica ilustrando o poliedro do AgMNPV com  a presença de vários fenótipos oclusos (ODVs) em seu interior. Este poliedro protege o vírus no meio ambiente
Foto de microscopia eletrônica ilustrando o poliedro que protege o vírus no meio ambiente com vários fenótipos oclusos – responsáveis por mantê-lo no ambiente – em seu interior.
Algumas proteínas desempenham um papel ainda mais estratégico. As chamadas antiapoptóticas anulam o mecanismo de morte programada das células infectadas. “Ao penetrar o organismo da lagarta, o baculovírus se instala nas células, que automaticamente acionam esse mecanismo de autodestruição”, explica a pesquisadora. “Mas o vírus carrega proteínas que desativam esse sistema.” A partir de então, ele pode se replicar livremente, completando seu ciclo viral. Essa infecção chega a tal ponto que qualquer atrito externo sobre a lagarta— como o impacto das gotas da chuva, por exemplo — é capaz de romper sua cutícula, a armadura que a envolve. A hospedeira, então, morre e o vírus volta a ser liberado no ar, onde permanece até ser ingerido por outra lagarta, repetindo o ciclo.

Por muito tempo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) usou esse baculovírus contra a lagarta-da-soja. Nas safras de 2003-2004, seu programa de controle biológico atingiu cerca de 2 milhões de hectares de plantações, representando uma economia de mais de R$ 20 milhões, graças à substituição dos pesticidas químicos pelo vírus. Sua utilização como controle biológico começou a cair a partir de 2007, quando perdeu eficácia.

Segundo Carla, na última safra (2012-2013), uma nova espécie de lagarta foi identificada nos campos brasileiros de soja, milho e feijão: a lagarta-comilona (Helicoverpa armigera). Acontece que o baculovírus é eficaz apenas contra a lagarta-da-soja. Resultado: os agricultores brasileiros usaram três vezes mais agrotóxicos do que antes do controle biológico, já que em alguns casos, além da lagarta-comilona, algumas lavouras foram infestadas por até três espécies diferentes ao mesmo tempo. Ainda assim, os prejuízos dos produtores de soja em Mato Grosso com a lagarta-comilona chegaram a R$ 1 bilhão.

O grupo, também responsável pelo sequenciamento do genoma do vírus, em 2006, agora pretende tentar entender os mecanismos que fazem com que a lagarta-da-soja seja vulnerável ao vírus enquanto outras espécies não são. “Sabendo quais proteínas são usadas pelo baculovírus para infectar a lagarta-da-soja é possível desenharmos as vias que essas proteínas usam para interagir com as células do hospedeiro”, explica Carla. Com isso, os pesquisadores pretendem verificar quais vias poderiam ser alteradas nessas novas espécies, de modo a facilitar a infecção pelo baculovírus.

Projeto

Estudo das proteínas estruturais do Nucleopoliedrovírus Anticarsia gemmatalis (AgMNPV-2D) em linhagens de células de inseto distintas e comparação da GP64 em variantes geográficos (09/16740-8); Modalidade Bolsa no Brasil – Doutorado Direto; Pesquisador responsável Paolo Marinho de Andrade Zanotto (ICB-USP; Bolsista Carla Torres Braconi; Investimento R$ 118.592,76 (FAPESP).

Artigo científico

BRACONI C. T. et al. Proteomic analyses of baculovirus Anticarsia gemmatalis multiple nucleopolyhedrovirus budded and occluded virus. Journal of General Virology. 21 jan 2014.


A química da infertilidade

Abelhas, formigas e vespas usam mesma classe de compostos para impedir reprodução de operárias
RODRIGO DE OLIVEIRA ANDRADE | Edição Online 11:55 27 de janeiro de 2014
© TOM WENSELEERS
feromônios conhecidos como hidrocarbonetos saturados — é usado pelas rainhas em colônias não só de abelhas, mas também de vespas e formigas como uma espécie de uma sinalização que indica às operárias sua fertilidade, induzindo em alguns casos até mesmo ao não desenvolvimento de seus ovários.
Rainhas usam feromônios como uma espécie de sinalização que indica às operárias sua fertilidade, induzindo em alguns casos ao não desenvolvimento de seus ovários.

Há tempos se sabe que numa sociedade de abelhas geralmente só a rainha se reproduz. Já os mecanismos responsáveis por essa divisão reprodutiva e de trabalho entre rainhas e operárias por muitos anos foram considerados um dos grandes mistérios da biologia. Hoje já se conhece uma classe de compostos químicos determinante para a organização social das abelhas. Agora, num estudo publicado na revista Science, um grupo internacional de pesquisadores, entre eles brasileiros do Instituto Zoológico da Universidade de Leuven, Bélgica, pode ter dado um passo importante na tentativa de compreender melhor a evolução desse caráter social tão marcante nas colônias.

No estudo, eles verificaram que esse composto químico — feromônios conhecidos como hidrocarbonetos saturados — é usado pelas rainhas em colônias não só de abelhas, mas também de vespas e formigas como uma espécie de sinalização que indica às operárias sua fertilidade, induzindo em alguns casos até mesmo ao não desenvolvimento de seus ovários. O resultado indica que essa classe de compostos tenha se conservado por toda a história evolutiva desses grupos.

