Floresta fragmentada prejudica regeneração de araucárias
Pesquisa é desenvolvida na Unesp de Rio Claro
O ECO
27/06/2017
Quanto menor o fragmento de floresta, menor a densidade da espécie e menor disponibilidade de sementes.
Em
pequenos remanescentes de florestas, sobram poucas sementes para a
regeneração de araucárias. Animais importantes para a dispersão de
sementes acabam consumindo quase tudo o que coletam, e poucas sobram
enterradas no chão para germinar, crescer e se tornar árvores adultas.
No fim das contas, em fragmentos, a regeneração dos pinhais é em média
quatro vezes menor do que em grandes áreas.
Esta é uma das conclusões do biólogo
Carlos Brocardo, que concluiu o doutorado na Universidade Estadual
Paulista, em Rio Claro (SP), em junho deste ano. Em dois trabalhos
diferentes, ele comparou a riqueza de mamíferos e a regeneração de
araucárias em uma região de 180 mil hectares do Parque Nacional de
Iguaçu, uma das maiores áreas contínuas que ainda abrigam pinhais.
Brocardo lembra que a araucária depende de
animais dispersores, como cotias, serelepes (esquilos) e
gralhas-picaça, que estocam sementes no chão. Cerca de 1% dessas
sementes acabam germinando e dando origem a novas árvores. Em
fragmentos da floresta, o corte seletivo de araucárias reduziu a
densidade da espécie e, com isso, a disponibilidade de sementes.
“Como em fragmentos têm uma quantidade
muito baixa de sementes, porque tem uma população baixa de adultos, os
animais acabam comendo quase toda semente que eles estocam”, explica o
doutor em zoologia. “Em fragmentos de até 50 hectares, essa regeneração
foi muito baixa”, completa.
A fragmentação tem impacto também sobre a
diversidade de mamíferos nas florestas com araucária. Apesar dos
fragmentos em conjunto apresentarem uma grande proporção de espécies de
médio e grande porte (93% das espécies), o número de indivíduos de
espécies maiores, como antas, porcos-do-mato e pacas por área diminui.
Além da perda de habitat, essa redução se deve, na avaliação de
Brocardo, à vulnerabilidade destas áreas à caça ilegal.
As florestas com araucária (Floresta
Ombrófila Mista) já cobriram mais de 200 mil quilômetros quadrados (20
milhões de hectares), desde o norte da Argentina até os estados do Rio
de Janeiro e Minas Gerais. Hoje, está reduzida a menos de 10% da área
original, principalmente em fragmentos com menos de 100 hectares. O
estudo contou com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à
Natureza, CNPq e Fapesp.
Vinho laranja, verde e até azul: você sabe como eles ficam coloridos?
Vinhos,
você dirá, estão disponíveis em duas cores - ou branco ou tinto. No
entanto, entre um tom e outro existem algumas variações bem diferentes:
seja o vinho verde amado pelos portugueses, o rosé que faz a alegria dos
fãs no verão ou ainda curiosidades como o poderoso vinho laranja e o
exótico vinho azul espanhol (que ainda disputa na justiça o direito de
ser chamado, com propriedade, de "vinho").
Afinal, o que dá cor ao vinho?
A
cor de um vinho é determinada, sobretudo, pelo tempo de contato da
casta com o mosto (suco de uva) durante o processo de fermentação. Por
conta disso, por exemplo, dá para extrair vinho branco a partir de uvas
tintas, como o caso dos Blanc de Noir, espumantes feitos com uvas Pinor
Noir: a casca das uvas não entra em contato com o mosto, o que rende uma
bebida clara.
Outros fatores que alteram a coloração são as
reações químicas com o oxigênio e a idade de vinho - à medida que
envelhece, um vinho tinto tende a "desbotar" e o vinho branco vai
ficando mais escuro, com um tom mais acobreado.
Vinho laranja
Sua
cor é bem viva e o sabor é, em geral, intenso. Os vinhos laranja são
vinhos de uvas brancas produzidas como se fossem vinho tinto - ou seja,
feitas com o uso não só do suco da uva, mas também de suas cascas
durante a fermentação.
Dependendo do tempo de contato (podem ser
só alguns dias ou até alguns anos), a cor fica mais clara ou mais
escura, com tons que variam entre o dourado até o âmbar. Além do contato
com as cascas, há em alguns casos um contato com o oxigênio, o que
ajuda a definir seu tom por causa da oxidação.
Por combinar o
corpo mais forte dos tintos e a acidez marcante dos brancos, os vinhos
laranja combinam com vários tipos de pratos, de carnes de caça a
pescados e queijos. Países como Geórgia, Eslovênia e Itália estão entre
os produtores mais conhecidos.
Vinho rosé
O
vinho rosé, em algum momento no passado, foi elaborado com a mistura
entre vinhos tintos e brancos. Atualmente, ele é resultado do processo
de fermentação do mosto e da casca, na qual a casca passa por muito
pouco tempo em contato com a parte interna da uva. Daí sua coloração bem
rosada, que tanto chama a atenção do público.
Por causa do seu
método de produção, os taninos estão presentes muito de leve na bebida.
Isso resulta em uma bebida em geral mais leve e com acidez mais elevada,
que casa muito bem com pratos com frango, saladas com queijos ou queijo
empanado. Por causa de sua leveza, é considerado o vinho perfeito para o
clima mais quente.
Vinho verde
O
"verde", aqui, não é exatamente pela cor da bebida. Tanto é assim que,
embora o público em geral associe o rótulo com vinho branco vendido em
garrafas esverdeadas, também existem Vinhos Verdes tintos e rosés! O
nome tem várias explicações - seja pelo gosto mais ácido (descrito como
uma "agulhada"), seja porque é uma bebida jovem (isto é, sem amadurecer
muito) ou ainda por conta da cor dos vinhedos.
O Vinho Verde é
único no mundo porque é feito a partir de uvas de uma região específica
de Portugal com grande concentração de ácido málico - por causa disso,
durante o processo de fermentação (com a casca ou sem a casca –
resultando em vinho verde branco ou vinho verde tinto), acaba-se com um
vinho com gás carbônico, que traz sensação de maior frescor e acidez.
O
rótulo de origem controlada tem baixo grau alcoólico e é um vinho leve,
fresco e frutado. São muito apreciados como aperitivo, mas também
harmonizam bem com pratos como saladas, peixes, mariscos, carnes brancas
e sushi.
Vinho azul
A
invenção espanhola causou grande furor em 2015, quando começou a ser
vendida no mercado europeu. Criação de um grupo de jovens entre 22 e 28
anos, com o auxílio da Universidade do País Basco, o Gik tem teor
alcoólico de 11% e é feito a partir das uvas tintas e brancas de
diversas regiões espanholas e francesas. A cor é adicionada com dois
pigmentos orgânicos, um deles criado a partir da casca das uvas tintas.
O
problema é que a legislação europeia não reconhece o Gik como sendo
vinho, mesmo sendo uma bebida originalmente feita só com uvas. Os
produtores tiveram que alterar a receita para poder continuar vendendo o
produto, mas lançaram uma petição para que seja criada uma categoria
que reconheça o Gik como vinho. "Ver o apoio dos nossos consumidores e
dos habitantes de alguns países europeus significa muito para a gente",
explica Aritiz López, um dos criadores da marca espanhola, que recomenda
a bebida com pratos como sushi ou nachos com guacamole. "Sempre
encorajamos as pessoas a testar com drinques ou harmonizando com o que
acham que vai funcionar", diz Aritiz.
quarta-feira, 21 de junho de 2017
Hidden morphological diversity among early tetrapods
Phylogenetic analysis of early tetrapod evolution has resulted in a consensus across diverse data sets1, 2, 3
in which the tetrapod stem group is a relatively homogenous collection
of medium- to large-sized animals showing a progressive loss of ‘fish’
characters as they become increasingly terrestrial4, 5, whereas the crown group demonstrates marked morphological diversity and disparity6. The oldest fossil attributed to the tetrapod crown group is the highly specialized aïstopod Lethiscus stocki7, 8,
which shows a small size, extreme axial elongation, loss of limbs,
spool-shaped vertebral centra, and a skull with reduced centres of
ossification, in common with an otherwise disparate group of small
animals known as lepospondyls. Here we use micro-computed tomography of
the only known specimen of Lethiscus to provide new information
that strongly challenges this consensus.
Digital dissection reveals
extremely primitive cranial morphology, including a spiracular notch, a
large remnant of the notochord within the braincase, an open ventral
cranial fissure, an anteriorly restricted parasphenoid element, and
Meckelian ossifications. The braincase is elongate and lies atop a
dorsally projecting septum of the parasphenoid bone, similar to stem
tetrapods such as embolomeres. This morphology is consistent in a second
aïstopod, Coloraderpeton, although the details differ.
Phylogenetic analysis, including critical new braincase data, places
aïstopods deep on the tetrapod stem, whereas another major lepospondyl
lineage is displaced into the amniotes. These results show that stem
group tetrapods were much more diverse in their body plans than
previously thought. Our study requires a change in commonly used
calibration dates for molecular analyses, and emphasizes the importance
of character sampling for early tetrapod evolutionary relationships.
Tradução
Diversidade morfológica escondida entre os tetrápodes iniciais
A análise filogenética da evolução precoce do tetrapodo resultou em um consenso em diversos conjuntos de dados1, 2, 3 em que o grupo do tetrápodo é uma coleção relativamente homogênea de animais de tamanho médio a grande que mostram uma perda progressiva de personagens de "peixe" à medida que se tornam Cada vez mais terrestre4, 5, enquanto o grupo da coroa demonstra uma marcada diversidade morfológica e disparidade6.
