Técnica para "consertar" genes danifica o DNA mais do que se pensava
Estudo na Nature Biotechnology traz ressalvas ao Crispr
Uma técnica de edição de genes saudada como o
futuro da erradicação de doenças pode ser menos precisa e causar mais
danos às células do que se pensava anteriormente, diz novo estudo.
Apresentada pela primeira vez há cerca de seis anos, a CRISPR-Cas9
(pronuncia-se Crísper) permite aos cientistas inserir, remover e
corrigir uma sequência defeituosa numa cadeia de DNA de uma célula com
precisão.
Experimentos de laboratório usando células de camundongo e humanas
revelaram que a técnica causou frequentemente mutações genéticas
extensas, relataram os pesquisadores em artigo na Nature Biotechnology.
"Esta é a primeira avaliação sistemática de eventos inesperados
resultantes da edição CRISPR-Cas9", disse Allan Bradley, do Instituto
Wellcome Sanger, na Inglaterra e coautor do estudo. A pesquisa mostrou
que "mudanças no DNA foram seriamente subestimadas antes", diz ele. As
mutações não se mostraram prejudiciais nem benignas.
"É importante que qualquer um que esteja pensando em usar essa
tecnologia para a terapia genética proceda com cautela e procure
cuidadosamente verificar os efeitos prejudiciais", disse Bradley em um
comunicado divulgado pelo instituto.
A técnica aumentou as esperanças de que um dia os genes causadores de
doenças poderiam ser removidos ou alterados antes mesmo de o bebê
nascer.
Ela não está aprovada para uso em humanos.
Até agora, os pesquisadores a usaram para melhorar a audição em
camundongos que estavam ficando surdos e para consertar uma mutação
causadora de doenças em embriões humanos clonados em estágio inicial.
Especialistas não envolvidos no estudo disseram que não está claro
como essas mudanças grandes e não intencionais não foram percebidas
antes.
Mas "os resultados não dão motivo para pânico ou para perder a fé nos
métodos quando são realizados por aqueles que sabem o que estão
fazendo", disse Robin Lovell-Badge, do Instituto Francis Crick, um
centro de pesquisa biomédica em Londres.
Para Francesca Forzano, consultora em genética clínica do Guy's e St
Thomas' NHS Foundation Trust, o trabalho mostrou que a CRISPR-Cas9 "é
muito menos segura do que se pensava anteriormente" e que as técnicas de
monitoramento de segurança "não eram totalmente adequadas".
Mais pesquisas são necessárias antes que qualquer aplicação clínica do método seja considerada, disse Forzano.
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