Até então, a atuação desses compostos neste grupo de insetos (Hymenoptera) havia sido descrita somente para a abelha melífera (Apis melifera) e a formiga Lasius. No estudo atual, os pesquisadores identificaram esse indutor de esterilidade em representantes de cada um dos grupos. Para isso, selecionaram a vespa comum (Vespula vulgaris), a abelha mamangava-da-cauda-amarelo-claro (Bombus terrestris) e a formiga do deserto (Cataglyphis iberica). “Escolhemos espécies representativas para testar nossa hipótese de que essa classe de compostos atua como feromônio de rainha nos três grupos de insetos”, explica o biólogo Ricardo Caliari Oliveira, atualmente doutorando no Laboratório de Socioecologia e Evolução Social da Universidade de Leuven, coordenado pelo também biólogo Tom Wenseleers.
Após identificarem o composto em indivíduos dos três grupos, os pesquisadores examinaram dados em artigos já publicados descrevendo as diferenças dos perfis químicos de rainhas e operárias. Em seguida, compararam o composto químico que haviam identificado com aqueles usados por outras 64 espécies de abelhas, vespas e formigas cujos perfis haviam sido descritos nos artigos que encontraram.

Ao fazerem isso, verificaram que a maioria delas compartilhava da mesma classe de composto químico usado para inibir a reprodução entre as operárias. “E ao reconstruir o que chamamos de estado ancestral desses grupos, verificamos que essa classe de compostos químicos já era utilizada como sinal de fertilidade pelo ancestral solitário de vespas, formigas e abelhas há aproximadamente 145 milhões de anos”, conta o biólogo.

Nas colônias, as operárias utilizam o sinal como um indicativo de que a rainha está fértil e se reproduzindo, sendo mais vantajoso para elas auxiliar no desenvolvimento das irmãs (filhas da rainha) do que se reproduzirem. “É possível que em estágios iniciais do desenvolvimento da sociabilidade, as filhas utilizavam essas pistas químicas para verificar se a rainha era fértil e saudável. Do contrário, elas se reproduziriam por conta própria”, diz Oliveira. “Como esse sistema funcionou, não se desenvolveu nenhum outro sistema de comunicação.” Os pesquisadores suspeitam ainda que o ancestral usava esse composto químico para atrair parceiros reprodutivos. “Como essa espécie não vivia em colônia, acreditamos que esse feromônio era usado na atração de machos pelas fêmeas”, conta.

O grupo agora pretende verificar se esse mesmo composto químico é usado por rainhas de outras espécies de insetos. “No momento, estamos estendendo nossas análises para espécies de abelhas sem ferrão brasileiras e também espécies solitárias em colaboração com o Laboratório de Ecologia Comportamental da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto.”

Artigo científico

OYSTAEYEN, A. V. et al. Conserved Class of Queen Pheromones Stops Social Insect Workers from Reproducing. Science. v. 343, p. 287-90. jan 2014.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Vitória dos Biólogos no Aconselhamento Genético

Após duas publicações neste blog sobre o assunto e denúncia ao Sistema CFBio/CRBios, nos deparamos com a VITÓRIA. Depois de receber críticas e de ter percebido o tamanho do erro que cometeram, o Ministério da Saúde voltou atrás nesta segunda feira (17) e resolveu incluir outras classes no Aconselhamento Genético em sua Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, que aprova as Diretrizes para Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).


Agora os Biólogos serão autorizados a fazer o aconselhamento genético, depois que já se tiver confirmado a doença por um médico e outras ocasiões.

Interessante notar que o médico coordenador de Média e Alta Complexidade do Ministério da Saúde, José Eduardo Fogolin, que era contra essa inclusão, e em várias entrevistas como essa da Época, falava que o único capaz disso seria o médico.
Quem não deve ter gostado nada disso é a médica Lavinia Faccini, presidente da SBGM - Sociedade Brasileira de Genética Médica, já que em inúmeras reportagens alegou que os cerca de 160 médicos associados na SBGM dariam conta do Brasil todo. Reportagem da Folha de São Paulo.
Será que chegaram ameaças sobre a judicialização da questão, como levantadas como hipóse pelo CRBm 1?
Outra questão levantada por José Eduardo Fogolin é a criação de uma especialização para formar profissionais da saúde exclusivamente para o Aconselhamento Genético. Vale lembrar que este blog já disse em outras publicações que já se via iniciativas para esse tipo de formação, inclusive no Instituto de Biociências da USP, mas no caso, se almeja um mestrado profissional.
Não podemos deixar de frisar que essa conquista se deu em grande parte pela Bióloga Geneticista Mayana Zats, que por ser nacionalmente conhecida, pôde usar de sua influência para causar o desconforto necessário para a mudança. Outras pessoas podem ter contribuído, porém, não chegou aos nossos conhecimentos. 
Entenda
No primeiro semestre de 2013 o Ministério da Saúde abriu consulta pública sobre a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, que foi amplamente divulgada nos sites do CRBios depois de e-mails enviados. 

Mesmo assim, em 12 de fevereiro quando da divulgação da Política, os Biólogos não foram contemplados, o que gerou uma denúncia na madrugada seguinte por este blog a inúmeras pessoas, como Sistema CFBio/CRBios, Geneticistas Biólogos da USP (inclusive a Mayana Zatz) e muitos membros Biólogos da diretoria da SBG. Solicitamos declarações públicas sobre o assunto.

Apesar de intensa divulgação e comentários, os biólogos que se manifestaram foram a Mayana e o presidente da Sociedade Brasileira de Genética, Samuel Goldenberg. Logo em seguida, os Biomédicos se atentaram para a causa, e demonstraram interesse pela causa.