O fóssil mais antigo atribuído ao grupo da coroa tetrapod é o altamente especializado aïstopod Lethiscus stocki7, 8, que mostra um tamanho pequeno, alongamento axial extremo, perda de membros, centra vertebral em forma de bobina e um crânio com centros reduzidos de ossificação, em comum com um grupo diferente de animais pequenos, conhecido como lepospondyls. Aqui, usamos a tomografia computadorizada micro do único espécime conhecido de Lethiscus para fornecer novas informações que desafiam fortemente esse consenso. A dissecção digital revela uma morfologia craniana extremamente primitiva, incluindo um entalhe espiracular, um grande remanescente da notocórdia dentro da cicatrização, uma fissura craniana ventral aberta, um elemento parasfenoide anteriormente restringido e ossificações Meckelianas.
A cicatrização é alongada e situa-se sobre um septo dorsalmente projetado do osso parasfenoide, semelhante aos tetrápodes de caule, como os embolomeres. Esta morfologia é consistente em um segundo aïstopod, Coloraderpeton, embora os detalhes sejam diferentes. A análise filogenética, incluindo os novos dados críticos sobre a cicatrização, coloca os aïstopods profundamente no tetrax, enquanto que outra linhagem lepospondyl principal é deslocada para os amniotes. Esses resultados mostram que os tetrápodes do grupo do caule eram muito mais diversos nos planos corporais do que se pensava anteriormente. Nosso estudo requer uma mudança nas datas de calibração comumente utilizadas para análises moleculares e enfatiza a importância da amostragem de caracteres para o relacionamento evolutivo do tetrapod precoce
Como alguns animais dormem em pé e outros em pleno voo?
Getty Images
Fragatas dormem enquanto voam, seus cochilos são de cerca de cinco segundos a cada vez
Dormir por longos períodos, em uma posição confortável e em um lugar
quentinho é privilégio de poucos bichos. Muitos dormem em pé ou voando,
com um olho aberto e outro fechado, passam longos períodos acordados ou
apenas tiram pequenos cochilos durante o dia.
Esse tipo de sono,
pouco tranquilo para os padrões humanos, acontece porque tais animais,
na maioria das vezes, vivem em ambientes cercados de predadores (o que
requer atenção redobrada) ou precisam voar por milhares de quilômetros,
como é o caso de algumas aves, como as fragatas. O jeito, então, é se
adaptar.
Paul Ellis/AFP
Girafa dorme cerca de duas horas por dia
Dormindo em pé
As girafas, por exemplo, estão no time dos animais que dormem em pé.
Seu período de sono não passa de duas horas por dia, divididos em
cochilos de 20 minutos em média. A "relaxadinha", na maioria das vezes,
acontece em pé justamente para facilitar a fuga caso algum predador
apareça.
Os cavalos e zebras também têm o costume de dormir em pé na maior parte do tempo. Isso
é possível por causa de ligamentos especiais nas pernas que fixam as
articulações, impedindo de dobrá-las durante o sono, garantindo um baixo
gasto de energia.
Daniel Fucs / Flickr / CC BY-SA 2.0
Meio acordado, meio dormindo
Alguns animais conseguem dormir em pé por ter um comportamento de sono
diferente, conhecido como "descanso unilateral do cérebro". Como o
próprio nome já diz, enquanto o corpo descansa, uma parte do cérebro continua ativa. É isso que mantém, por exemplo, as aves equilibradas em galhos ou fios enquanto dormem.
O descanso unilateral do cérebro é observado em outras espécies, como golfinhos e leões marinhos e outros répteis, como o crocodilo, que são capazes de dormir com os olhos abertos para fugir de predadores e também para não se perderem do grupo.
Não param nem para dormir
Agora, como alguns pássaros com comportamento migratório, como os
albatrozes e fragatas, conseguem dormir se passam tanto tempo voando? No
caso dos albatrozes, as viagens duram até seis meses.
Uma pesquisa feita por cientistas alemães do Instituto Max Planck de Ornitologia na Baviera, Alemanha, em 2016, concluiu que as fragatas conseguem dormir mesmo durante o voo. Os cochilos não passam de cinco segundos por vez e totalizam pouco mais de 40 minutos por dia.
Em alguns momentos, elas dormem com um hemisfério cerebral acordado e
em outros dormem nos dois hemisférios. Além do sono unilateral, as
fragatas se beneficiam das correntes de ar para planar, o que garante um
voo com um gasto pequeno de energia e a possibilidade de tirar tais
cochilos.
Marcelo Krause/Mares Tropicais
E como os peixes dormem?
Sem pálpebras, esses bichos não têm como fechar os olhos. Assim, ao descansar, os peixes permanecem aparentemente imóveis com movimentos muito lentos das nadadeiras.
Inclusive os tubarões, que antes eram conhecidos como animais que nunca
dormiam, agora já se sabe que eles têm períodos de descanso.
Mas todos os animais dormem?
Até agora, os cientistas sabem que o
sono é responsável não só por reparar o cansaço do corpo, mas também
para ajudar na organização das atividades neuronais, entre elas o
rearranjo da memória. A partir daí, deduzem que todos os animais passam por períodos de descanso.
Em insetos e crustáceos, os métodos de sono são pouco conhecidos, mas
sabe-se que eles apresentam momentos de baixo ou nulo movimento,
normalmente associados ao comportamento de reclusão. As moscas, por
exemplo, passam por ciclos de sono de 3 horas, em média. Especialistas
consultados: Sérgio N. Stampar, professor do Laboratório de Evolução e
Diversidade Aquática da Unesp; Carlos Alberts, professor de zoologia e
comportamento animal da Unesp
Como alguns animais
dormem em pé e outros em pleno voo?
15
... - Veja mais em
https://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2017/06/20/clique-ciencia-como-alguns-animais-dormem-em-pe-e-outros-em-pleno-voo.htm?cmpid=copiaecola
Como alguns animais
dormem em pé e outros em pleno voo?
15
Cintia Baio
Colaboração para o UOL
20/06/201704h00
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Fragatas dormem enquanto voam, seus cochilo... - Veja mais em
https://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2017/06/20/clique-ciencia-como-alguns-animais-dormem-em-pe-e-outros-em-pleno-voo.htm?cmpid=copiaecola
Como alguns animais
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Cintia Baio
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Fragatas dormem enquanto voam, seus cochilo... - Veja mais em
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terça-feira, 20 de junho de 2017
O fungo que ameaça acabar com os sapos
Pesquisa é desenvolvida na Unesp
Millena Grigoleti - Diário da Região
19/06/2017
Pesquisadora Alba Navarro, da Unesp, com girinos
Um fungo está ameaçando a sobrevivência de
sapos, rãs, pererecas e todos os outros anfíbios brasileiros. O
Batrachochytrium dendrobatidis (Bd) se alimenta das células
queratinizadas do animal e causa uma infecção, conhecida mundialmente
como quitridiomicose.
As células são as epiteliais, da pele, que guardam
a queratina, uma proteína. Detectado pela primeira vez no Brasil em
2004, o fungo ainda é um desconhecido até mesmo para biólogos e
herpetologistas (estudiosos que se dedicam a anfíbios e répteis). Isso
motivou a pesquisadora espanhola Alba Navarro, que é doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal do Ibilce, Câmpus da Unesp
em Rio Preto.
Ela criou o projeto Quitri Brasil (www.quitribrasil.com),
que fornece recurso para gestores, voluntários ambientais,
pesquisadores e cidadãos, com a intenção de facilitar a divulgação de
conhecimento sobre o fungo. “Um dia pensei: se para pesquisadores da
própria área o fungo não é conhecido, imagina para o resto da sociedade.
Além disso, sinto que a divulgação científica é essencial para que os
projetos sobre conservação atinjam seus objetivos”, conta. O site é
atualizado com base em informações científicas
sobre o fungo. Dentre outros dados, ele mostra os locais em que o Bd
foi encontrado e a temperatura média de cada lugar.
Segundo Alba, a quitridiomicose tem se
tornado uma das ameaças de maior impacto nas populações de anfíbios.
“Ela está envolvida no declínio de muitas populações e na extinção de
espécies em várias regiões do planeta”, afirma. O fungo não tem
preferência por um grupo de anfíbios específico. Já foram encontradas
mais de 700 diferentes espécies de salamandras, sapos, pererecas, rãs e
cecílias infectadas pelo fungo em várias regiões do planeta. Somente no
Brasil, são pelo menos 160 espécies de anfíbios contaminados. “É
esperável que esse número aumente com futuros estudos”, alerta Alba.
Embora a região de Rio Preto não tenha
sido impactada, pois é muito quente para que o fungo consiga viver, o Bd
foi encontrado em 21 estados brasileiros, incluindo São Paulo, e em
todos os biomas: Mata Atlântica, Amazônia, Pampa, Pantanal, Caatinga e
Cerrado. Segundo a pesquisadora, é difícil prever se o fungo vai
impactar no futuro os bichos da região. “São vários os fatores
(abióticos e bióticos) que afetam na presença do fungo, por isso não é
fácil saber o que poderia acontecer a longo prazo.”
Clique na imagem para ampliar
Riscos
Os anfíbios ocupam diferentes posições na
cadeia alimentar, desde consumidores de matéria orgânica até predadores.
