segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

A curiosa razão pela qual há insetos homossexuais

A homossexualidade em insetos é tão ampla quanto enigmática
Pesquisa notou que o besouro castanho não tem grande poder de discernimento na hora de escolher um parceiro sexual
Pesquisa notou que o besouro castanho não tem grande poder de discernimento na hora de escolher um parceiro sexual - Martin Taylor

Descrição de chapéu BBC News Brasil 
 
"Por que a evolução permite que continue existindo uma custosa atividade homossexual, quando a reprodução é atingida primariamente pelo acasalamento heterossexual?", questionam Sales e seus colegas em seu estudo mais recente, publicado no periódico Animal Behaviour.

Relações homossexuais já foram registradas em mais de cem espécies de insetos e são atividades trabalhosas para eles, com grande gasto de energia e tempo. "Em algumas espécies, como um gafanhoto, cada ejaculação chega a equivaler a um quarto do peso corporal dele", explicou Sales à BBC News Mundo. "No caso de uma espécie de mosca da fruta, o fluido do sêmen é mais comprido que todo seu corpo."

Sales se pôs, então, a pesquisar os motivos de os insetos alocarem tanta energia no sexo homossexual, que não permite o acasalamento e ainda traz, como qualquer atividade sexual, riscos —desde transmissão de cerca de uma centena de doenças sexuais já identificadas nessas criaturas até lesões que podem ser causadas por parceiros com órgãos sexuais perfurantes.

COMO SE EXPLICA 

Nessa busca, o biólogo identificou uma teoria bastante interessante: há pesquisadores que sugerem que o relacionamento homossexual nos insetos traz vantagens evolutivas, uma vez que reduz a competição entre machos —ao distrair ou machucar rivais que disputam uma fêmea.
Mas a pesquisa de Sales acabou encontrando indícios que sustentam outra teoria: a de que a homossexualidade ocorre "simplesmente porque os machos não reconhecem bem a seus pares". O biólogo e seus colegas projetaram um experimento em laboratório com uma espécie chamada besouro castanho (Tribolium castaneum).
O besouro foi escolhido porque tem um ciclo de vida relativamente rápido e "cresce facilmente em um ambiente com farinha, levedura e aveia", explicou o biólogo. "Comparamos dois grupos de besouros, um com mais machos que fêmeas e outro com mais fêmeas que machos", relatou.
"Depois, observamos a copulação de cerca de 300 machos. Criamos um ambiente para os insetos com 30ºC de calor e 60% de umidade e passamos 50 horas observando-os enquanto tentavam copular."

INTERESSES VARIÁVEIS

Sales e seus colegas constataram que os dois grupos observados estavam igualmente motivados para copular. Mas havia uma diferença: no grupo com menos fêmeas, em que a competição masculina era maior, cresceu a incidência dos machos que buscaram primeiro as fêmeas e passaram mais tempo copulando com elas.

Já no grupo com menos machos que fêmeas, porém, os machos passavam o mesmo tempo tentando copular tanto com fêmeas quanto com os demais machos. Para Sales, isso indica que "o comportamento homossexual em insetos, especialmente nesses besouros, não é uma adaptação evolutiva, porque quando existe a pressão da competição, a homossexualidade se torna menos comum".

"Nossa investigação dá mais peso à ideia de que a homossexualidade (entre os insetos) é resultado de uma capacidade limitada em reconhecer o outro sexo, embora não saibamos por que isso ocorre", disse o pesquisador à BBC News Mundo.

O besouro castanho tem uma visão ruim, tendo dificuldades para distinguir entre machos e fêmeas.
Após a publicação de seu estudo, Sales e seus colegas esperam agora investigar o mecanismo exato pelo qual esses besouros conseguem identificar as fêmeas.

O biólogo destacou que, embora os besouros e escaravelhos representem cerca de 25% das espécies conhecidas de insetos, as conclusões do estudo não podem ser extrapoladas a outras espécies com funções cognitivas e estruturas sociais mais complexas, como aves e mamíferos.

BBC News Brasil

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