Pesquisadores da Unesp reúnem maior banco de dados de primatas
Estudiosos da Mata Atlântica escreveram artigo publicado na revista internacional Ecology
Laurence Culot, Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências do câmpus Rio Claro
05/12/2018
O bugio-ruivo é o macaco mais comum nas florestas e fragmentos da Mata Atlântica
Os
primatas estão entre os mamíferos mais bem estudados de todo o mundo.
Explorar o conhecimento sobre ecologia, comportamento e genética desses
animais oferece suporte para compreendermos melhor a evolução humana e o
surto de doenças infecciosas, como a febre amarela, por exemplo.
Além disso, primatas desempenham um
papel-chave dentro do ecossistema ao ingerir sementes dos frutos dos
quais se alimentam e as defecando pelo chão das florestas, agindo como
verdadeiros jardineiros.
Em posição de destaque, o Brasil tem mais
espécies de primatas do que qualquer outro país, sendo a Mata Atlântica o
refúgio de 26 espécies das quais 73% só ocorrem dentro dos limites
desta floresta tropical historicamente degradada.
Diante deste cenário, pesquisadores da
Unesp em Rio Claro lideraram uma rede de colaboração para a construção
de um banco de dados, o maior até o presente momento, e reunir
informações sobre populações e comunidades destes animais.
O projeto contou com o esforço de mais de
100 pesquisadores de várias instituições, a maior parte deles
brasileiros. Este enorme conjunto de dados foi publicado na revista
científica Ecology, uma das mais tradicionais e conceituadas do
meio acadêmico, em formato aberto (open data). Ou seja, qualquer pessoa
dispõe de acesso livre às informações compiladas.
Milhares de registros
O estudo foi liderado pela professora
Laurence Culot, primatóloga e docente do Departamento de Zoologia da
Unesp em Rio Claro, e pelo aluno de graduação em Ciências Biológicas
Lucas Augusto Pereira. Foram
compilados mais de 10.000 registros de ocorrência em mais de 5.000
locais de Mata Atlântica no Brasil, na Argentina e no Paraguai.
Esses
dados foram extraídos de cerca de 900 publicações nacionais e
internacionais, bem como de teses e dissertações, geralmente disponíveis
apenas em português, agora também disponíveis para pesquisadores
estrangeiros.
Além
disso, o banco de dados reúne uma grande quantidade de informações até
então não publicadas, disponibilizadas pelos coautores do trabalho.
Os
dados abrangem um período entre os anos de 1820 e 2017, o que permite
tecer um grande panorama sobre a distribuição desses animais na Mata
Atlântica ao longo do espaço e do tempo.
A importância deste abrangente trabalho
colaborativo se encontra na gama de possibilidades de processamento dos
dados e produção de conhecimento. Agora, pesquisadores do mundo todo têm
nas mãos informações que podem ajudar a compreender cada vez mais como
os primatas, nossos parentes mais próximos dentro da árvore da vida,
respondem às ameaças cada vez mais intensas das sociedades humanas, o
que deve resultar, no futuro, em ações concretas de conservação desses
animais.
Além disso, esses dados serão de extrema
importância para guiar novas pesquisas em regiões que abrigam espécies
pouco estudadas até o momento.
Mais ainda, o conjunto de dados permite avaliar as espécies mais abundantes e as mais raras. No primeiro caso, o bugio-ruivo (Alouatta guariba)
é o macaco mais comum nas florestas e fragmentos da Mata Atlântica. Uma
realidade que mudou drasticamente devido aos recentes surtos de febre
amarela no país, que dizimaram suas populações e levou a UICN (União Internacional para Conservação da Natureza) a inserir a espécie na próxima lista das 25 espécies de primatas mais ameaçadas do mundo --essa lista será publicada em 2019.
Entre as espécies mais raras, o mico-leão-de-cara-preta (Leontopithecus caissara)
tem uma distribuição restrita a uma pequena parte do extremo sul no
litoral do Estado de São Paulo e no litoral do Estado do Paraná, no
Parque Nacional de Superagui.
O
"Atlantic-Primates", nome deste estudo, é parte do “Atlantic Series”,
uma iniciativa que pretende tornar público o maior conjunto possível de
dados sobre a biodiversidade da Mata Atlântica, levando-se em conta que
este é um dos biomas mais estudados do mundo.
A
iniciativa é liderada pelos professores Mauro Galetti e Milton Cezar
Ribeiro, ambos docentes do Departamento de Ecologia da Unesp em Rio
Claro. Neste sentido, o Atlantic Series é também uma celebração do árduo
trabalho e esforço de centenas de pesquisadores e naturalistas que, ao
longo de vários anos, coletaram essas valiosas informações e que agora
se fazem mais necessárias do que nunca.
Para saber mais sobre o ATLANTIC-PRIMATES: https://esajournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ecy.2525
Para saber mais sobre o ATLANTIC SERIES: https://github.com/LEEClab/Atlantic_series
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