“Se começam a desaparecer do meio a uma velocidade tão
rápida como está sendo evidenciado nos últimos estudos iríamos chegar
ao ponto que toda a cadeia cairia”, afirma Alba. Ela destaca que todas
as espécies são parte de um grande sistema. “Dentro do qual existe uma
dependência grande entre elas. Se um grupo de organismos desaparece, o
resto será afetado.” Os humanos têm uma temperatura corporal de
aproximadamente 36 graus, o que impede o fungo de se desenvolver,
portanto ele não é perigoso para a espécie.
Comércio da carne dificulta controle
Os anfíbios são contaminados pela chegada
do fungo através da água ou pelo contato direto entre os indivíduos.
Para evitar a contaminação, seriam necessárias algumas ações. A primeira
é evitar a dispersão do fungo para outras regiões. “Mas o grande
comércio de anfíbios para consumo, inclusive mundial, não está tornando
isso fácil. Os controles alfandegários não estão conseguindo detectar o
fungo nos anfíbios vivos que são transportados de um país para outro,
principalmente porque as espécies mais comercializadas não apresentam
sintomas”, fala a doutoranda Alba Navarro.
Uma das formas usadas para mitigação do
fungo é o tratamento dos animais infectados. O Bd, segundo a
pesquisadora, é suscetível a altas temperaturas, sal e uma ampla gama de
antibióticos e fungicidas. Por outro lado, testes apontam que os
anfíbios podem sofrer danos quando submetidos a antibióticos. Outra
estratégia é a bioterapia. É adicionada uma cepa bacteriana ou um grupo
delas ao habitat ou diretamente na pele do anfíbio, com o objetivo de
diminuir sua suscetibilidade à doença. “São vários os estudos que tentam
explicar como o fungo chega a causar a morte.
Alguns trabalhos concluíram que a
hiperplasia epidérmica (aumento do número de células epidérmicas) pode
prejudicar seriamente o equilíbrio de eletrólitos e a troca gasosa do
anfíbio”, comenta a doutoranda. Ela aponta que um outro estudo mostrou
que o fungo produz micotoxinas, que são metabólitos (substâncias)
secundários tóxicos produzidos por determinados fungos. “Que bloqueiam a
resposta imune do anfíbio, inibindo a proliferação de linfócitos e
podendo causar morte celular, causando assim aumento de infecções no
anfíbio.”
segunda-feira, 19 de junho de 2017
Ambientes marinhos e de água doce no Brasil sofrem com poluição por microplásticos
07 de junho de 2017
Elton Alisson | Agência FAPESP – Além de
garrafas PET, sacolas e embalagens de alimentos, entre outros objetos,
os ambientes marinhos e de água doce em todo o mundo têm sido
contaminados com minúsculos detritos, conhecidos como microplásticos,
com tamanho menor que 5 milímetros, como fibras e pequenos resíduos
gerados pela fragmentação de grandes pedaços de plástico.
Minúsculos detritos de plástico
estão presentes em larga escala em praias e rios no país, têm sido
ingeridos por peixes e pequenos organismos e causado efeitos tóxicos em
moluscos, apontam estudos (foto: Pryscilla Resaffe)
Um grupo de pesquisadores do Departamento de Ciências do Mar da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus da Baixada Santista,
em colaboração com colegas de outras universidades e instituições de
pesquisa do Brasil e do exterior, constatou que esses microplásticos
também estão presentes em larga escala em praias e rios no Brasil.
Os pesquisadores também observaram que algumas espécies de peixes de
água doce e de pequenos organismos marinhos ingerem frequentemente esses
microplásticos, e que os contaminantes liberados por esses poluentes
causam efeitos tóxicos para espécies de moluscos, como os mexilhões
marrons (Perna perna).
Os resultados dos estudos, coordenados por Luiz Felipe Mendes de Gusmão com apoio da FAPESP, foram publicados nas revistas Environmental Pollution e Water Research.
“Temos observado a poluição generalizada por microplásticos tanto de
ecossistemas marinhos como de ambientes de água doce”, disse Gusmão,
professor da Unifesp da Baixada Santista e coordenador das pesquisas, à Agência FAPESP.
De acordo com o pesquisador, enquanto resíduos de plástico grandes,
como sacolas, tampinhas e garrafas PET, são relativamente fáceis de
serem vistos e retirados da areia de uma praia, os microplásticos são
quase impossíveis de serem removidos por serem muito pequenos e
praticamente imperceptíveis a olho nu. Por isso, tem se observado um
aumento do acúmulo desse tipo de poluente em praias de todo o mundo,
apontou
“Os microplásticos que entram em um ambiente de água doce são
transportados, via os rios, até os oceanos. E quando chegam aos oceanos
esses fragmentos de plástico são transportados por correntes marinhas e
tendem a ficar em suspensão na coluna d’água ou encalharem em praias”,
explicou.
Uma vez que essas partículas de plástico têm sido encontradas de
forma generalizada em ambientes marinhos e de água doce em todo o mundo,
o pesquisador, em colaboração com colegas no Brasil e no exterior,
começou a monitorar nos últimos anos a presença desses poluentes em
ambientes aquáticos no país.
Os primeiros locais escolhidos foram as praias de Itaquidantuva e de
Paranapuã, situadas na reserva ambiental de Xixová-Japuí, localizada
entre os municípios da Praia Grande e São Vicente, na baixada santista,
em São Paulo.
Durante um ano os pesquisadores coletaram semanalmente nas áreas das duas praias pellets de plástico – grânulos de plástico, com diâmetro inferior a 10 milímetros, utilizados na fabricação de produtos plásticos.
Os resultados das análises indicaram uma altíssima concentração desse tipo de microplástico. “Observamos pellets
de plástico, de diferentes cores e tamanhos, se acumulando na praia de
Paranapuã o ano inteiro. Em alguns momentos, as praias ficavam cheias
desses microplásticos, e em outros momentos eles sumiam temporariamente
em razão de fatores como a circulação oceânica, as ondas e o regime de
ventos”, afirmou.
Efeitos tóxicos
De acordo com o pesquisador, algumas características que
potencializam o efeito nocivo do plástico em ambientes marinhos e de
água doce são que a maioria dos polímeros comuns – como o polipropileno e
o poliestireno – degradam muito lentamente e são leves – o que permite
serem transportados com facilidade pelas correntes oceânicas e
permanecerem por muito tempo no ambiente marinho
Ao permanecerem por longo tempo no ambiente, as moléculas de
contaminantes presentes em um meio aquático, como metais pesados e
pesticidas, começam a aderir à superfície dos plásticos e podem atingir
concentrações extremamente altas. Além disso, esses resíduos de plástico
também possuem aditivos presentes na composição do material, como
corantes, dispersantes e protetores contra raios ultravioleta.
Com o passar do tempo, os fragmentos de plástico tendem a liberar esses contaminantes no ambiente aquático, explicou Gusmão.
“Se os microplásticos forem ingeridos pela fauna marinha, os
poluentes aderidos na sua superfície podem ser liberados no tubo
digestivo do animal, o que pode causar efeitos tóxicos”, ressaltou.
A fim de avaliar a potencial toxicidade para organismos marinhos dos
contaminantes liberados por microplásticos, os pesquisadores da Unifesp,
em colaboração com colegas da Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Santa Cecília,
realizaram experimentos em que expuseram larvas de mexilhões marrons a
amostras de pellets de plástico que recolheram nas praias de Itaquidantuva e de Paranapuã e também a pellets virgens.
Os resultados das análises indicaram que os contaminantes liberados pelos pellets de plástico afetaram o desenvolvimento embrionário dos moluscos.
As larvas expostas aos pellets de plástico virgens apresentaram alta taxa de mortalidade, enquanto nenhuma das larvas expostas aos pellets de plástico recolhidos das duas praias conseguiu se desenvolver.
As observações sugeriram que os contaminantes aderidos à superfície dos pellets
de plástico recolhidos das praias foram os responsáveis pelos efeitos
tóxicos no desenvolvimento das larvas expostas aos microplásticos,
enquanto a morte das larvas expostas aos pellets virgens foi devido provavelmente aos aditivos químicos do próprio material.
“Somente a exposição aos microplásticos, sem que ingerissem, fez com que as larvas morressem”, disse Gusmão.
A poluição marítima também mobiliza a ONU Meio Ambiente que lança
nesta quarta-feira (07/06), no Brasil, a campanha “Mares Limpos”, que
durante cinco anos terá ações para conter a maré de plásticos que invade
os oceanos. O evento acontece no AquaRio, no Rio de Janeiro, como parte
das comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado no dia 5 de
junho.
No Brasil, a campanha trabalhará na mobilização de governos,
parlamentares, sociedade civil e setor privado para fortalecer ações que
reduzam a contribuição do país ao problema global dos plásticos que
acabam nos mares. Os esforços da campanha se concentrarão em buscar uma
drástica redução no uso de plásticos descartáveis e o banimento de
microesferas de plástico em cosméticos e produtos de higiene, além de
apoiar a elaboração do Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar,
capitaneado pelo Ministério do Meio Ambiente.
Ingestão
Os pesquisadores da Unifesp também avaliaram se pequenos organismos
marinhos são capazes de ingerir microplásticos encontrados em seus habitats.
