Cientistas reconstituem rota mais antiga para as Américas
DNA indica parentesco próximo entre tribos do norte e do sul
Carl Zimmer, The New York Times
03 Dezembro 2018 | 06h00
03 Dezembro 2018 | 06h00
Há
quase 11 mil anos, um homem morreu num lugar que atualmente chamamos de
Nevada. Envolto num cobertor de pele de coelho e feixes de videiras,
ele foi enterrado em Spirit Cave. Agora, os cientistas recuperaram e
analisaram o DNA dele, bem como o de outras 70 pessoas descobertas nas
Américas. As novas revelações trazem detalhes da história de como e
quando os humanos se espalharam pelo Ocidente.
Os primeiros a
chegar da Ásia de que temos conhecimento já estavam se dividindo em
grupos, de acordo com a pesquisa. Algumas populações prosperaram,
tornando-se as ancestrais dos povos indígenas de todo o hemisfério. Mas
outras se extinguiram.
Estudos anteriores indicavam que os humanos
vieram para as Américas no fim da última era glacial, viajando da
Sibéria pra o Alasca atravessando uma ponte de terra que hoje fica sob o
Mar de Bering.
Rumaram para o sul, até finalmente alcançarem o extremo
da América do Sul. Até recentemente, os geneticistas não tinham muito a
acrescentar ao que já sabíamos a respeito dessas vastas migrações.
Nos cinco anos mais recentes, os genomas de 229 pessoas da pré-história foram recuperados nas Américas.
Um
deles é do segundo habitante antigo de Bering cujo DNA foi analisado. O
primeiro, descrito em janeiro pelo geneticista Eske Willerslev, da
Universidade de Copenhague, pertencia a uma menina morta há 11.500
encontrada no Alasca. O segundo foi descoberto a centenas de quilômetros
do primeiro e morreu há 9.000 anos, de acordo com relatório recente da
equipe de Willerslev.
Os habitantes antigos de Bering foram
separados dos ancestrais dos indígenas contemporâneos das Américas há
cerca de 20 mil anos. As novas descobertas indicam que eles sobreviveram
por milhares de anos, e então desapareceram, sem deixar nenhum traço
genético nos humanos contemporâneos.
Outra leva de imigrantes
continuou rumando para o sul. Estes se dividiram em dois grupos. Um
deles voltou para o norte, instalando-se no Canadá e voltando para o
Alasca. O outro continuou para o sul e, de acordo com os dados,
espalhou-se rapidamente pelas Américas há 14 mil anos.
O homem
encontrado em Spirit Cave era do grupo sul. Tinha parentesco com um
menino morto há 12.700 anos encontrado em Montana, de acordo com
descobertas de Willerslev. David Reich, da Universidade Harvard, e sua
equipe revelaram um elo entre o menino de Montana e um grupo de
sul-americanos antigos. O parentesco indica que os imigrantes avançaram
rapidamente da América do Norte para a América do Sul.
As duas
equipes descobriram que, a partir de cerca de 9 mil anos atrás, ondas
adicionais de imigrantes rumaram para o sul. Willerslev acredita que os
recém-chegados se misturaram às demais populações.
Mas Reich
enxerga evidências de duas ondas de imigrantes que substituíram
completamente os povos que habitavam a América do Sul.
A pesquisa
revelou casos de uma continuidade notável. O grupo de Willerslev
comparou o genoma do homem encontrado em Spirit Cave àquele dos quatro
conjuntos de restos encontrados nos arredores, que morreram muito mais
recentemente, há cerca de 600 anos. A equipe dele revelou que rodos
apresentavam parentesco, apesar de separados por 10 mil anos.
Um
elo semelhante foi encontrado nos Andes. John Lindo, da Universidade
Emory, e sua equipe analisaram o DNA de sete pessoas que viveram em
grandes elevações entre 6.800 e 1.400 anos atrás. Os pesquisadores
estimam que os habitantes de altitudes acima de 2.300 metros nas
montanhas foram separados das populações de terras mais baixas entre
9.200 e 8.200 anos atrás. Hoje, os habitantes da montanha ainda
apresentam um forte elo genético com os restos antigos.
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