Fósseis mais antigos do mundo são encontrados no Canadá
Cientistas encontraram microfósseis que podem ter surgido entre 3,7 e 4,2 bilhões de anos atrás
4 min de leitura
A
Terra tinha um visual bem diferente há 3,7 bilhões de anos. Não havia
plantas, animais, e o céu não era azul. A superfície parecia um terreno
baldio rochoso e vazio.
Ainda assim, é por volta dessa época que acreditamos que o primeiro tipo de vida surgiu,
no fundo do oceano em volta de fendas quentes em uma parte no fundo do
mar que chamamos de circulação hidrotermal. Aqui, fluídos quentes
circulam através de pedras no fundo do oceano, carregando ferro e outros
elementos de pedras para a água ao redor. Os elementos e a energia
desse ambiente o fazem parecer o lugar perfeito para o início de vida.
Para
testar essa teoria, meus colegas e eu estudamos um grupo antigo de
pedras em uma região chamada o cinturão de Nuvvuagittuq, no nordeste do
Canadá, que tem entre 3,7 bilhões e 4,2 bilhões de anos. O cinturão
preserva algumas das formações de ferro desenvolvidas em ambientes
análogos às circulações hidrotermais de hoje. E nelas encontramos
microfósseis que acreditamos ser mais velhos do que os fósseis
encontrados na Austrália, que têm 3,5 bilhões de anos e que até então
era considerados os mais velhos encontrados. Isso torna esses fósseis os
mais velhos de que se tem notícia e possivelmente a evidência mais
antiga de vida na Terra.
Para descobrir os fósseis, nós
cortamos pedaços bem finos das pedras, de forma que pudéssemos olhar
através deles e estudá-los com um microscópio. Ao fazer isso,
encontramos filamentos microscópicos de ferro com tamanhos entre cinco e
dez mícrons de diâmetro, menos do que a metade da largura de um fio de
cabelo humanos, e quase meio milímetro de comprimento. Os filamentos que
vimos eram bem detalhados e compartilhavam semelhanças incríveis com os
fósseis de micróbios mais modernos e de pedras mais novas.
Algumas
características desses filamentos antigos, como suas ligações com o
ferro, por exemplo, são parecidas com as encontradas em micróbios
modernos, que usam essas ligações para se prender em pedras. Esses
micróbios prendem o ferro que sai das circulações hidrotermais, e o usam
em reação para liberar energia química. Eles então usam essa energia
para transformar dióxido de carbono da água ao redor em matéria
orgânica, permitindo que ela cresça.
Como sabíamos que eram fósseis?
Quando
encontramos as estruturas de fósseis, sabíamos que elas eram
interessantes e candidatas promissoras para microfósseis. Mas
precisávamos demonstrar que isso é o que realmente eram e que não eram
um fenômeno não biológico. Então, avaliamos todos os cenários que
poderiam ter formado os tubos e filamentos, incluindo os gradientes
químicos ricos em ferro e o crescimento metamórfico das pedras. Nenhum
desses mecanismos se encaixava nas observações que fizemos.
Nós
então procuramos por traços químicos nas rochas que poderiam ter sido
deixados para trás por micro-organismos. Encontramos matéria orgânica
preservada como grafite de forma a sugerir que tinha sido formada por
micróbios. Também encontramos minerais chave que geralmente são
produzidos pelo declínio de material biológicos em sedimentos, como
carbonato e apatita (que contém fósforo). Esses minerais também
apareciam em estruturas granuladas que geralmente se formam em
sedimentos em torno de organismos em decomposição e às vezes preservam
estruturas microfósseis dentro de si. Todas essas observações
independentes nos deram evidências fortes da origem biológica das
microestruturas.
As evidências demonstram forte presença biológica
nas rochas que têm entre 3,7 bilhões e 4,2 bilhões de anos, aumentando a
data dos microfósseis mais velhos que conhecemos por 300 bilhões de
anos. Colocar essa linha do tempo em perspectiva, se voltássemos 300
milhões de anos no tempo, os dinossauros nem teriam surgido ainda.
O
fato de termos encontrados essas pequenas formas de vida em depósitos
de circulação hidrotermal que surgiram tão cedo na história da Terra
reforça a teoria de que a vida surgiu desse tipo de ambiente. O ambiente
no qual encontramos esses microfósseis antigos e suas semelhanças com
fósseis mais jovens e bactérias modernas sugerem que os metabolismos
baseados em ferro estão entre as primeiras formas nas quais a vida se
sustentou sozinha na Terra.
Também
vale lembrar que essa descoberta nos lembra que a vida conseguiu se
estabilizar e se desenvolver na Terra em um momento no qual Marte
tinha água líquida em sua superfície. Isso nos deixa com a
possibilidade empolgada de que, se as condições da superfície de Marte e
Terra forem parecidas, a vida também deve ter começado em Marte há 3,7
bilhões de anos. Ou a Terra pode ter sido apenas uma exceção.
*Matthew
Dodd é um pesquisador financiado pelo Conselho de Pesquisa de Ciências
de Física e Engenharia (EPSRC) da Inglaterra. Esta matéria foi publicada
originalmente em inglês no The Conversation.
Leia também:
+ Fósseis de corais de 302 mil anos são encontrados na Austrália
+ Fósseis de anfíbios desconhecidos de 280 milhões de anos são encontrados no Piauí
Fonte: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2017/03/fosseis-mais-antigos-do-mundo-sao-encontrados-no-canada.html
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