Em um estudo realizado em colaboração com colegas da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), das Universidades Federais do Rio Grande
(FURG) e do Paraná (UFPR), além da University of Copenhagen, da
Dinamarca, e do Instituto de Estudos Ecossistêmicos, da Itália, eles
examinaram o conteúdo intestinal da meiofauna (animais que medem menos
de 1 milímetro e vivem enterrados entre grãos de areia das praias) de
seis praias situadas no Brasil, na Itália e nas Ilhas Canárias, na
Espanha.
As análises laboratoriais revelaram que três espécies comuns de anelídeos, do gênero Saccocirrus,
tinham microfibras (fibras provenientes de cordas e fios de pesca e de
tecidos de roupas, entre outras) em seus intestinos, mas sem apresentar
lesões físicas aparentes.
“Constatamos que mesmo organismos marinhos desse porte podem interagir com microplásticos”, disse Gusmão.
Em outro estudo, os pesquisadores da Unifesp, em colaboração com
colegas das Universidades Federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e Rural
de Pernambuco (UFRPE), avaliaram a ingestão de microplásticos por um
peixe de água doce comum e muito consumido em regiões semiáridas na
América do Sul: o caborja (Hoplosternum littorale).
Para realizar o estudo, eles analisaram o intestino de espécimes do
peixe de um rio intermitente que passa pela cidade de Serra Talhada, no
interior de Pernambuco, capturadas por pescadores da região.
Os resultados das análises indicaram que 83% dos peixes tinham
detritos plásticos em seus intestinos – a maior proporção relatada para
uma espécie de peixe de água doce no mundo até o momento.
A maioria dos detritos plásticos (88,6%) extraídos do estômago dos
peixes era microplásticos com tamanho de até 5 milímetros, e as fibras
foram o tipo de microplástico mais frequente (46,6%) ingerido pelos
animais.
Os pesquisadores também observaram que os peixes consumiam mais microplásticos nas regiões mais urbanizadas do rio.
“Hoje tem sido muito discutido como diminuir os impactos causados por
resíduos de plásticos grandes em ambientes e organismos marinhos e de
água doce, mas a poluição por microplásticos também representa um
problema muito sério”, disse Gusmão.
“É preciso repensar a cadeia de produção do plástico, que é um
produto importante para a sociedade, de modo a reduzir a chance dele
chegar ao ambiente”, avaliou.
O artigo “Leachate from microplastics impairs larval development in brown mussels’ (doi:10.1016/j.watres.2016.10.016), de Gusmão e outros, pode ser lido por assinantes da Water Research em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0043135416307667.
O artigo “In situ ingestion of microfibres by meiofauna from sandy beaches” (doi: 10.1016/j.envpol.2016.06.015) pode ser lido por assinantes da revista Environmental Pollution em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0269749116305036.
Novo vírus em ave migratória é descoberto no Rio Grande do Sul
19 de junho de 2017
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP –
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São
Paulo (ICB-USP) descobriram um novo vírus em ave migratória. O achado é
tão raro que pode até ser considerado um golpe de sorte. Sobretudo
quando o vírus em questão é o assim nomeado paramixovírus aviário 15, da
mesma família do paramixovírus aviário 1 causador da doença de
Newcastle, que não representa riscos para humanos, mas pode ser letal em
aves.
Paramixovírus aviário do tipo 15 provavelmente não representa
riscos a humanos e aves. Análise genética preliminar mostra que ele está
mais próximo de vírus encontrados na América Latina (foto: maçarico-de-sobre-branco [Calidris fuscicollis] / divulgação)
“Fazemos monitoramento ativo de vírus em aves migratórias. Eu buscava
encontrar o vírus da doença de Newcastle, um paramixovírus aviário 1, e
meu colega Jansen de Araújo procurava detectar o vírus da influenza
aviária para o seu projeto de pesquisa. Por fim, encontramos uma
coinfecção: dois vírus, sendo que um deles era completamente
desconhecido até então”, disse Luciano Matsumiya Thomazelli, pesquisador
do Laboratório de Virologia Clínica e Molecular do Instituto de
Ciências Biomédicas (ICB-USP), à Agência FAPESP.
Desde 2005, o laboratório conta com uma equipe que vai a campo para
fazer pesquisa de vigilância epidemiológica em diferentes regiões do
Brasil, como parte da Rede de Diversidade Genética de Vírus (VGDN), financiada pela FAPESP, sob a coordenação do professor Edison Luiz Durigon.
O objetivo dos pesquisadores é detectar a presença de vírus da
influenza aviária e da doença de Newcastle, entre outros, em aves e
animais silvestres. Com isso, é feito o monitoramento e avaliação do
risco de que novas cepas entrem no Brasil. As amostras coletadas pela
equipe ficam estocadas em freezers com temperaturas de -80 ºC e são
utilizadas para pesquisas científicas.
A nova espécie de vírus aviário foi encontrada em amostra coletada de um maçarico (Calidris fuscicollis),
ave migratória capturada em abril de 2012, no Parque Nacional da Lagoa
do Peixe, no Rio Grande do Sul. Ainda será preciso fazer mais estudos
para saber qual o grau de ameaça do novo vírus aviário, mas pelo que se
sabe até agora ele não representa risco a humanos. “ Geneticamente ele
está mais próximo de vírus primeiramente descritos na América do Sul, o
que nos leva a acreditar que ele possa ter se originado de nossa região
mesmo”, disse Thomazelli.
Os pesquisadores seguiram o método padrão de análise das amostras. O
resultado deu positivo para influenza no teste de PCR em tempo real –
técnica de biologia molecular que detecta a presença do DNA/RNA
procurado. Porém, quando os pesquisadores isolaram o vírus em ovos
embrionados de galinhas, o resultado deu negativo para o vírus da doença
de Newcastle, mas uma reação de aglutinação de hemácias indicava que se
tratava de outro vírus, diferente do procurado.
“Mandamos a amostra para colaboradores no St. Jude Children’s
Research Hospital, em Memphis, nos Estados Unidos, onde foi feito o
sequenciamento do genoma completo do que havia em grande quantidade na
amostra. Para nossa surpresa, a amostra continha coinfecção de influenza
aviária e algo totalmente novo. Focamos em influenza e acabamos achando
também outro vírus”, disse Thomazelli.
A descoberta foi publicada na PLOS ONE.
Novas tecnologias de identificação
Com os resultados, os pesquisadores fizeram testes biológicos de
patogenicidade e confirmação dos dados. Por ser uma questão de
biossegurança, eles também enviaram uma alíquota do vírus isolado para o
Laboratório Nacional Agropecuário, do Ministério da Agricultura, que
também realizou testes biológicos e sorológicos, confirmando que se
tratava de uma nova espécie de vírus e que não representava risco.
“É um alívio, principalmente se levarmos em conta que o Brasil é o
maior exportador de frango do mundo. Qualquer vírus patogênico para
aves, em especial as galinhas, geraria extrema preocupação, mas não é o
caso”, disse Thomazelli.
A descoberta de novos vírus continua sendo um fato raro, mas que está
se tornando menos incomum por causa do sequenciamento de nova geração.
“ O vírus que descobrimos é o número 15 de paramixovírus aviário.
Acabei de receber a informação de que foram encontrados mais três novos
tipos, o 16, 17 e 18, que ainda nem foram publicados. Até dois anos
atrás só existiam 10 paramixovírus. Isso tem aumentado bastante o
conhecimento nessa área”, disse Thomazelli.
O artigo Novel avian paramyxovirus (APMV-15) isolated from a migratory bird in South America
(doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0177214), de Luciano
Matsumiya Thomazelli, Jansen de Araújo, Thomas Fabrizio, David Walker,
Dilmara Reischak, Tatiana Ometto, Carla Meneguin Barbosa, Maria Virginia
Petry, Richard J. Webby e Edison Luiz Durigon, pode ser lido em: http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0177214.
segunda-feira, 12 de junho de 2017
Floresta urbana revela riqueza de aves
Pesquisa da Unesp é publicada em revista internacional
Assessoria de Comunicação e Imprensa
12/06/2017
Serra da Cantareira
Vinicius
Tonetti, atualmente aluno de doutorado do Departamento de Ecologia do
Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro, realizou uma pesquisa
inédita que revelou uma riqueza de aves surpreendente na Serra da
Cantareira, região metropolitana de São Paulo.
Vinicius
é biólogo e ornitólogo (isto é, cientista que estuda aves), e frequenta
a Serra da Cantareira desde o início de sua graduação. O estudo foi
desenvolvido paralelamente ao mestrado de Vinicius (Veja em: http://www.unespciencia.com.br/2017/01/ecologia-82/) e contou com a colaboração de outros cinco pesquisadores de universidades e centros de pesquisa no Brasil e exterior.
O estudo foi aceito para a publicação no periódico científico internacional Zoologia: an international journal for zoology.Foi publicado em junho. Acesse em: https://zoologia.pensoft.net/articles.php?id=13728
A
pesquisa visou realizar um levantamento histórico de todas as espécies
de aves com ocorrência confirmada na Serra da Cantareira. Para isso
foram feitas buscas por exemplares depositados nas coleções científicas
mais importantes do Brasil, Estados Unidos e Europa. Essas buscas foram
somadas a um extenso levantamento bibliográfico de outros trabalhos
científicos já publicados. Além disso, as espécies registradas em campo
por Vinicius e colaboradores durante a última década também foram
contabilizadas. Os resultados apontam que ao menos 326 espécies de aves
ocorrem na região.
