Novo réptil fóssil brasileiro dá pistas sobre a origem dos misteriosos tanistrofeídeos
A nova espécie, batizada de Elessaurus gondwanoccidens – em homenagem ao personagem Aragorn, de “O Senhor dos Anéis” – ,indica que o grupo pode ter tido origem na América do Sul
Uma nova espécie de réptil fóssil brasileiro é o primo próximo do
misterioso grupo dos tanistrofeídeos, de acordo com estudo publicado em 8
de abril de 2020, no jornal de acesso livre PLOS ONE.
O estudo conta com a participação de pesquisadores da Universidade
Federal de Santa Maria e da Universidade Federal do Pampa (Rio Grande do
Sul).
Após a extinção do Permiano, há 252 milhões de anos, os répteis
tomaram conta dos ecossistemas globais. Dentre as primeiras linhagens
que apareceram após essa extinção estão os tanistrofeídeos, um grupo de
animais de pescoço comprido cujos modos de vida ainda são um mistério,
mas que foram bem-sucedidos no período Triássico.
A evolução inicial
desse grupo, entretanto, ainda é pouco compreendida, já que fósseis de
seus representantes iniciais são extremamente raros. Os pesquisadores
acreditam que os primeiros tanistrofeídeos podem ter surgido no início
do Triássico, um intervalo temporal de onde os fósseis são especialmente
raros.
“O fóssil foi encontrado em rochas do início do período Triássico, no
mesmo afloramento de onde saíram outras espécies recentemente
descritas, evidenciando uma fauna ainda não totalmente conhecida. Essa
fauna se correlaciona apenas em parte com fósseis da África do Sul,
mostrando a relevância do achado. Novos esforços de coleta coordenados
pela UFSM e Unipampa foram capazes de recuperar inúmeros novos fósseis,
incluindo duas novas espécies de répteis em menos de cinco anos” comenta
Átila da Rosa, coautor do trabalho e responsável pela coleta do fóssil.
“Normalmente encontramos apenas ossos isolados em rochas do Triássico
Inferior. Neste caso, um fóssil de um membro posterior relativamente
completo foi encontrado, representando o primeiro achado de elementos
pós-cranianos articulados dessa unidade fossilífera. Aos olhos de um
paleontólogo, um fóssil desses revela uma enorme quantidade de
informação, explica o Dr. Leonardo Kerber (CAPPA/UFSM), que integra a
equipe.
Kerber ainda destaca a dificuldade na preparação do espécime, que foi
realizada pela líder do estudo, Tiane Oliveira, durante seu mestrado
junto ao Programa de Pós-Graduação de Biodiversidade Animal da
Universidade Federal de Santa Maria. “Foram quase dois anos até o que os
ossos fossem totalmente expostos, uma vez que os mesmos foram
preservados dentro de uma rocha extremamente difícil de ser removida sem
danificar o fóssil.”
As comparações mostram que esse novo réptil fóssil, um esqueleto
parcial composto por um membro posterior, pelve e vértebras da cauda é o
parente mais próximo dos tanistrofeídeos. A nova espécie foi batizada
de Elessaurus gondwanoccidens. O nome é em parte derivado da
língua élfica de J.R.R. Tolkien, autor de “O Senhor dos Anéis”. Elessar é
o nome élfico do personagem Aragorn, ou Passolargo. O nome faz
referência às longas pernas do novo animal.
“Os tanistrofeídeos são répteis misteriosos, normalmente conhecidos
por espécies muito especializadas encontradas na Europa. Elessaurus nos
dá pistas sobre a origem do grupo, indicando que os seus primeiros
representantes eram terrestres”, relata Tiane Oliveira (CAPPA/UFSM),
autora principal do artigo científico.
A maior parte dos tanistrofeídeos são encontrados em rochas da metade
ou final do Triássico, na Europa, Ásia e América do Norte. A presença
de Elessaurus em depósitos continentais do comecinho do
Triássico da América do Sul sugere que a origem do grupo pode estar
associada a este continente. Além disso, Elessaurus mostra que
os ancestrais dos tanistrofeídeos eram terrestres e, só na metade do
Triássico, o grupo teria se adaptado à típica vida aquática.
“A nova espécie é uma importante peça no quebra cabeça de como os
répteis começaram a dominar os ecossistemas terrestres após a extinção
do Permiano, dando origem a uma diversidade incrível, que acabaria
culminando nos famosos dinossauros”, finaliza Dr. Felipe Pinheiro
(Unipampa), que também fez parte do estudo.
O pescoço deste réptil excedia o tamanho do resto do seu corpo e cauda combinados, consistindo em 12-13 vértebras que tornavam o seu pescoço relativamente rígido. Os juvenis de Tanystropheus tinham um pescoço mais curto, apanhando insetos em terra firme. Em contraste, os adultos alimentavam-se maioritariamente de peixes e lulas, esperando com o corpo fora de água e apenas com o pescoço submerso.
Texto: Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (CAPPA/UFSM)
Ilustração: Márcio L. Castro
Ilustração: Márcio L. Castro
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