A Serra da
Cantareira está situada principalmente em partes dos municípios de São
Paulo, Guarulhos, Mairiporã e Caieiras e apresenta uma área florestal
extensa (cerca de 10.000 hectares). Apesar de estar em uma das regiões
mais urbanizadas do planeta, o número de espécies de aves encontrado na
Serra da Cantareira é similar ao de locais situados na Serra do Mar,
onde se encontra o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica, com
mais de um milhão de hectares e em bom estado de preservação. A Serra da
Cantareira é considerada importante para a conservação das aves da Mata
Atlântica de acordo com a BirdLife International, a maior ONG de
conservação de aves no mundo, e a pesquisa desenvolvida reforça a
importância da região para a conservação da biodiversidade.
Sete espécies registradas na Cantareira, como a araponga (Procnias nudicollis) e o pixoxó (Sporophila frontalis), estão ameaçadas de extinção em nível global e outras, como o macuco (Tinamus solitarius),
são bastante raras em muitas regiões da Mata Atlântica devido à caça
ilegal. Além disso, aves de rapina de grande porte que se alimentam de
mamíferos médios, como o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus),
podem ser encontradas com certa frequência na Serra da Cantareira,
mesmo em áreas de floresta que fazem limite com a cidade de São Paulo.
Das 326 espécies, 80 são endêmicas da Mata Atlântica, ou seja, só
existem neste bioma.
A Mata Atlântica é
uma das florestas tropicais mais devastadas do mundo e apresenta apenas
cerca de 12% de sua cobertura de vegetação nativa. Além de ter sido
severamente reduzido, os remanescentes florestais de Mata Atlântica
estão bastante fragmentados e isolados uns dos outros, o que é
extremamente prejudicial à biodiversidade. Grandes blocos de floresta
como os presentes na Serra da Cantareira são atualmente raros na Mata
Atlântica, e, além da sua importância para a conservação das aves, vale
ressaltar a importância dessas florestas para os próprios seres-humanos.
O sistema Cantareira abastece cerca de 9 milhões de pessoas, e suas
florestas são as principais responsáveis pelo armazenamento e qualidade
da água nos reservatórios. Além disso, as florestas da Cantareira
contribuem para manter o clima ameno em alguns bairros da zona norte do
município de São Paulo e para o bem estar geral da população.
O estudo foi aceito para a publicação no periódico científico internacional Zoologia: an international journal for zoology e estará disponível na íntegra em breve.
Sobre o pesquisador:
Vinicius
Tonetti é bacharel em Ciências Biológicas (2012) pela Universidade de
São Paulo e mestre (2015) em Ciências Biológicas (Zoologia) pela
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”; Campus de Rio
Claro. Trabalhou com conservação na Sociedade para a Conservação das
Aves do Brasil (SAVE Brasil; BirdLife International Affiliate) e em
projetos de pesquisa ornitológica em diversas regiões do país pela Seção
de Aves do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP). Suas
áreas de interesse são ecologia e conservação de aves neotropicais.
Projeto auxilia a conservar barbudinho, ave ameaçada de extinção
Pesquisa é publicada em periódico internacional
Assessoria de Comunicação de Imprensa
09/06/2017
Barbudinho (Phylloscartes eximius)
Vinicius
Tonetti, orientado pelo professor Marco Pizo, do Departamento de
Zoologia do Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro, apresentou
dissertação de mestrado em que desenvolveu projeto com uma ave rara,
endêmica da Mata Atlântica e ameaçada de extinção - o barbudinho (Phylloscartes eximius). Contato do pesquisador: vrtonetti@gmail.com
O trabalho visou levantar informações que pudessem auxiliar a
conservação da espécie e foi desenvolvido no Parque Estadual da
Cantareira. Situado na Região Metropolitana de São Paulo, o Parque
protege a maior floresta urbana tropical no mundo.
Parte do
estudo foi recentemente publicada em um periódico científico
internacional que publica artigos de ornitologia (estudo das aves) e
pode ser lido em http://www.bioone.org/doi/pdf/10.1650/CONDOR-16-89.1
Uma das principais conclusões dessa parte da pesquisa é que
para conservar o barbudinho é necessário proteger as florestas ripárias
da Serra da Cantareira, o que tem consequências positivas no
abastecimento de água de milhões de pessoas que dependem do sistema
Cantareira.
Além disso, o pesquisador sugere algumas mudanças no
código florestal vigente que potencialmente aumentariam as suas chances
de conservação em longo prazo. Tendo em vista a crise hídrica na
Cantareira nos últimos anos, somada às alterações relativamente recentes
no código florestal, acredito que esse tema seja atual e bastante
relevante.
Além dessa parte que já está publicada, o mestrado analisa a
distribuição da espécie por meio de uma técnica conhecida como
"modelagem de nicho".
"No estudo da distribuição, avaliei os
efeitos da fragmentação da Mata Atlântica e do aquecimento global na
conservação da ave. Os resultados indicam que esses dois efeitos em
conjunto (fragmentação + mudanças climáticas) poderão ter consequências
drásticas na conservação do barbudinho. Além disso, foi constatado que a
rede atual de Unidades de Conservação no Brasil é insuficiente para
garantir a proteção da espécie", afirma Tonetti.
Sobre o pesquisador
Vinicius Rodrigues Tonetti
Bacharel
em Ciências Biológicas (2012) pela Universidade de São Paulo e mestre em
Zoologia (2015) pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita
Filho", Campus de Rio Claro. Trabalhou com conservação na Sociedade para
a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil, BirdLife International
Affiliate) e em projetos de pesquisa ornitológica em diversas regiões do
país pela Seção de Aves do Museu de Zoologia da Universidade de São
Paulo (MZUSP). Suas áreas de interesse são ecologia e conservação de
aves neotropicais. ResearchGate: https://www.researchgate.net/profile/Vinicius_Tonetti E-mail: vrtonetti@gmail.com. Telefone: (11) 9-7170-5992
Sobre o orientador
Marco Aurelio Pizo Ferreira
Possui graduação em Ciências Biológicas (1991), mestrado (1994) e
doutorado em Ecologia (1998) pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Entre 1999 e 2000 realizou seu pós-doutorado no Departamento
de Botânica da Universidade Estadual Paulista (UNESP) em Rio Claro - SP
onde atuou como professor visitante até 2004. Entre 2005 e 2009 foi
professor Adjunto II e pesquisador do Programa de Pós-graduação em
Biologia (área de Diversidade e Manejo da Vida Silvestre) da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) em São Leopoldo - RS.
Atualmente é Professor Assistente Doutor no Departamento de Zoologia da
UNESP em Rio Claro. Tem experiência na área de ecologia, com ênfase em
(i) interação animal-planta envolvendo frugivoria, dispersão e predação
de sementes e (ii) ecologia e comportamento de aves. Contato: (19) 3526
4294 e pizo@rc.unesp.br
Perda do habitat causa extinção do Tamanduá-bandeira
Pesquisa foi desenvolvida por aluna da Unesp Rio Preto
Assessoria de Comunicação e Imprensa
09/06/2017
Gisele Lamberti Zanirato defendeu a
Dissertação de mestrado intitulada "O impacto da perda e fragmentação do
habitat sobre a ocupação e o padrão de atividade do tamanduá-bandeira
(Myrmecophaga tridactyla)". A pesquisa foi desenvolvida no Programa de
Pós-Graduação em Biologia Animal do Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas (Ibilce), Câmpus da Unesp em São José do Rio Preto.
Resumo
A expansão das áreas urbanas e das
atividades agrícolas tem reduzido o domínio do Cerrado no estado de São
Paulo resultando em paisagens altamente fragmentadas constituídas em
grande parte por fragmentos pequenos. A perda e a fragmentação do
habitat tem sido um dos principais fatores responsáveis pelo declínio
populacional e pela extinção local de espécies com baixa densidade
populacional, baixa taxa de reprodução, alta demanda por espaço e
especialista alimentar como o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga
tridactyla).
É conhecido que algumas espécies de
mamíferos modificam seus padrões de atividade frente às perturbações
antrópicas e até em relação aos efeitos da perda de habitat.
Considerando o status de conservação da biodiversidade no estado de São
Paulo e a classificação do tamanduá-bandeira como vulnerável à extinção,
estudos em um dos poucos remanescentes de Cerrado no nordeste do estado
tornam-se prioritários à conservação da espécie.
Esse trabalho é constituído por dois
capítulos, no primeiro capítulo foi feita uma revisão bibliográfica
sobre os efeitos da perda e fragmentação do habitat na ocorrência de
mamíferos realçando os efeitos sobre as espécies de grande porte e/ou
com dieta especializada, além de abordar mudanças no padrão de atividade
de mamíferos frente aos efeitos da perda do habitat. No segundo
capítulo, os objetivos do presente estudo foram apresentados sendo que o
primeiro consistiu em avaliar se a área do fragmento, o isolamento e as
porcentagens de água e vegetação nativa na paisagem são importantes
para explicar a ocupação dos fragmentos de vegetação nativa pelo
tamanduá-bandeira. O segundo objetivo consistiu em verificar se há
diferenças no padrão de atividade entre as populações de tamanduás que
ocupam os fragmentos menores (< 2.015 ha) e a população que ocupa o
fragmento maior (10.285 ha).
Os dados de presença e ausência dos
tamanduás-bandeira em cada um dos vinte fragmentos de vegetação nativa
localizados no nordeste do estado de São Paulo foram coletados através
de armadilhas fotográficas. A influência da temperatura e da
pluviosidade na probabilidade de detecção dos tamanduás e a importância
das covariáveis de fragmento e de paisagem na probabilidade de ocupação
dos fragmentos pela espécie foram avaliadas através de modelos de
ocupação de estação única (Single-season Occupancy Models). O
Critério
de Informação de Akaike corrigido (AICc) foi utilizado para a seleção
dos melhores modelos e o teste de Mardia Watson Wheeler foi usado para
verificar possíveis diferenças no padrão de atividade entre as
populações que ocupam os fragmentos menores e a população presente no
fragmento maior. A probabilidade de ocupação dos fragmentos pelos
tamanduás-bandeira foi maior nos fragmentos com áreas maiores e em
fragmentos com maior porcentagem de vegetação nativa ao redor. No
entanto, o padrão de atividade dos tamanduás não foi influenciado pela
área do fragmento. Apesar da área do fragmento não influenciar o padrão
de atividade dos tamanduás, a conservação de fragmentos maiores e com
maior porcentagem de vegetação nativa ao redor é de grande importância
para a sobrevivência de tamanduás-bandeira no nordeste do estado de São
Paulo.
Comissão Examinadora
Prof.(a). Dr.(a). Rita de Cassia Bianchi (Orientadora) – Unesp / Câmpus de Jaboticabal Prof.(a). Dr.(a). Natália Mundim Torres – Universidade Federal de Uberlândia Prof.(a). Dr.(a). Guilherme De Miranda Mourão – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)
quarta-feira, 7 de junho de 2017
Fósseis em Marrocos apontam que Homo sapiens surgiu 100 mil anos antes
Reuters
Dados revelam que o Homo sapiens estava presente em todo o continente africano há 300 mil anos
REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Fósseis descobertos nas montanhas do interior de Marrocos sugerem que o primata bípede hoje conhecido como Homo sapiens,
o ser humano anatomicamente moderno, já habitava o continente africano
há mais de 300 mil anos. Se as datações e a análise dos ossos estiverem
corretas, nossa espécie ganha uma "certidão de nascimento" cerca de 100
mil anos mais antiga do que se imaginava até agora.
"Costumávamos achar que havia um berço da humanidade há 200 mil anos na
África Oriental [Etiópia], mas nossos novos dados revelam que o Homo sapiens estava presente em todo o continente africano há cerca de 300 mil anos. Antes que nos espalhássemos para fora da África,
houve um processo de colonização dentro da África", declarou o
paleoantropólogo Jean-Jacques Hublin, do Instituto Max Planck de
Antropologia Evolutiva, na Alemanha, em comunicado oficial.
Hublin, ao lado de seu colega Abdelouahed Bem-Ncer, do Instituto
Nacional de Ciências da Arqueologia e do Patrimônio, em Marrocos,
coordenaram o trabalho que desencavou novos fósseis e reanalisou achados
antigos do sítio de Jebel Irhoud, caverna conhecida como lar de
parentes primitivos do homem desde os anos 1960.
Os restos humanos antigos achados na caverna nessa época tiveram idade
originalmente estimada em 40 mil anos e foram atribuídos a uma população
africana de neandertais,
espécie muito próxima da nossa que dominou a Europa durante boa parte
da Era do Gelo. As novas escavações em Marrocos aumentaram de seis para
22 o número de fósseis humanos descobertos lá e trouxeram novas e
preciosas informações sobre o formato do crânio dessas pessoas -
detalhes que são fundamentais para estimar seu grau de parentesco com os
seres humanos do presente.
Além disso, os pesquisadores conseguiram usar um método conhecido como
termoluminescência para datar artefatos de pedra achados nas mesmas
camadas que as fósseis. Foi essa datação que permitiu propor uma idade
entre 350 mil e 300 mil anos para a presença dos ancestrais do homem na
caverna.
CARA E CABEÇA
Essa idade muito recuada parece se encaixar de forma lógica com a
aparência dos crânios, mandíbulas e dentes dos habitantes de Jebel
Irhoud (até agora, os restos encontrados correspondem a cinco pessoas,
entre adultos, adolescentes e crianças).
Os pesquisadores enxergam uma espécie de mosaico de características
"modernas" e "arcaicas" nesses fósseis. De um lado, o rosto dos
indivíduos lembra o que ainda vemos nos seres humanos de hoje. A região
do nariz e da boca não se projeta para a frente, como acontecia com os
neandertais e outros membros mais antigos do nosso gênero, o Homo. O formato da mandíbula e dos dentes também se aproxima do que se vê no Homo sapiens atual, apesar da chamada robustez –os dentes, por exemplo, são muito grandes.
As diferenças ficam mais marcantes na parte de trás do crânio, onde se
aloja o cérebro. Seres humanos modernos possuem essa parte da anatomia
bem arredondada, enquanto a dos Homo sapiens de Jebel Irhoud é mais alongada.
Para o paleoantropólogo Walter Neves, da USP, esses detalhes indicam que
seria correto pensar nesses hominídeos marroquinos como uma forma
intermediária. "Sabemos que o Homo heidelbergensis
[espécie mais antiga] deu origem aos neandertais na Europa, ao passo
que, na África, deu origem ao homem moderno. Com essa datação nova,
Jebel Irhoud ocupa exatamente o espaço entre H. heidelbergensis e H. sapiens na África", pondera.
Outros fósseis achados no local indicam que os moradores da caverna
caçavam animais como zebras e gazelas e dominavam o fogo, já que os
artefatos de pedra foram alterados pelo calor de fogueiras. A descrição
completa das descobertas está na revista científica "Nature".
Encontrado no Marrocos, o mais antigo fóssil humano tem 300 mil anos
Com
novos métodos, cientistas fizeram datação mais precisa de pelo menos
cinco esqueletos de Homo sapiens; descoberta antecipa história da
espécie em pelo menos 100 mil anos
Fábio de Castro,
O Estado de S.Paulo
07 Junho 2017 | 14h00
Um grupo internacional de cientistas descobriu no Marrocos pelo menos
cinco fósseis humanos de pelo menos 300 mil anos, cercados de
ferramentas de pedra e restos de animais. A descoberta, revelada em dois
artigos publicados na edição de hoje da revista Nature, antecipa em pelo menos 100 mil anos a mais antiga evidência fóssil já registrada da espécie Homo sapiens.
De acordo com os autores dos estudos, a descoberta revela que a
espécie humana tem uma história evolutiva muito mais complexa do que se
imaginava, envolvendo provavelmente todo o continente africano. O fóssil
humano mais antigo encontrado já registrado até agora tinha 195 mil
anos e havia sido desenterrado no leste da África, em Omo Kibish, na
Etiópia.
"Acreditávamos que o berço da humanidade havia sido o leste da África, há 200 mil anos, mas nossos novos dados revelam que o Homo sapiens
já havia se espalhado por todo o continente africano há cerca de 300
mil anos", disse o autor principal da pesquisa, o paleoantropólogo
Jean-Jacques Hublin, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva,
em Leipzig (Alemanha).
A
descoberta foi feita em Jebel Irhoud, no oeste do Marrocos. Desde a
década de 1960 haviam sido encontrados seis fósseis humanos e diversos
artefatos da Idade da Pedra no local, mas a idade dos fósseis era até
permanecia incerta.
Um novo projeto de escavação em Jebel Irhoud, iniciado em 2004, revelou 16 novos fósseis de Homo sapiens,
envolvendo crânios, dentes e ossos longos de pelo menos cinco
indivíduos. As escavações foram lideradas por Hublin e por Abdelouahed
Ben-Ncer, do Instituto Nacional de Arqueologia e Patrimônio do
Marrocos, sediado em Rabat.
Os cientistas conseguiram precisar a cronologia dos fósseis
graças à tecnologia. Eles utilizaram um método de datação por
termoluminscência em pedras de sílex encontradas nos mesmos depósitos.
"Sítios bem datados dessa época são excepcionalmente raros na
África, mas nós tivemos sorte, já que vários dos artefatos de sílex de
Jebel Irhoud foram aquecidos no passado. Isso nos permitiu aplicar os
métodos de datação por termoluminescência nesses artefatos, para
estabelecer uma cronologia conssitente para os hovos fósseis e para as
camadas de solo que os cobriam", explicou o especialista em
geocronologia Daniel Richter, do Instituto Max Planck.
Além da datação por meio dos artefatos de pedra, os cientistas
conseguiram refazer o cálculo direto da idade de três mandíbulas
encontradas em Jebel Irhoud na década de 1960. Essas mandíbulas haviam
sido anteriormente datadas em 160 mil anos, com um método por
ressonância paramagnética eletrônica.
No novo estudo, porém, os cientistas aprimoraram o método e
recalcularam a idade dos fósseis, encontrando um resultado coerente com
as datações por termoluminescência: eles tinham quase o dobro da idade
estimada inicialmente. "Utilizamos métodos de datação de última geração e
adotamos as abordagens mais conservadoras para determinar a idade com
precisão", disse Richter.
Participaram do estudo cientistas do Instituto Max Planck de
Antropologia Evolutiva (Alemanha), do Instituto Nacional de Arqueologia e
Patrimônio de Rabat (Marrocos), do Collège de France, em Paris
(França), das universidades de Nova York, de Califórnia Davis (Estados
Unidos), de Bolonha (Itália), de Tuebingen (Alemanha), de Canberra, de
Griffith, de Southern Cross (Austrália) e da Sorbonne (França).
Cardápio. Além de revelarem que o Homo sapiens
é 100 mil anos mais antigo do que se pensava, os novos estudos
revelaram também o cardápio dos humanos há 300 mil anos: muita carne de
gazela, alguma carne de gnu e de zebra, eventualmente ovos de
avestruzes, além de antílopes, búfalos, porcos-espinho, lebres,
tartarugas, moluscos de água doce e serpentes.
De acordo com a paleoantropóloga Teresa Steele, da Universidade
de Califórnia Davis, foram encontrados em Jebel Irhoud centenas de ossos
de animais fossilizados e as espécies de 472 deles foram identificadas.
Foram também observadas marcas de cortes nos ossos, indicando que suas
medulas haviam sido utilizadas como alimento por humanos.
"Realmente parece que essas pessoas gostavam de caçar. A dispersão do Homo sapiens
por toda a África há 300 mil anos é provavelmente resultado de mudanças
na biologia e no comportamento da espécie", disse Teresa.
As ferramentas de pedra encontradas em Jebel Irhoud eram feitas
de sílex de alta qualidade, "importadas" para o sítio, de acordo com o
paleoantropólogo Shannon McPherron, do Instituto Max Planck. Segundo
ele, os machados, ferramentas frequentemente encontradas em outros
sítios antigos, não estavam presentes em Jebel Irhoud. Mas a maior parte
dos utensílios encontrados ali também existiram por toda a África na
metade da Idade da Pedra.
"Os artefatos de pedra de Jebel Irhoud parecem muito semelhantes
aos encontrados no leste e no sul da África. É provável que as inovações
tecnológicas da metade da Idade da Pedra estejam ligadas ao surgimento
do Homo sapiens", afirmou McPherron.
Arcaico e moderno. Segundo os cientistas, o
crânio dos humanos modernos é caracterizado por uma combinação de
características que os distinguem dos hominídeos de espécies aparentadas
e de ancestrais extintos, como, por exemplo, a caixa craniana globular
(arredondada), a face pequena, com osso nasal projetado, mandíbulas
curtas, testa alta e arcada supraciliar limitada.
Utilizando tecnologia de ponta em micro-tomografias
computadorizadas e análises estatísticas morfológicas com base em
centenas de medições 3D, os cientistas mostraram que os fósseis de Jebel
Irhoud apresentam rosto e dentes semelhantes aos do homem moderno. A
caixa craniana, porém, tem formato mais arcaico, mais alongado que o do
homem atual.
Homo sapiens de 300 mil anos
Diferenças
estruturais podem ajudar a entender a evolução: A) um crânio
Neanderthal de 430 mil anos encontrado na Espanha, com traços mais
recentes, como o formato da arcada supra ciliar,
e mais ancestrais, como o rosto maior e cérebro menor. B) Crânio
Neanderthal de 50 mil anos, encontrado na França, é um exemplo dos
traços mais recentes da espécie. C) Fósseis de Jebel Irhoud, no
Marrocos, com 300 mil anos, mostra semelhanças com os humanos modernos -
como as maçãs do rosto delicadas -, mas o formato alongado da caixa
craniana é arcaico. D) Fóssil de Homo sapiens de 20 mil anos, encontrado
na França, já apresenta a a caixa craniana globular dos humanos atuais.
Foto: Nature
"O formato interno da caixa craniana reflete o formato do
cérebro. Nossa descoberta sugere que a morfologia do rosto do humano
moderno se estabeleceu muito cedo na história da nossa espécie, enquanto
o formato do cérebro - e provavelmente suas funções - evoluiu ao longo
das linhagens sucessivas de Homo sapiens", afirmou o paleoantropólogo Philipp Gunz, do Instituto Max Planck.
Segundo os cientistas, comparações feitas recentemente entre o
DNA extraído de Neanderthais e de humanos modernos revelam diferenças
genéticas que afetam o cérebro e o sistema nervoso. As mudanças
evolutivas do formato da caixa craniana teriam, portanto, uma provável
ligação com uma série de transformações genéticas que afetaram a
conectividade, organização e desenvolvimento do cérebro, que distingue o
Homo sapiens de seus ancestrais e parentes extintos.
Dois dos novos fósseis de Jebel Irhoud, no Marrocos, exatamente como
foram descobertos durante a escavação; no centro da imagem, em tom
amarelado, há o topo de um crânio humano es magado e, logo acima, há um pedaço de fêmur encostado na pedra vertical.
Foto: Steffen Schatz, MPI EVA Leipzig.
A morfologia e a idade dos fósseis de Jebel Irhoud também
corroboram, segundo os pesquisadores, a interpretação de que um
enigmático pedaço de crânio encontrado em Florisbad, na África do Sul,
pertenceria a um representante precoce da espécie Homo sapiens.
Nesse caso, já haveria fósseis muito antigos da espécie por todo o
continente africano: no Marrocos, com 300 mil anos, na África do Sul,
com 260 mil anos e na Etiópia, com 195 mil anos.
"O norte da África há muito tempo é negligenciado nos debates
sobre a origem da nossa espécie. As descobertas espetaculares de Jebel
Irhoud demonstram estreitas conexões entre o Magreb e o resto da África
na época em que emergiu o Homo sapiens", disse Ben-Ncer.
Traços sobrepostos. Em um comentário aos dois artigos, publicado na mesma edição da Nature,
os paleoantropólogos Chris Stringer e Julia Galway-Witham, do Museu de
História Natural de Londres (Reino Unido) afirmam que a descoberta no
Marrocos "poderá iluminar a evolução da nossa espécie de uma maneira
equivalente à que o fóssil de Neanderthal encontrado em Sima de los
Uesos, na Espanha, fizeram com o nosso conhecimento sobre o
desenvolvimento dos Neanderthais".
Segundo eles, as análises de DNA sugerem que a linhagem dos
humanos modernos se diferenciou dos parentes mais próximos - os
Neanderthais e os Denisovans - há mais de 500 mil anos, portanto muito
antes do primeiro espécime reconhecível de Homo sapiens. "Isso pode significar que existiram membros mais recentes da linhagem Homo sapiens que
tinham características preponderantemente arcaicas, em vez dos traços
modernos. Até agora, tem sido difícil identificar esses fósseis",
escreveram.
De acordo com Stringer e Julia, os autores dos novos estudos
sugerem que uma separação clara entre fases da evolução do Homo sapiens -
como as que descrevem os fósseis como "arcaicos" e "anatomicamente
modernos" - provavelmente deixarão de existir à medida que o registro de
fósseis aumenta. "Eles provavelmente estão certos, embora as evidências
que encontraram adicionem a esse quadro uma sobreposição de formas que
pareciam mais arcaicas ou mais modernas", disseram.
Mais uma pista dessa sobreposição de características "arcaicas" e
"modernas", segundo eles, é a descoberta - reportada pelo Estado no dia
9 de maio - de que um espécime do primitivo Homo naledi, encontrado na
África do Sul, tinha apenas 300 mil anos e não 2,5 milhões de anos, como
se pensava. "Talvez mais estudos de datação possam esclarecer a
extensão dessa sobreposição e os processos que podem ter levado à
evolução dos humanos modernos", escreveram.
Planta aquática atrapalha pesca e geração de energia
Professor da Unesp é entrevistado pelo G1
Por G1 Rio Preto e Araçatuba
06/06/2017
Uma
espécie de planta aquática nos rios Paraná e Tietê tem atrapalhado
pescadores e até a geração de energia em hidrelétricas de Ilha Solteira
(SP) e Castilho (SP). As plantas crescem de forma desenfreada nesses
locais, às margens e no meio dos rios.
As
plantas são chamadas de macrófitas ou elódeas e são encontradas,
geralmente, em rios de água transparente. Elas precisam de luz,
nitrogênio e fósforo para se desenvolverem. Essas condições são
encontradas no rio Tietê, que recebe matéria orgânica de uma grande
região do Estado, mas as plantas passaram a serem encontradas com
frequência no rio Paraná, perto da usina de Ilha Solteira.
Aparecido
dos Santos é pescador há quase 30 anos e diz que a infestação da
planta nas águas chama a atenção e atrapalha quem precisa viver da
pesca. “De motor ninguém consegue atravessar o rio, as plantas sempre
enroscam. Conforme o lugar, é preciso levantar o motor e esperar passar a
alga”, comenta.
Na
usina hidrelétrica Jupiá, em Castilho, o problema é antigo. Na época
em que a hidrelétrica era administrada pela Companhia Energética de São
Paulo (Cesp), antes de ser privatizada, as plantas aquáticas já
existiam e a empresa precisou investir dinheiro para tentar controlar e
evitar que elas atrapalhassem o funcionamento das turbinas.
O
professor de agronomia da Unesp de Ilha Solteira, Fernando Tadeu,
especialista em plantas aquáticas há 17 anos, diz que o aumento dessas
espécies pode causar impactos graves nos rios. “Essas plantas prejudicam
o fluxo de água, a água chega com uma força menor para gerar energia
elétrica. Isso é um prejuízo muito grande para a produção de energia nas
usinas”.
Em
nota, a CTG Brasil, empresa que assumiu a operação das usinas de Jupiá
e Ilha Solteira, afirmou que não tem responsabilidade de fazer o
controle dessas plantas nos reservatórios. A empresa disse ainda que
para evitar que as espécies prejudiquem a operação das usinas, monitora e
recolhe essas plantas aquáticas nas barragens com o auxílio de grades.
Ambientes marinhos e de água doce no Brasil sofrem com poluição por microplásticos
07 de junho de 2017
Minúsculos detritos de plástico
estão presentes em larga escala em praias e rios no país, têm sido
ingeridos por peixes e pequenos organismos e causado efeitos tóxicos em
moluscos, apontam estudos (foto: Pryscilla Resaffe)
Elton Alisson | Agência FAPESP – Além de
garrafas PET, sacolas e embalagens de alimentos, entre outros objetos,
os ambientes marinhos e de água doce em todo o mundo têm sido
contaminados com minúsculos detritos, conhecidos como microplásticos,
com tamanho menor que 5 milímetros, como fibras e pequenos resíduos
gerados pela fragmentação de grandes pedaços de plástico.
Um grupo de pesquisadores do Departamento de Ciências do Mar da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus da Baixada Santista,
em colaboração com colegas de outras universidades e instituições de
pesquisa do Brasil e do exterior, constatou que esses microplásticos
também estão presentes em larga escala em praias e rios no Brasil.
Os pesquisadores também observaram que algumas espécies de peixes de
água doce e de pequenos organismos marinhos ingerem frequentemente esses
microplásticos, e que os contaminantes liberados por esses poluentes
causam efeitos tóxicos para espécies de moluscos, como os mexilhões
marrons (Perna perna).
Os resultados dos estudos, coordenados por Luiz Felipe Mendes de Gusmão com apoio da FAPESP, foram publicados nas revistas Environmental Pollution e Water Research.
“Temos observado a poluição generalizada por microplásticos tanto de
ecossistemas marinhos como de ambientes de água doce”, disse Gusmão,
professor da Unifesp da Baixada Santista e coordenador das pesquisas, à Agência FAPESP.
De acordo com o pesquisador, enquanto resíduos de plástico grandes,
como sacolas, tampinhas e garrafas PET, são relativamente fáceis de
serem vistos e retirados da areia de uma praia, os microplásticos são
quase impossíveis de serem removidos por serem muito pequenos e
praticamente imperceptíveis a olho nu. Por isso, tem se observado um
aumento do acúmulo desse tipo de poluente em praias de todo o mundo,
apontou.
“Os microplásticos que entram em um ambiente de água doce são
transportados, via os rios, até os oceanos. E quando chegam aos oceanos
esses fragmentos de plástico são transportados por correntes marinhas e
tendem a ficar em suspensão na coluna d’água ou encalharem em praias”,
explicou.
Uma vez que essas partículas de plástico têm sido encontradas de
forma generalizada em ambientes marinhos e de água doce em todo o mundo,
o pesquisador, em colaboração com colegas no Brasil e no exterior,
começou a monitorar nos últimos anos a presença desses poluentes em
ambientes aquáticos no país.
Os primeiros locais escolhidos foram as praias de Itaquidantuva e de
Paranapuã, situadas na reserva ambiental de Xixová-Japuí, localizada
entre os municípios da Praia Grande e São Vicente, na baixada santista,
em São Paulo.
Durante um ano os pesquisadores coletaram semanalmente nas áreas das duas praias pellets de plástico – grânulos de plástico, com diâmetro inferior a 10 milímetros, utilizados na fabricação de produtos plásticos.
Os resultados das análises indicaram uma altíssima concentração desse tipo de microplástico. “Observamos pellets
de plástico, de diferentes cores e tamanhos, se acumulando na praia de
Paranapuã o ano inteiro. Em alguns momentos, as praias ficavam cheias
desses microplásticos, e em outros momentos eles sumiam temporariamente
em razão de fatores como a circulação oceânica, as ondas e o regime de
ventos”, afirmou.
Efeitos tóxicos
De acordo com o pesquisador, algumas características que
potencializam o efeito nocivo do plástico em ambientes marinhos e de
água doce são que a maioria dos polímeros comuns – como o polipropileno e
o poliestireno – degradam muito lentamente e são leves – o que permite
serem transportados com facilidade pelas correntes oceânicas e
permanecerem por muito tempo no ambiente marinho
Ao permanecerem por longo tempo no ambiente, as moléculas de
contaminantes presentes em um meio aquático, como metais pesados e
pesticidas, começam a aderir à superfície dos plásticos e podem atingir
concentrações extremamente altas. Além disso, esses resíduos de plástico
também possuem aditivos presentes na composição do material, como
corantes, dispersantes e protetores contra raios ultravioleta.
Com o passar do tempo, os fragmentos de plástico tendem a liberar esses contaminantes no ambiente aquático, explicou Gusmão.
“Se os microplásticos forem ingeridos pela fauna marinha, os
poluentes aderidos na sua superfície podem ser liberados no tubo
digestivo do animal, o que pode causar efeitos tóxicos”, ressaltou.
A fim de avaliar a potencial toxicidade para organismos marinhos dos
contaminantes liberados por microplásticos, os pesquisadores da Unifesp,
em colaboração com colegas da Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Santa Cecília,
realizaram experimentos em que expuseram larvas de mexilhões marrons a
amostras de pellets de plástico que recolheram nas praias de Itaquidantuva e de Paranapuã e também a pellets virgens.
Os resultados das análises indicaram que os contaminantes liberados pelos pellets de plástico afetaram o desenvolvimento embrionário dos moluscos.
As larvas expostas aos pellets de plástico virgens apresentaram alta taxa de mortalidade, enquanto nenhuma das larvas expostas aos pellets de plástico recolhidos das duas praias conseguiu se desenvolver.
As observações sugeriram que os contaminantes aderidos à superfície dos pellets
de plástico recolhidos das praias foram os responsáveis pelos efeitos
tóxicos no desenvolvimento das larvas expostas aos microplásticos,
enquanto a morte das larvas expostas aos pellets virgens foi devido provavelmente aos aditivos químicos do próprio material.
“Somente a exposição aos microplásticos, sem que ingerissem, fez com que as larvas morressem”, disse Gusmão.
A poluição marítima também mobiliza a ONU Meio Ambiente que lança
nesta quarta-feira (07/06), no Brasil, a campanha “Mares Limpos”, que
durante cinco anos terá ações para conter a maré de plásticos que invade
os oceanos. O evento acontece no AquaRio, no Rio de Janeiro, como parte
das comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado no dia 5 de
junho.
No Brasil, a campanha trabalhará na mobilização de governos,
parlamentares, sociedade civil e setor privado para fortalecer ações que
reduzam a contribuição do país ao problema global dos plásticos que
acabam nos mares. Os esforços da campanha se concentrarão em buscar uma
drástica redução no uso de plásticos descartáveis e o banimento de
microesferas de plástico em cosméticos e produtos de higiene, além de
apoiar a elaboração do Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar,
capitaneado pelo Ministério do Meio Ambiente.
Ingestão
Os pesquisadores da Unifesp também avaliaram se pequenos organismos
marinhos são capazes de ingerir microplásticos encontrados em seus habitats.
Em um estudo realizado em colaboração com colegas da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), das Universidades Federais do Rio Grande
(FURG) e do Paraná (UFPR), além da University of Copenhagen, da
Dinamarca, e do Instituto de Estudos Ecossistêmicos, da Itália, eles
examinaram o conteúdo intestinal da meiofauna (animais que medem menos
de 1 milímetro e vivem enterrados entre grãos de areia das praias) de
seis praias situadas no Brasil, na Itália e nas Ilhas Canárias, na
Espanha.
As análises laboratoriais revelaram que três espécies comuns de anelídeos, do gênero Saccocirrus,
tinham microfibras (fibras provenientes de cordas e fios de pesca e de
tecidos de roupas, entre outras) em seus intestinos, mas sem apresentar
lesões físicas aparentes.
“Constatamos que mesmo organismos marinhos desse porte podem interagir com microplásticos”, disse Gusmão.
Em outro estudo, os pesquisadores da Unifesp, em colaboração com
colegas das Universidades Federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e Rural
de Pernambuco (UFRPE), avaliaram a ingestão de microplásticos por um
peixe de água doce comum e muito consumido em regiões semiáridas na
América do Sul: o caborja (Hoplosternum littorale).
Para realizar o estudo, eles analisaram o intestino de espécimes do
peixe de um rio intermitente que passa pela cidade de Serra Talhada, no
interior de Pernambuco, capturadas por pescadores da região.
Os resultados das análises indicaram que 83% dos peixes tinham
detritos plásticos em seus intestinos – a maior proporção relatada para
uma espécie de peixe de água doce no mundo até o momento.
A maioria dos detritos plásticos (88,6%) extraídos do estômago dos
peixes era microplásticos com tamanho de até 5 milímetros, e as fibras
foram o tipo de microplástico mais frequente (46,6%) ingerido pelos
animais.
Os pesquisadores também observaram que os peixes consumiam mais microplásticos nas regiões mais urbanizadas do rio.
“Hoje tem sido muito discutido como diminuir os impactos causados por
resíduos de plásticos grandes em ambientes e organismos marinhos e de
água doce, mas a poluição por microplásticos também representa um
problema muito sério”, disse Gusmão.
“É preciso repensar a cadeia de produção do plástico, que é um
produto importante para a sociedade, de modo a reduzir a chance dele
chegar ao ambiente”, avaliou.
O artigo “Leachate from microplastics impairs larval development in brown mussels’ (doi:10.1016/j.watres.2016.10.016), de Gusmão e outros, pode ser lido por assinantes da Water Research em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0043135416307667.
O artigo “In situ ingestion of microfibres by meiofauna from sandy beaches” (doi: 10.1016/j.envpol.2016.06.015) pode ser lido por assinantes da revista Environmental Pollution em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0269749116305036.